quarta-feira, 6 de julho de 2011
SILÊNCIO SOBRE A LÍBIA
Por Mário Augusto Jakobskind
”E na Líbia permanece o impasse. Os bombardeios diários da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não alcançaram o objetivo de terminar com o governo de Muammar Khadafi. Com a divulgação pelos meios de comunicação de todo o mundo, Khadafi está sendo responsabilizado por uma série de violações dos direitos humanos. O Tribunal Penal Internacional decidiu decretar a prisão do dirigente líbio, acusando-o de assassinatos e outras violências, como, por exemplo, ter ordenado que seus soldados praticassem estupros em mulheres.
Enquanto tais informações circulavam pelo mundo, o jornal britânico “The Independent” publicava relatório da ’Anistia Internacional’ inocentando regime de Muammar Khadafi e incriminando os rebeldes que têm o apoio da OTAN. Quer dizer, todas as denúncias de violências contra as forças do governo Khadafi caíram por terra. Podem ser consideradas do mesmo rol do esquema que antecedeu a invasão do Iraque, como as tais ‘armas de destruição em massa’, que nunca existiram. Tudo por causa do petróleo.
A Anistia encontrou indícios de que, em várias ocasiões, os rebeldes em Benghazi fizeram deliberadamente declarações falsas e distribuíram versões mentirosas sobre crimes cometidos pelo governo líbio.
No mesmo embalo das denúncias feitas pela Anistia, vale lembrar a série de advertências formuladas pela Secretária de Estado, Hillary Clinton, que, visivelmente, faz o jogo do complexo militar. Ela baseou todas as acusações a Khadafi em “informes” (inventados pelos rebeldes). Mas, como as denúncias da Anistia Internacional foram pouco divulgadas, Hillary continua em vantagem na mídia de mercado, que ajudou, como de outras vezes, a dourar a pílula dos estadunidenses. Quer dizer, a farsa do Iraque se repete na Líbia. Os bombardeios diários da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que alguns canais de televisão denominam erradamente, por ignorância ou opção ideológica, de ”Aliança Ocidental”, inventaram pretextos para intervir no país norte-africano.
É inconcebível que essa prática se repita em todas as áreas do planeta onde há riquezas cobiçadas pelos Estados Unidos e demais países industrializados. E ainda pior: bombardeios ‘inteligentes’ atingem alvos civis e provocam mortes em nome de ‘intervenção humanitária’.
Depois do relatório da Anistia Internacional, espera-se que organismos internacionais como a ONU, ao menos, investigue de forma isenta, e mesmo reveja a posição adotada contra a Líbia. Ou, pelo menos, decretem cessar fogo, como sugeriu o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva em reunião com representantes de países africanos.
Se não fizer uma dessas três sugestões e seguir dando pretexto para os bombardeios, a credibilidade da entidade vai a menos de zero. Agora, está em zero, mas se entrar em novo patamar poderá recuperar a credibilidade.
O que teriam a dizer sobre tudo isso a Presidenta Dilma Rousseff e seu Ministro do Exterior, Antonio Patriota? Afinal de contas, a OTAN, com a chancela da ONU, comete sérias violações dos direitos humanos. Ficar calado ou apoiar é, na prática, aprovar. Até porque a própria Presidenta brasileira já deixou claro inúmeras vezes que se posicionaria contra onde se cometam violações dos direitos humanos.
Mas é preciso tomar cuidado para não cair na armadilha estadunidense que bota a boca no trombone apenas contra países que não fazem o jogo da Casa Branca. A Arábia Saudita, governada por uma família real aliada de Washington, que viola diuturnamente os direitos humanos, não é condenada ou sequer citada pelos Estados Unidos; da mesma forma que a entrada de tropas sauditas no Bahrein para reprimir manifestantes foi aceita como um 'fato normal'.
E no episódio Dominique Strauss-Kahn, como denunciavam alguns analistas, uma parte da verdade começou a aparecer. Os meios de comunicação de mercado já tinham condenado de antemão o francês, em mais uma demonstração de irresponsabilidade jornalística. Como agora apareceu a versão segundo a qual a camareira queria mesmo arrancar grana de Strauss-Khan, começa a surgir a ponta do iceberg de uma história que pode ter ainda maiores implicações políticas do que se imaginava.
Apesar de Strauss-Khan ser um representante do mundo das finanças, tinha desagradado, segundo especialistas, o mercado em declarações sobre questões relacionadas com as finanças internacionais. Não será de se estranhar se, em pouco tempo, vier à tona algum tipo de ingerência de serviços secretos [dos EUA]. E, no lugar de Strauss-Khan, foi nomeada a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, de linha absolutamente conservadora. Missão cumprida para os radicais defensores do deus mercado.
O caso merece ser profundamente investigado, porque o fato de a camareira ter ligações com mafiosos, segundo a polícia de Nova York, não elimina a participação de algum serviço secreto, como a CIA, por exemplo, que muitas vezes utiliza artifícios dessa e outras naturezas para não aparecer. E, como informou o jornal ‘The New York Times’, o surgimento de 100 mil dólares na conta bancária da camareira pode ter vindo sabe-se lá de onde.
A mídia de mercado que corre irresponsavelmente atrás da audiência para angariar mais anunciantes e que se fartou de explorar o caso, tem que fazer uma autocrítica imediata. E, nesse sentido, valeria agora colocar em prática um tipo de jornalismo investigativo para esclarecer em definitivo o que se esconde atrás do caso. Resta saber se haverá vontade política para isso. Ou se a polícia de Nova York terá interesse em revelar mais fatos de bastidores.”
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio ‘Brecha’. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário ‘Brasil de Fato’. É autor, entre outros livros, de ‘América que não está na mídia’, ‘Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE’. Artigo publicado no site ‘Direto da Redação’ (fhttp://www.diretodaredacao.com/noticia/silencio-sobre-a-libia).
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11 comentários:
Esta matéria é de fazer o cabra chorar. O Patriota é fraco demais e a Dilma...
Quem tirou a máscara da Política Externa do DESgoverno Dilma foi o Beto Almeida, Carta Maior.
21/03/2011: Líbia, Obama, Dilma e o exemplo de Tancredo
...Foi um ultraje, um abuso, um desrespeito total ao povo brasileiro o fato de Obama ter usado o território brasileiro, e mais precisamente as dependências do Palácio do Planalto, durante audiência com a Presidenta Dilma, para dar as ordens de ataque com mísseis à Líbia!
...Sabe-se que, quando Obama foi interrompido por seu secretário à mesa de reunião com Dilma, ele deu a ordem de ataque que pode levar à morte milhares de civis líbios e destruir tudo o que foi construído pelo processo de transformações da Líbia. E, ato contínuo, teria comunicado sua decisão à Presidenta Dilma, como a querer apoio ou adesão ao ataque. Dilma, segundo os relatos, teria recusado e declarado “o Brasil é um país pacífico e não concordamos que a ação militar vá produzir os efeitos esperados”. Não aderiu. Mas não declarou publicamente.
Desrespeito ao povo brasileiro
Teria sido importante que Dilma, a exemplo do também mineiro Tancredo Neves, ecoasse esta declaração em cadeia de tv e rádio, enquanto Obama estivesse em território brasileiro. Era uma maneira de reprovar publicamente a abusiva atitude de Obama de usar o território brasileiro, em visita oficial, para determinar um ataque mortal contra um país com o qual o Brasil tem relações normais, incluindo a participação de empresas, técnicos e produtos no processo de transformação que levou a Líbia a ter o mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano da África.
Aliás, envolto em profundo simbolismo e em sintonia histórica com as declarações de Tancredo Neves está a recusa de Lula a comparecer ao almoço com Obama. Talvez esteja no gesto de Lula o que verdadeiramente Dilma e o Itamaraty queriam ou deviam dizer.
Sabemos que os primeiros mísseis lançados contra Trípoli destruíram um hospital e mataram 48 pessoas, inclusive crianças. As agências de notícias controladas pela indústria bélica e pelo poder petroleiro com sanguinária voracidade pelo óleo negro líbio continuam a mentir, agora dizendo que nenhum alvo civil foi atingido. Isto não está autorizado pela Resolução 1973 da ONU. É terrorismo pura e simplesmente! Por isso Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha abstiveram-se, provavelmente sabendo das extrapolações criminosas, - já preparadas há tempo - dos termos da Resolução para apoiar a contra-revolução. O precedente é gravíssimo e pode ser aplicado até mesmo contra o próprio Brasil ou qualquer país que tenha robustas riquezas energéticas. Com a quantidade de agentes de serviços de informação que atuam no Brasil disfarçados de ongueiros, conforme denunciam autoridades brasileiras, é o caso de atentar para o perigoso precedente aberto pela decisão da ONU.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17574&alterarHomeAtual=1
“Se vocês estão bravos conosco porque não estamos comprando os aviões Rafale, vocês deveriam ter conversado conosco. Se estão bravos conosco porque os negócios com o petróleo não estão indo bem, vocês deveriam conversar conosco. Os rebeldes não vão dar nada a vocês porque eles não vão vencer.”
Saif al-Islam também negou que seu pai deixará a Líbia: “Dizer que meu pai vai deixar o país é uma piada”.
1 DE JULHO DE 2011
A ofensiva colonial da Otan na Líbia
Menosprezar a inteligência alheia tem limites. Mesmo a opinião pública europeia, largamente intoxicada pelo ódio ao imigrante árabe ou negro, já não leva muito a sério o pretexto humanitário invocado pela Otan para justificar a ofensiva colonial contra a Líbia, que já dura três meses e meio. A própria imprensa colonialista adotou um tom mais descritivo. Assim, o Figaro, o mais importante jornal da direita francesa, informou secamente em 23 de maio que na tarde do dia 17 o navio de guerra Tonnerre deixara o porto de Toulon rumo ao teatro de operações na Líbia. A bordo, doze helicópteros de combate com uma delicada missão militar. Os chefes da Otan tinham constatado que os bombardeios não estavam bastando para derrubar o governo líbio. Intensificá-los em demasia, após o morticínio que fizeram no bairro onde mora Khadafi, por ocasião da frustrada tentativa de assassiná-lo por via aérea em sua casa, implicaria num custo “humanitário” ainda mais pesado. Era preciso chegar mais perto dos objetivos, ocupar terreno. Mas mercenários evitam riscos. O ofício deles é matar, não ser mortos. Os helicópteros de Sarkozy destinam-se a ajuda-los a golpear mais de perto as forças patrióticas, sem entrar num perigoso corpo a corpo.
Os que se lembram do massacre balístico da Sérvia pela Otan sabem que, com apoio de uma quinta coluna operante, é possível quebrar a resistência de um povo pelo terrorismo aéreo. Mas na Líbia, o êxito está tardando. A quinta coluna, aliás os “rebeldes” não progrediram muito a despeito da escalada de bombardeios, que afundaram oito navios líbios em 19 de maio, nos portos de Trípoli, Syrta e Homs e, em 24 de maio, mataram 19 líbios e deixaram pelo menos 130 feridos num ataque noturno a Trípoli.
Só os cínicos e os tolos continuam a associar-se à campanha imperialista de diabolização de Khadafi. “-Ele massacrou trinta mil líbios”, bradou um estulto de “extrema-esquerda” num debate sobre a Líbia ao qual compareci. Perguntei-lhe de onde tinha tirado esse número. Não respondeu porque sua estultice não ia a ponto de cobrir-se de ridículo admitindo que ouvira isso na Rede Globo ou “fonte” similar. Mas enquanto os “baba-ovo” papagaiavam o que liam e ouviam na mediática do capital, os três safados da cúpula da Otan (Camarão, Sarkozy e Berlusconi, este aliás menos aguerrido que os dois parceiros), empenhados na tentativa de recuperar, sob novos rótulos jurídicos, seus velhos impérios coloniais, continuavam intensificando os bombardeios ditos humanitários: em junho Trípoli foi de novo pesada, reiterada e mortiferamente atacada.
A mediática do capital é uma máquina versátil. Esgotado o pretexto humanitário, ela concentrou-se na diabolização de Khadafi, que seguramente tem muitos defeitos, mas por não ser covarde, como são os calhordas de terno e gravata que mandam bombardear seu país, resistiu à agressão colonial. Porém, mesmo valente, se ele fosse um tirano detestado por todos, como repetem “ad nauseam” os estafetas da Otan e os “extremesquerdelhos” pró-imperialistas d’aquém e d’além mar, não haveria valentia que bastasse. A explicação de três meses de resistência há de ser outra. O centro Globalresearch do Canadá, que não se fantasia de revolucionário, mas tem suas próprias fontes de informação, observou que a Líbia desfruta do maior IDH da África, que os sistemas públicos de saúde e de ensino são gratuitos e de qualidade, que os estudantes com bom desempenho recebem bolsas para aprimorar sua formação no exterior. Notou ainda que o governo oferece à população crédito bancário sem juros e assumiu a construção do maior sistema de irrigação do mundo, inaugurado em 2007.
Sendo ridiculamente indecentes os pretextos humanitários dos pistoleiros da Otan, não há como não concluir que estamos diante de mais uma operação de reconquista, pelo chamado Ocidente, de sua antiga periferia colonial. A Líbia oferece, em especial, dois grandes atrativos para os tubarões do Norte. O Banco Central Líbio mantém estocadas em seus cofres quase cento e cinquenta toneladas de ouro e as jazidas petrolíferas do país, de alta qualidade, estão estimadas em pelo menos 45 bilhões de barris.
Amparando esses estupendos estímulos materiais, os estafetas togados que compõem o Tribunal de Haya, habituados a abanar a cauda para os chefes da Otan, expediram mandado de prisão contra Khadafi. Mas todos os que não se deixaram contaminar pelo “pensamento único” pró-imperialista sabem que o maior crime cometido pelo comandante líbio consistiu em defender as riquezas naturais da Líbia e em ameaçar, com suas reservas de ouro, a “coalixam” monetária do dólar e do euro.
http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=4114&id_coluna=24
Um banquete de mendigos
Os 12 mil ataques da OTAN e os 2.505 alvos atingidos nada conseguiram, do objetivo de impedir que o regime de Gaddafi continue a trabalhar para afirmar-se. O exército da Líbia continua a atacar Misrata, a cidade do perpétuo medo. A linha da fronteira entre leste e oeste da Líbia permanece inalterada. O regime de Bashar al-Assad da Síria talvez caia antes que o de Gaddafi. A filha de Gaddafi, Aisha, já iniciou em Bruxelas o processo contra a OTAN pelo assassinato de sua irmã Mastoura, de um irmão e de dois netos de Gaddafi. Depois do ataque desse 30 de abril, o ministro russo das Relações Exteriores disse que “a destruição física de Gaddafi e de membros de sua família impõe sérias considerações.”
O almirante da Marinha dos EUA Samuel Locklear disse ao deputado Mike Turner em maio que as forças da OTAN trabalham para assassinar Gaddafi (ou, em termos mais contidos, como Turner relatou, “o escopo da proteção civil está sendo interpretado de modo que admite a remoção da cadeia de comando do exército de Gaddafi, o que inclui o próprio Gaddafi”). Gaddafi luta cada dia com mais astúcia. Com tudo a perder, está decidido a insistir.
O tempo trabalha a favor de Gaddafi. A cada dia que passa, mas detalhes do golpe de propaganda da OTAN vêm à tona.
Donatella Rovera (da Anistia Internacional) passou três meses na Líbia, investigando várias acusações. Em relatório, diz agora que a maioria das acusações são absolutamente falsas, forjadas. Uma dessas, e não pequena nem acusação nem falsidade, é a acusação de que Gaddafi estaria distribuindo Viagra aos soldados, para ‘animá-los’ a estuprar mulheres em massa (acusação que Luis Moreno-Ocampo, da Corte Criminal Internacional da ONU, repetiu como se fosse fato). Há vários outros crimes em andamento, como bombardeio militar de áreas civis, mas são cometidos tanto pelos soldados líbios como pelos jatos bombardeiros da OTAN. Nem um lado nem outro está em posição de julgar seja lá quem for, no campo moral.
A guerra da OTAN na Líbia já nada tem a ver com a Resolução n. 1973 da ONU e seu pressuposto filosofado (a Responsabilidade de Proteger Civis). O relatório de 6 de junho do International Crisis Group (“Making Sense of Libya”) declara com todas as letras que ninguém, por lá, parece preocupado com os civis, dado que a crise dos refugiados explode sem qualquer controle e o número de civis mortos só aumenta. Ninguém criou qualquer “corredor humanitário” em nenhuma das duas metades do país, para permitir que os civis tentem salvar-se do que já é, plena e completamente, guerra civil. A situação é vergonhosa
O impasse afeta a moral em Benghazi. As potências do Atlântico não avançam e os Estados do Golfo pouco dão, o que deixa o Conselho ‘de Transição’ preso entre estacas apertadas. Mas o vice-presidente do Conselho, Abdel Hafiz Ghoga, cantou canção diferente dia 25 de junho, quando esperava nova proposta política de Gaddafi. “Queremos preservar a vida. Queremos por fim a essa guerra o mais rapidamente possível. Temos algum espaço aberto para negociar”. O “espaço aberto” não existe nem nunca existiu, mas o que conta é o sentimento: Gaddafi está encurralado entre as bombas da OTAN e a condenação comandada por Ocampo. Os dois andares da cobertura Novotel Hotel em Jeddah (Arábia Saudita), onde Idi Amin foi acolhido, já não estão para alugar. E Chavez, da Venezuela, já voltou atrás, da oferta de casa e comida no Palácio de Miraflores. De importante e significativo, é que Ghoga dá sinais de que até a liderança em Benghazi, apesar dos firmes laços que a une a Paris e Langley, já percebeu que lhes servem, na Líbia, a todos, um banquete de mendigos, só de comidas sem gosto.
Até o International Crisis Group já chegou à conclusão de que “um acordo político é, sem qualquer dúvida, a melhor solução para a difícil situação criada pelo impasse militar”. Os dois lados devem aceitar um cessar-fogo imediato, a ser monitorado pelos soldados dos batalhões de paz da ONU que já estão por lá. Não se cogita de negociações diretas entre Benghazi e Tripoli, mas uma terceira parte poderia mediar o acordo. Não se cogita de essa terceira parte ser uma das potências do Atlântico – que não gozam da confiança de nenhum dos lados em confronto.
Segundo o relatório do Crisis Group, “Iniciativa política conjunta da Liga Árabe e da União Africana – a primeira, preferida da oposição; a segunda, do regime – é uma possibilidade, para conduzir um acordo de paz.” Há base para esse diálogo, construída nas visitas do “Painel Líbia”, da União Africana, a Trípoli e Benghazi; e no trabalho do Enviado Especial da ONU à Líbia, o jordaniano Abdul Ilah Khatib (famoso por ter dito das potências do Atlântico, que “Só quando há uma crise, elas [as potências do Atlântico] percebem que têm de fazer alguma coisa.” Mas, como também se lê no relatório do Crisis Group, nada disso servirá para coisa alguma “se os líderes da revolta e a OTAN não repensarem suas atuais posições.”
A União Africana vai reunir-se na Guiné Equatorial no próximo dia 30/6. O presidente do “Painel Líbia” da União Africana, o presidente da Mauritânia Mohamed Ould Abdel Aziz já declarou que “Gaddafi não pode continuar a governar a Líbia”. Mas a União Africana, diferente da OTAN e de Benghazi, não imporá a saída de Gaddafi como precondição para negociar. A ideia de que “Gaddafi tem de sair”, como diz o Crisis Group, é receita para truncar qualquer diálogo. É bem provável que as negociações resultem em fim do reinado de Gaddafi; mas, se acontecer, será como resultado possível de negociação entre os dois lados. Uma reunião preparatória para o Painel da União Africana, dia 26/6, não sugeriu nenhuma ideia diferente dessa. O problema não é esse. O problema é que o mapa do caminho que a União Africana já traçou só funcionará se a OTAN afastar-se da Líbia.
E então? Será que a OTAN e as potências do Atlântico admitirão que os países dos BRICS e da União Africana assumam o manche?
A Guerra Fria acabou no exato momento em que o projeto do Terceiro Mundo foi derrotado. Durante os anos 1990s, os países da África, Ásia e América Latina tentaram desenvolver um novo conjunto de instituições que neutralizassem as potências do Atlântico como potências dominantes. O Movimento dos Não-Alinhados formou o Grupo dos 15 (G15), depois estreitado para formar o bloco IBSA (Índia-Brasil-África do Sul), que hoje é o bloco BRICS.
Os BRICS já se candidatam à governança planetária, com plataforma muito mais decididamente multipolar e policêntrica que a das velhas potências do Atlântico. A União Africana agiria muito mais como agente dos BRICS que de Washington e Paris. A Líbia é um bom teste, no processo de transferência de poder, do moribundo G-7, para a formação mais robusta e potente dos BRICS. Mas as potências do Atlântico tentam impedir que aconteça. Por isso, estão trabalhando no desmonte da Líbia.
http://planobrasil.com/2011/07/02/o-desmonte-da-libia/#comment-87506
Probus,
Obrigada. Muito bons e informativos os seus comentários. Certamente, os demais leitores também agradecem.
Fico igualmente revoltada com as agressões das grandes potências militares, EUA principalmente, ao Iraque, Afeganistão, Palestina etc, sempre com pretextos falsos e cínicos. Sempre que oportuno, postarei textos evidenciando o absurdo dessas agressões criminosas.
Maria Tereza
Os EUA têm de pôr fim à guerra ilegal contra a Líbia
6/7/2011, Dennis Kucinich, Guardian, UK
The U.S. must end its illegal war in Libya now
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Dennis Kucinich é deputado pelo Partido Democrata dos EUA, representante do 10º distrito eleitoral de Ohio. Está no oitavo mandato.
Essa semana, apresento projeto de lei ao Congresso dos EUA, que porá fim ao envolvimento militar dos EUA na Líbia, pelas seguintes razões:
Primeiro, porque a guerra contra a Líbia é ilegal pelos termos da Constituição dos EUA e de nossa lei “War Powers Act”, porque só o Congresso dos EUA tem competência para declarar guerra e o presidente não conseguiu demonstrar que a Líbia representasse qualquer risco iminente aos EUA. O presidente ignorou inclusive a opinião de seus principais conselheiros legais no Pentágono e o Departamento de Justiça, que lhe demonstraram que a aprovação pelo Congresso era indispensável antes de os EUA bombardearem a Líbia.
Segundo, porque a guerra chegou a um impasse. Não é guerra que possa ser vencida, sem que a Líbia seja ocupada por terra por soldados da OTAN, o que configurará invasão da Líbia.
Toda a operação foi terrivelmente mal pensada desde o início. A OTAN apóia uma oposição baseada em Benghazi (cidade localizada no nordeste do país, região rica em petróleo), mas não há nenhuma prova de que aquela oposição tenha o apoio da maioria dos líbios.
O grupo de oposição Frente Nacional para a Salvação da Líbia (e que se suspeita que tenha sido apoiado pela CIA nos anos 1980), jamais teria iniciado uma guerra civil contra um governo líbio que sabia que jamais poderia derrotar, se não contasse com o apoio de massiva campanha aérea da OTAN e, agora, dado que isso não bastou, espera contar soldados da OTAN que invadam o país, por terra.
As ações levianas daquela oposição, encorajadas por interesses políticos, militares e da inteligência ocidentais, criaram a grave crise humanitária que, então, passou a ser usada como justificativa para a campanha de guerra da OTAN, contra a Líbia.
Terceiro, os EUA não têm dinheiro para sustentar aquela guerra. O custo da missão, para os EUA, deverá, em breve, superar a casa do 1 bilhão de dólares – e dentro do país enfrentamos cortes brutais nos serviços públicos devidos aos cidadãos norte-americanos.
Não surpreende que a maioria dos Republicanos, Democratas e independentes dessa Casa tenham a mesma opinião: que os EUA não podem continuar envolvidos na guerra da Líbia.
Essa guerra tem destino trágico. Invadir a Líbia seria completar o desastre. A OTAN já está fora de controle e serve-se de uma Resolução da ONU que visaria a proteger civis, como frágil pretexto para prosseguir em missão não autorizada de derrubada de um governo mediante emprego massivo de violência.
Numa palavra, o comandante da OTAN deve ser responsabilizado por inúmeras violações da lei internacional. Na tentativa injustificável de manter a guerra civil, a França, que é membro da OTAN, e o Qatar, aliado da coalizão, já admitiram que enviaram armas à Líbia – o que configura confessada violação do embargo de armas, que a ONU impôs àquele país.
No final, a principal vítima desse jogo entre nações será a legitimidade da ONU, de suas resoluções e mandados, e a lei internacional. Essa situação é insustentável. A proibição de que se forneçam armas à Líbia tem de ser aplicada, não desrespeitada pelos países membros da OTAN.
O apoio ilegal e contraproducente dos EUA a essas ações militares deve cessar imediatamente.
O Congresso dos EUA tem o dever de cortar todos os fundos que sustentam essa guerra, porque não há solução militar possível na Líbia. É indispensável iniciar negociações sérias em busca de uma solução política que ponha fim à violência e crie ambiente favorável para negociações de paz que visem a apoiar as aspirações legítimas e democráticas do povo. Uma solução política só será viável quando a oposição líbia entender que pôr e tirar governos do poder é privilégio do povo líbio, não da OTAN.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/07/os-eua-tem-de-por-fim-guerra-ilegal.html
Probus,
Obrigada. Aproveitarei suas informações para fazer outra postagem sobre tão importante tema.
Maria Tereza
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