Por Jamil Chade, correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Genebra
EUA E CHINA BLOQUEIAM DISCUSSÃO DA ‘GUERRA CAMBIAL’ NA OMC
Por pressão brasileira, tema faria parte do próximo encontro da entidade, mas Casa Branca e Pequim são ‘totalmente contra’ a proposta
“Estados Unidos e China bloqueiam a tentativa brasileira de incluir na agenda da reunião ministerial da ‘Organização Mundial do Comércio’ (OMC) a "guerra cambial" e o impacto das flutuações de moedas para as exportações e importações.
O encontro ocorre a partir do dia 14 de dezembro em Genebra, com a presença do chanceler brasileiro, Antonio Patriota. Já a proposta da Casa Branca de sugerir congelamento de todas as tarifas de importação foi rejeitada pelo Brasil e outros países emergentes, que defendem o direito de elevar impostos até as taxas autorizadas pela organização, sempre que sentirem que a medida é necessária.
A OMC vive seu pior momento, sem saber que rumo dar à ‘Rodada Doha’ e sem conseguir fechar nenhum tipo de acordo entre países sobre temas comerciais. Na reunião ministerial a ocorrer daqui a três semanas, as divergências ficarão mais uma vez claras. Não haverá declaração final, mas apenas um resumo das discussões, por falta de consenso.
Um dos pontos principais de conflito é a questão cambial. Nos últimos meses, o governo brasileiro lançou campanha para forçar a entidade a lidar com o impacto do câmbio para o comércio. O real valorizado prejudicou as exportações nacionais e permitiu que produtos estrangeiros entrassem no mercado nacional a preços mais baixos. Vários outros governos vivem a mesma situação por conta da desvalorização do dólar.
As armas dólar e Yuan da guerra cambial
Guido Mantega, ministro da Fazenda, chegou a conversar com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, na cúpula do G-20, na França. O Brasil conseguiu convencer a entidade a aprovar um plano para debater o assunto dentro no âmbito da OMC. O primeiro passo seria a realização de um seminário em 2012, sem valor legal e que não comprometeria a OMC a tomar decisões.
Brasília, porém, queria aproveitar a reunião ministerial da organização, que ocorre apenas a cada dois anos, para dar destaque ao assunto e elevar o perfil do debate. A proposta do Itamaraty era incluir um parágrafo no documento final apontando que o tema havia sido tratado.
Fontes europeias confirmaram ao “Estado” que a Casa Branca se colocou "totalmente contra" a proposta. O temor é de que o dólar acabe sendo apontado como o responsável [que é] por problemas vividos por outros governos.
A negativa dos Estados Unidos, porém, não significa que o assunto esteja sendo enterrado. O Brasil poderá levantar o tema no discurso que Patriota fará durante o evento, ainda que não tenha o mesmo peso. Além disso, o governo insiste que esse debate já faz parte da agenda da OMC para 2012 e que, portanto, tem garantias de que a relação entre o câmbio e o comércio será abordada.
A China, por sua vez, também rejeita ser alvo de pressões por conta de sua moeda e passou os últimos dias minando as chances de a proposta brasileira ser aprovada. Pequim reitera que a definição do yuan cabe só ao governo chinês e que uma mudança cambial no valor da moeda do país ocorrerá no médio e longo prazos.
CONGELAMENTO
O Brasil também fez questão de bombardear a proposta americana de adotar um compromisso legal de que todas as tarifas de importação fossem congeladas. O combate ao protecionismo tem sido uma das bandeiras da OMC e do G-20.
Desde as primeiras cúpulas, declarações foram feitas de que governos não recorreriam a barreiras como forma de solucionar suas crises. O problema é que ninguém cumpriu o prometido. Agora, os países ricos que sofrem estagnação cada vez mais preocupante, buscam um acordo para garantir que os emergentes continuem com os seus mercados abertos.”
FONTE: reportagem de Jamil Chade, correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Genebra. Transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/eua-e-china-bloqueiam-investida-brasileira-na-omc#more) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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