segunda-feira, 1 de outubro de 2012

OS 20 ANOS DO IMPEACHMENT DE COLLOR

1ª parte


Por Luis Nassif

A APOSTA DA GLOBO

“O primeiro nome nacional a dar impulso à candidatura Fernando Collor foi Chacrinha. Tendo passado a mocidade no Rio de Janeiro, Collor tornou-se amigo de Leleco, filho de Chacrinha. Ganhou espaço no programa “O Cassino do Chacrinha” para vender a imagem de “caçador de marajás”.

Embora filho de um amigo e ex-sócio de Roberto Marinho – o ex-senador Arnon de Mello – Collor não foi adotado de imediato pelas “Organizações Globo”.

Havia um foco na ação de Marinho: impedir a eleição de Lula. Depois, apostar no cavalo vencedor. Em determinado momento, parecia ser Guilherme Afif Domingos. Depois, mudou para Mário Covas que triturou Afif no debate da “Rede Bandeirantes”.

Para celebrar o acordo com Covas, houve famosa reunião no Rio, em que Covas e assessores encontraram-se com Roberto Marinho e seu “ghost writter”, Jorge Serpa. Um dos assessores de Covas – o jornalista Nirlando Beirão – preparou um artigo que seria publicado no jornal “O Globo” e repercutido no “Jornal Nacional”. Serpa ponderou que faltava o “lide”, a abertura de impacto capaz de marcar a campanha de Covas. E sugeriu o tal “choque de capitalismo”. Acabou colidindo com a imagem de Covas na Constituinte e foi enorme tiro na água.

Mas Serpa estava correto em relação à ideia-força da campanha.

Só depois que se consolidou como adversário de Lula, Collor recebeu as bênçãos de Roberto Marinho. Mas chegou aos 25 pontos do IBOPE por pura intuição, alicerçada nas análises de Marcos Coimbra, filho de um diplomata casado com uma irmã de Collor.

A INTUIÇÃO POLÍTICA

Seu pai, Arnon de Mello, alagoano, tornou-se jornalista conhecido dos “Diários Associados”. É dele a reportagem clássica do encontro de Poços de Caldas entre Getúlio e os governadores, que resultou no “Estado Novo”.

Os contatos com o mundo de Getulio Vargas se abriram depois que Arnon conheceu dona Leda Collor, filha do Almirante Souza e Silva. Viúva, a mãe casou-se com Lindolfo Collor, Ministro de Vargas, que educou e emprestou seu nome às filhas. Eram duas irmãs de temperamento fortíssimo. Mulher independente, estudou na Universidade do Brasil e teve presença marcante na vida dos filhos.

Collor foi criado no Rio, Maceió e em Brasília. Tornou-se governador de Alagoas e pavimentou a fase inicial da sua campanha com recursos levantados em um polêmico perdão de dívida de usineiros do Estado.

A primeira vez que soube de Collor foi através de seu irmão Leopoldo, que havia sido diretor comercial da sucursal paulista da “TV Globo”, demitido em um episódio rumoroso e, depois, transferira-se para a “TV Manchete”. Na época, eu estava com o programa “Dinheiro Vivo”, da “TV Gazeta”, depois de afastado da “Folha” por uma negociação entre o presidente José Sarney e o consultor geral Saulo Ramos com seu Frias.

Na “Gazeta”, batia diariamente em Sarney. Leopoldo me procurou dizendo que deveria aderir à candidatura do irmão. Foi em um almoço. Collor estava, então, com 5% dos votos, mas Leopoldo garantiu que ele seria eleito presidente. Falou de sua performance como “caçador de marajás”. Perguntei quem já havia aderido a ele. Respondeu-me que o polêmico apresentador Ferreira Neto. Agradeci o almoço e recusei o convite para aderir a Collor. Minha primeira impressão, a partir desse almoço, é que todos os aventureiros da República estavam aderindo a Collor.

Mas sua intuição política foi genial. O país saía do regime militar, pesadíssimo, burocrático, com a economia amarrada. Depois, passara pelo vexame do governo Sarney. Ele captou, de pronto, as novas tendências mundiais, expressas no “tactherismo” e, internamente, a resistência nacional contra Sarney e contra Brasília – já expressa na Constituição de 1988. Finalmente, a percepção da força dos “descamisados”, a massa de eleitores que o elegeria e, depois, ajudaria na eleição de Lula.

Naquela campanha, Collor intuíra as duas principais ideias-força que comandariam a política brasileira nas décadas seguintes: a redução do peso do Estado (e do predomínio de Brasília) e a ascensão futura das grandes massas de eleitores. Intuição de gênio; operação política de amador.

AS EQUIPES DE COLLOR

Sua equipe de assessores era de dar pena. A começar da responsável por seu programa de governo, Zélia Cardoso de Mello.

Mensalmente, tínhamos almoço com clientes da “Dinheiro Vivo” para discutir conjuntura. No início da campanha, convidei Zélia e Affonso Celso Pastore para uma exposição. Pastore expôs com o habitual brilhantismo. Zélia foi um vexame tão grande que fiquei com receio de que Pastore a desancasse. Ele se comportou cavalheirescamente.

Noutra vez, houve um evento da ANORO (Associação Nacional do Ouro) com representantes dos candidatos, para saber o que pensavam do mercado do ouro – na época, o mercado do ouro era a maneira de exercitar um arremedo de câmbio livre, impossível no câmbio oficial. O PT enviou como representante Carlos Eduardo, economista da PUC-SP que escrevia excelentes capas para a newsletter “Guia Financeiro”, da “Dinheiro Vivo”. A campanha de Collor enviou um economista da FGV-SP, sem o menor conhecimento da matéria. Carlos Eduardo apresentou um quadro tecnicamente correto do mercado. O economista da campanha de Collor falou sobre a poluição de mercúrio no garimpo de ouro. Foi um vexame amplo.

O episódio da Mirian Cordeiro provocou em mim uma repulsa ampla em relação aos métodos do candidato e ao lado mais obscuro da sua equipe: os irmãos Gilberto Miranda e Egberto Baptista, de larga influência.

No primeiro turno, votei em Mário Covas. Quando houve o episódio, bati pesado no meu programa, apesar da maioria absoluta do público telespectador ser antiLula. A partir dali,, torci tanto por Lula que devo ter sido o único comentarista a entender que ele venceu o famoso debate da “Globo”. Mesmo descontado a edição do “Jornal Nacional”, Collor se saiu melhor. Lula havia se excedido na campanha nos dias anteriores e chegou ao debate em pedaços, irreconhecível.

E foi essa implicância extrema que não me permitiu entender a abrangência de seu discurso de posse, preparado pelo filósofo José Guilherme Merquior. Foi um divisor de águas para o país, lançando as bases para o modelo que vigoraria, amplamente, nos dois governos FHC – embora, com sua suposta erudição, FHC não tivesse entendido um décimo do que Collor e, depois, Lula, entenderam sobre o país.

A visão de Brasil, de Collor, era imensamente mais objetiva que a de FHC. Disso só me dei conta algum tempo depois.

Collor chegou a Brasília sem equipe própria. Levou meia dúzia de alagoanos deslumbrados, um grupo de assessores de terceira categoria, arregimentados por Zélia e os barra-pesadas coordenados por Egberto Baptista. E a influência grosseira de Paulo César Farias.

Mas havia um outro grupo, de economistas e funcionários públicos – sobre os quais falarei mais adiante – que era o menos ostensivo, mas que teve papel central em mudanças fundamentais no estilo de governo, dali para diante. Foi a parte mais legítima e a menos conhecida de seu governo.

A falta de quadros, o parco conhecimento de Collor sobre quadros técnicos fê-lo cometer loucuras. Uma delas foi criar um superministério – o Ministério da Infraestrutura – entregando-o a João Santana.

Até então, o trabalho mais conhecido de João tinha sido o de assessor pessoal do ex-Ministro Dílson Funaro, depois que ele deixou o poder. Era um meninão, na idade e na cabeça. Na época, frequentávamos o “Bar Brasil”, perto da Avenida Paulista. Santana fazia parte do grupo e era motivo de chacota: cada vez que arrumava uma namorada nova, deslumbrava-se.

Pois, para ele, Collor deu a incumbência da reforma administrativa. Foi um desastre amplo, um desmonte sem pé nem cabeça que comprometeu, inclusive, o Censo Demográfico de 1990.

No Ministério da Infraestrutura, Santana foi responsável pela primeira licitação de telefones celulares para a TELESP – na época estatal. Montou um arremedo de licitação escandaloso. Haveria uma pré-licitação que escolheria três fornecedores de equipamentos. Depois, caberia a ele dar a palavra final.

De volta à “Folha”, fiz uma crítica pesada ao modelo. Ele me chamou a Brasília. Entrei em seu gabinete e ele estendeu uma minuta de licitação. Perguntei para que aquilo. Disse que era para eu analisar e fazer a crítica. Disse-lhe que estava brincando. Ele que divulgasse a minuta e eu iria ouvir especialistas para escrever sobre ela.

Era esse o nível de amadorismo.

Para sua equipe pessoal, Zélia levou um grande economista, Ibrahim Eris, que assumiu a presidência do Banco Central. E levou escudeiros complicados.

Há, pelo menos, dois episódios nebulosos similares, envolvendo Zélia, um que mereceu algum destaque, outro que passou em branco. O que recebeu destaque foi a acusação de que cobrara da “Associação Nacional do Transporte Rodoviário” para liberar reajuste de tarifas para as linhas intermunicipais. O que nunca mereceu destaque – e que me foi relatado pelo comandante Rolim, da TAM, pouco antes de morrer – foi a cobrança idêntica feita às companhias de aviação.”

FONTE: escrito por Luis Nassif em seu portal  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-20-anos-do-impeachment-de-collor-1). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

2ª parte


Por Luis Nassif

O BLOQUEIO DE CRUZADO

“Collor assumiu, de fato, uma economia descontrolada. O país estava manietado pelo medo e pelos lobbies. E vítima de uma hiperinflação que teve em Mailson da Nóbrega o maior responsável.

Depois da saída de Luiz Carlos Bresser-Pereira da Fazenda, Sarney entregou o Ministério a Mailson.

Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Maílson cometeu um dos mais irresponsáveis atos da política econômica brasileira: permitiu a conversão de dívida externa em cruzados. Foi um jogo que enriqueceu inúmeros banqueiros de investimento, permitiu à recém-criada confraria dos economistas financistas do Cruzado intermediarem operações milionárias. E, inundando o país com cruzados – emitidos para a conversão – quase jogou o país em uma hiperinflação.

Collor assumiu com a ideia da bala de prata, o tiro único capaz de matar a inflação.

Houve uma reunião na casa do ex-Ministro Mário Henrique Simonsen, presentes André Lara Rezende e Daniel Dantas. Nela, Collor perguntou o que seria necessário para a bala de prata contra a inflação. André disse que a saída seria um superchoque de liquidez, algo que tirasse dinheiro da economia – da poupança, dos investimentos. Collor pediu a aprovação de Simonsen. O ex-Ministro disse que era aquilo mesmo, mas não haveria governante com peito para implementar a sugestão.

Collor resolveu apostar.

Era uma medida terrível, que exigiria comunicação clara com o país. Tal não ocorreu.

O dia do lançamento do plano foi um desastre. Cheguei em Brasília e rumei para o Clube de Tênis, onde a equipe econômica estava reunida para fechar o plano. Não se tinha sequer o valor máximo a ser mantido nas contas correntes.

Havia poucos jornalistas por lá. Fiquei conversando com alguém do lado de fora. Na sala, Zélia, sua equipe, Éris e Belluzzo. Em determinado momento, Éris deu uma saída, puxei algum assunto com ele e, apesar de não conhecê-lo pessoalmente, me tratou com educação.

De repente, saiu Zélia. Olhou-me de longe, chamou um segurança e deu uma ordem. O segurança veio até mim informando ser proibida a presença de jornalistas naquele local. Desci as escadas bufando. De repente, vejo Zélia vindo atrás.

- Desculpe, Nassif, mas ordens são ordens.

Respondi meio secamente que educação era educação.

Logo depois, a famosa reunião na Fazenda, para falar do bloqueio. Na sala, estava Zélia, Éris e mais alguns assessores. Do lado jornalístico, éramos uns 10, incluindo o Joelmir, Paulo Henrique e a Lilian Witte Fibe.

Zélia começa a descrever tecnicamente o plano. No meio da apresentação, mencionou um instrumento financeiro que era claramente o vetoro desconto nos índices de inflação para impedir que a inércia inflacionária invadisse o espaço do congelamento de preços. Explicou que não era vetor. Mas a descrição técnica era de vetor.

Interrompi sua apresentação e disse-lhe que aquilo que ela descrevia era vetor. Ela insistia que não. Aí me deparo com Éris me olhando fixamente, quase suplicamente e meneando a cabeça, concordando que era vetor mas, com os olhos, quase implorando para não insistir no tema. A Ministra não daria conta das explicações.

O aturdimento dos jornalistas era um breve ensaio do espanto que tomaria conta do país dali para frente. Terminada a reunião, Lilian entrou ao vivo na “Globo”, com o ar de espanto que marcaria o anúncio do plano.

De lá, descemos para o auditório, onde Eduardo Teixeira, economista da Unicamp, comandava uma bancada incumbida das explicações sobre os contratos. A sessão estava sendo transmitida por todos os canais. Uma jornalista pediu a palavra e narrou um caso qualquer, de drama de alguém – acho que uma pessoa doente que ficou sem dinheiro para o tratamento. Eduardo ironizou.

Da platéia, rabisquei um recado e mandei para ele. Perguntava se ele estava louco de ironizar dramas pessoais no meio do anúncio de bloqueio de dinheiro. Tenho a impressão que o bilhete ajudou-o a cair em si, porque passou a se comportar com mais calma. Mas não refrescou em nada a situação.

Saí dali, peguei o avião. Na esteira de desembarque, encontrei com o herdeiro de um dos bancos do Ceará, filho de um dos primeiros coronéis a apoiar Collor. Perguntei o que tinha achado do anúncio.

Ele me disse para esperar um pouco, enquanto aguardava a chegada de seu filho, de uns 6 anos, que vinha correndo encontrá-lo. Enquanto o menino não chegava, ele me disse que o filho cortava o cabelo que nem Collor e colocou o nome do presidente em um passarinho que ganhara dias atrás.

Aí o menino pulou no seu colo e ele perguntou:

- Filho, o que você acha do Collor?

E o menino:

- Fiadaputa.

Pensei comigo mesmo: ferrou.

Nos dias seguintes, ocorreu um caos. Da noite para o dia, os bancos tiveram que desenvolver dois sistemas de computação, um em cruzados, outro em cruzados novos. Durante meses, o Banco Central andou no escuro, sem saber que banco estaria ou não quebrado.

Nos negócios empresariais e pessoais, uma desordem total. A lei era clara sobre o que podia ser pago em cruzados e em cruzados novos. Mas havia enorme dificuldade dos agentes assimilarem as regras que, embora claras, levavam a uma situação inusitada.”

FONTE: escrito por Luis Nassif em seu portal  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-20-anos-do-impeachment-de-collor-2)

3ª Parte:

O DIA EM QUE O PRESIDENTE COLLOR ME XINGOU [Nassif]

Por Luis Nassif

“O Thiago [leitor] conseguiu transcrever a reportagem do José Nêumane, do ‘Estadão’, no aniversário de 50 anos de Leopoldo Collor.

O Plano Collor já tinha começado a fazer água. Para segurar a explosão da inflação, Ibrahim Éris jogou a taxa de juros nas alturas.

Era óbvio, para mim - em meu programinha na “TV Gazeta”, retransmitido pela “TV Nacional” - que viria uma recessão. A economia ainda estava desarrumada, após o bloqueio de cruzados. A elevação exponencial dos juros completaria o trabalho de derrubá-la.

De fato, poucos meses após essa entrevista, as previsões se confirmariam e o país mergulharia em um período complicado.

Na época, estava fora da chamada grande imprensa. E era curioso que Collor assistisse e se exasperasse com o programa.

Pouco tempo depois, por ordem de Marcelo Netto, o programa foi tirado do ar na “TV Nacional”.

Por Thiago Costa

Nassif, aqui vai a transcrição da matéria do estadao que você tinha publicado ontem, tinha apenas uma ou outra palavra ininteligível:

"COLLOR APOSTA NA ELEIÇÃO DOS DEFENSORES DO PLANO

Presidente acredita que eleitores estão conscientes da importância de manter o projeto do governo

Por José Nêumanne, do “Estadão”

“O presidente Fernando Collor de Mello está convencido de que, nas próximas eleições parlamentares e estaduais, o povo brasileiro vai confirmar a decisão política de modernizar o Brasil, a qualquer custo, elegendo governadores afinados com o governo federal e deputados e senadores comprometidos com suas propostas. O projeto de governo - de levar o Brasil ao patamar de País do Primeiro Mundo - não admite, segundo ele, recuos(?) nem hesitações, mas exige firmeza.

Principal atração da festa na qual se comemorou o 50° aniversário de seu irmão mais velho, Leopoldo Collor de Mello, o presidente fez questão de, alto e bom som, assumir uma posição definida para as eleições de 3 de outubro próximo. "Estados como São Paulo e Minas Gerais precisam eleger governadores afinados com a política de modernização do governo federal. Tenho consciência de que isso acontecerá na grande maioria das unidades da Federação, muito embora em algumas não tenhamos conseguido, ainda, convencer o eleitorado da necessidade da adoção desse rumo", disse Collor, na sala de visitas de seu cunhado e secretário-geral do governo, Marcos Coimbra.

No caso de São Paulo, o presidente não citou nenhum nome, mas a frase foi pronunciada quando ele, com um charuto apagado entre os dedos, era ladeado por seu irmão mais velho e pelo ex-governador Paulo Maluf, candidato do PDS ao Palácio dos Bandeirantes. Maluf e Joaquim Roriz (do Distrito Federal) foram candidatos a governador convidados para o aniversário de Leopoldo Collor. A citação de Minas Gerais e São Paulo, que produzem 60% do PIB nacional, foi interpretada por assessores do presidente como um estímulo às candidaturas de dois ex-governadores, Hélio Garcia e o próprio Maluf. "Já pensou São Paulo e Minas contra o presidente? Isso poderia atrapalhar muito", insistiu Collor.

CONSCIÊNCIA

Mesmo assim, o presidente garantiu não abrir mão de sua decisão de evitar o uso da demagogia ou de métodos políticos do velho clientelismo para assegurar bons resultados eleitorais. A seu lado, o deputado paulista Arnaldo Faria de Sá (PRN) acrescentou: "Por isso, o presidente adotou medidas impopulares".

"Mas a sociedade brasileira está consciente do esforço que precisa ser feito para reconstruir o País", completou o próprio Collor. A essa consciência o presidente atribuiu os baixos índices de preferência popular dos candidatos que investem contra o Plano Collor.

PESSIMISMO

No meio da sala, em veemente tom oratório, o presidente da República dirigiu-se a seus interlocutores fazendo severas críticas aos economistas da oposição. Num balanço de seu primeiro semestre de governo, referiu-se a uma anedota familiar, citando o primo de sua primeira mulher, Lillibeth, Olavo Monteiro de Carvalho, também presente à festa: "Olavinho vive pagando, em dólares, a um bando de economistas, para eles irem às suas empresas fazer previsões. Eu já disse que ele poderia economizar esse dinheiro, limitando-se a dar um telefonema para mim ou para a Zélia (ministra da Economia). Nós lhe daríamos melhores informações de graça, ao contrário desses economistas que custam caro e valem pouco".

Sem interrupções dos interlocutores, que começavam a formar um bloco compacto em torno da mesa de centro da casa. Collor chegou a se exaltar ao comentar: "Esse Luis Nassif vive pregando o caos e a catástrofe na televisão. Ele faz parte do time dos economistas que tentam provocar uma recessão a qualquer custo", acusou. "Eles vivem garantindo que a recessão vem aí, mas a recessão não chega nunca. O povo já está escaldado com essa gente. É o caso de perguntar: se eles são tão bons economistas como pensam ser, por que não resolveram os problemas do País quando tiveram poder nas mãos? Ao contrário do que pregam, o que fizeram foi ajudar a criar os graves problemas de nossa economia."

CUT DE BATINA

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também foi tema da conversa do presidente. Escandindo as palavras e destacando as frases, Collor queixou-se da incompreensão dos liderados de Jair Meneguelli. "Ninguém está excluído do esforço do governo em procurar organizar, harmonicamente, a recuperação econômica do País. Por isso, a CUT foi chamada à mesa das negociações. Mas eles não entenderam nada."

Brandindo com a mão direita o charuto apagado, explicou por quê: "A CUT resolveu impor condições para negociar. Diz que só se senta à mesa se o governo detiver o plano de privatização de empresas estatais e se o presidente mandar readmitir os funcionários públicos demitidos na reforma administrativa. Em que mundo vive essa gente, meu Deus?" indignou-se(?) Collor.

Collor está convencido de que a aceitação das imposições dos sindicalitas da CUT significaria, para o governo, desistir do projeto de elevar o Brasil à condição de País de Primeiro Mundo e condená-lo à estagnação.

"O próximo passo será chamar a CNBB para a negociação. Como definiu com muita felicidade o jornalista Sebastião Nery (ex-assessor de Collor na campanha e atual adido cultural na embaixada brasileira em Roma, a CNBB é a CUT de batina. Pois bem, a CUT de batina também terá direito a voz na negociação que o governo federal propõe e realiza", disse.

FAIXA FORTE

O desabafo do presidente também enveredou pelo rumo das reminescências da campanha, usadas como reforço em sua argumentação. "Todos sabem que minha candidatura foi rejeitada pela Igreja, pela maioria dos artistas e intelectuais, pelos universitários, pela grande imprensa, pelos partidos maiores e pelos líderes políticos tradicionais. Eu sei quanto vale a faixa presidencial quando eu a uso. Sei que ela tem a força das urnas e não me disponho a abrir mão dessa força", assegurou.

Collor lembrou, também, os incidentes de violência na campanha e o nível dos programas no horário gratuito na televisão. "Nós ganhamos uma batalha porque estávamos preparados. Por que agora me faltaria coragem para enfrentar a mesma gente, com os mesmos propósitos? O povo está do meu lado e se cansou de tanta hipocrisia e desse atraso político", comentou.

Para Collor, "essas pessoas não entendem que o Brasil mudou e continua a mudar para melhor", garantiu. "Nossa campanha foi um [??] da queda do Muro de Berlim, que veio a acontecer na época da eleição."

A conversa foi interrompida pela orquestra que entoou o “Parabéns pra Você”. Depois das comemorações em família, o presidente insistiu no tema, ao levantar uma dúvida: "Você acha que eu fui incisivo demais?"

Talvez a resposta possa ser dada pelo comentário do irmão Leopoldo, que ouviu tudo, desde o início: "Ele estava com um grito parado na garganta. E desabafou".

FONTE: escrito por Luis Nassif em seu portal  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-dia-em-que-o-presidente-collor-me-xingou).

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