sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA COM TENDINE, NOVO PRESIDENTE DA PETROBRAS




Petrobras não vende participação no pré e pós-sal “de jeito nenhum”

Do Jornal GGN

"O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, deu entrevista ao jornal "Valor Econômico" [dos grupos tucanos "Folha" e "Globo"e disse, entre outras coisas, que a estatal vai rever seu plano de negócios para este e os próximos anos e cortar investimentos, vender ativos, e até abrir o capital de negócios.

"A capacidade de execução dos nossos investimentos estará atrelada à capacidade de caixa da empresa. Isso para nós é regra básica. É isso o que vai nortear o plano de investimento", disse. Mas garantiu que o corte não vai ser drástico “A Petrobras teve um plano massivo de investimento nos últimos anos, inclusive, já começou a capturar os resultados desses investimentos. Agora, ela não tem uma necessidade tão forte de investimento como a que vinha realizando".

Bendine diz que de jeito nenhum será vendida a participação da Petrobras nos blocos de exploração do pré-sal e pós-sal. "A grande geração de valor para a Petrobras é o aumento de sua produção. Existe um plano tipo de ativo. O aumento da exploração é o 'core' da empresa, é o que dá resultado. Vou entregar o ouro?".

A entrevista é algo tranquilizadora. O presidente tem noção da dimensão do desafio, mas não parece disposto a ceder à pressão. À primeira vista, a nomeação de Dilma foi acertada.

Bendine diz que vai cortar investimentos

Por Cristiano Romero, no jornal "Valor Econômico" 
[dos grupos tucanos "Folha" e "Globo"]

"Endividada e envolvida num dos maiores escândalos da história do país, a Petrobras vai rever seu plano de negócios para este e os próximos anos. Em entrevista antecipada ontem pelo "Valor PRO", serviço de informação em tempo real do "Valor", o novo presidente da estatal, Aldemir Bendine, informou que a empresa vai cortar investimentos, vender ativos e possivelmente, assim que "o diálogo com investidores e o mercado for restabelecido", abrir o capital de negócios onde a empresa hoje é a única acionista e voltar a fazer captações no exterior - uma nova capitalização, entretanto, está descartada.

Para o quinquênio 2014-2018, o plano era investir US$ 206,8 bilhões, com projeção para produzir 4,2 milhões de barris por dia em 2020 - hoje, produz 2,034 milhões de barris (média de 2014). Esses números vão mudar.

"A capacidade de execução dos nossos investimentos estará atrelada à capacidade de caixa da empresa. Isso para nós é regra básica. É isso o que vai nortear o plano de investimento", revelou Bendine. "[O corte] não vai ser algo drástico porque a Petrobras teve um plano massivo de investimento nos últimos anos, inclusive, já começou a capturar os resultados desses investimentos. Agora, ela não tem uma necessidade tão forte de investimento como a que vinha realizando."

No plano de desinvestimento, há o que pode ser feito e o que não se pretende fazer de forma alguma. Por exemplo: a venda de participação da estatal em blocos de exploração da camada pré-sal e mesmo da camada pós-sal está descartada.

"A grande geração de valor para a Petrobras é o aumento de sua produção. Existe um plano tipo de ativo. O aumento da exploração é o 'core' [coração] da empresa, é o que dá resultado", esclareceu. "Vou entregar o ouro?", indagou o executivo, que assumiu o cargo há menos de uma semana.

O foco na exploração de petróleo fez com que a Petrobras desistisse de investimentos em refinarias, como a Premium I, no Maranhão, e a Premium II, no Ceará, ambas parte de um projeto com conotação mais política do que empresarial. "Nesse tipo de ativo vamos desinvestir", avisou Bendine, sem demonstrar preocupação com a repercussão política da decisão, antecipada em parte por sua antecessora no cargo, Graça Foster. "A presidente Dilma Rousseff me deu autonomia para agir."

Bendine não vê riscos na redefinição das prioridades da maior empresa do país. "A Petrobras não vai parar; vai continuar firme, não vai dar marcha à ré; tem um papel fundamental no equilíbrio dessa cadeia, que é a mais importante do PIB brasileiro, mas ela vai ter que trabalhar dentro da realidade do caixa, daquilo que possa realizar."

Em sua gestão, entre 2009 e 2015, no comando do Banco do Brasil (BB), uma sociedade anônima de capital aberto como a Petrobras, Bendine procurou fazer parcerias com o capital privado para gerar valor e, assim, melhorar a estrutura de capital do banco. Foi por causa dessa estratégia que surgiram duas gigantes no mercado brasileiro: a "Cielo", uma parceria na área de cartões de crédito com o Bradesco, e a "Brasil Seguridade", cujo o IPO (sigla inglês para oferta pública inicial) foi um dos maiores da história do país.

Nos dois casos, o BB continuou sendo o maior acionista, mas as empresas se tornaram privadas, com todas as vantagens que isso representa em relação à gestão de uma empresa estatal. Na Petrobras, há vários ativos onde seria possível estabelecer um modelo de parceria como os do BB. A "BR Distribuidora" seria um exemplo, mas Bendine preferiu não confirmar os rumores de que já existem planos para um possível IPO da empresa.

"Se a Petrobras conseguir restabelecer o diálogo com os investidores e com o mercado, há até a possibilidade de pegar determinados ativos e fazer uma abertura de capital. São alternativas", informou.

A avaliação que se faz dentro da estatal é que há várias possibilidades em estudo. O problema é o ritmo das discussões. "Aqui tem muita coisa, mas está ainda em pedra bruta. Precisa ser lapidada", comentou uma fonte bem informada. "Tem coisas sendo feitas, mas achamos que isso pode ser feito de forma mais rápida. Faltam aqui a malícia e as nuances do mercado financeiro."

A Petrobras vive, desde o ano passado, uma espécie de inferno astral. Sua dívida bruta é uma das maiores do setor corporativo no mundo - R$ 331,7 bilhões (em setembro de 2014). O mercado já vinha de mau humor com seu desempenho desde a megacapitalização de 2010, e a situação só piorou após as revelações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. A combinação de dívida elevada com os efeitos das investigações policiais fizeram o mercado levantar dúvidas sobre a capacidade da empresa de manter seu grau de investimento.

Bendine assegura que, apesar do excesso de alavancagem e da volatilidade do dólar, que impacta 70% da dívida, a empresa não tem problemas de caixa. Ele acredita, ainda, que as ações que vai implantar, com a nova diretoria, reduzirão a dívida até o fim do ano. "Isso só não ocorreria se eu e o Ivan [Monteiro, diretor financeiro e de relações com o mercado, outro egresso do Banco do Brasil] ficássemos aqui olhando, sem fazer nada", brincou.

A revisão do plano de negócios é apenas uma das três "missões imediatas" de Bendine para enfrentar a situação neste momento. As outras são "dar ao mercado, no menor espaço de tempo possível e com segurança, os números corretos da companhia em 2014, auditados" e "fazer profundas mudanças" nos padrões de governança da empresa.

A publicação do balanço auditado é crucial, na visão de Bendine, "para que a vida continue" a partir daí. O risco que a estatal corre neste momento é perder o prazo: se o balanço auditado não for publicado até junho, credores poderão exigir a antecipação do vencimento de dívidas da empresa.

Nessa linha, o anúncio, pela diretoria anterior da estatal, de que haveria R$ 88,6 bilhões em ativos superavaliados no balanço do terceiro trimestre de 2014, não ajuda. Há a crença, dentro da Petrobras e mesmo para Bendine, de que o número foi calculado com metodologia errada. O valor estaria bastante inflado. O problema é que, quando for corrigido pela nova diretoria, enfrentará questionamentos do mercado, que pode acusar Bendine de estar a serviço de uma operação política para minimizar os danos do escândalo de corrupção que atingiu a Petrobras.

"Houve uma confusão em relação a números divulgados porque simplesmente se pegou uma variação de fluxo de caixa sobre alguns ativos. E nas métricas que estavam sendo adotadas, a metodologia não era a mais adequada, inclusive, foi o que se confirmou para nós por outras fontes que consultamos", ponderou. "Houve erros nos testes de imparidade [para avaliar se o valor de um ativo é inferior ao seu valor escriturado]."

Para Bendine, os R$ 88,6 bilhões são "um número um pouco aleatório". "Não diz praticamente nada", sustentou. A baixa de ativos que a nova diretoria fará no balanço, já levando em conta os desvios descobertos por investigações da Polícia Federal no âmbito operação Lava-Jato, será "realista". "Sem dúvida, será um número bastante inferior a esses R$ 88,6 bilhões", disse Bendine.

O novo presidente da Petrobras assegurou que é "absurdo" dizer que o processo de corrupção na Petrobras gerou todo esse prejuízo. "Vai ser difícil ter essa percepção de qual é o valor que um processo de má-conduta pode ter influenciado numa baixa de ativo. Pode ser que, talvez, nós nunca enxerguemos exatamente o que é."

Segundo Bendine, o balanço auditado do terceiro trimestre de 2014 será publicado "bem antes de junho", quando vence o prazo que dá direito aos credores de exigir a aceleração do vencimento de seus créditos junto à Petrobras. "O mercado vai entender o que vamos fazer", aposta o executivo.

Bendine explicou que, no balanço, a Petrobras fará provisão dos prejuízos provocados pelo caso de corrupção envolvendo a estatal. Esclareceu que as investigações estão em curso e que ainda levará tempo para se saber exatamente o volume desviado e os danos causados à empresa. O que for feito agora, do ponto de vista de estimativa de perda, será para fazer frente a futuras penalidades.

"Com base na delação do primeiro diretor [Paulo Roberto Costa], de que havia comissão de 3% sobre todos os contratos feitos no período X, o que a empresa olhou? Quantos contratos foram feitos com as empresas arroladas: foram milhões de contratos. Vamos jogar 3% em cima disso e fazer um provisionamento", explicou Bendine, acrescentando que isso levaria a uma provisão de cerca de R$ 4 bilhões (3% sobre contratos no total de R$ 128 bilhões). "Tem esse cálculo. Pode ser, inclusive, uma métrica para ser jogada no balanço. Isso não tem nada a ver com teste de imparidade."

No BB, um banco estatal sujeito, como todos os outros, a ingerência política, Bendine ajudou a dar à instituição o grau máximo de governança existente na bolsa brasileira, o que lhe permitiu fazer parte do Novo Mercado. À frente da Petrobras, ele pretende mudar radicalmente a governança. Uma das ideias é descentralizar "alçadas de decisão", aproveitar as sinergias existentes entre as diretorias e permitir que decisões colegiadas sejam tomadas a partir de agora.

"Vamos criar comitês que tenham capacidade de tomar decisões", informou. "É possível, por exemplo, que algumas operações de crédito não precisem passar por inúmeras instâncias até chegar à diretoria", acrescentou.

A área de engenharia da Petrobras não preocupa Bendine. Segundo ele, a estatal brasileira é a empresa mais premiada da "Offshore Technology Conference" (OTC). "O maior ativo da Petrobras é o seu quadro de colaboradores", elogiou. "O que a Petrobras precisa neste momento é de gestão e de uma abordagem financeira."

O novo presidente da estatal assegurou que as nomeações de sua gestão não atenderão a critérios políticos. "Só sei trabalhar com técnicos", assegurou. "Foi assim no Banco do Brasil e será assim aqui." Ele revelou também que as mudanças no conselho de administração da estatal devem ocorrer antes da reunião de abril."


FONTE: postado no "Jornal GGN"   (http://jornalggn.com.br/noticia/petrobras-nao-vende-participacao-no-pre-e-pos-sal-%E2%80%9Cde-jeito-nenhum%E2%80%9D). [Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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