sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

MISTÉRIO. POR QUE A MÍDIA ESCONDE O ESCÂNDALO DO HSBC?




Crise: O Escândalo do HSBC

O assombroso silêncio no Brasil em torno do escândalo HSBC

Por Paulo Nogueira, do "Diário do Centro do Mundo"

"Simplesmente inaceitável o silêncio no Brasil em torno do vazamento das contas secretas do HSBC na Suíça.

Passo pelos sites das grandes empresas jornalísticas e a cobertura ou é nula ou é miserável.

Os números justificariam barulho. Muito barulho. No caso brasileiro, são 8 667 contas num total de 7 bilhões de dólares sonegados.

Chamou-me a atenção, também, a atitude dos colunistas. Onde a indignação? Onde a estridência habitual? Onde o sentido de notícia?

Passei no twitter de Noblat. Nos últimos dois dias, uma centena de tuítes. Zero sobre os chamados "Swissleaks".

Também, dei uma olhada em Reinaldo Azevedo, verborrágico, torrencial nos textos. Nada sobre o HSBC.

São dois entre tantos.

A ausência deles do debate mostra uma coisa que sempre tive clara. A valentia deles vai até onde não existe risco de publicar algo que contrarie interesses de seus patrões.

É o colunismo sabujo, o colunismo papista, o colunismo patronal – ou, simplesmente, o colunismo chapa branca.

E se algum patrão dos colunistas estiver na lista? Na Argentina, o "Clarín" encabeça o pelotão dos sonegadores.

Melhor, então, ignorá-la.

No mundo inteiro, jornais garimparam nomes de integrantes da lista. No Brasil, apareceu – parece piada de humor negro – com algum destaque um morto: o banqueiro Edmond Safra.

Graças a um site angolano, soube-se que o Rei do Ônibus do Rio, Jacob Barata, também está listado.

A última vez que vi Barata no noticiário foi no casamento de uma neta. Gilmar Mendes (STF) foi um dos padrinhos.

Imagine, apenas imagine, que haja consequências jurídicas para Barata, e que o caso chegue ao Supremo.

Como agiria Gilmar?

Jornalista, como pregava o maior de nós, Pulitzer, não tem amigo. Porque amizades interferem no noticiário.

Da mesma forma, juízes não deveriam ter amigos. Mas, no Brasil, têm.

Não me surpreende a mídia no escândalo do HSBC. Conheço-a bem para esperar qualquer coisa diferente.

Mas e o governo: não tem nada a dizer?

Estamos tão bem de dinheiro nos cofres públicos para desprezar a busca dos bilhões sonegados?

Não é o que parece.

Considere o que a Espanha está fazendo. O ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, anunciou que estuda “medidas legais contra o HSBC por sua participação em fraudes fiscais, lavagem de dinheiro e outros atos criminosos cometidos por cidadãos espanhóis”.

Em 2010, o governo espanhol teve acesso a 650 nomes de pessoas com conta secreta no HSBC na Suíça.

Foi atrás de um por um. A família Botin, que controla o Santander, fez um acordo extrajudicial com o governo. Pagou 200 milhões de euros, cerca de 600 milhões de reais.

A oposição de esquerda na Espanha luta para que a legislação seja alterada para que sejam publicados todos os nomes, de todos os envolvidos em evasão fiscal.

No Brasil, o quadro é completamente distinto – e para pior.

Pouco antes de Joaquim Levy ser nomeado ministro da Fazenda, o banco em que ele trabalhava, o Bradesco, foi pilhado numa história de sonegação no paraíso fiscal de Luxemburgo.

A "Globo" carrega uma espetacular história de sonegação já há dois anos – sem quaisquer consequências legais ou financeiras.

A "Globo" continua a receber seu mensalão publicitário como se honrasse todos os seus compromissos com o Tesouro.

Ou os espanhóis – e o mundo – estão errados, ou errados estamos nós.

Faça sua escolha."
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, do "Diário do Centro do Mundo". Transcrito no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/crise-o-escandalo-do-hsbc).

COMPLEMENTAÇÃO 1:

[OBS deste blog 'democracia&política': Talvez, esteja esclarecido o silêncio da mídia. A chave do mistério poderia estar na frase destacada em negrito (ver abaixo) contida nos trechos extraídos da seguinte postagem do Jornal GGN (trechos entre colchetes acrescentados por este blog): 


Contas secretas do HSBC paralisam o mundo, menos o Brasil

Por Patricia Faermann  [http://jornalggn.com.br/noticia/contas-secretas-do-hsbc-paralisam-o-mundo-menos-o-brasil]

[...] "O primeiro jornal a ter conhecimento foi o francês Le Monde. Ele teve acesso aos dados secretos de uma investigação iniciada em 2008, pelo governo da França, por meio de informações vazadas do ex-funcionário do HSBC, franco-italiano especialista em informática, Hervé Falciani.

Percebendo que o esquema envolvia mais de 200 países, o Le Monde decidiu compartilhar todo o material com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), uma rede que integra 185 jornalistas de mais de 65 países, que investigam casos em profundidade. Do Brasil, são cinco membros: Angelina Nunes, Amaury Ribeiro Jr., Fernando Rodrigues, Marcelo Soares e Claudio Tognolli.

Os cinco, portanto, teriam [poderão vir a ter] acesso à considerada maior base de investigações fiscais do mundo, até hoje, de posse inicial do Le Monde. Nesses arquivos estão os nomes, profissões e valores de ativos de todos os clientes da filial do HSBC na Suíça. O ponto fraco dos documentos é delimitar quando houve indícios de participação de ilegalidades, uma vez que não é proibido ter uma conta bancária na Suíça. Estão incluídos nomes da realeza, figuras públicas, políticos, celebridades, empresários.

O ICIJ formou um grupo menor de jornalistas para investigar os documentos do projeto denominado como Swiss Leaks. Participam todos os países do Consórcio. Do Brasil, Fernando Rodrigues, do UOL [portal pertencente ao grupo tucano "Folha"], é o único que tem em mãos as apurações dos clientes brasileiros. [o trecho anterior 
desse parágrafo, em azul, é autoelucidativo...]

Até o momento, as informações divulgadas pelo ex-repórter da Folha de S. Paulo
, Fernando Rodrigues, são de que os dados do HSBC indicam 5.549 contas bancárias secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, em um saldo total de US$ 7 bilhões. Nenhum nome. Fernando Rodrigues explica que entrou em contato com autoridades brasileiras, para saber se há ilegalidade nessas operações bancárias, ou se os valores foram declarados à Receita. E que "estaria desde novembro aguardando a resposta".

Essa desculpa não bate com o histórico do jornalista. O fato de divulgar a existência da lista e segurar os nomes dá margem a toda sorte de interpretações." [...]


COMPLEMENTAÇÃO 2:

As contas criminosas do HSBC não são uma exceção

"O dinheiro do tráfico de drogas e de armas, de corrupção e até mesmo do terrorismo internacional circula no sistema financeiro legal com desenvoltura muito além do imaginado.

Por Carlos Drummond, na revista "CartaCapital"


A filial suíça do banco atraía seus clientes pelo sigilo e pelos baixos impostos oferecidos no paraíso fiscal (foto: Fabrice Coffrini / AFP)

"A existência de milhares de contas bancárias de sonegadores, corruptos, traficantes, empresários, banqueiros e ditadores no HSBC, denunciada recentemente por um grupo de veículos de comunicação da Europa e dos Estados Unidos, não é uma exceção, nem na história dessa instituição, nem no mundo bancário. O dinheiro do tráfico de drogas e de armas, de corrupção e até mesmo do terrorismo internacional circula no sistema financeiro legal com desenvoltura muito além do imaginado.

O maior vazamento bancário da história, de cerca de 30 mil contas do HSBC na Suíça com 120 bilhões de dólares em depósitos realizados entre 2005 a 2007 por clientes criminosos e sonegadores, foi divulgado pelos jornais "The Guardian", "Le Monde", a "BBC" e o "Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos" no começo deste mês. A instituição financeira forneceu contas para parentes de ditadores, indivíduos envolvidos em escândalos de corrupção na África, figuras da indústria de armas e empresários corruptos.

Celebridades como o piloto Fernando Alonso, o cantor David Bowie, o rei Abdullah II da Jordânia, o ator John Malkovich, o jogador de futebol Diego Forlán e os banqueiros Edmond Safra e Emilio Botin figuram na lista de correntistas com mais de 6 mil nomes de brasileiros. A filial suíça do banco ajudou a sonegar impostos e a ocultar milhões de dólares em ativos, distribuídos em pacotes não rastreáveis.

Devido ao grande número de contas e à quantidade de celebridades envolvidas, esse escândalo do HSBC desperta atenção incomum, mas é o mais recente de uma série longa e comprometedora de irregularidades semelhantes. Os 400 bilhões de dólares movimentados pelo tráfico internacional de drogas, equivalentes a 8% do total do comércio mundial, transitam, em grande medida, por agências bancárias legais.

Há 500 mil encarcerados nos Estados Unidos acusados de participar do tráfico, mas nada se fez até agora para coibir a ação dos maiores bancos do mundo que ajudam os cartéis do México e de outros países lavando bilhões de dólares ilegais provenientes dessa atividade. HSBC, Western Union, Bank of America, JP Morgan Chase&Co, Citigroup, Wachovia estão entre os bancos acusados dessa prática, segundo o jornalista Bill Conroy.

O "Wachovia" movimentou durante anos, até 2010, mais de 378 bilhões de dólares em lavagem de dinheiro, em grande medida originado no tráfico de drogas. Em 2012, uma comissão do Senado dos Estados Unidos emitiu um relatório com detalhes de operações de lavagem de dinheiro pelo HSBC em Londres para os cartéis de drogas "Sinaloa", do Mexico e "Norte del Valle", da Colômbia.

Pouco depois da destruição das torres gêmeas do World Trade Center por terroristas em 11 de setembro de 2001, parlamentares defenderam a intensificação da luta contra a lavagem de dinheiro com o objetivo de identificar e prender os autores do ataque. Esses tinham deixado pistas em contas bancárias, cartões de crédito e transferências de dinheiro, evidências da grande liberdade concedida pelo sistema bancário para as suas operações.

Os senadores Carl Levin e Charles E. Grassley apresentaram uma proposta para incluir providências antilavagem de dinheiro no escopo do "Patriot Act". A proposição dos parlamentares revoltou a "Associação dos Bancos Americanos", em especial o "Citigroup" e o "J. P. Morgan Chase". Sob a liderança do primeiro, montou-se um lobby para abortar ou tornar inofensiva a legislação proposta.

Os bancos de fachada e o "shadow baking system" são aliados do sistema financeiro formal no empenho para proteger o livre trânsito do dinheiro ilegal. A atitude dos órgãos de supervisão do sistema financeiro é frouxa. O "Comitê de Supervisão Bancária do Bank of International Settlements" (BIS), o banco central dos bancos centrais, apenas recomenda que os bancos recusem iniciar ou continuar relações com bancos de fachada, eufemisticamente denominados “correspondentes localizados em outras jurisdições”.

Os principais bancos fazem transações a partir de entidades 'offshore' para evitar a sujeição às exigências de reservas bancárias no seu próprio país. O risco dessa atividade conduzida sem reservas é sustentado pela instituição original, pelo seu banco central e pelos contribuintes do país.

As revelações de escândalos sucessivos evidenciam uma atividade constante de bancos e outras instituições financeiras na proteção do dinheiro obtido ilegalmente. Ações isoladas de estados nacionais seriam bem-vindas, mas fariam o dinheiro sujo escapulir para o país mais próximo em busca de cobertura. Está por surgir uma entidade mundial com autoridade suficiente para combater com eficácia a estrutura legal de proteção férrea do dinheiro criminoso com livre trânsito internacional. Se é que isso é possível."


FONTE da complementação 2: escrito por Carlos Drummond, na revista "CartaCapital"   (http://www.cartacapital.com.br/economia/as-contas-criminosas-do-hsbc-nao-sao-uma-excecao-2111.html)

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