KC-390
O que nos ensina a indústria aeroespacial brasileira?
Por Jose Augusto Valente, no Blog do Dirceu
"Ela nos ensina a questionar o modelo mental do complexo de vira-latas!
Sim, infelizmente, uma boa parte dos brasileiros adota esse modelo mental.
O Brasil não é um país sério! Disse, no auge da “guerra da lagosta”, em 1962, o embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza. Ao longo da minha vida, escutei essa frase inúmeras vezes. Ela é proferida, quase sempre, num contexto em que governos tentam realizar ações ousadas, aparentemente de risco, e que somente apresentarão resultados no longo prazo.
Uma dessas ações ousadas foi a criação da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A., em agosto de 1969. Sua primeira missão foi produzir e comercializar o avião Bandeirante. Em seguida, veio o pedido do Governo Brasileiro para fabricar o jato de treinamento avançado e ataque ao solo EMB 326 Xavante, sob licença da empresa italiana Aermacchi. Outros desenvolvimentos que marcaram o início das atividades da Embraer foram o planador de alto desempenho EMB 400 Urupema e a aeronave Agrícola EMB 200 Ipanema.
Ao final da década de 1970, o desenvolvimento de novos produtos – como o EMB 312 Tucano e o EMB 120 Brasilia, seguidos pelo programa AMX, em cooperação com as empresas Aeritalia (hoje Alenia) e Aermacchi – permitiram que a Empresa atingisse novo patamar tecnológico e industrial.
A partir daí, o enorme sucesso alcançado pela plataforma ERJ 145 e pelos E-Jets, a confirmação da presença definitiva da Embraer no mercado de jatos executivos com o lançamento das famílias Phenom, Legacy e do Lineage.
Atualmente, a Embraer é exportadora de aeronaves de todo tipo e acaba de concluir mais uma etapa importante para o país. Trata-se do primeiro voo do avião cargueiro KC-390, a maior aeronave já produzida na América Latina. Assino embaixo do que disse o Brigadeiro do Ar José Augusto Crepaldi Affonso, presidente da COPAC: “O KC-390 representa para a Força Aérea Brasileira e para a indústria nacional o ápice, o coroamento da nossa capacidade de emitir requisitos e principalmente a capacidade da nossa indústria nacional de desenvolver um produto aeroespacial de última geração”.
Mas, para chegar a esse ponto quarenta e cinco anos depois, houve a ousadia de romper com o complexo de vira-latas! Decidir que o Brasil dominaria a tecnologia de construção de aeronaves e se tornaria um dos principais fabricantes do mundo. Bem aqui na América do Sul. Região condenada pelos países centrais à vocação agropecuária e extrativa de minerais.
Outros movimentos foram feitos por diversos governos para que o Brasil não ficasse condenado a ser um eterno exportador de produtos primários e importador de produtos manufaturados e de tecnologia. Sempre condenados por um grande número de brasileiros.
O governo Lula deu enorme contribuição ao colocar recursos e medidas institucionais a serviço de uma Petrobras cada vez mais forte e principal alavancadora do desenvolvimento econômico e social brasileiro.
A nossa indústria naval que estava falida, sucateada foi retomada vigorosamente, e hoje é uma das principais do mundo. Além dos navios da Petrobras, temos a fabricação de submarinos para a marinha brasileira.
Em breve, o país precisará retomar a construção e operação de navios mercantes de bandeira brasileira para não ficar totalmente nas mãos dos armadores estrangeiros, como acontece hoje. Podemos começar fabricando navios porta-contêineres para nossas empresas de navegação de longo curso e de cabotagem e, quem sabe?, venhamos a conseguir, no longo prazo, nos tornar um dos principais exportadores desse tipo de embarcação.
Além desse, há um projeto – desconhecido pela quase totalidade dos brasileiros – que é a fabricação, em nosso país, de dirigíveis de carga. Trata-se da Airship do Brasil – ADB, que já realizou projetos piloto para a Petrobras e Eletrobras, especialmente para movimentação de cargas muito grandes e indivisíveis na Amazônia, de forma altamente eficiente.
Localizada em São Carlos/SP a ADB é uma empresa privada 100% nacional. Focada no desenvolvimento de equipamentos mais leves que o ar, voltados para o transporte de carga, patrulhamento de infraestruturas, serviços de sensoriamento e monitoramento, a Airship oferece ainda serviços de apoio logístico, segurança, vigilância, publicidade, geofísica aérea, meteorologia e meio ambiente.
Finalmente, outro nicho importante para o desenvolvimento do país será a indústria ferroviária de trens de alta velocidade. Mas essa é uma outra história que retomaremos mais à frente.
Espero que com esses projetos em funcionamento consigamos, de vez, abandonar o complexo de vira-latas.
FONTE: postado por Jose Augusto Valente, no Blog do Dirceu. Transcrito no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/o-que-nos-ensina-a-industria-aeroespacial-brasileira).
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