INDICAÇÃO DE BENDINE É MAIS POSITIVA QUE PARECE
"Fala-se da queda dos papéis da Petrobras, após a nomeação de Bendine, como se esse movimento, de caráter essencialmente especulativo, fosse diminuir a quantidade de arroz e feijão na mesa dos brasileiros", diz Paulo Moreira Leite, diretor do "247" em Brasília; "Do ponto de vista dos mercados, só interessava um presidente capaz de encaminhar medidas privatizantes no futuro da empresa — e até a mudança no controle, se fosse possível", avança; segundo ele, Bendine é o presidente ideal para equacionar a questão do balanço pendente e preservar a política de conteúdo nacional.
Por Paulo Moreira Leite
A indicação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras é mais positiva do que parece.
Bendine representa uma novidade na melodia exibida pela equipe econômica de Joaquim Levy. Não tem uma história ligada ao mercado, mas à política econômica que permitiu ao Brasil resistir ao colapso do capitalismo na crise de 2008-2009.
Na época, ele assumiu o Banco do Brasil para realizar uma bem sucedida política de ampliação do crédito, redução de juros e conquista de clientes que o setor privado decidira abandonar para não rebaixar seus lucros.
Nos telejornais, fala-se da queda dos papéis da Petrobras após a nomeação de Bendine, como se esse movimento, de caráter essencialmente especulativo, fosse diminuir a quantidade de arroz e feijão na mesa dos brasileiros.
É uma tentativa de despolitizar um debate importante.
A indicação do presidente da Petrobras, ainda mais numa conjuntura como a atual, tem um componente político inevitável. É um posto que define rumos, fortalece determinadas opções e pode enfraquecer outras.
Do ponto de vista dos "mercados", só interessava um presidente capaz de encaminhar medidas privatizantes no futuro da empresa — e até a mudança no controle, se fosse possível.
Para esse ponto de vista, essa mudança seria — e é — a chave de ouro para a Lava Jato, investigação que, muito além de qualquer desvio, propina ou irregularidade, criou um ambiente artificial de catástrofe e inquisição na maior empresa brasileira. Foi isso o que ocorreu com a ENI, estatal italiana de petróleo, no capítulo final da Operação Mãos Limpas, assumida fonte inspiradora do juiz Sergio Moro.
Imagine que, em oposição a Bendine, os jornais até noticiaram que o economista Paulo Leme chegou a ser incluído entre os possíveis candidatos a dirigir a empresa.
Era uma proposta apenas risível. Não há objeção à formação de Leme, um brasileiro que fez carreira como executivo do "Goldman Sachs", e tem experiência profissional reconhecida. A questão é que se trata de um adversário agressivo do governo desde 2002, quando Lula se tornou favorito na sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Sob sua guarda, um economista do "Goldman Sachs" chegou a produzir uma peça de campanha antipetista chamada "Lulômetro". Tratando Lula com um candidato que merecia usar o chapéu de bobo entre os concorrentes, o Lulômetro fazia previsões apocalípticas sobre a inflação e câmbio que, com o passar dos anos, tornaram-se pura anedota."
FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Moreira Leite no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/economia/169378/PML-indica%C3%A7%C3%A3o-de-Bendine-%C3%A9-mais-positiva-que-parece.htm).
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