domingo, 22 de março de 2015

AS LIÇÕES DA QUEDA DE CID GOMES




AS LIÇÕES DA QUEDA DE CID GOMES

Por LEONARDO ATTUCH

"Quem governa o Brasil é ou não refém de “300 picaretas” ou de “400 achacadores”? Como sair desse impasse?

Muito antes de ser presidente, o então operário Luiz Inácio Lula da Silva denunciou a existência de "300 picaretas" no Congresso Nacional. Quando chegou ao poder, organizou a maior coalizão governista que já se viu no País. Uma coalizão, diga-se de passagem, que lhe permtiu governar, mas também trouxe problemas a ele, como no caso do chamado "mensalão", e à sua sucessora Dilma Rousseff, nos episódios da "faxina ministerial" e, mais recentemente, da Lava Jato.

Agora, foi a vez de Cid Gomes, ex-ministro da Educação, diagnosticar a presença de "400 achacadores" no parlamento ­– ou seja, a cota de "picaretas" teria aumentado 33,33%. Na quarta-feira, quando muitos esperavam que Cid pudesse se desculpar no Congresso, baixou nele o espírito de Ciro, seu mais do que arretado irmão. Cid apontou o dedo para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que é melhor ser chamado de mal-educado do que de achacador, reiterando sua acusação anterior. Naturalmente, caiu.

Para o governo Dilma, que atravessa um momento de convulsão política, teria sido melhor manter as aparências. Cid pediria desculpas, diria que tropeçou nas palavras inadvertidamente e a vida seguiria em frente. Aliás, nada disso seria necessário se ele próprio tivesse sido demitido de forma sumária quando sua declaração vazou, há pouco mais de uma semana. Assim, seguiríamos a máxima de La Rochefoucauld: a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.

Ocorre que, em momentos turbilhonares, como o atual, a verdade tem mais valor do que a hipocrisia. Afinal, o que revela o "sincerídio" de Cid Gomes? Nada menos que o altíssimo custo da chamada governabilidade no Brasil. No momento em que o Brasil se vê, novamente, estarrecido com pagamentos a parlamentares, será que ninguém se pergunta qual é a origem disso tudo? E mais: será que ninguém vê realmente a necessidade de uma reforma política, apenas porque esta não era a bandeira dos protestos do dia 15 de março?

Pois o caso Cid tem tudo a ver com a Lava Jato e todos os outros escândalos recentes do País. A política, hoje, no Brasil é caríssima e leva ao financiamento privado, que leva à corrupção. A governabilidade, com a miríade de partidos, também é cara e produz corrupção. Só há uma saída: reforma política e com urgência."

FONTE: escrito por Leonardo Attuch, jornalista, idealizador do "247" e autor dos livros "Saddam, o amigo do Brasil", "Quebra de contrato", "A CPI que abalou o Brasil" e "Eike: o homem que vendia terrenos na lua". Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/174086/As-li%C3%A7%C3%B5es-da-queda-de-Cid-Gomes.htm).


COMPLEMENTAÇÃO

Cid Gomes disse mais em um minuto do que Aécio poderá em 8 anos

"O ex-ministro escancarou com que tipo de pressão Dilma está sendo obrigada a lidar, com os parlamentares eleitos em 2014. É inegável que o povo percebe o ambiente de acordos entre deputados.

Por Helena Sthephanowitz, para a Rede Brasil Atual 



Ao expor a maneira de ser e agir de parte do Congresso, Cid Gomes foi a voz popular que Aécio e Cunha não podem ser.

Numa semana em que a mídia tradicional turbinou a repercussão das manifestações "contra a corrupção" de domingo passado, o fato político realmente relevante aconteceu dentro do plenário da Câmara, quando o agora ex-ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), disse em alto e bom som que aquela Casa Legislativa abriga "achacadores" – gente que só pensa em vantagem pessoal e partidária em vez de atuar republicanamente na construção de uma sociedade equilibrada e de um país que tenha como meta e missão a erradicação de toda forma de injustiça".

As declarações de Cid Gomes mostram que a oposição ao governo federal também vive seu inferno astral, em franca crise política, por escolher o caminho do quanto pior, melhor. Éinegável que a imagem dos parlamentares cronicamente opositores está desgastada.

Mais além: ficou claro que Cid Gomes disse mais em um minuto de sua fala na Câmara dos Deputados do que o senador e candidato derrotado à Presidência, Aécio Neves deveria dizer como oposição, mas nunca poderá nem conseguirá dizer.

O povo não entende a atuação dúbia do PSDB de atacar só o PT e poupar partidos da base governista como o PP e o PMDB. O povo enxerga jogo de cena, acordos velados de bastidores e um velho jeito de fazer política voltado a preservar privilégios só para os "amigos". Privilégios que chegam à impunidade.

No fundo, Cid Gomes falou o que líderes da oposição, da qual Aécio é a face mais midiática, teriam obrigação de dizer e, se dissessem, até poderiam melhorar suas chances nas urnas. Mas nunca veremos, ao fim dos oito anos de mandato como senador que o tucano tem até 2018, ele fazer um discurso como o de Cid, simplesmente porque tem "rabo preso", por puro interesse político eleitoreiro.

A parte do PMDB e do PP que Cid Gomes classificou como de achacadores é aquela que apoiou Aécio em 2014. Alguns ostensivamente e outros, veladamente.

O episódio, que pode ter criado um embaraço para o Executivo, mas escancarou à população com que tipo de gente a presidenta Dilma está sendo obrigada a lidar, com o Congresso eleito pelo voto em outubro passado, começou com mais um fato ampliado pela mídia em sua ofensiva golpista.

Cid Gomes havia feito uma avaliação em ambiente restrito criticando a parcela de deputados que, segundo ele, usava seus mandatos para emparedar o governo e obrigando-o a acatar suas demandas, desejos e vaidades, ainda que em prejuízo do país e da sociedade brasileira.

A declaração vazou para a imprensa, tornou-se pública, gerou editoriais e bravatas, abriu uma crise entre o então ministro e a Câmara dos Deputados, que o convocou para "explicar-se", em mais um evento que se previa um espetáculo para a televisão.

Cid Gomes, porém, disse respeitar o Parlamento, mas repetiu, agora publicamente, todas as críticas aos que se aproveitam de compor a base aliada do governo, com seus partidos nomeando ministros e secretários, mas agem como oposição.

Disse muito claramente que os partidos que desejam fazer oposição deveriam "largar o osso". Chegou a dirigir-se diretamente ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respondendo que preferia ser chamado de mal-educado [por ele] do que de "achacador", como Cunha estava aparecendo nas manchetes dos jornais.

A confusão foi grande com deputados que vestiram a carapuça e usaram termos ofensivos contra o ex-ministro. Cunha, com sua aversão crônica pela democracia, cortou o microfone de Cid, que retirou-se da Casa. Ao sair, em entrevista, reiterou o que havia dito e defendeu os esforços da presidenta Dilma para tentar qualificar a política, e a sua árdua luta para a combater a corrupção em ambiente adverso.

Em seguida, pediu demissão pelo "sincericídio", pois é óbvio que, por mais que muita gente pense igual à ele, é impossível ter responsabilidade de governar e, ao mesmo tempo, declarar guerra aberta e pública à boa parte de base governista na Câmara.

Cid Gomes vocalizou o que a base eleitoral de Dilma Rousseff nas ruas e nos lares brasileiros vive. A sensação de que o Congresso, de forma generalizada, está pouco ou nada se importando com o eleitorado. E que nada barrará a oposição capitaneada por PSDB e DEM para atingir seus objetivos políticos."

FONTE da complementação: escrito por Helena Sthephanowitz, para a Rede Brasil Atual   (http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2015/03/cid-gomes-disse-mais-em-minuto-do-que-aecio-podera-em-8-anos-2884.html).

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