[A HIPOCRISIA DO ESCÂNDALO DA OPOSIÇÃO E MÍDIA SOBRE A SUBIDA DO DÓLAR]
A miopia na análise dos recordes do dólar
Por Luis Nassif [trechos entre colchetes em azul acrescentados por este blog 'democracia&política']
"Um dos vícios mais recorrentes dos jornais é a síndrome do "maior desastre". Consiste em comparar um indicador ruim com o pior indicador anterior. 'Tipo' [adesão ao modismo dessa linguagem] : "foi o pior desempenho desde o ano tal".
Não há receita para a manchete. Às vezes, se submete o indicador à tortura das comparações irrelevantes. 'Tipo', "é o pior indicador desde 2012", ou "o mais negativo dos últimos 6 meses", períodos estatisticamente irrelevantes.
Outra impropriedade frequente são as manchetes sobre as cotações do dólar, comparando com outros períodos sem deflacionar. Manchetes 'tipo' "o dólar atinge a maior cotação da era do real" tem tanto valor quanto dizer que os automóveis de hoje têm preços nominais muito mais altos do que 20 anos atrás. Comparar a cotação atual do dólar com o valor nominal do dólar em períodos passados tem o mesmo significado que comparar preços de geladeira, do feijão ou qualquer outro produto de consumo.
O indexador utilizado para calcular a cotação efetiva do dólar é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado). Corrige-se o real pela IPCA, o dólar pela inflação dos EUA e faz-se a conversão para se chegar ao câmbio efetivo.
Efetuando essas contas, chega-se à conclusão de que o dólar a R$ 4,00 em setembro de 2015 tem o mesmo valor real do dólar de R$ 0,85 em setembro de 1994, isto é, após a apreciação de 15% imposta pelo real.
O alarido atual é ridículo. Em outubro de 2002, configurada a vitória de Lula, o valor efetivo do dólar equivalia a um dólar atual na casa dos R$ 8,76.
Em janeiro de 1999, a maxidesvalorização jogou o dólar para o equivalente a R$ 4,37 de agora.
De janeiro de 1999 a setembro de 2005, não houve um mês em que o dólar médio tenha sido inferior a R$ 4,00.
Mesmo no período de maior apreciação do real – no primeiro governo FHC – a cotação real do dólar esteve por volta de R$ 3,50.
Esses saltos não se deveram à deterioração dos fundamentos da economia, mas a dúvidas sobre o cenário político. Depois do tiroteio da campanha de 2002, na qual analistas terroristas chegaram a prever a invasão do Brasil pelas FARC - e houve quem acreditasse, como foi o caso dos leitores da "Veja" - a lagoa ficou propícia para pegar lambaris. Investidores profissionais pescavam lucros em cima do pânico dos lambaris.
O que movimenta o dólar, agora, são essencialmente dúvidas fundamentadas sobre a crise política, decorrentes da [campanha do "quanto pior melhor" da mídia e da oposição e da] grande sucessão de erros de Dilma Rousseff. [o maior erro de Dilma foi desonerar, cortar impostos de vários setores da economia, acreditando que os empresários beneficiados reinvestiriam e criariam mais empregos. Errou feio. Os empresários embolsaram os maiores lucros, aplicaram no mercado financeiro, e com suas famílias foram torrar dinheiro nos EUA e Europa. Agora, a reação para retomar alguns desses impostos erradamente cortados é imensa, com o cinismo do jargão: "a sociedade não aguenta mais impostos"...].
Só que nenhum desses erros, até agora, comprometeu os fundamentos da economia. Criou problemas fiscais, acentuou a recessão. Se o Banco Central persistir em trancar o crédito e manter os juros nas alturas, pode-se ter um problema concreto mais à frente, o chamado efeito engarrafamento - no qual empresas que vinham em velocidade, de repente descobrem que não existe mais estrada pela frente, brecam de uma vez provocando o abalroamento das que vêm atrás.
Ainda não se chegou a esse quadro.
Há o risco iminente de o Congresso derrubar [alguns dos] vetos de Dilma à farra de gastos. Nesse caso, Dilma seria jogada inapelavelmente no corner.
Por outro lado, há a possibilidade de um choque de bom senso da parte do Senado e da Câmara, motivado pela antevisão do caos. Nesse caso, a crise se esvaziaria rapidamente e o dólar voltaria para níveis mais adequados, por volta de R$ 3,50.
A pior das hipóteses aconteceu várias vezes, como no início de 1999, quando FHC se viu confrontado com uma rebelião de governadores de estados quebrados. Parecia que o mundo iria se acabar. Mas, como diria Assis Valente, o tal do mundo não se acabou."
FONTE: escrito por Luis Nassif http://jornalggn.com.br/noticia/a-miopia-na-analise-dos-recordes-do-dolar [Título e trechos entre colchetes em azul acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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