Este blog tratou ontem de declarações surpreendentes do ex-presidente da Itália Cossiga ao jornal italiano "Corriere della Sera". Ele denunciou que o atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York foi obra da CIA e do Mossad.
O jornal Folha de São Paulo (FSP) de hoje expõem a metódica falsificação de informações conduzida pelo governo dos EUA para justificar a Guerra do Iraque.
Antes de reproduzir o artigo de hoje da Folha, façamos uma retrospectiva das invasões norte-americanas naquele país.
A PRIMEIRA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 1991
O Iraque, na ocasião da primeira invasão, estava muito enfraquecido por longa guerra contra o Irã terminada pouco antes, em 1988.
Em 1991, sob o oportuno pretexto presenteado pelo Iraque ao invadir o Kwait, o Iraque foi maciçamente bombardeado pelos EUA, com o espetáculo transmitido em tempo real para todo o mundo (CNN, etc).
Vários países, Inglaterra, Itália e outros, aproveitaram para também bombardear o Iraque.
Foi ótimo para o ego dos norte-americanos. Em nível baixo após a derrota no Vietnan, o orgulho norte-americano subiu muito com aquela (por eles) julgada magnífica, rápida e estrondosa vitória militar sobre o Iraque.
Em termos puramente econômicos, aquela primeira invasão no início da década foi muito lucrativa para os EUA. Para eles, resultou, segundo divulgado pela imprensa norte-americana, um saldo positivo de mais de dez bilhões de dólares. Esse montante foi auferido após o balanço de despesas militares por um lado e, por outro, de contribuições financeiras recebidas de seus aliados (principalmente da Alemanha e Japão), somadas aos posteriores ganhos com exportações pelos EUA de armamentos lá empregados e que foram objeto de muita propaganda: "armas inteligentes", "com precisão cirúrgica", "provadas em combate" etc.
A SEGUNDA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 2003
Os EUA a Inglaterra e alguns poucos aliados atacaram de novo o Iraque em 2003.
A reedição da guerra de 1991 foi ainda mais violenta, efetuada dessa vez contrariando a maioria dos países do mundo, a ONU e todas as normas do Direito Internacional.
As estatísticas mais favoráveis aos norte-americanos e ingleses (a da Organização Mundial da Saúde) dizem que “somente” mataram, até agora, uns 151.000 civis iraqueanos.
O Primeiro-Ministro Blair, em Londres, o Presidente Bush e autoridades dos EUA comunicavam freqüentemente que aquela nova invasão era para levar a paz, a democracia e a liberdade para os países árabes; para tirar do Iraque um ditador mau, não-democrático, que anos antes havia matado separatistas curdos com armas químicas proibidas pelos EUA para os demais países; aquele ditador torturara iraqueanos na prisão de Abu Ghraib; que o Iraque poderia ter ligações com o terrorista Bin-Laden e poderia ser uma forte e imediata ameaça para toda a civilização ocidental, com o seu grande arsenal de bombas atômicas, químicas e biológicas, pronto para ser acionado e lançado por grandes mísseis em quarenta e cinco minutos.
Até as próprias tropas americanas (cada vez mais negras, latinas e pobres) e as de seus aliados eram enganadas em discursos presidenciais ufanistas, na festiva e patriótica hora dos embarques para o Iraque. Toda a imprensa dos EUA dava ampla e eufórica cobertura.
Diziam aos soldados que eles eram super-heróis, que estavam partindo para defender o bem contra o mal; estavam “salvando a civilização ocidental superior do islamismo bárbaro” (disse o Premier Silvio Berlusconi, da Itália); estavam salvando a democracia e a liberdade, lutando contra o terror. Que estavam tirando dos iraqueanos as suas armas de destruição em massa. Como até hoje não acharam as tais armas, passaram, então, a divulgar que o problema não era o Iraque ter (ou não) aquelas armas, mas a possibilidade de que o seu odioso tirano não-democrático pudesse vir a ter intenções malévolas de desenvolvê-las; somente isso já justificaria o ataque... Saddam Hussein foi enforcado.
Um intrigante aspecto. Foi publicado que as tropas invasoras também tinham, e têm, o objetivo de aumentar a proteção ao Estado de Israel. A guerra foi impulsionada pelo poderoso lobby judaico dos setores financeiro e industrial militar dos EUA e da Inglaterra. “Era óbvio que a guerra servia a interesses de Israel”, expressou o Brig. Gen. Shlomo Brom, ex-chefe de planejamento estratégico das Forças de Defesa israelenses (“Defense News”, Washington, 19/01/2004).
Hoje, o aspecto econômico, da invasão iniciada na noite de 19/03/2003, não está nada favorável para os EUA. Ao contrário. É uma tragédia econômica.
Porém, muitos nos EUA acham que valeu a pena.
O “Washington Post” afirmou, em 12/05/2004, que “a ocupação do Iraque criou muitos empregos nos EUA, foi responsável por 16 % do crescimento da economia norte-americana somente no 1o trimestre de 2004 e trouxe muitos votos decisivos para a reeleição do presidente Bush em regiões mais beneficiadas pela ‘guerra’, como Ohio”.
O DOD expôs ao Congresso que os custos norte-americanos com a guerra se pagariam com os recursos que tirariam do próprio petróleo iraqueano e sob o título de ajuda financeira para a reconstrução daquele país. Erraram fragorosamente.
A imprensa dos EUA, embriagada de tanto patriotismo no início dos ataques, externou que tudo valeria a pena, inclusive porque o petróleo voltaria a ser bombeado sob o controle de empresas norte-americanas.
Em 13/04/2004, o presidente Bush declarou: “The oil revenues are. Is pretty darn significant. They’re now up and running” (Financial Times, 14/04/2004). Foi emocionantemente aplaudido de pé.
Era difícil, e continua sendo, esconder os principais verdadeiros objetivos norte-americanos: a garantia para eles das reservas de petróleo e do seu barato suprimento por muitas décadas; a criação de um Estado visceralmente pró-americano no Golfo Pérsico; como também a expansão geopolítica e econômica dos EUA baseada na submissão dos outros países pelo medo de sua força e pela certeza da impossibilidade de confrontá-los militarmente.
Uma pequena parte da imprensa dos EUA dizia que a invasão também aconteceu porque estavam em jogo interesses particulares da família Bush, ligada a empresas petrolíferas do Texas e da Arábia Saudita.
No Brasil, nos grandes jornais era constante nos anos 90, e ainda se vê, a defesa apaixonada dos EUA. Por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo (FSP) criticou a “capciosa campanha antiamericana na imprensa sobre supostas crueldades odiosas dos soldados norte-americanos contra prisioneiros iraqueanos. Os militares dos EUA despem, humilham e até dão alguns sopapos nos prisioneiros, isto é inevitável em toda guerra. Os iraqueanos os esfolam, queimam vivos ou os degolam. As críticas aos EUA são obra de espertalhões conscientes e de milhares de idiotas úteis que não têm idéia da origem remota das suas opiniões” (Olavo de Carvalho, FSP, 20/05/2004).
Esse assunto vem à baila hoje, 24/01/2008, com a publicação no jornal Folha de São Paulo do seguinte artigo, da Associated Press:
"Governo Bush fez 935 declarações falsas de 2001 a 2003, diz estudo
Com discurso sobre Iraque, presidente encabeça lista, compilada após o 11/9
Um estudo do Centro pela Integridade Pública e do Fundo pela Independência no Jornalismo, organizações sem fins lucrativos, constatou que o presidente George W. Bush e funcionários importantes de seu governo fizeram 935 declarações falsas sobre a ameaça que o Iraque representava à segurança dos EUA nos dois anos seguintes aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O estudo, divulgado na noite de anteontem, conclui que as declarações eram "parte de uma campanha orquestrada que galvanizou a opinião pública e, no processo, levou o país à guerra sob pretextos incontestavelmente falsos".
Os pesquisadores descobriram que discursos, briefings, entrevistas e outras ocasiões serviram para que Bush e outros funcionários do governo declarassem inequivocamente em ao menos 532 ocasiões que o Iraque tinha armas de destruição em massa, estava tentando produzi-las ou obtê-las, ou que mantinha laços com a rede terrorista Al Qaeda.
"Tornou-se inquestionável, hoje, que o Iraque não possuía armas de destruição em massa nem tinha vínculos com a Al Qaeda", escrevem Charles Lewis e Mark Reading-Smith na sinopse do estudo.
"O governo Bush conduziu o país à guerra com base em informações errôneas que as autoridades propagaram metodicamente, em um processo que culminou com a ação militar contra o Iraque em 19 de março de 2003."
Além de Bush, o estudo cita o vice-presidente Dick Cheney, a então assessora de segurança nacional Condoleezza Rice, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, o secretário de Estado Colin Powell, o secretário-assistente da Defesa Paul Wolfowitz e os porta-vozes da Casa Branca Ari Fleischer e Scott McClellan -com exceção de Rice, que substituiu Powell, todos já deixaram o governo.
Bush está no topo da lista, com 259 falsas declarações, seguido por Powell. Os números advêm de um banco de dados que compilou declarações públicas nos dois anos após o 11 de Setembro, bem como relatórios do governo, livros, reportagens, discursos e entrevistas. "O efeito cumulativo dessas declarações falsas, amplificadas por milhares de reportagens em mídia impressa e eletrônica, foi imenso, e a cobertura de mídia criou um ruído quase impenetrável por diversos meses", diz o estudo. "Alguns jornalistas e organizações noticiosas admitiram que sua cobertura nos meses que precederam a guerra foi deferente e acrítica demais. Boa parte dessa cobertura abrangente sobre o tema ofereceu validação adicional, "independente", às falsas declarações do governo Bush. Tradução de Paulo Migliaci"
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