O assunto de reforma eleitoral tem sido cada vez mais recorrente na imprensa e nos meios políticos brasileiros.
Na maior parte das manifestações, prevalece os conceitos de fortalecimento dos partidos e de esvaziamento do voto nominal direto em candidatos.
Inclusive, o Tribunal Superior Eleitoral, presidido pelo Ministro Marco Aurélio, já se manifestou em 2007 oficialmente favorável à solicitação do DEM nesse sentido, permitindo assim até a cassação do mandato dos muitos parlamentares que haviam deixado aquele partido da oposição.
O artigo a seguir transcrito, sobre o panorama atual italiano, selecionado do blog de Mino Carta, acende uma luz amarela contrária à tendência prevalescente no Brasil.
Conforme grifei em negrito no texto do artigo, lá a reforma eleitoral será “indispensável para que os italianos tenham condições de votar em candidatos em lugar de partidos, que até hoje administraram os resultados eleitorais a seu talante.”
Segue o texto de Mino Carta postado por ele ontem, 17/01/2008:
"Sinais de uma Itália em grave dificuldade
Nunca, nos últimos cinqüenta anos, as organizações mafiosas ficaram tão ricas e a Igreja Católica tão saliente.
Sinais de uma Itália em grave dificuldade, cuja metáfora é a monstruosa crise do lixo não recolhido que avassala Nápoles invadida por seus próprios dejetos e envergonha a nação toda.
O enredo napolitano, que devolve à cidade cenários da Idade Média, encontra suas raízes na crescente expansão da Camorra, a máfia da Campânia, e na rivalidade entre suas diversas facções, a repetirem em outro cenário a guerra dos morros cariocas. Com a agravante de que em Nápoles estamos no chamado Primeiro Mundo.
A coleta e a incineração do lixo dependem de estruturas controladas pelos camorristas e a crise mancomuna a todos eles em uma nítida e subversiva tentativa de atingir o próprio Estado. O qual, cabe sublinhar, não agiu quando ainda seria possível com êxito, ao se delinear o risco, há mais de dez anos.
Crescente o poder mafioso. E crescente o poder eclesiástico, de sorte, neste terreno, a suscitar a resistência laica. Último episódio, o abaixo-assinado por 67 professores da Universidade La Sapienza de Roma contra a visita de Bento XVI, prevista para a quinta 17, no quadro das celebrações do 705º aniversário do mais antigo ateneu da capital.
A iniciativa dos mestres recebeu a adesão de muitos estudantes, prontos a encenar manifestações de desagrado caso o papa cumprisse o programa, a prever, inclusive, um discurso. Na terça 15, Bento XVI anunciou sua desistência, a bem da “ordem pública”, e a mídia, no dia seguinte, lamentou contrita o ocorrido salvo raras exceções. Os partidos da direita solidarizaram-se prontamente com o Vaticano. Mais comedidos, políticos de centro-esquerda não deixaram de fazê-lo, enquanto o próprio presidente da República, Giorgio Napolitano, enviava ao papa uma carta pessoal.
Para domingo 20, a Santa Sé organiza uma grande manifestação na Praça de São Pedro, debaixo das janelas do apartamento papal, e é fácil imaginar o fervor dos fiéis ofendidos pelos lentes de La Sapienza e seus alunos.
Ocorre que a política italiana, que a partir dos anos 50 foi capaz de se afastar das pressões religiosas mesmo no tempo dos governos democrata-cristãos, hoje cede-lhes espaço e recoloca em questão regras de vida aceitas há tempo pelas sociedades contemporâneas. Quem reage parece correr a ameaça da condenação por heresia. Mas nunca um papa mereceu tantas atenções por parte da mídia italiana, não somente berlusconiana, mas também da RAI, a tevê estatal, que põe no vídeo Bento XVI várias vezes ao dia.
Visões diferentes a respeito dos justos comportamentos de um Estado laico, como convém, figuram entre os motivos da divisão da Itália em duas porções praticamente iguais em tamanho e peso.
O governo de Romano Prodi, às vésperas de completar seu segundo aniversário, não cumpriu boa parte de suas promessas eleitorais e luta para sobreviver. Conseguiu reduzir drasticamente o déficit público, mas o país sofre problemas de crescimento, em níveis inferiores à média européia, com a perspectiva de um ano muito difícil por causa dos efeitos da possível recessão americana.
A Itália não poderia sair incólume de cinco anos de governo Berlusconi, mas o centro-esquerda tem graves culpas em cartório, a começar pela demora em enfrentar a reforma eleitoral, indispensável para que os italianos tenham condições de votar em candidatos em lugar de partidos, que até hoje administraram os resultados eleitorais a seu talante.
Neste quadro, mais um raio risca o céu carregado. O ministro da Justiça, Clemente Mastella, líder de um pequeno partido, chamado Udeur, acaba de ser submetido à investigação policial e se demite. Sua mulher, Sandra, presidente do Conselho da Região Campânia, fica em prisão domiciliar. Ambos acusados por vários crimes, em primeiro lugar por concussão. Campânia, terra da Camorra."
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