sexta-feira, 3 de outubro de 2008

BRASIL MARCA O PASSO NA AMÉRICA DO SUL

LULA REFORÇA O PREDOMÍNIO POLÍTICO E ECONÔMICO BRASILEIRO NO SUBCONTINENTE AMERICANO

Li no UOL , traduzido por Eloise De Vylder, o artigo de Francho Barón publicado no jornal espanhol “El Pais”:

“O Brasil reforçou sua liderança política e econômica na cúpula de Manaus, que terminou na madrugada desta quarta-feira (1). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou a criação de ambicioso corredor fluvial pelo Amazonas, reforçou o papel do Banco do Sul em meio à crise e definiu o tom da cúpula que reuniu a esquerda mais radical da região, encarnada pelo venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa. Graças à sua capacidade diplomática, Lula emerge como uma figura essencial para o equilíbrio da América do Sul, como demonstrou recentemente ao solucionar a crise boliviana. O Brasil hoje marca o passo da região.

Há pouco menos de dois anos, Lula começou seu segundo mandato presidencial salpicado por escândalos de corrupção que alcançaram seus colaboradores próximos e membros do governo. Depois de seus quatro primeiros anos à frente do país, as estatísticas macroeconômicas, assim como os dados de pobreza e desigualdade, não pareciam melhorar nos níveis prometidos e uma onda de decepção e desconfiança se estendeu entre os brasileiros. No decorrer dos últimos dois anos, o Brasil de Lula deu um giro de 180 graus e se recolocou no tabuleiro sul-americano como um país que leva a pedra de toque nos planos político e econômico e sem o qual não se toma nenhuma decisão importante. O talento mediador do brasileiro no plano regional, aliado aos excelentes indicadores internos de seu país, levou Lula a se consolidar como um líder cuja popularidade dentro e fora do Brasil vive seus momentos mais altos.

No marco da cúpula regional convocada na capital amazônica de Manaus, que acabou na madrugada de quarta, Lula respaldou, junto com seus colegas da Venezuela, Equador e Bolívia, a proposta de criação do Banco do Sul, um projeto impulsionado há menos de dois anos pelo venezuelano Hugo Chávez durante uma Cúpula de líderes do Mercosul, e que tem por objetivo oferecer à região um organismo de crédito próprio que acabe com sua atual dependência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e possa ajudar os países a enfrentar a atual crise econômica. Na mesma reunião na Amazônia, Lula também definiu que a cidade de Manaus será, no futuro, o ponto de encontro (e portanto, o centro nevrálgico) dos corredores terrestres e fluviais que conectarão o oceano Pacífico com o Atlântico, cruzando o subcontinente de oeste a leste, o que supõe um projeto de integração territorial faraônico na América do Sul. O traçado dessas novas rotas de transporte na impenetrável região amazônica está relacionado com o ambicioso Plano de Aceleração Econômica (PAC) lançado por Lula no Brasil, que pretende desenvolver a Amazônia economicamente e que, em grande parte, desencadeou a tempestuosa saída da anterior ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Paralelamente, para o Brasil, o funcionamento desses novos corredores será a quadratura do círculo em suas relações comerciais com a Ásia, já que reduzirá de 15 para 9 mil milhas náuticas a distância que os navios brasileiros deverão percorrer para transportar soja para a costa asiática.

A última Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) em Santiago do Chile foi o batismo de fogo de Lula como um líder imprescindível na resolução dos conflitos regionais.

O ex-torneiro mecânico colocou paz numa Bolívia à beira do incêndio político e social, enquanto seu colega venezuelano advogava uma vez mais pela linha dura contra os inimigos da revolução bolivariana. O segredo do êxito de Lula é muito mais simples do que muitos pensam e o distingue definitivamente do sempre rebelde Hugo Chávez: moderação e discrição. Com discrição, Lula se move como um peixe dentro d'água no plano internacional, sem excentricidades nem estridências, ainda que deixando sempre presente o peso específico que o Brasil tem na escala planetária. Com moderação, conseguiu controlar a oposição em seu país, que não conseguiu atrapalhá-lo desde as últimas eleições presidenciais.

Em 22 de setembro, o instituto brasileiro Sensus publicou os resultados de uma nova pesquisa na qual Lula aparece como o líder mais reconhecido em seu país desde a volta da democracia ao Brasil em meados dos anos 80. 68,8% dos 2 mil brasileiros entrevistados aprovaram a gestão do atual governo e 77,7% reconheceram o desempenho pessoal de Lula.

A lua de mel que o presidente vive atualmente com os brasileiros se deve em grande medida aos bons resultados que atingiram os indicadores econômicos do país (uma previsão de 5,5% de crescimento do PIB para 2008), à queda do desemprego e a redução da desigualdade através da implantação de programas sociais como o Bolsa Família, que ajuda cerca de 45 milhões de brasileiros considerados pobres.

Em agosto passado, a Fundação Getúlio Vargas publicou um estudo intitulado "A Nova Classe Média", que concluiu que 52% dos brasileiros já podem ser incluídos dentro do grupo social considerado classe média, ou seja, aqueles que recebem uma renda mensal superior a 436 euros. O mesmo estudo mostrou que desde que Lula está à frente do país, o índice de miséria caiu de 34,96% para 25,16%.

Não só uma boa gestão política está por trás do momento de euforia que o Brasil vive atualmente. Para o êxito do líder brasileiro, também contribuíram a inesperada notícia do descobrimento de jazidas de petróleo no litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, que colocaram o Brasil na primeira linha dos grandes países produtores de petróleo bruto. Até há pouco tempo, o Brasil tinha reservas estimadas em 20 bilhões de barris, mas com a descoberta do campo petrolífero batizado de Carioca, nos litorais do Rio e de São Paulo, estas reservas podem disparar para até 53 bilhões de barris, colocando o Brasil na nona posição do ranking mundial dos países produtores de petróleo bruto.

Apesar das boas notícias, o gigante sul-americano não quer centrar sua política energética totalmente sobre o petróleo. Por isso também lidera o grupo de países produtores de biocombustíveis”.

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