terça-feira, 14 de outubro de 2008

ORIENTE MÉDIO ESTÁ EM JÚBILO COM OS INFORTÚNIOS DE WALL STREET

Li no UOL o seguinte artigo do jornal inglês Financial Times, em texto de Lionel Barber e Roula Khalaf, escrito em Damasco (Síria) e traduzido por George El Khouri Andolfato:

“O "crash" em Wall Street provocou uma alegria indisfarçável entre os inimigos dos Estados Unidos no Oriente Médio, que alegam que a crise financeira global é outro sinal de que os Estados Unidos perderam seu status de superpotência.

De Damasco a Teerã, uma coalizão livre de autoridades públicas e clérigos vê o colapso financeiro como sendo resultado de um castigo divino e da cara política externa do governo Bush na região, principalmente a invasão ao Iraque.

O aiatolá Ahmad Jannati, um influente linha-dura no Irã, descreveu a crise como uma punição.

"Assim como os americanos ficam contentes em ver problemas no Irã, nos estamos felizes em ver a economia americana abalada e os problemas se estendendo à Europa", ele disse recentemente. "Eles estão vendo os resultados de seus atos odiosos e Deus os está punindo."

Um alto funcionário sírio disse que os problemas mostram que "os Estados Unidos não são mais uma superpotência. O país é apenas um grande poder."

Os linhas-duras estão sob a impressão de que a crise não afetará diretamente suas economias, e presumem que o aparente fracasso das políticas liberais confirma a visão deles de que o Estado deve continuar exercendo um papel central.

"Este é um novo capítulo", disse um alto funcionário sírio que destacou a necessidade de controle do banco central pelo Estado e apoio aos produtores rurais, assim como um salário mínimo para os trabalhadores. "Isto provará que nossa visão das reformas é correta. Nós temos uma economia de mercado social."

Mas a afirmação do poder do Estado na Síria está minando aqueles que, apesar de não apoiarem os Estados Unidos, estão pressionando por uma transformação de uma economia centralizada para um sistema mais liberal.

Abdullah Dardari, o vice-primeiro-ministro responsável pela economia, disse que o trabalho da equipe econômica no governo se tornará mais difícil.

Falando ao "Financial Times" após ter recebido uma recepção hostil no figurativo Parlamento sírio, ele reconheceu: "Está ainda mais fácil dizer 'veja aquelas políticas neoliberais e o que fizeram, e para os grupos neoliberais na Síria e o que desejam fazer'".

Mesmo antes da crise financeira, uma visão popular na região era a de que os Estados Unidos estavam em um declínio terminal. Ela cresceu após a desastrada ocupação do Iraque, o fracasso em conter as ambições nucleares do Irã e em proteger os aliados pró-Ocidente no Líbano diante do Hizbollah, o grupo militante xiita.

O crash em Wall Street levou à teoria questionável de que a turbulência global deriva do custo imenso de financiar a guerra no Iraque, em vez de um fracasso regulatório coletivo em lidar com o excesso de risco assumido pelo setor bancário.

Dardari disse: "Eu não sei qual é a causa, mas o financiamento da guerra e o fardo da dívida pública (americana) tem um papel".

No geral, a suposição na Síria e em outros países na região é de que o Oriente Médio está relativamente isolado de uma recessão puxada pelos Estados Unidos.

Mas a maioria dos mercados de ações no Oriente Médio sofreu enormemente nas últimas semanas, com a exceção do Irã, onde o mercado, que atrai pouco investimento estrangeiro, apresenta alta de 20% neste ano.

Mesmo se os sistemas bancários em países isolados como o Irã e a Síria escaparem da turbulência financeira, suas economias sofrerão com uma recessão nos mercados mundiais.

Teerã já está cambaleando com a queda nos preços do petróleo. Na Síria, a economia poderia ser afetada pela queda nas remessas de dinheiro dos trabalhadores que atuam nos países do Golfo e com uma queda nos investimentos”.

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