NORMANDIA - LEMBRANÇAS DA LIBERTAÇÃO DA EUROPA DO JUGO NAZISTA SERVEM DE ALERTA PARA CRISE CONTEMPORÂNEA, AVALIA LEMBO
Terra Magazine
“Há sessenta e cinco anos as tropas aliadas, capitaneadas pelos Estados Unidos, desembarcavam nas praias da Normandia, no litoral francês. O objetivo era preciso.
Lutavam os combatentes pela libertação da Europa, então, submetida ao jugo nazista. Este desembarque constitui um dos mais notáveis e arrojados episódios da Segunda Guerra mundial.
Durante anos, o continente europeu foi dominado por governos totalitários. A partir do epicentro, localizado na Alemanha, nenhum país ficou livre da presença ou influência do nazismo.
Os franceses - tão orgulhosos de sua Revolução de 1789 - conheceram a vergonhosa República de Vichy, que autorizou o envio de milhares de judeus para os campos de extermínio no leste europeu.
A Espanha e Portugal, no mesmo período, sofreram as duras conseqüências de governos ditatoriais. Os adversários dos regimes implantados eram sumariamente liquidados ou obrigados ao exílio.
Na Europa do leste, múltiplas repúblicas transformaram-se em satélites do Reich e seu Führer. Agiram como o país central. Exterminaram os inimigos e perseguiram as minorias.
A memória da grande e dramática batalha de Dunquerque, neste momento da História européia, é oportuna e relevante. Permite recordar os milhares de soldados mortos, heróis anônimos.
Mais ainda. Registra a importância das lutas pela democracia e pela liberdade. Estes dois bens insubstituíveis para a vida coletiva. Sem liberdade e democracia as pessoas tornam-se meros objetos.
Dizem alguns historiadores que a guerra européia foi gerada pela luta contra o comunismo e esta originou a "guerra civil" entre Alemanha e União Soviética.
É um ponto de vista. Na verdade, naquela oportunidade, Estados Unidos - baluarte das liberdades, na ocasião - uniu-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em defesa da dignidade humana.
Ocorria o aniquilamento de pessoas e idéias graças à ação de uma direita feroz representada pelo nazismo. O Estado dominava todos os movimentos das pessoas e procurava domínio sobre o próprio pensamento.
A humanidade conheceu muitos regimes e governos déspotas, mas, seguramente, nenhum mais bárbaro e de fria racionalidade como o nazismo. Toda a maldade humana se concentrou naquele regime e governo.
Os campos de concentração e os de extermínio constituíram a mais diabólica linha de produção de sofrimento e morte jamais engendrados pela humanidade.
Tudo minuciosamente elaborado. A busca do extermínio do outro - apenas por não ser da mesma alinhagem - tornou-se rotina. Poucos se revoltaram. As coletividades submetidas ao nazismo, na verdade, colaboraram.
Por que recordar estes episódios? Primeiro, para que nunca mais venham a acontecer. É desejo de toda pessoa com o mínimo de sensibilidade e de sentimento de humanidade.
No entanto, a busca das lembranças da libertação da Europa do jugo nazista, neste instante, tem outra conotação. Dramática. Há, por todo o continente europeu, um crescimento da xenofobia.
O ódio ao estrangeiro vai se alastrando no pensamento do europeu médio. Todos os malefícios da crise financeira têm um único agente gerador: o imigrante, este estrangeiro inoportuno.
Até há pouco, os imigrantes, especialmente de baixa renda, eram bem vindos. Agora, tornaram-s figuras indesejáveis a serem expulsos. Bandos armados, por vezes, procuram eliminá-los de maneira violenta.
Alguns governos avalizam estas práticas. É lamentável. Uma direta feroz invade a Europa. É momento da América - especialmente a América Meridional - fazer ouvir sua voz.
Este avanço de uma corrente da direita irresponsável rompe anos de práticas democráticas e convívio entre os povos. Não se pode permitir um retorno ao passado.
O passado causou milhares de mortes - como as ocorridas em Dunquerque e em todas as sucessivas batalhas. É tempo de evitar o pior. O retrocesso está a caminho.
Os governos verdadeiramente democráticos deviam esquecer os interesses econômicos e agirem em defesa do convívio entre todos os povos e a preservação das pessoas, independente de sua origem ou religião.”
FONTE: site Terra Magazine, de Bob Fernandes, em 8 de junho de 2009. Texto de Cláudio Lembo, advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
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4 comentários:
Parabéns,
Otimo texto, as vezes o caro ex-governador Claudio Lembo parece não ser um político de direita, demonstrando certa sensibilidade pela pessoa humana, mas lembre-se que o nazismo, o fascismo, e o comunismo não são os unicos algozes do homem. O globalizmo, o liberalismo e o capitalismo selvagem também causaram milhões devitimas por todo o mundo!
Prezado Thiago
Concordo 100% com as suas observações.
Maria Tereza
realmente... "às vezes o caro ex-governador Claudio Lembo parece não ser um político de direita, demonstrando certa sensibilidade pela pessoa humana..."
Concordo 100% com as observações do Thiago, quanto ao "globalismo, o liberalismo e o capitalismo selvagem causarem milhões de vítimas por todo o mundo".
Ressalto o "causarem" (ao invés do causaram, utilizado pelo Thiago), porque continuam causando...
Zanquaresma,
Você tem razão. A observação do Thiago fica mais fiel à realidade com "causam", com o verbo no presente.
Maria Terza
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