sábado, 19 de setembro de 2009

PETROBRAS: LE MONDE ENTREVISTA SERGIO GABRIELLI

LE MONDE: COM A REFORMA DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA FEITA PELO ÚLTIMO PRESIDENTE, ANTES DE LULA, EM QUE EXTENSÃO O BRASIL TRABALHA COM EMPRESAS DE PETRÓLEO ESTRANGEIRAS?

GABRIELLI:
Na área do pré-sal, temos a British Gas, a Galp, de Portugal, a Repsol, da Espanha, a Exxon, a Shell, a Hess, a Partex, também de Portugal. E não é só no pré-sal. Na Bacia de Campos, atuam quase todas as grandes petrolíferas mundiais. Com a nova legislação, a Petrobras será a única operadora das novas áreas, mas não será a única companhia em atuação, pois 70% do investimento estarão abertos à competição. As empresas estrangeiras poderão competir, e o critério desta competição será o montante de óleo lucro a ser oferecido ao Governo Brasileiro. Então, as empresas poderão concorrer por áreas para trabalhar ao lado da Petrobras.

LE MONDE: QUANDO O GOVERNO BRASILEIRO DECIDIU AUMENTAR O CONTROLE SOBRE O PETRÓLEO?

GABRIELLI:
Como qualquer outro país do mundo quando encontra possibilidades exploratórias muito grandes, o Governo Brasileiro decidiu – e acredito que sabiamente – manter intocados todos os contratos em vigor. Tudo continuará da mesma forma como foi assinado, e apenas os contratos futuros serão diferentes. Apenas em relação às novas áreas de exploração no pré-sal – as outras áreas, fora do pré-sal, continuarão sob o regime anterior. No pré-sal, como o risco exploratório é mínimo, o pensamento do Governo foi dividir os benefícios do desenvolvimento exploratório mais do que antes.

LE MONDE: NO PRÉ-SAL, VOCÊS QUEREM DIVIDIR MAIS ÓLEO OU LUCRO COM EMPRESAS ESTRANGEIRAS?

GABRIELLI:
Não é a Petrobras. O Governo Brasileiro que está dizendo: “estas áreas pertencem 100% ao Governo, e se não há o mesmo risco exploratório que antes, porque as recompensas deveriam ser as mesmas? Se a empresa quiser vir, claro que poderá, mas então queremos ter um maior controle sobre o fluxo de petróleo”. Veja: o pré-sal é esta grande área azul, cujo tamanho é igual ao do Golfo do México. São 149 mil quilômetros quadrados. Mas, no Brasil, há outras áreas com grande produção de petróleo, há possibilidades fora do pré-sal.

LE MONDE: E, NESTE CASO, AS REGRAS PERMANECEM AS MESMAS?

GABRIELLI:
Permanecem as mesmas. As novas regras valem apenas para esta área aqui, que são as novas áreas do pré-sal. Nesta parte em verde, que representam 28% desta área, 42 mil quilômetros quadrados já foram concedidos. E nestas não haverá mudanças. As mudanças valerão apenas para as áreas que ainda não foram concedidas.

LE MONDE: A PETROBRAS INSISTE EM NÃO SER A ACIONISTA MAJORITÁRIA NA JOINT VENTURE. VOCÊS VÃO OPERAR EM 100%, MAS, NA JOINT VENTURE, VOCÊS TERÃO 30%.

GABRIELLI:
No mínimo. Nós poderemos disputar os outros 70% com as outras empresas, sob as mesmas condições.

LE MONDE: HÁ GARANTIAS DE QUE, NO FUTURO, O SISTEMA FISCAL E FINANCEIRO PARA AS EMPRESAS ESTRANGEIRAS TERÁ ESTABILIDADE?

GABRIELLI:
Sim, conforme a tradição brasileira. O modelo regulatório está sendo mantido hoje. Todo o restante ainda vai ser aprovado pelo Congresso Brasileiro. E a tradição brasileira é de respeito aos contratos. Todas as empresas que estão no Brasil, e há empresas francesas operando no Brasil há muito tempo, sabem muito bem disso.

LE MONDE: EU SEI, HÁ A GDF SUEZ, A TOTAL, A TECHNIP, A SCHLUMBERGER. VOCÊ ESTÁ DIZENDO QUE O BRASIL NÃO É A VENEZUELA?

GABRIELLI:
Eu não vou entrar neste assunto. Brasil é Brasil, Venezuela é Venezuela.

LE MONDE: QUAIS SÃO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E AMBIENTAIS A SEREM SUPERADAS NO PRÉ-SAL?

GABRIELLI:
Do ponto de vista financeiro, já comentei que todos os desafios de financiamento estão resolvidos. Tecnicamente, o modelo já é conhecido – somos, de longe, o maior operador em águas profundas do mundo. Respondemos por 23% da produção em águas profundas mundial, e o segundo maior operador, a Exxon, responde por 14%. Nós temos experiência, pois produzimos offshore desde 1978. E o modelo, basicamente, envolverá sistemas flutuantes de produção, dos quais já conhecemos as especificações e o design; FPSOs submarinos; risers de conexão para levar a produção até a superfície, que sabemos como operar; árvores de natal molhadas e sistemas de cabeça de poço aptos para controlar a pressão do fundo do mar, que também já sabemos como operar; perfuração e completação, que também já conhecemos; sabemos da demanda das plataformas de perfuração e como projetar o poço. Não teremos maiores problemas tecnológicos. O que não sabemos é como será o comportamento dos reservatórios, quando em produção. Esses reservatórios permaneceram intocados por 130 milhões de anos. Agora, vamos iniciar uma produção, com injeção de água, gás e pressão. Não sabemos qual será o comportamento das rochas carbonatadas. Só é possível obter essa informação com o início da produção. Mas já estamos produzindo, já realizamos testes de longa duração (TLD) em Tupi, que hoje já produz 15 mil barris por dia. Também estamos realizando TLDs em Jubarte, no norte do Espírito Santo, que está produzindo entre 10 mil e 15 mil barris por dia. E realizaremos outros TLDs, com os quais vamos saber, essencialmente, como será a produtividade de cada poço. Esta será a variável chave para a definição da estrutura de produção. Considerando que temos todas as informações, ainda não sabemos quantos poços teremos que perfurar para cada sistema de produção. E cada poço custa 100 milhões de dólares. Ou seja, quanto mais poços de grande produção, menos poços teremos que perfurar. E isto faz muita diferença.

LE MONDE: PARA ISTO, O BARRIL TERÁ QUE CUSTAR 66 DÓLARES?

GABRIELLI:
Não. O ponto de equilíbrio entre despesa e receita para os campos de Tupi e para o pré-sal, hoje, está abaixo de 45 dólares.

LE MONDE: ACIMA DE 45 DÓLARES TORNAM-SE LUCRATIVOS?

GABRIELLI:
Isso. Os 65 dólares se referem àquilo que mencionei antes, ao nosso plano de investimentos de 174 bilhões de dólares, dos quais apenas 28,6 bilhões serão alocados no pré-sal. Cento e quarenta bilhões de dólares serão aplicados em outros projetos que não o pré-sal, como refino, petroquímica, gás e energia, biocombustíveis e exploração e produção fora da área do pré-sal. Ou seja: nos projetos do pré-sal, o ponto de equilíbrio equivale a menos de 45 dólares. Se o preço do petróleo ficar acima de 65 dólares, poderemos financiar os 174 bilhões nos próximos cinco anos. Existe uma diferença aí.

LE MONDE: VOCÊ PODE NOS INFORMAR, COM CERTEZA, QUANDO O BRASIL ASSUMIRÁ SUA POSIÇÃO COMO UM DOS MAIORES, NÃO APENAS PRODUTORES, MAS EXPORTADORES DE PETRÓLEO NO MUNDO?

GABRIELLI:
Não queremos ser um dos maiores exportadores de petróleo. Nós vamos expandir nossa produção no Brasil dos atuais 2 milhões de barris por dia para 3,9 milhões de barris por dia até 2020. Estou me referindo à produção de óleo cru no Brasil, porque, se considerarmos o óleo e o gás que produzimos no Brasil e no exterior, nossa produção é de 2,5 milhões de barris, e até 2020 será de 5,7 milhões de barris por dia.

LE MONDE: E O QUE VOCÊS VÃO EXPORTAR EM 2020?

GABRIELLI:
Nossa capacidade de refino, hoje, é de cerca de 2 milhões de barris por dia. Ou seja, nós poderíamos refinar os 2 milhões de barris que produzimos e vendê-los para o mercado brasileiro, sem exportar. Mas não podemos fazer isso, porque hoje produzimos petróleo pesado, e a nossa demanda é de destilados leves, como combustível de aviação, GLP, diesel e gasolina. Nós exportamos uma parte do nosso petróleo, e importamos óleo mais leve para beneficiamento em nossas refinarias. De hoje até 2020, vamos construir cinco refinarias no Brasil, aumentando nossa capacidade de refino dos atuais 2 milhões de barris por dia para 3,3 milhões de barris por dia, em 2020. Isto significa que teremos, no Brasil, um excedente de 600 mil barris de petróleo por dia, disponíveis para exportação, que é a diferença entre 3,3 e 3,9 milhões de barris. E isso não é tudo. Poderemos exportar derivados de petróleo, como diesel, gasolina e GLP, pois seremos mais do que auto-suficientes nestes combustíveis e em combustível de aviação. Então, poderemos ser exportadores de derivados de petróleo, e não de óleo cru. É preciso considerar também que produziremos petróleo fora do Brasil, petróleo que também será vendido. Por exemplo, nosso maior aumento de produção no exterior será na Nigéria, onde vamos atuar junto à Total e à Chevron, em Agbami e Akpo.

LE MONDE: O BRASIL VAI ENTRAR NA OPEP?

GABRIELLI:
Esta decisão não é nossa, mas o Governo Brasileiro tem falado que não pretende ingressar na Opep.

LE MONDE: MAS, VOCÊS SÃO UMA EMPRESA FORTEMENTE ESTATAL, NÃO?

GABRIELLI:
Sim, somos uma empresa controlada pelo Estado. E o presidente Lula afirma que não quer participar da Opep, porque nossa meta é sermos exportadores de derivados de petróleo, e não de óleo cru.

LE MONDE: E POR QUE VOCÊS NÃO PRODUZIRÃO MAIS QUE 3,9 BILHÕES?

GABRIELLI:
Esta produção é baseada em nossas áreas atualmente já descobertas, e dada a rapidez da instalação, da capacidade de produção, este é um grande investimento. Nós estamos aumentando o investimento ainda mais do que isso. Mas, existem algumas limitações físicas para este aumento de capacidade, porque nós, por exemplo, vamos comprar nove novas plataformas. Estamos alugando 26 plataformas de agora até 2012, e 29 sondas entre 2013 e 2017. É uma encomenda muito, muito grande. E isto significa que a capacidade de produção de equipamentos de perfuração tem que ser aumentada em todo o mundo. Você quer que a capacidade adicional seja construída no Brasil, mas esta vai ser uma grande demanda. Acho que a principal limitação para a velocidade de produção é a capacidade da cadeia de fornecimento para fornecer bens e serviços que são necessários para a produção. Bem, hoje temos espaço no estaleiro, mas há quatro ou cinco meses, não tínhamos espaço no estaleiro.

LE MONDE: COMO O BRASIL DECIDIU GASTAR O DINHEIRO DAS RECEITAS FUTURAS? ALÉM DISSO, VOCÊ VAI RESERVAR FUNDOS, COMO NA NORUEGA, PARA A GERAÇÃO FUTURA?

GABRIELLI:
A proposta brasileira - que não é da Petrobras, é um projeto de lei que está sendo discutido no Congresso -, toma parte das receitas, e transforma estas receitas em um Fundo Social. Este Fundo Social terá duas grandes aplicações. Uma aplicação é em projetos de infra-estrutura, para melhorar a produtividade do país. A outra será uma espécie de taxa de câmbio "almofada"; caso contrário, você vai ter uma valorização muito grande do Real.

LE MONDE: AH SIM, ME DESCULPE. A SEGUNDA APLICAÇÃO?

GABRIELLI:
A segunda vai ser assim: o fundo passaria a controlar a transformação dos dólares americanos que você recebe das vendas de óleo em reais. Terá um comportamento semelhante ao do "fundo soberano", como na Noruega.

LE MONDE: DO CONTRÁRIO, VAI HAVER INFLAÇÃO...

GABRIELLI:
Do contrário, vai haver uma apreciação muito forte do real. Com as receitas desses fundos, o governo vai aplicar essas receitas em programas de combate à pobreza, melhorar a qualidade e saúde para os brasileiros, programas para controle de danos ambientais, para melhorar a inovação e infraestrutura tecnológica no país, e para melhorar a infraestrutura cultural - construir salas de cinema, escolas de artes e cultura em geral.

LE MONDE: NO MESMO FUNDO? PORQUE JÁ EXISTE UM FUNDO PARA INFRAESTRUTURA.

GABRIELLI:
Bem, o fundo receberá as receitas do petróleo. Esta receita do petróleo formará um fundo de poupança. Este fundo tem de ser aplicado, caso contrário, ele terá de ser reembolsado. Onde o fundo vai usar o dinheiro? O fundo usará o dinheiro em projetos de infraestrutura, e permanecerá com aplicações em taxas de câmbio no Forex brasileiro. Perante estes dois tipos de aplicações, o fundo receberia a receita. A receita, então, será usada para financiar programas de combate à pobreza e as outras coisas que eu mencionei.

LE MONDE: A APLICAÇÃO PRINCIPAL SERÁ INFRAESTRUTURA?

GABRIELLI:
Sim. O retorno viria de infraestrutura, a aplicação da receita pode ser sem volta.

LE MONDE: PODERIA ME DAR UM EXEMPLO? POR EXEMPLO, VOCÊ INVESTE EM INFRAESTRUTURA? QUE TIPO DE INFRAESTRUTURA?

GABRIELLI:
Sistemas de geração de energia, portos, estradas; e você recebe a receita a partir disso. Esse fundo será gigantesco, ele não será pequeno.

LE MONDE: TODO O LUCRO VAI PARA ESSE FUNDO? E A PETROBRAS?

GABRIELLI:
Não, a Petrobras receberia o que vai ser deste contrato de partilha de produção. A Petrobras vai investir 30%, as outras empresas vão competir para investir os 70% restantes. O que elas vão oferecer ao governo? Elas vão dizer: "Olha, eu vou investir 70%, e eu vou oferecer ao governo, digamos, 50% do meu lucro do petróleo para o governo”. Digamos que 50%.

Qualquer número X. OK? Então, você faz o investimento e começa a produção. Dada a produção, você tem uma larga percentagem que vai para o petróleo de custo. Como é que o petróleo de custo vai ser distribuído? Trinta por cento para a Petrobras, setenta por cento para a outra empresa. Você receberá o óleo, o que corresponde a 30% e 70% do custo do petróleo.

E o que vai acontecer com o petróleo de lucro? A Petrobras investiu 30%, a outra empresa, 70%. Mas a outra empresa disse: "Eu vou dar X por cento do petróleo de lucro para o governo". Então, a Petrobras tem que seguir isso. O que significa que nós investimos 30%, mas nós só ganhamos X vezes 30 do petróleo de lucro. As outras empresas receberiam X vezes 70 do petróleo de lucro, enquanto o governo receberá X por cento do petróleo de lucro. Com este X por cento, todo esse fluxo de renda vai direto para o fundo. A Petro-sal - que é outra empresa que o governo brasileiro está criando - vai ter uma função única: minimizar o custo do petróleo. A Petro-sal será os olhos do governo, porque receberia a taxa para fazer isso. A Petro-sal não vai ter as receitas do petróleo. As receitas do petróleo vão para o Fundo Nacional, o Fundo Social.

LE MONDE: É COMPLEXO...

Bem, é uma típica produção de contrato de partilha. Não há nada de especial nisso. A única diferença, eu diria, é que a companhia nacional de petróleo tem um papel dividido. Nós vamos ser o operador, e a Petro-sal vai ser a responsável pelo petróleo de custo. Isso é comum. O que não é comum é que a Petro-sal não vai obter as receitas do petróleo de lucro, porque as receitas do petróleo de lucro vão diretamente para o Fundo. É o chamado "Fundo Social". No modelo norueguês, que é quase o mesmo, a diferença é que as receitas do petróleo vão para a Petoro, que, a cada ano, dá o excesso de volta para o governo.

LE MONDE: ENTÃO POR QUE VOCÊS OPTARAM POR ESSA VIA DIRETA? DIRETAMENTE PARA O GOVERNO.

GABRIELLI:
Para isolar essas receitas para investimentos de uma geração para outra, isolar essa receita dos gastos do governo atual. É um investimento a longo prazo. Eu não sei se isso é claro para você. Nós vamos ter três agentes, com três funções diferentes. A Petrobras será a operadora. Vai investir um mínimo de 30% e pode, se desejar, concorrer com os 70% restantes. Mas, competirá como qualquer outra empresa. As outras empresas que contribuem com 70%. O petróleo de lucro vai ser distribuído para as empresas, na proporção que eles vão decidir no processo de licitação. Dada esta proporção, o governo vai obter uma parte do petróleo de lucro e as companhias obterão a parte restante. O governo obterá este petróleo de lucro e colocará todas as receitas no Fundo Social. O governo também teria outra empresa, chamada Petro-sal, que seria o controlador do governo sobre o petróleo de custo.

LE MONDE - ENTÃO, POR QUE VOCÊ VEIO PARA A FRANÇA? SERIA ESTA UMA EXCURSÃO EUROPÉIA, OU É SÓ A FRANÇA?

GABRIELLI:
Desde janeiro, estamos fazendo muitas viagens. Nós estivemos na China, Coréia, Singapura, Japão, Itália, Escócia, Canadá, Noruega, Dinamarca; na França agora. Eu vou amanhã para Londres. Estamos conversando com fornecedores. A ideia é mostrar para a cadeia de abastecimento que existem muitas oportunidades no Brasil agora. Porque pensamos que o futuro – a visão de curto e médio prazo da produção offshore em águas profundas – é no Brasil. Fornecedores como a Technip, SPM, os estaleiros, os produtores de equipamentos eletrônicos como compressores, como válvulas, como tubulações. Tudo relacionado à engenharia. Não é só offshore, também temos muitas refinarias.

LE MONDE: ENTÃO, VOCÊS CONHECERAM MUITAS EMPRESAS FRANCESAS? PODE DIZER-NOS QUAIS AS EMPRESAS?

GABRIELLI:
Há empresas grandes, mas há também empresas menores, fornecedores. Catering, por exemplo. Catering é importante para a produção offshore.

LE MONDE: VOCÊ QUER DIZER, COMO A SODEXO?

GABRIELLI:
Sim. Eles estão aqui. Temos hoje, por exemplo, grandes contratos pendentes entre a Petrobras e empresas francesas, que estão em andamento. Mais de R$ 10 bilhões. Dez bilhões de reais é como US$ 6 bilhões, atualmente. Os contratos que temos com as empresas francesas, que estão em andamento agora envolvem entre cinco e seis bilhões de dólares. Nós pensamos que isto pode aumentar. Temos uma cooperação muito grande, uma cooperação de longo prazo, também, com o Instituto Francês de Petróleo, a Schlumberger, a Total. Nós somos parceiros da Total na Nigéria.

LE MONDE: EU TENHO UMA PERGUNTA SOBRE O DESAFIO ECOLÓGICO.

GABRIELLI:
Nós temos vários desafios ecológicos. Primeiro de tudo, temos de conhecer um ambiente ecológico que não é muito conhecido, que é o fundo domar, as águas profundas. E nós estamos fazendo um estudo aprofundado sobre os animais. Não apenas os animais, mas também a química do fundo do mar, as correntes, as ondas, as gradações de temperatura e as variáveis físicas.

LE MONDE: SERIA PORQUE A TEMPERATURA E A PRESSÃO SÃO MUITO ALTAS?

GABRIELLI:
Na verdade, não. A temperatura no fundo do mar é geralmente em torno de quatro graus negativos. É interessante, porque o sal é um isolante térmico, e o petróleo que vem não é muito quente porque o sal é um bom isolante térmico. Então, a temperatura não chega a ser de quatro graus negativos, mas também não é muito elevada. A pressão é alta, mas a temperatura, não.

LE MONDE: ENTÃO, VOCÊS SÃO OS PRIMEIROS A CONHECEREM BEM ESSE AMBIENTE?

GABRIELLI:
Ninguém conhece, na verdade. Mas nós temos o controle remoto, e estamos fazendo pesquisas no momento. Como estamos fazendo em nossa produção atual, porque temos produzido no fundo do mar há muito tempo. Em segundo lugar, precisamos ter um modo mais eficiente para a produção. O que significa que, na geração de energia do nosso sistema de produção, temos de ter a forma mais eficiente para a nossa produção. Porque estamos a 300 km da linha de costa, a geração de energia será um grande problema.

Precisamos ter o uso mais eficiente da energia na nossa produção. Em terceiro lugar, nós vamos desenvolver novas tecnologias e novas formas de armazenamento de CO2. Nós vamos precisar disso, provavelmente, uma vez que temos um tipo muito carbonatado de reserva, o que produziria mais CO2 do que o habitual. E então, temos que obter novas técnicas de armazenamento do CO2. E, provavelmente, também, dado o tamanho das reservas, é preciso usar técnicas de recuperação aprimorada de petróleo para injetar CO2. E esta é uma parte da coisa, porque, por outro lado, estamos fortemente empenhados na produção de biocombustíveis. É um combustível ambientalmente amigável para ser usado nos carros. O Brasil é o único país no mundo em que a gasolina é o combustível alternativo, porque menos de 49% dos carros no Brasil utilizam gasolina, enquanto 51% utilizam o etanol.”

FONTE: entrevista para o jornal francês Le Monde (publicada em 17/9/09) concedida pelo Presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. Postada em 18/09 no blog “Fatos e Dados”, da Petrobras.

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