domingo, 6 de setembro de 2009

"RAPIDEZ IMPORTA" - JOSÉ SERGIO GABRIELLI

O presidente da Petrobras defende a urgência no Congresso e diz que os poços demoram ao menos seis anos para produzir

"Em alguns fins de semana, a mulher de José Sergio Gabrielli pede que ele vá fazer a feira, para ter noção de dinheiro “de verdade”. Há uma explicação para isso. Na rotina de trabalho, Gabrielli lida com quantias como os US$ 174 bilhões de investimentos programados pela companhia para a próxima década, equivalentes a R$ 2 mil por segundo. Esse poder torna Gabrielli um homem-chave na exploração do pré-sal.

ÉPOCA – Qual é o objetivo de criar uma nova estatal ligada ao petróleo?

José Sergio Gabrielli –
A Petro-Sal é o olho do governo, com poder de aprovação e de veto. Sua função principal é controlar custos e maximizar o lucro. Ela vai ser a supervisão, o interesse da União, sobre a Petrobras. É uma função muito semelhante à da Petoro, da Noruega.

ÉPOCA – O barril de petróleo está em US$ 65, e o governo diz que o pré-sal será viável a pelo menos US$ 45. Por quê?

Gabrielli –
Falamos do único modelo de exploração conhecido, no campo de Tupi. O custo é definido pelo número de poços que você tem de construir. Um poço custa perto de US$ 100 milhões. O número de poços é a variável-chave que precisamos conhecer. Saberemos isso no fim de 2010.

ÉPOCA – Se não se sabe quantos poços serão necessários, não é precipitado votar tudo em regime de urgência?

Gabrielli –
A mudança regulatória não depende do conhecimento de custos. Vem do fato de que o risco exploratório é muito baixo. O pré-sal é uma das maiores descobertas da história da indústria do petróleo. As chances de encontrar petróleo nessa área são muito grandes. É como comprar bilhete premiado.

ÉPOCA – Como assim?

Gabrielli
– A Petrobras perfurou 37 poços no pré-sal. Teve 87% de sucesso. Na Bacia de Santos, o sucesso foi de 100%. Vai ser sempre assim? Provavelmente, não. Mas será sempre uma área de risco baixo. O regime anterior, de concessões, destinava-se a licitações para explorar áreas de alto risco. O regime de concessões permanecerá na área nessas condições. Mas não será aplicado em áreas de baixo risco.

ÉPOCA – O prazo de 90 dias para o Congresso não é pouco?

Gabrielli –
São 45 dias para a Câmara dos Deputados, mais 45 dias para o Senado. Se o Senado fizer mudanças, volta para a Câmara. Nossa expectativa é que isso não será aprovado antes do primeiro semestre de 2010. Mas é importante fazer isso com certa rapidez. A capitalização da Petrobras não pode ficar eternamente em aberto. Envolve um volume de ações muito grande e impacta o mercado, no Brasil e no exterior. E há outra razão para rapidez.

ÉPOCA – Qual?

Gabrielli –
Você costuma levar seis ou sete anos entre a primeira descoberta e o primeiro óleo, na média. Campos descobertos em 2000 só vão mostrar o primeiro óleo 13 anos depois. Definindo as regras agora, você faz com que a indústria de fornecedores se adapte, ajuda as empresas a tomar suas decisões, acelera os projetos mais viáveis. Tem um conjunto de decisões que vai levar seis ou sete anos para virar petróleo. Precisamos aproveitar essa oportunidade.

A capitalização da Petrobras não pode ficar em aberto. Isso afeta o mercado, no Brasil e fora."

FONTE: reportagem de Paulo Moreira Leite publicada na revista "Época" desta semana.

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