segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
BALANÇA COMERCIAL, O SUSTO É OUTRO
“Há uma onda de susto, refletida pela imprensa, com o resultado da balança comercial em 2010 que registrou déficit de US$ 37 bilhões nas transações industriais. É o dobro de 2009 se forem excluídos setores que usam mais intensamente matérias-primas, como aço, açúcar e celulose, como revelou na sexta-feira a colega Raquel Landim, no caderno de Economia do Estado, com base nos dados oficiais. As importações de produtos industriais aumentaram 40%, enquanto as exportações do setor cresceram apenas 23,5%, confirma o Ministério do Desenvolvimento. O quadro é mais grave do que parece porque boa parte boa parte desses “nacionais” exportados foi fabricada no País utilizando componentes, e até mesmo matérias-primas, importadas. Fica difícil saber o que é produzido (não só fabricado) no Brasil ou indiretamente importado.
Apenas cinco!
O que impressiona e assusta é que as exportações de básicos estão concentradas em apenas cinco produtos. Minério de ferro, petróleo em bruto, complexo de soja, carne e açúcar que são vendidos para poucos mercados, como o chinês. Eles representaram 43% de todas as exportações brasileiras. É uma espécie de “primarização” dentro da primarização da pauta comercial. Alguns produtos primários sobrepondo-se a outros e fragilizando o comércio exterior. Alguns afirmam que é o custo Brasil que corrói a competição, outros acusam os preços baixos das importações vindas da China com os quais não se pode competir numa economia aberta, como a nossa. Quando muito, é defender, provisoriamente, os setores mais atingidos. O que ajuda, mas não resolve.
O que eles não dizem. Na reportagem de sexta-feira, Raquel Landim ouviu economistas e representantes do setor produtivo. A impressão final é que está faltando um pouco de realismo nessas análises. Vamos por partes. Primeiro, é preciso avaliar as consequências desse desequilíbrio comercial.
CONTAS EXTERNAS
Elas repercutem negativamente sobre o aumento do déficit nas contas externas, que só não é maior por causa das exportações de básicos. Mas não há risco imediato ou em médio prazo. As reservas cambiais se aproximam de US$ 300 bilhões, podem passar de US$ 400 bilhões este ano. O BC e o Tesouro devem continuar agindo para conter a valorização do real que, por sua vez, onera as exportações e estimula as importações. Há também o duplo efeito sobre o financiamento dessa reserva. Ele é até agora suportável. O custo atual do seguro das reservas compensa os riscos ainda não afastados de uma nova crise financeira internacional.
DÍVIDA INTERNA
Por outro lado, a dívida interna, que está bem administrada, pode ser controlada por meio de instrumentos internos, que o governo já anunciou. Não se prevê, também, uma redução dos investimentos externos. Ao contrário, eles estão aumentando até demais. É sem dúvida um cenário desconfortável que preocupa, mas ainda não assusta.
São apenas cinco! O que os analistas não estão acentuando, pelo menos nas entrevistas, é o duplo efeito da primarização do comércio exterior. O que está havendo é acima de tudo, uma primarização dentro da primarização. E é séria. Não é só o aumento das exportações de básicos, mas sim, repito, sua concentração em apenas cinco commodities. E isso sem levar em conta a grande influência dos preços das commodities na valorização do real, que reduz a capacidade de competição da indústria nacional. Nesse cenário, o risco não está só na queda do superávit comercial, mas na concentração.
Uma tendência perigosa que se acentua e se agrava, mas que pouco se fala. Por quê?”
FONTE: reportagem de Alberto Tamer publicada no O Estado de S.Paulo e transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2011/01/balanca-comercial-o-susto-e-outro/) [imagem do Google adicionada por este blog].
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