domingo, 30 de janeiro de 2011

O PARTIDOCÍDIO DO DEM


“Acabar o DEM não vai. Mas é enorme a chance de a atual disputa interna da legenda acelerar o encolhimento do partido.

Só para recapitular, o DEM é um galho nascido da antiga Arena, a agremiação que sustentou a ditadura militar (1964-1985). Virou PDS. Depois, PFL [profundamente unido ao PSDB por idênticos ideais e interesses que os movem]. Numa tentativa patética de melhorar a imagem, transmutou-se em "Democratas" [sic].

O auge do DEM (ainda como PFL) foi em 1998 [nos anos FHC/PSDB]. Elegeu 105 deputados. Era o maior partido da Câmara. No ano passado, conquistou meras 43 cadeiras. Uma perda brutal de 59% em 12 anos.

Na segunda-feira, o DEM escolhe seu novo líder na Câmara. Como se não bastassem as vicissitudes já existentes, a sigla está rachada por uma preferência externa: o apoio em 2014 a José Serra ou a Aécio Neves, ambos tucanos.

Ou seja, mesmo à beira do precipício, o DEM não gasta energia tentando construir um partido que tenha alguma conexão própria com a sociedade. Ou para construir um nome interno com viabilidade eleitoral em 2014. Só se mantém fiel à obsessão por servir ao PSDB e aos tucanos de maneira geral [porque, nos grandes interesses antinacionais que os sustentam, um é laranja do outro].

Os nomes na disputa para líder do DEM na segunda-feira são os de ACM Neto (da Bahia) e Eduardo Sciarra (do Paraná). Neto tem mais simpatizantes pró-Aécio. Sciarra alinha-se aos pró-Serra.

Seria reducionismo creditar o racha interno do DEM apenas à divisão entre os que preferem esse ou aquele tucano. Mas essa é uma das forças motrizes centrais por trás dos dois grupos. Negar em público é inútil. A versão é a mais recorrente nos bastidores em Brasília.

Nascido das oligarquias, sem ligação orgânica com um setor da base da sociedade [assim como o PSDB], o DEM parece ter optado por um partidocídio. Na semana que vem, continuará a marcha batida nesse rumo. Não importa quem seja o líder na Câmara. A legenda sairá mais fraca. Lula disse uma vez desejar extirpar o DEM. Sem querer, foi premonitório.”

FONTE: escrito por Fernando Rodrigues e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2901201104.htm) [imagem e trechos entre colchetes adicionadas por este blog].

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