segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

IGREJA CATÓLICA TENTA SE RECUPERAR DA SUA CAMPANHA PRÓ-SERRA

                                Votem em Serra

IGREJA CATÓLICA NO BRASIL VIVE DESAFIOS E ESPERANÇA

EVASÃO DE FIÉIS E SECULARIZAÇÃO ENFRAQUECEM IGREJA, QUE VÊ ALENTO NOS MOVIMENTOS CARISMÁTICOS

José Maria Mayrink

“A Igreja Católica vive crescente tensão interna por causa da evasão de fiéis e da distância entre sua pregação e a prática religiosa.

A revelação, em novembro, de que a instituição ocupa o segundo lugar em credibilidade, abaixo apenas das Forças Armadas, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entusiasma o episcopado, embora alguns teólogos e assessores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) atribuam essa boa imagem não a seu desempenho, mas ao descrédito de concorrentes, especialmente da classe política.

A pesquisa da FGV prova, na avaliação do professor Felipe de Aquino, membro do movimento carismático Associação Canção Nova, que a Igreja mantém seu prestígio na sociedade. "A grande maioria do povo se professa católica, respeita e acata posicionamentos morais", argumenta. A Renovação Carismática Católica e outros grupos, como o Opus Dei e as novas comunidades , seguem o Vaticano. "Em questões políticas pode haver divergências, mas mesmo assim a Igreja tem voz ativa, como ocorreu no caso da aprovação da Lei da Ficha Limpa", observa Aquino.

Outro exemplo recente foi a tomada de posição de parte do episcopado durante a campanha presidencial. Alguns bispos, como D. Luiz Gonzaga Bergonzini, de Guarulhos, combateram Dilma Rousseff com o argumento de que ela e seu partido eram favoráveis à descriminalização do aborto [argumento hipócrita usado para tentar eleger Serra. Foi posteriormente divulgado que a esposa de Serra, fingida lutadora contra o aborto, já confessara ter praticado aborto. Mônica Serra, em campanha pela eleição do marido, cinicamente, chegara até a acusar Dilma Roussef de “assassina de criancinhas” porque a candidata defendeu o apoio do sistema de saúde pública para as mulheres com complicações por tentativa de aborto].

ATÉ O PAPA !!!

[Não votem em Dilma Rousseff. Todos às ruas para eleger José Serra]

A crítica contra Dilma repercutiu [e intencionalmente intensificou-se] na imprensa, sobretudo depois que o papa Bento XVI aconselhou [nas vésperas do 2º turno] os bispos a saírem às ruas em defesa da defesa da vida ["contra o aborto"], num discurso [presunçosamente] interpretado por D. Bergonzini como apoio à sua atitude [de cabo eleitoral de Serra. Mal sabia o bispo que ele nada significava, além de ser efêmera e oportuna parte de hipócrita jogada da direita que queria eleger seu representante e voltar ao poder no Brasil. Na grande mídia passaram a ser frequentes as manchetes e grandes fotos de Serra,  sua esposa Mônica, seus aliados, como Tasso Jereissati, todos rezando... Eles eram neoreligiosos, subitamente convertidos durante a campanha. Somente faltavam as reportagens sobre futura canonização de Serra ].



Houve reação a esse posicionamento dentro da própria Igreja, o que demonstra como ela está dividida. "Foi um espanto os três bispos da presidência do Regional Sul 1 (São Paulo) recomendarem um texto de condenação da candidatura de Dilma Rousseff nas eleições, apoiando [a campanha eleitoral pró-Serra de] D. Bergonzini, porque se jogou fora a colegialidade, fugindo à orientação da CNBB, quando D. Geraldo Lyrio Rocha (presidente da entidade) teve de dizer que cada bispo faz o que quer", reagiu o padre José Oscar Beozzo, teólogo e respeitado historiador da Igreja. "É um sintoma de que não há consenso, os bispos quebraram uma tradição de mais de 45 anos", acrescentou.

Essa intromissão na campanha eleitoral incomodou, mas não deverá impedir um bom relacionamento com o novo governo, na avaliação de D. Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da Pontifícia Universidade Católica de Minas. "Não diria que a Igreja tenha perdido a capacidade de diálogo, apesar de alguns arranhões, porque isso poderá ser recuperado, sem sequelas", disse o bispo. Em sua opinião, mais do que prestígio, é a sua estatura moral que a Igreja deve preservar, nas relações com a sociedade e com o governo.

"A Igreja sempre falou de política, sempre defendeu valores éticos" [porém nunca apelando tanto para injúrias], afirmou D. Mol, lembrando a força de vozes da hierarquia que se destacaram contra a ditadura militar e aquelas que atualmente se levantam em defesa dos pobres. "Havia gente de outra linha, até bispos muito afinados com o regime militar." O que chamou a atenção nas eleições de 2010 foi o fato de ter prevalecido uma voz de membros da Igreja contra uma candidata, de maneira contundente e direta. "Quando há dois candidatos e se diz para não votar em um, é como se dissesse para votar no outro, sem alternativa", criticou o bispo.

Para o padre Manoel Godoy, diretor do Instituto de Teologia Santo Tomás de Aquino, em Belo Horizonte, o fato de Bento XVI ter aconselhado os bispos brasileiros, na véspera do segundo turno das eleições, a saírem às ruas em defesa da vida, contra o aborto, "foi um paradoxo, um episódio [deprimente e ridículo] contra o toque de recolher ao qual a CNBB vem sendo submetida nos últimos anos".

DISPUTA INTERNA

O dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, atribui a uma disputa interna no episcopado a polêmica criada em cima da discussão sobre o aborto. "Acredito que todo esse conflito à sombra do processo eleitoral tinha como alvo não evitar a eleição da Dilma, mas assegurar aos conservadores [à direita] a vitória da eleição na CNBB", afirmou o teólogo e ex-assessor do presidente Lula no programa Fome Zero.

As denúncias de pedofilia no clero repercutiram relativamente pouco no Brasil, porque os casos ocorridos aqui foram pouco [divulgados] em comparação com outros países. "Se a Igreja já vinha sofrendo uma crise de credibilidade, a pedofilia aprofundou essa crise e não adianta dizer que a pedofilia está presente na família e no mundo civil, porque o padre foi trabalhado, desde o século 16, como um alter Christus ("outro Cristo"), uma figura tão exaltada que é impossível deixar de haver consequências", disse o padre Godoy. Com a ressalva de que não tem "a mentalidade conspiracionista" de achar que a imprensa é contra a Igreja, ele admite que a repercussão da pedofilia é inevitável, por causa da imagem de pessoa venerada, culta e sábia que se criou do padre.”

FONTE: escrito por José Maria Mayrink, publicado no “O Estado de São Paulo” e transcrito no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=30/01/2011&page=mostra_notimpol) . [O jornal "Estadão" se declarou em editorial, durante a campanha, estar engajado na tentativa de eleger Serra]. [Imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

Nenhum comentário: