domingo, 17 de abril de 2011

OS INTERESSES POR TRÁS DO ALARDE (DA MÍDIA E DO “MERCADO”) SOBRE INFLAÇÃO E POR ELEVAÇÃO DE JUROS


OS JUROS E A JABOTICABA

Por Brizola Neto

“A Folha de S. Paulo de sábado publicou gráfico onde se comparam inflação e juros em diversas partes do mundo.

Como a gente tem comentado aqui, dá para notar que o recrudescimento da inflação é fenômeno da economia mundial, não da brasileira, apenas.

E decorre, como todos sabem, da imensa disponibilidade de recursos financeiros que, desde a crise de 2008, “se soltaram” das economias centrais rumo aos países que, em meio a ela, em lugar de entrarem em recessão –como ocorreu com os EUA e a Europa– continuaram (ou até aceleraram) seu crescimento econômico.

O impacto em 2009 foi imenso: o PIB dos Estados Unidos, recuou 2,4%, o Reino Unido, teve contração de 4,8%, e o Japão fechou o ano com queda de 5%. As economias da Alemanha e Itália também despencaram 5%, enquanto a do conjunto da União Europeia caiu 4,1%, e a do Canadá, 2,6%.

A resposta daquelas economias foi baixar os juros a, praticamente, zero, o que continuam a praticar, porque o crescimento que tiveram em 2010 sequer recuperou a retração do ano anterior. E, com isso, suas disponibilidades de capital fluíram em busca de taxas de remuneração mais atraentes.

E a remuneração mais líquida e mais direta são as taxas de juros públicas, direta ou indiretamente, pois elas determinam, também, se as empresas irão se financiar interna ou externamente.


O gráfico acima mostra o crescimento do nível de endividamento externo das empresas brasileiras. Não é preciso ser um gênio das finanças para ver o crescimento estúpido desses compromissos.

Como eles são, essencialmente, fixados em dólar, fica claro que, a elas, é interessante um duplo movimento: a depressão da taxa de conversão da moeda brasileira (menos reais compram um dólar) e a [inflação] depreciação interna do real (mais reais por menos mercadoria, incluído o preço do dinheiro, que são os juros).

As medidas tomadas pelo Governo, como todos sabiam –apesar de dizerem ao contrário– cessaram em parte a entrada de dólares de curto prazo (leia-se, menos risco cambial), mas não anularam esse movimento. Ao “mercado” interessa que suba a inflação e subam os juros.

É só olhar o mapa lá em cima e ver o quanto os juros brasileiros estão descolados da inflação interna. E, se depender do “mercado”, ficarão mais altos, com a elevação da taxa Selic na próxima reunião do Conselho de Política Monetária, na semana que vem.

Como, além da jaboticaba, tudo o que só acontece no Brasil deve ser olhado com atenção à procura da batata que está entro da chaleira, a pressão por aumento de juros nada tem a ver com “ação natural” da economia. Não é fatalidade das regras econômicas e não é a única forma de evitar que a expansão do crédito gere crescimento da demanda que pressione a inflação.

A inflação brasileira não é de demanda. A inflação é a pressão do “mercado”, do capital por condições mais vantajosas para a sua remuneração. E a autoridade econômica que se opuser a isso, ou ao menos não se entregar prazeirosamente a isso, vira alvo de seus mecanismos de pressão: a mídia.

O resto, meus amigos, é jaboticaba.”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/os-juros-e-a-jaboticaba/).

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