(Pedro Simon - foto: Paulo H. Carvalho /Agência Senado)
"(FHC) não tinha uma preocupação maior com a classe pobre", afirma Pedro Simon
Claudio Leal, no Terra Magazine
“O artigo "O papel da oposição", escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é um erro político "lamentável", na avaliação do senador Pedro Simon (PMDB), antigo opositor do líder tucano [e de Lula]. "Ele pensou uma coisa e escreveu outra", diagnostica. Simon acredita em um equívoco de escritor porque "nenhum partido burguês pode se dar ao luxo de botar que seu partido não vai olhar para a classe popular".
No texto publicado na revista “Interesse Nacional”, o ex-presidente criticou o discurso oposicionista dirigido ao "povão" e defendeu o envolvimento da "nova classe média". "Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os 'movimentos sociais' ou o 'povão', isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos", analisou FHC.
"Isto porque o governo 'aparelhou', cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias", concluiu o ex-presidente.
"Politicamente, ele não podia recomendar isso a seu partido", diz Pedro Simon.
-Terra Magazine - O que achou do artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendendo que a oposição deve se aproximar da classe média e parar de discursar para o "povão"?
Pedro Simon - Eu acho que não foi feliz ao escrever. Eu acho que ele pensou uma coisa e escreveu outra. Foi muito infeliz. Em primeiro lugar, nenhum partido burguês pode se dar ao luxo de botar que seu partido não vai olhar para a classe popular. A classe popular, mais humilde, é aquela que deve merecer mais a nossa atenção. O que ele quis dizer, na minha opinião, é que a nova classe média, essa faixa de população que saiu da classe pobre e foi pra classe média, é muito grande. E essa é uma faixa que ainda não está disponível. Tanto pode ir para um outro partido como pode ir para o PT. Se ele disser que o PMDB deve fazer uma atração para essa classe, tudo bem. Mas daí a dizer não se importar com a classe pobre é algo profundamente lamentável.
-Nos últimos anos, o PSDB tem se voltado para o que Fernando Henrique chamou de "povão"?
Na verdade, não. No governo do Itamar, foi lançado o programa de combate à fome. E o Fernando Henrique mudou o programa, lançou um da cidadania. Mas aquele programa de distribuição de alimentos para o Vale Família, isso ele não fez. Ele não tinha uma preocupação maior com a classe pobre.
-Implicitamente, ele reconhece que o governo Lula expandiu a classe média, ao elevar uma grande faixa da pobreza para essa faixa media?
Ele pode até não estar se dando conta, mas indiretamente é isso que ele está dizendo, não é? Pode não estar afirmando, mas a conclusão a que se chega é por aí.
-Considerando que ele é um intelectual, um sociólogo bastante experiente, que sabe expressar suas ideias, o senhor ainda acredita que ele cometeu um equívoco de escrita?
Acho que sim. Politicamente, ele não podia recomendar isso a seu partido: "olhe para a nova classe média e deixe de lado os pobres". Não foi feliz.
-Dilma tem conseguido atrair mais a classe média?
Isso é o que o Fernando Henrique está dizendo, que tem que ter cuidado, pois essa nova classe média pode se virar para Dilma. Que a Dilma e o estilo dela estão atraindo essa gente.
-O que tem achado dos primeiros passos do governo Dilma?
Tenho gostado, ela está num bom caminho.
-No lado comportamental?
Tem sido (boa) na política externa, tem sido naquele chega-pra-lá que ela deu naquele deputado do PMDB do Rio, o que todo mundo diz que é negativo...
-Eduardo Cunha?
É. Quando ela se recusou em nomear o indicado dele pra empresa elétrica, Furnas, ele ameaçou que publicaria um dossiê contando tudo. Aí ela deu a declaração, dizendo: não nomeio nem esse, nem ninguém que for indicado por esse deputado. Sinceramente, eu acho que ela está bem.
-Como o senhor recebeu o discurso de Aécio Neves na liderança da oposição? Essa linha de ser uma oposição mais equilibrada e de dialogar com o governo é uma tendência boa?
Eu acho que sim. Ao contrário de alguns que acham que a oposição tem quer ser ultrarradical e aquilo ali não soma, eu acho que ele falou com muito firmeza e apontou até qualidades do governo Fernando Henrique. Até hoje ninguém tinha falado, ele falou. E disse que o governo do PT, por várias vezes, quando estava em jogo ou o Brasil [do PSDB], ou o PT, o Lula ficou com o PT.
Foi um bom pronunciamento.”
FONTE: reportagem de Claudio Leal publicada no portal “Terra Magazine” (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5075192-EI6578,00.html) [entre colchetes adicionados por este blog].
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