sexta-feira, 15 de abril de 2011
Santayana: “FHC ESTÁ NO MESMO LUGAR. EM SI MESMO”
Por Paulo Henrique Amorim: “O ‘Conversa Afiada’ reproduz artigo de Mauro Santayana no JB:
O DESPREZO PELOS POBRES
Por Mauro Santayana
"O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos brasileiros mais bem sucedidos de sua geração. A natureza e o lar concederam-lhe inteligência que boas escolas e um grande mestre da sociologia, Florestan Fernandes, aprimoraram. Filho de honrado chefe militar, que a memória nacional respeita, Fernando viveu uma juventude favorecida.
Mas parece não ter aprendido muito com o pai que, tendo acompanhado de perto a ascensão do nazismo, optara pelo lado esquerdo da estrada. Muito cedo, a sua elegância verbal conquistava os interlocutores. Jânio Quadros de tal maneira ficou fascinado pelo jovem sociólogo que incumbiu José Aparecido de convidá-lo para o Conselho Nacional de Economia, então o mais importante órgão consultivo do governo. Anos depois, com sua língua afiada, Aparecido explicava por que Fernando Henrique declinara do convite: “era muito pouco para ele”.
É provável que, com sua astúcia, tenha pressentido a brevidade do histriônico arrivista, e, precavido, preservado o futuro. Em uma coisa, todos os que convivem mais de perto com o ex-presidente concordam: sua postura, onde quer que esteja, é a de um chefe. Ele não conversa: expõe; não pergunta: adianta sua posição sobre o tema em pauta. É, sempre, o professor e o líder. É difícil imaginá-lo apenas aluno. Não nasceu para aprender, mas, sim, para ensinar.
Lembro-me da confidência que me fez, certa vez, o grande Josafá Marinho: Fernando só aparecia no plenário do Senado por alguns minutos, para justificar a presença. Não tinha paciência para ouvir seus pares. Na realidade, só ouvia um único orador, com atenção: ele mesmo. Não obstante, quando estava inscrito, mandava avisar a todos os senadores para que o fossem ouvir.
A sorte o levara [a ser senador sem ser eleito, sem votos] ao Senado, como suplente de Franco Montoro –que, ao eleger-se governador, deixou vaga a cadeira. A mesma sorte o ungiu, quando o presidente Itamar Franco, ao descuidar-se da velha cautela montanhesa, escolheu-o como sucessor.
Na presidência, confirmou a sua personalidade. Várias vezes demonstrou desapego ao povo brasileiro. Transferiu para as massas o próprio sentimento, ao qualificar o brasileiro comum como fascinado pelo estrangeiro e surpreendeu a ‘intelligentsia’ nacional ao citar Weber e estabelecer uma ética particular para os governantes.
Fomos, para ele, um povo de capiaus, o que levou Jô Soares a apresentar-se em seu talk-show, no dia seguinte, de chapéu de palha. Mesmo aposentado compulsoriamente antes dos 40, classificou como vagabundos os aposentados por tempo de serviço.
Suas atividades não são as de um ex-presidente. Ele quer liderar a oposição. É assim que já emitiu várias encíclicas, como a última, em que aconselha a esquecer o povão e investir na classe média. Como se os setores conscientes da classe média, que influem, pudessem se esquecer do [tempo de FHC de] desemprego, das privatizações, e da humilhação diante do FMI. Os pobres, ele pontifica, já foram “comprados” pela política assistencialista do governo, e serão fiéis à sucessora de Lula, por isso não merecem atenção, nem cuidados.
Falta-lhe a capacidade de ver o Brasil como um todo, o que é comum a muitos políticos de São Paulo. O Brasil que eles conhecem não vai além da periferia da grande cidade, que, a contragosto, visitam em vésperas eleitorais [se não chover].
Ninguém deve estranhar a posição do ex-presidente. Ele mantém a sua coerência. A oposição, de resto moderada, que fez ao regime militar, era a de um homem cheio de talentos, que o golpe enviara para o exílio. Para ele, as circunstâncias especiais que o conduziram à Chefia do Estado eram naturais: naquele momento, e em seu próprio juízo, Itamar não poderia encontrar outro. Ele era o príncipe. Não devia ao mineiro a indicação. Devia-a ao seu autoavaliado saber que ele quer usar hoje [a indicação] para, sem mandato, liderar a oposição. Resta saber se se curvarão diante de sua grandeza.”
Em tempo [por PHA]: o Stanley Burburinho localizou essas declarações do ‘Nunca Dantes’ [Lula], em Londres, sobre o “quero que o pobre se exploda” do FHC:
“- Não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão.”
“Lula afirmou que o Brasil já teve político que disse preferir o “cheiro de cavalo ao do povo”, referindo-se a uma célebre frase do general João Batista de Oliveira Figueiredo, presidente durante o regime militar. Agora, afirmou Lula, tem ex-presidente “que fala que é preciso não ficar atrás, esquecer o povão”.
“- O povo não aceita mais oposição vingativa, com ódio, negativista. O povo brasileiro quer gente que pensa no Brasil. A oposição quer que haja desgraça para poder ter razão.”
FONTE: portal “Conversa Afiada” (http://noticias.r7.com/brasil/noticias/lula-critica-fhc-e-diz-que-povao-e-a-razao-de-ser-do-brasil-20110414.html) e (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/04/14/santayana-fhc-esta-no-mesmo-lugar-em-si-mesmo/)[entre colchetes adicionados por este blog].
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