segunda-feira, 11 de abril de 2011

PREÇO DO PETRÓLEO: GABRIELLI FALA À “FOLHA” E À “EXAME”


“Referente às matérias “Petrobras perde R$ 1 bi com petróleo caro” (Parte 1 e Parte2) e “Gabrielli nega que reajuste da gasolina seja adiado para não atrapalhar inflação“, publicadas na sexta-feira (08/04) na “Folha de São Paulo” e na revista “Exame” (respectivamente), veja, abaixo, a íntegra da transcrição da entrevista concedida pelo presidente da Companhia, José Sergio GAbrielli, aos citados veículos:

Entrevistador: Presidente, eu gostaria que você falasse um pouco sobre o aumento no preço da gasolina. Nós teremos um aumento realmente?

Gabrielli:
Olha, o ministro Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração, disse que a Petrobras não tem nenhuma decisão sobre aumentar o preço da gasolina, e está absolutamente correto o que ele disse. O que eu disse foi que nós não temos ainda condições de ter decisão de preços, porque não temos certeza se os preços irão ficar nos atuais patamares. Portanto, é necessário observar uma série de variáveis ainda que não tem clareza. Vou citar algumas: Qual é a safra do etanol? A safra do etanol começa em 15 de abril, e vai aumentar a oferta de etanol. O que vai acontecer com os preços do etanol? Nós não sabemos. Segundo: nós não sabemos se os preços do petróleo vão ficar nos níveis atuais ou se a demanda de gasolina no verão americano vai crescer ou não em função do nível de renda dos Estados Unidos e, portanto, não sabemos qual o efeito que vai haver sobre o mercado de gasolina nesse país. Não sabemos o comportamento do câmbio e não sabemos como está a taxa de juros internacional com as crises e as modificações que estão acontecendo na Europa. Então, tem uma série de variáveis neste momento que impede uma decisão. Esta é a situação. Nós precisamos observar ainda mais tempo para tomar uma decisão.

Entrevistador: Mas qual seria este horizonte, presidente?

Gabrielli:
O horizonte é a estabilidade dessas variáveis num determinado patamar mais estreito. Não tem um horizonte de tempo. O horizonte é variação de preços. Se vai variar 20%, 30%, 10%, 5%…é o intervalo de variação.

Entrevistador: Se ficar acima de US$ 100 por alguns meses, aí sim vocês tomariam uma decisão?

Gabrielli:
Não é uma questão só de tomar decisão. Há um comportamento econômico real na economia brasileira. A economia brasileira tem mercado de combustíveis aberto. Se, por muito tempo, mantêm-se os preços dos combustíveis no Brasil abaixo do mercado internacional estável, teremos situação de estimular a compra de combustível no Brasil e exportar. Então, a Petrobras vai vender combustível a preço estável abaixo do preço internacional por muito tempo e alguém vai comprar e exportar. Se for mantido o preço no Brasil por um tempo acima do preço internacional estável, alguém vai importar e trazer para o mercado brasileiro. Então, é inevitável, no longo prazo. E qual é o longo prazo? Não sei. Depende de como está o comportamento da variação. A última variação de preço que nós fizemos foi no dia 9 de junho de 2009, quando nós reduzimos o preço da gasolina. De lá pra cá o preço da refinaria mantém-se em torno de R$ 1 o litro, e é o mesmo há dois anos.

Entrevistador: Mas o que foi dito é que se fosse mantido nesse patamar de hoje nós teríamos um aumento de preço.

Gabrielli:
O que foi dito não foi isso. Eu disse que não tenho certeza se tem esse patamar. Leia a matéria de quinta-feira. E a matéria diz isso, ao contrário das manchetes. O repórter foi correto. Na matéria diz muito claro: “O presidente Gabrielli diz que se os preços se mantiverem nesse nível nós teremos, provavelmente, que ajustar”. Mas não tenho certeza se os preços vão se manter nesse nível.

Entrevistador: Isso é exatamente o que eu estou lhe perguntando.

Gabrielli:
E é exatamente isso que eu estou dizendo. O problema é qual a estabilidade em que os preços vão variar. Qual a faixa em que os preços vão variar. Na medida em que essa faixa se estreita, se define…e não é só o preço do petróleo. Lembre-se que nós temos um fenômeno que está acontecendo na bomba que é o álcool. Não tem nada a ver com o preço do petróleo. É isso que está afetando o preço da bomba, e não o preço do petróleo.

Entrevistador: A declaração, quinta-feira, do Mantega, gerou algum mal estar?

Gabrielli:
Não, nenhum mal estar. Nós temos absolutamente a mesma posição: a de que não temos posição.

Entrevistador: Agora há pouco, o Mantega anunciou o aumento do IOF para crédito. O governo está claramente preocupado em dar uma esfriada na economia para combater a inflação. A Petrobras vai ajudar o governo na questão da inflação.

Gabrielli:
Não acredito que isso seja para a inflação.

Entrevistador: É para crédito.

Gabrielli:
Crédito para viabilizar efeitos sobre o câmbio.

Entrevistador: Não, isso foi quinta-feira, presidente. Agora há pouco o ministro Mantega aumentou 1,5 % para crédito e falou claramente que o governo quer conter a inflação.

Gabrielli:
Sim. O problema é que o crédito afeta determinados segmentos da economia. Afeta os bens que têm financiamento. E, nesse sentido, pode-se dizer que está tentando reduzir a demanda. O preço da gasolina e dos combustíveis devem ser analisados da mesma maneira que temos vários preços estáveis no país. Por exemplo: você vai ao restaurante e o preço do cardápio não muda todo dia porque o preço do feijão ou o preço da carne mudou. Leva-se algum tempo para ajustar os preços das refeições. A mesma coisa acontece com o combustível, que é um elemento-chave. Há oito anos nós temos exatamente a mesma política: os preços da gasolina e do diesel não se alteram a curto prazo e sim quando percebemos que há um determinado nível do preço internacional do combustível e do petróleo, da taxa de câmbio e das taxas de juros. Esse conjunto de variáveis deve estar com uma certa estabilidade para que possamos tomar uma decisão.

Entrevistador: Então, no que depender da Petrobras, o governo pode contar com ajuda no combate à inflação?

Gabrielli:
O problema não é de ajuda e sim de economia. É um problema objetivo, você não tem como controlar. Se houver situação de estabilidade de preços nesse patamar e o preço brasileiro estiver abaixo, vai haver compra brasileira e exportação. Isso é normal, é da economia e ninguém pode controlar isso. Esse é o ponto.

Entrevistador: E quanto tempo mais seria necessário para ver que está num determinado patamar?

Gabrielli:
Não tem tempo. Depende de variação. É um problema de um anzol que estava muito movimentado. Quando está muito movimentado você tem que baixar a corda para esperar a estabilidade. No momento, está tudo movimentando, ou seja, não temos certeza de qual é a faixa que vai ficar.

Entrevistador: Mas se ficar nesse patamar que está hoje…

Gabrielli:
Não tem como você saber. Você vai querer colocar que eu vou dizer que vai ter aumento, e eu não vou dizer, porque não posso dizer. Eu sou um bom repórter, não posso dizer isso!

Entrevistador: Mas o que foi dito quinta-feira é que se ficasse num patamar…

Gabrielli:
Não foi dito isso. Eu disse que se o patamar se estabilizasse, mas eu não sei se estabiliza aí. Esse é o elemento-chave.

Entrevistador: Mas e se estabilizar?

Gabrielli:
Não sei se estabiliza. E se ele subir? E se ele descer? Eu não sei.

Entrevistador: Presidente, mas o patamar parece razoável ou há muita especulação no mercado?

Gabrielli:
Eu acho que existe movimento financeiro muito grande. Esse fenômeno da variação do preço do petróleo depende muito do fato de que temos taxas de juros internacionais muito baixas, grandes movimentos de capitais e, com a crise geopolítica na área da Líbia, criou-se condições para que movimentos especulativos ocorressem. O que vai acontecer com as taxas de juros a curto prazo eu não sei. Então, há uma série de incógnitas que não permite uma tomada de decisões. Portanto, não há decisão tomada, porque não se pode tomar decisões neste momento.

Entrevistador: Então os acionistas da Petrobras podem ficar tranquilos?

Gabrielli:
Os acionistas da Petrobras conhecem, há oito anos, a política da Petrobras, que é a mesma. Nós mantemos uma relação de longo prazo. Nos últimos oito anos nós não ajustamos o preço doméstico no curto prazo.

Entrevistador: Então eles podem ficar tranquilos que, em nome da inflação, vocês não vão [surpreender?] os acionistas.

Gabrielli:
Não é isso. A política da Petrobras não tem nada a ver com a inflação e sim com o mercado do petróleo. Somos um grande ator nesse mercado e não achamos que é correto trazer para o mercado brasileiro, onde tem uma estrutura específica e única no mundo, que é o único lugar onde a maioria dos veículos leves são a álcool. Todos os postos de gasolina podem entregar álcool, o câmbio está variando muito e a economia é crescente. Há alternativas para o uso do combustível e uma frota de flex fluel enorme em relação ao resto do mundo. Por essas características específicas, não nos interessa variar o preço do petróleo e dos derivados a cada segundo.”

FONTE: blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2011/04/08/preco-do-petroleo-gabrielli-fala-a-folha-e-a-exame/#more-38030).

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