quarta-feira, 20 de abril de 2011

”RISCO BRASIL” FICA MAIS PERTO DO “RISCO EUA”


“Nunca a diferença de risco entre os países foi tão pequena; a melhora brasileira nos últimos anos e piora da situação fiscal americana explicam o fenômeno.

O risco do Brasil percebido pelos investidores globais nunca foi tão baixo se comparado ao dos Estados Unidos, considerado referência em segurança financeira. Na semana passada, a diferença entre as medidas de risco dos dois países alcançou o menor nível da história: 0,60 ponto porcentual. Segunda-feira à tarde, estava em 0,62 ponto porcentual.

Esses números foram extraídos das negociações com um derivativo financeiro amplamente negociado no mercado, chamado CDS (Credit Default Swap, em inglês). Esse papel é um tipo de seguro vendido a investidores que querem se proteger de um eventual calote.

Se alguém quer comprar títulos públicos brasileiros e, ao mesmo tempo, se proteger, utiliza o CDS. Anteontem, pagava 1,1% ao ano em dólar para esse fim. Para se proteger de eventual problema nos EUA, a taxa estava em 0,48% ao ano. O mercado de CDS movimenta trilhões de dólares mundo afora e o [título público] do Brasil é um dos mais negociados.

O que ocorre hoje é fruto de três movimentos. "De um lado, espelha a melhora da percepção de solvência do Brasil. De outro, é fruto da enorme liquidez global", explica o economista Dany Rappaport, sócio da “InvestPort Consultoria e Gestão de Recursos”. "Ou seja, em relação, especificamente, ao Brasil, há uma razão estrutural e outra conjuntural, que catalisa a estrutural."

Anteontem, a agência de classificação de risco “Standard & Poor’s” e o ex-presidente do Federal Reserve (FED, o banco central americano) Alan Greenspan jogaram luz sobre um terceiro fator: uma deterioração na confiança de os EUA honrarem sua dívida. Ninguém está dizendo que a maior economia do mundo vai dar um calote amanhã ou mesmo nos próximos anos. Mas o risco de isso acontecer tem crescido.

Do ponto de vista do Brasil, estruturalmente, as contas públicas apresentaram expressiva melhora nos últimos anos. A relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) saiu de 60% em dezembro de 2002 [governo FHC/PSDB] para os atuais 39,9%. Isso significa que a probabilidade de o governo brasileiro não honrar o pagamento dos títulos que emite é muito baixa.

Além disso, a dívida externa foi drasticamente reduzida nos últimos anos em decorrência, principalmente, do acúmulo de reservas internacionais. Atualmente, o País tem um colchão superior a US$ 320 bilhões. Segundo analistas, um montante desses assegura ao investidor uma porta de saída quando -e se- decidir deixar o Brasil.

A melhora da solvência interna e externa foi reconhecida mais uma vez há duas semanas, quando a agência de classificação de risco de crédito “Fitch” elevou o chamado rating do Brasil. O País está, agora, em degrau ainda mais alto na escala que procura medir a capacidade de solvência de um emissor de dívida.

LIQUIDEZ

Do ponto de vista conjuntural, o mundo vive situação ímpar, que se caracteriza por enorme injeção de dinheiro no mercado pelos países desenvolvidos. Após o estouro da crise, os bancos centrais dos EUA e da Europa decidiram fazer o que se chama em economia de imprimir dinheiro. Com isso, inundaram o mundo com recursos.

Como o Brasil é visto como um porto seguro -pela solvência e também pelas taxas de crescimento expressivas se comparadas às do resto do planeta-, tornou-se um natural receptor de uma parte dessa liquidez. "Na realidade, a queda do risco Brasil é resultado desse fluxo de capitais para cá", afirmou o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan.

Em termos práticos, esse cenário significa que governo e empresas brasileiras nunca se financiaram pagando tão pouco. Mesmo quando a farta liquidez começar a secar, a expectativa é de que o País continue bem situado.

"Ainda que as contas públicas não sejam uma maravilha e o governo venha aumentando os gastos ano após ano, nossa situação fiscal é melhor que a da maioria dos países desenvolvidos", afirma um analista [tucano] que pede anonimato. "Não há hoje risco de solvência no País. A situação fiscal pobre vai ‘apenas’ atrapalhar nosso desenvolvimento."

FONTE: reportagem de Leandro Modé, publicada no jornal que, no ano passado, formalmente se declarou tucano, "O Estado de S.Paulo" (http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,risco-brasil-fica-mais-perto-do-risco-eua,not_63318,0.htm
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/04/19/risco-brasil-fica-mais-perto-do-risco-eua-375573.asp) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

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