REVELADOS FORTES INDICATIVOS DO ENVOLVIMENTO DO PENTÁGONO, do DEPARTAMENTO DE ESTADO E DA CIA NOS ATENTADOS DE NOVA YORK (e em outros)
Peter Dale Scott: OS CUSTOS HUMANOS DO CONLUIO EUA/TERRORISTAS
Peter Dale Scott
“Duas vezes nas últimas duas décadas, foram previstos significativos cortes nas despesas militares americanas e ocidentais: primeiro, após a queda do muro de Berlim, e depois no seguimento da crise financeira de 2008. Contudo, de ambas as vezes as despesas militares depressa aumentaram e, entre os fatores que contribuíram para o aumento, estiveram intervenções americanas em novas áreas: os Balcãs nos anos 1990 e a Líbia atualmente [1].
Por Peter Dale Scott, no “Global Research” (EUA)
Em ambos os casos, foi escondida do público até que ponto a Al-Qaida foi um aliada secreta dos americanos nas duas intervenções, e não sua inimiga.
As intervenções americanas nos Balcãs e depois na Líbia foram apresentadas como humanitárias pelos complacentes das mídias dominantes americanas e dos aliados. De fato, alguns intervencionistas talvez tenham sinceramente acreditado nisso. Contudo, houve motivações mais profundas e decisivas em ambos os casos, desde o petróleo até às prioridades geoestratégicas.
Virtualmente em todas as guerras desde 1989, os lados americano e islamita se têm batido para resolver quem controla os territórios da Eurásia na era pós-soviética. Em alguns países (Somália em 1993 e Afeganistão em 2001) o conflito foi direto, cada um dos lados usando os excessos do outro como pretexto para a intervenção.
Contudo, outras intervenções houve em que os americanos utilizaram a Al-Qaida como recurso para aumentarem a sua influência, como, por exemplo, no Azerbaijão em 1993. O presidente pró-Moscou foi deposto depois de grande número de árabes e outros veteranos estrangeiros mujahedin terem sido secretamente importados do Afeganistão através de via aérea rapidamente organizada por três antigos veteranos da ‘Air America’, uma companhia aérea da CIA. (Os três, todos eles tendo sido anteriormente destacados do Pentágono para a CIA, são Richard Secord, Harry Aderholt e Ed Dearborn) [2].
Tratou-se de casamento de conveniência ad hoc: os mujahedin foram defender os muçulmanos contra a influência russa no enclave de Nagorno-Karabakh, enquanto os americanos conseguiram um presidente novo que abriu os campos de petróleo de Baku às empresas petrolíferas ocidentais.
O padrão da colaboração dos EUA com fundamentalistas muçulmanos contra inimigos mais seculares não é novo. Data de, pelo menos, 1953, quando a CIA recrutou mulás de direita para depor o primeiro-ministro Mossadegh no Irã e começaram também a cooperar com a Irmandade Muçulmana Sunita [3].
Porém, na Líbia em 2011, vemos um casamento de conveniência mais complexo entre os EUA e elementos da Al-Qaida: trata-se da repetição de um padrão visto na Bósnia em 1992-95 e no Kosovo em 1997-98. Nesses países, a América respondeu a um conflito local em nome de uma ‘intervenção humanitária’, para dominar o lado que cometia as atrocidades. Contudo, em todos os três casos, ambos os lados cometeram atrocidades e a intervenção americana favoreceu de fato o lado aliado da Al-Qaida.
A causa da intervenção foi promovida em todos os três casos através de aberta manipulação e falsificação dos fatos. O que um historiador notou no conflito da Bósnia passou-se igualmente na Líbia: embora os ataques fossem “perpetrados tanto por sérvios, como por muçulmanos,” o padrão nas mídias ocidentais era que “as mortes de muçulmanos eram noticiadas, ao passo que as de não-muçulmanos não eram” [4].
As notícias de violações em massa da ordem dos milhares mostraram-se loucamente exageradas: um jornalista francês descobriu apenas quatro mulheres com vontade de confirmar a história. [5].
Entretanto, em 1994, o intelectual francês Bernard-Henri Lévy (BHL) viajou para a Bósnia e apoiou veementemente a tese da intervenção na Bósnia. Em fevereiro de 2011, BHL viajou para Bengazi e retomou o seu papel de intervencionista na Líbia [6].
Em todos os países mencionados acima, além disso, há sinais de que alguns grupos de espionagem americanos e/ou ocidentais colaboraram com elementos da Al-Qaida desde o início do conflito, antes das atrocidades invocadas como motivo para a intervenção. Isto sugere que havia razões mais profundas para as intervenções americanas, incluído o desejo das empresas petrolíferas ocidentais explorarem as reservas de petróleo da Líbia (tal como no Iraque) sem terem que negociar com um homem forte irrequieto e poderoso, ou o seu desejo de criar um oleoduto estratégico através dos Balcãs (no Kosovo) [7].
Que os EUA apoiem a Al-Qaida em atrocidades terroristas vai totalmente contra a imagem criada pelas mídias dos EUA. No entanto, essa aliança herética em curso ressuscita e baseia-se na aliança que esteve na base da estratégia de provocação de Zbigniew Brzezinski em 1978-79 no Afeganistão, numa altura em que era conselheiro da Segurança Nacional do presidente Carter.
Nesses anos, Brzezinski não hesitou em jogar a cartada terrorista contra a União Soviética: reforçou os esforços do SAVAK (serviço de espionagem do Xá do Irã) para trabalhar com os antecessores islamitas da Al-Qaida para desestabilizar o Afeganistão, de uma forma que, em breve, conduziu à invasão soviética desse país [8].
Na altura, conforme mais tarde se gabou, Brzezinski disse a Carter, “Temos agora a oportunidade de oferecer à URSS a sua guerra do Vietnã” [9].
O diretor da CIA, William Casey, prosseguiu essa estratégia de utilizar terroristas contra a URSS no Afeganistão. De início, a CIA canalizou ajuda através do ISI paquistanês (serviço de espionagem interserviços) para os clientes extremistas afegãos como Gulbeddin Hekmatyar (hoje, um dos inimigos dos americanos no Afeganistão).
Porém, em 1986 “Casey deu o apoio da CIA a uma iniciativa de longo prazo do ISI de recrutamento de muçulmanos radicais em todo o mundo para virem para o Paquistão lutar com os mujaheddin afegãos” [10].
A ajuda da CIA era dirigida ao escritório dos serviços de apoio em Peshawar, chefiado pelo palestino Abdullah Azzam e por Osama bin Laden. O Centro al-Kifah, escritório de recrutamento americano para a chamada legião estrangeira árabe-afegã (futura Al-Qaida), estava instalado na mesquita al-Farook em Brooklyn [11].
É importante lembrar hoje a utilização de terroristas por Brzezinski e Casey. Porque na Líbia, como anteriormente no Kosovo e na Bósnia, existem sinais alarmantes de que os americanos continuaram a comprometer-se com terroristas islâmicos como meio para desmantelar nações socialistas ou quase-socialistas fora da sua órbita: primeiro a URSS, depois a Iugoslávia, hoje a Líbia. Conforme escrevi algures, Kadafi estava a usar a riqueza da Líbia, único país do Mediterrâneo ainda armado pela Rússia e independente da órbita da OTAN, para impor condições cada vez mais difíceis às empresas petrolíferas ocidentais e para tornar o conjunto da África mais independente da Europa e da América [12].
O apoio aos mujahedin incluiu conluio com a ilegalidade, a um elevado preço. Na segunda parte deste ensaio, mostro como a proteção governamental a figuras-chave no ‘Centro Kifah de Brooklyn’ os deixou livres, mesmo depois de conhecidos como tendo cometido crimes, para se lançarem em mais atos terroristas nos Estados Unidos, tais como as primeiras bombas no World Trade Center em 1993.
A ALIANÇA EUA/AL-QAIDA NA LÍBIA
A intervenção da OTAN na Líbia foi apresentada como uma ‘campanha humanitária’. Mas, não foi: ambas as facções têm cometido atrocidades. Graças em parte aos esforços da bem relacionada firma ‘Harbour Group’, a trabalhar por conta do ‘Conselho Nacional de Transição’ [CNT] da oposição de Bengazi, os americanos ouviram muito mais relatos de imprensa de atrocidades pelas forças pró-Kadafi na Líbia do que pela oposição de Bengazi [13].
De fato, conforme o ‘Daily Telegraph’ de Londres publicou:
“Sob controle rebelde, os residentes de Bengazi estão aterrorizados, muitos demasiado assustados para conduzirem à noite nas ruas escuras, receando incômodos ou o pior nos postos de controle que proliferam.”
Além disso, cerca de 1,5 milhões de trabalhadores imigrantes negros africanos sentem-se encurralados sob suspeita de apoiarem o lado errado. Grande quantidade deles tem sido atacada, alguns encurralados, arrastados dos apartamentos, espancados e mortos. Os chamados “revolucionários” e “combatentes da liberdade” são, de fato, desordeiros armados que cometem atrocidades, mas são mitificados pelos noticiários dominantes que evitam revelar o que será a nova Líbia se Kadafi for deposto [14].
Thomas Mountain concorda que “desde que a rebelião rebentou em Bengazi, várias centenas de trabalhadores imigrados sudaneses, somalis, etíopes e eritreus foram assaltados e assassinados por milícias rebeldes racistas, um fato bem escondido pelas mídias internacionais” [15].
Relatos desses continuaram. Recentemente, a ‘Human Rights Watch’ acusou os rebeldes de matarem apoiantes de Kadafi simplesmente civis e de pilharem, queimarem e esquadrinharem as casas e as áreas de apoiantes pró-Kadafi [16].
É ainda menos provável que os americanos e os europeus saibam pelas mídias que, entre os grupos na coligação de transição de Bengazi, certamente os mais batidos são veteranos da ‘Al-Jama’a al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya’ (Grupo Islâmico de Combatentes Líbios, ou GICL). A importância do contingente do GICL no CNT foi desprezada num recente número do ‘International Business Times’:
"O GICL é um grupo radical islâmico que tem feito guerra de guerrilha de pequena escala contra Kadafi desde há quase uma década. A maior parte das chefias do GICL são soldados que combateram contra as forças soviéticas no Afeganistão fazendo parte dos mujahedin.
Desde o início da revolta, as informações eram que alguns GICL se tinham juntado ao movimento rebelde CNT no terreno e muitos acusaram os combatentes de terem ligações à Al-Qaida, o que o GICL desde então tem negado.
Antes, contudo, o GICL tinha afirmado que o seu objetivo último é instalar um estado islâmico na Líbia, o que, dado o fato de muitos dos seus elementos estarem agora do lado do CNT, é bastante preocupante. No entanto, sendo o GICL dado como tendo uma força de combate de não mais que alguns milhares de homens, acredita-se que não será capaz de causar demasiada perturbação dentro da oposição [17]".
Resta ver se um CNT vitorioso será capaz de conter as aspirações islâmicas dos implacáveis veteranos jihadistas nas suas fileiras.
Há aqueles que receiam que, dados os anos de combate no Afeganistão e no Iraque, o endurecido GICL, embora provavelmente não dominante hoje na coligação de Bengazi, virá a beneficiar de maior influência se acaso Bengazi vier a distribuir os despojos da vitória. Em fevereiro de 2004, o então diretor da CIA George Tenet testemunhou, perante a comissão de Informação do Senado, que “uma das mais imediatas ameaças [à segurança dos EUA no Iraque] vem dos pequenos grupos extremistas internacionais sunitas que se têm beneficiado de ligações à Al-Qaida dos quais se incluem… o “Grupo Islâmico de Combatentes Líbios, GICL” [18].
Em 2007, um estudo da Academia Militar de West Point debruçava-se sobre “as ligações de crescente cooperação entre o GICL e a Al-Qaida, que culminaram na adesão oficial do GICL à Al-Qaida a 3 de novembro de 2007” [19].
É possível que o estudo de West Point tenha exagerado a ligação GICL/Al-Qaida. O que interessa é que o Reino Unido e os EUA estavam bem cientes das conclusões de West Point e, no entanto, as suas forças especiais apoiaram secretamente a CNT de Bengazi, mesmo antes de o desencadear do apoio aéreo da OTAN.
O bombardeio do país começou ao mesmo tempo que era revelado que centenas de tropas britânicas das forças especiais tinham sido colocadas no interior da Líbia tendo como objetivo as forças do coronel Kadafi, havendo mais de reserva…
No total, entende-se que pouco menos de 250 forças especiais britânicas e apoios estavam na Líbia desde antes do lançamento dos ataques aéreos, para aplicar a zona de exclusão aérea contra as forças de Kadafi [20].
Há, também, informação de que forças especiais americanas foram igualmente enviadas para a Líbia em 23 e 24 de Fevereiro, quase um mês antes do início do bombardeio da OTAN [21].
O apoio britânico ao GICL fundamentalista tinha, de fato, pelo menos, uma década de existência.
Em setembro de 1995, desencadearam-se em Bengazi duros combates entre as forças de segurança [de Kadafi] e as guerrilhas islâmicas, deixando dezenas de mortos de ambos os lados. Depois de semanas de intensa luta, o GICL declarou formalmente a sua existência num comunicado em que chamava ao governo de Kadafi “um regime apóstata que blasfemou contra a fé no Todo-poderoso”, declarando a sua derrubada “o mais importante dever depois da fé em Deus.”
Este e futuros comunicados do GICL foram emitidos por afegãos líbios a quem tinha sido garantido asilo político no Reino Unido… O envolvimento do governo britânico na campanha do GICL contra Kadafi continua a ser assunto de grande controvérsia.
A grande operação seguinte do GICL, a tentativa fracassada de assassinato de Kadafi em fevereiro de 1996 que vitimou vários dos seus guarda-costas, disse-se, mais tarde, ter sido financiada pela espionagem britânica com US$160 mil, de acordo com o ex-agente do MI5 David Shayler [22].
O depoimento de David Shayler foi rebatido, mas muitas outras fontes mostram que o apoio do Reino Unido aos jihadistas líbios antecede de muito o atual conflito [23].
Ainda mais ameaçadores para o futuro do que o nacionalista GICL, podem ser os combatentes da mais internacionalista Al-Qaida no Magrebe (AQIM) que aproveitaram a oportunidade oferecida pela guerra para entrarem no conflito e se equiparem com o armamento roubado dos arsenais de Kadafi [24].
A AQIM é, especialmente, preocupante dadas as recentes informações de, tal como organizações análogas do Afeganistão e do Kosovo, estar a ser crescentemente financiada pelos lucros do tráfico de droga regional [25].
Em resumo, a campanha da OTAN na Líbia é em apoio de uma coligação na qual a futura situação de atuais e anteriores aliados da Al-Qaida vai provavelmente sair reforçada [26]. E as forças ocidentais têm secretamente vindo a apoiá-las desde o início.
A ALIANÇA EUA/AL-QAIDA NA BÓSNIA
De modo análogo, as intervenções de Clinton na Bósnia e no Kosovo foram apresentadas como ‘humanitárias’. Porém, ambos os lados tinham cometido atrocidades nesses conflitos. Do mesmo modo que as mídias ocidentais, Washington desvalorizou as atrocidades cometidas por muçulmanos, por interesse.
A maior parte dos americanos julga que Clinton enviou forças americanas para a Bósnia para fazer aplicar os acordos de paz de Dayton na sequência de uma bem propagandeada atrocidade sérvia: o massacre de milhares de muçulmanos em Srebrenica. Graças a uma vigorosa campanha pela firma de relações públicas ‘Ruder Finn’, os americanos fartaram-se de ouvir coisas sobre o massacre de Srebrenica, mas bastante menos sobre as decapitações e outras atrocidades praticadas por muçulmanos que antecederam e ajudam a compreender esse massacre.
Um razão importante para o ataque sérvio a Srebrenica foi acabar com os ataques armados preparados a partir dessa base sobre as aldeias vizinhas: “fontes de informação indicaram que foi esse o tormento que precipitou o ataque sérvio aos 1.500 muçulmanos sitiados no interior do enclave” [27]
O general Philippe Morillon, comandante das tropas da ONU na Bósnia de 1992 a 1993, testemunhou ao TPIex-I (Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia) que as forças muçulmanas baseadas em Srebrenica tinham “desencadeado ataques durante as festas ortodoxas e destruído aldeias, massacrando todos os habitantes. Isto criou um nível de ódio na região absolutamente extraordinário” [28].
De acordo com o Prof. John Schindler, entre maio e dezembro de 1992, as forças muçulmanas atacaram repetidamente aldeias sérvias à volta de Srebrenica, matando e torturando civis, sendo alguns mutilados e queimados vivos. Até relatos pró-Saraievo concedem que as forças muçulmanas em Srebrenica assassinaram mais de 1.300 sérvios e tinham “limpado etnicamente vasta área” [29].
O antigo embaixador americano na Croácia, Peter Galbraith, admitiu mais tarde, numa entrevista, que o governo americano estava ciente de que “pequeno número de atrocidades” tinham sido cometidas por mujahedin estrangeiros na Bósnia, mas desvalorizou as atrocidades como “estando na ordem natural das coisas e sem grande importância” [30].
Outras fontes revelam que Washington deu luz verde tácita ao armamento da Croácia e ao aumento da presença muçulmana em Srebrenica.[31].
Em breve, aviões Hercules C-130, alguns, mas não todos iranianos, lançavam armas para os muçulmanos, violando o embargo internacional de armas que os EUA oficialmente respeitavam. Do mesmo modo, chegaram mais mujahedin árabe-afegãos. Muitas das descargas aéreas e parte dos mujahedin estavam em Tuzla, a 70 km de Srebrenica [32].
De acordo com ‘The Spectator’ (Londres), o Pentágono usava outros países, como a Turquia e o Irã neste movimento de armas e combatentes:
De 1992 a 1995, o Pentágono apoiou a movimentação de milhares de mujahidin e outros elementos islâmicos da Ásia Central para a Europa, para combaterem ao lado dos muçulmanos bósnios contra os sérvios. Como parte do inquérito do governo holandês ao massacre de Srebrenica de Julho de 1995, o Professor Cees Wiebes, da Universidade de Amsterdam, compilou um relatório intitulado “A Espionagem e a Guerra na Bósnia”, publicado em abril de 2002.
Nesse relatório, é detalhada a aliança secreta entre o Pentágono e grupos islâmicos radicais do Oriente Médio e o esforço de apoio aos muçulmanos da Bósnia. Em 1993, houve grande quantidade de contrabando de armas através da Croácia para os muçulmanos, organizado por “agências clandestinas” dos EUA, da Turquia e do Irã, em associação com uma série de grupos islâmicos que incluía os mujahidin afegãos e o Hezbolá pró-iraniano.
As armas compradas pelo Irã e pela Turquia com apoio financeiro da Arábia saudita eram aerotransportadas do Oriente Médio para a Bósnia –transportes aéreos com os quais, segundo Wiebes, os EUA estavam “muito intimamente envolvidos. [33].
O detalhado relatório de Cees Wiebes, baseado em anos de pesquisa, documenta tanto o caso da responsabilidade americana, como o seu vigoroso desmentido:
Às 17h45 de 10 de fevereiro de 1995, o capitão norueguês Ivan Moldestad, piloto de um destacamento de helicópteros norueguês (NorAir), estava à porta do seu alojamento temporário nas imediações de Tuzla. Estava escuro e de repente ouviu o ruído de hélices de um aparelho de transporte aéreo aproximando-se, indiscutivelmente um quadrimotor Hercules C-130.
Molestad notou que o Hercules era escoltado por dois caças a jato, embora não conseguisse ver exatamente de que tipo, no meio da escuridão. Houve outros avistamentos deste voo secreto noturno para a base aérea de Tuzla. Uma sentinela de guarda, fora da unidade médica norueguesa da ONU em Tuzla, também ouviu e viu as luzes do Hercules e os caças a jato da escolta.
Outros observadores da ONU, utilizando equipamento de observação noturna também viram o avião de carga e os respectivos caças. Foram imediatamente enviados relatórios ao Centro de Operações Aéreas Combinadas (COAC) da OTAN em Vincenza e à UNPF em Nápoles. Quando Moldestad telefonou para Vincenza, disseram-lhe que não tinha havido nada no ar nessa noite e que devia estar enganado. Ao insistir, a ligação foi interrompida.
Os voos secretos dos aviões de carga C-130 e os lançamentos noturnos de armas sobre Tuzla provocaram grande agitação dentro da UNPROFOR e na comunidade internacional em fevereiro e março de 1995.
Quando interpelado, um general britânico respondeu com grande segurança sobre a origem dos fornecimentos secretos através da base aérea de Tuzla: “Foram fornecimentos de armas americanos. Não há dúvida a esse respeito. E estiveram envolvidas nesses fornecimentos companhias privadas americanas.” Não foi nenhuma resposta surpreendente, porque esse general tinha acesso a informações recolhidas por uma unidade dos Serviços Aéreos Especiais (SAE) britânicos em Tuzla.
Os aparelhos tinham ficado dentro do alcance do equipamento especial de visão noturna desta unidade e os britânicos viram-nos aterrissar. Era uma confirmação de que tinha tido lugar uma operação clandestina americana, na qual armas, munições e equipamento de comunicações militares foram fornecidos ao exército da Bósnia-Herzegóvina. Essas operações noturnas provocaram bastante consternação na ONU e na OTAN e foram objeto de inúmeras especulações [34].
Wiebes indica a possibilidade dos C-130, alguns dos quais se disse terem decolado de uma base aérea americana na Alemanha, serem controlados por autoridades turcas [35]. Mas o envolvimento americano foi detectado no meio do elaborado escamoteamento pelo fato dos aparelhos americanos AWACS, que deviam ter fornecido registro dos voos secretos, ou terem sido retirados de serviço na altura conveniente ou sido conduzidos por tripulações americanas [36].
O ‘Guardian’ publicou um resumo do exaustivo relatório de Wiebes:
“O relatório holandês mostra como o Pentágono criou uma aliança secreta com grupos islâmicos numa operação do estilo Irã-contra.
Os grupos de espionagem americano, turco e iraniano trabalharam com os islâmicos naquilo que o relatório holandês designa a “via croata”. As armas compradas pelo Irã e pela Turquia e financiadas pela Arábia Saudita eram enviadas através da Croácia inicialmente pela linha aérea oficial iraniana Iran Air e mais tarde numa frota de aviões Hercules C-130 negros".
O relatório refere que os combatentes mujahedin eram igualmente enviados e que os EUA estavam “muito intimamente envolvidos” na operação que se desenrolava em flagrante violação do embargo. Refere, também, que os serviços secretos britânicos obtiveram documentos provando que o Irã preparou igualmente fornecimentos de armas diretamente para a Bósnia.
A operação foi promovida pelo Pentágono, em vez da CIA, que era cautelosa quanto à utilização de grupos islâmicos para canalizar armas e quanto à violação do embargo. Quando a CIA tentou colocar o seu pessoal no terreno na Bósnia, os agentes foram ameaçados pelos combatentes mujahedin e pelos iranianos que os treinavam.
A ONU confiava na espionagem americana para o controle do embargo, dependência esta que permitiu a Washington manipulá-la à vontade [37].
Entretanto, o Centro al-Kifah em Brooklyn, que nos anos 1980 tinha apoiado os “árabes-afegãos” combatendo no Afeganistão, virou a sua atenção para a Bósnia.
A folha de imprensa em língua inglesa do al-Kifah de nome ‘Al-Hussam’ (A Espada) começou também a publicar atualizações regulares sobre a ação jihadista na Bósnia. Sob controle dos apaniguados do xeque Omar Abdel Rahman, a folha incitava agressivamente os simpatizantes muçulmanos a aderirem eles próprios à jihad na Bósnia e no Afeganistão…
As instalações do ramo al-Kifah bósnio em Zagreb na Croácia, instalado num moderno edifício de dois andares, estavam evidentemente em comunicação próxima com a sede da organização em Nova York. O diretor da delegação de Zagreb, Hassan Hakim, admitiu receber todas as ordens e fundos diretamente dos escritórios centrais da al-Kifah nos EUA na Atlantic Avenue, controlada pelo xeque Omar Abdel Rahman [38].
Um dos monitores na al-Kifah, Rodney Hampton-El, dava assistência a esse programa de apoio, recrutando combatentes das bases do exército dos EUA como Fort Belvoir, treinando-os também em Nova Jersey, para a guerra [39].
Em 1995, Hampton-El foi julgado e condenado pelo seu papel (juntamente com o chefe da al-Kifah, o xeque Omar Abdel Rahman) na conspiração para fazer explodir símbolos nova-iorquinos. No tribunal, Hampton-El testemunhou ter pessoalmente recebido milhares de dólares, para esse projeto, do príncipe da coroa saudita Faissal, na embaixada saudita em Washington [40]
Por essa altura, o atual chefe da Al-Qaida Ayman al-Zawahiri veio aos EUA para recolher fundos em Silicon Valley, onde foi recebido por Ali Mohamed, agente duplo americano e veterano das forças especiais do exército americano que tinha sido o instrutor principal na mesquita de al-Kifah [41].
Quase de certeza, a recolha de fundos era para apoio aos mujahedin na Bósnia, segundo constava principal preocupação do seu chefe na altura (“A edição asiática do Wall Street Journal noticiava que em 1993 o Sr. Bin Laden tinha nomeado o xeque Ayman Al-Zawahiri segundo comandante da Al-Qaida para dirigir as operações nos Balcãs”) [42].
O pormenorizado relatório de Wiebes e as histórias veiculadas nas notícias nele baseadas corroboraram anteriores acusações feitas em 1997 por Sir Alfred Sherman, conselheiro de topo de Margaret Thatcher e co-fundador do influente ‘Centro de Estudos Políticos’ nacionalista de direita, de que “os EUA encorajaram e facilitaram o envio de armas para os muçulmanos via Irã e Europa Oriental –fato que foi negado na altura em Washington, face a uma esmagadora evidência” [43].
Era parte desse caso que a guerra na Bósnia era uma guerra americana em todos os sentidos da palavra. O governo dos EUA ajudou a iniciá-la, manteve-a e evitou o seu fim prematuro. De fato, todos os indícios são de que pretende prosseguir a guerra no futuro próximo, tão breve quanto os seus protegidos muçulmanos estiverem armados e treinados.
Especificamente, Sherman acusou o secretário de estado Lawrence Eagleburger de ter instruído, em 1992, o embaixador americano em Belgrado, Warren Zimmerman, para persuadir o presidente bósnio Izetbegovic a renegar o acordo de preservação da unidade bósnia-croata-sérvia, aceitando, em vez disso, a ajuda americana para um estado bósnio independente [44].
A ALIANÇA EUA/AL-QAIDA NO KOSOVO
Isso levanta a perturbante questão de saber se alguns americanos pretenderiam ignorar as atrocidades dos mujahedin da al-Kifah na Bósnia em troca da sua contribuição nas sucessivas guerras da OTAN para desmantelar a Iugoslávia, última república socialista sobrevivente na Europa.
Uma coisa é clara: a previsão de Sir Alfred Sherman em 1997, de que os EUA “pretendem continuar a guerra no futuro próximo”, rapidamente se mostrou acertada, quando, em 1999, o apoio americano aos aliados da Al-Qaida no Kosovo, o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), levou à controversa campanha de bombardeios da OTAN.
Conforme largamente noticiado na altura, o ELK era apoiado por ambas as redes de Bin Laden e de al-Zawahiri e também pelo tráfico de heroína no Afeganistão:
"Alguns membros do Exército de Libertação do Kosovo, que financiou o seu esforço de guerra através da venda de heroína, foram treinados em campos terroristas dirigidos pelo fugitivo internacional Osama bin Laden, procurado pelo bombardeio de duas embaixadas americanas em África que mataram 224 pessoas em 1998, incluindo 12 americanos" [45].
De acordo com o antigo agente da DEA (‘Drug Enforcement Administration’, organismo policial de fiscalização legal das drogas dependente do Dep. Justiça dos EUA – N.T.) Michael Levine, a decisão de Clinton de apoiar o ELK desconcertou os contatos da DEA que sabiam tratar-se de uma grande organização de tráfico de droga [46].
Conforme Ralf Mutschke da Interpol testemunhou no Congresso, em 1998, o Departamento de Estado dos EUA listou o ELK como organização terrorista, indicando que financiava as suas operações com dinheiro do comércio internacional de heroína e com empréstimos de países e entidades islâmicos, entre os quais, alegadamente, Osama bin Laden. Outra ligação a Bin Laden era o fato de o irmão de um dos chefes da organização Jihad Egípcia, também comandante militar de Osama bin Laden, dirigir uma unidade de elite do ELK durante o conflito do Kosovo. [Trata-se, quase certamente, de Zaiman ou Mohammed al-Zawahiri, um dos irmãos de Ayman al-Zawahiri.]
Em 1998, o ELK era descrito como peça-chave no negócio das armas por droga, “contribuindo para a passagem de droga para a Europa ocidental no valor de US$ 2 bilhões de dólares anualmente”. O ELK e outros grupos albaneses parecem usar sofisticada rede de contas e empresas para processar os fundos. Em 1998, a Alemanha congelou duas contas bancárias pertencentes à organização “Kosova Unida”, depois de ter sido descoberto que tinham sido depositadas várias centenas de milhares de dólares nessas contas por um traficante de droga kosovar com cadastro [47].
De acordo com o ‘Sunday Times’, de Londres, o passado do ELK não demoveu os EUA de o treinar e fortalecer:
Agentes secretos americanos admitiram que ajudaram a treinar o ELK antes do bombardeio da Iugoslávia pela OTAN. A revelação enfureceu alguns diplomatas europeus, que disseram [tal ajuda] ter sabotado tentativas para uma solução política do conflito entre sérvios e albaneses. Havia agentes da CIA que eram monitores do cessar-fogo no Kosovo em 1998 e 1999 e desenvolviam ligações com o ELK, fornecendo manuais de instrução militar americanos e orientação no terreno sobre a luta contra o exército iugoslavo e a polícia sérvia.
Quando a ‘Organização para a Segurança e Cooperação Europeia’ (OSCE), que coordenava a monitorização, deixou o Kosovo uma semana antes dos ataques aéreos começarem, muitos dos seus telefones por satélite e GPS foram secretamente passados ao ELK, garantindo assim que os comandantes da guerrilha pudessem continuar em contato com a OTAN e Washington. Vários chefes do ELK tinham o número do celular do general Wesley Clarke, comandante da OTAN [48].
De acordo com o antigo coronel do exército americano David Hackworth, mais tarde colaborador do editor para a defesa da ‘Newsweek’, antigos oficiais americanos do empreiteiro militar privado MPRI (Military Professional Resources Incorporated) não só treinaram pessoal do ELK, como também combateram ao lado deles [49]. Isso reforçou anteriores informações de que o pessoal da MPRI estaria também envolvido no treino de croatas na altura da passagem ilícita de armas croata para a Bósnia [50].
Depois do Kosovo, Sherman repetiu os avisos contra a “expansão da hegemonia americana” exercida através da OTAN, com graus variáveis de parceria e de subordinação de outros protagonistas.
O processo iniciou-se com o planejado desmembramento da Iugoslávia, conduzido pela Alemanha e aceito pelos outros membros da União Europeia e pelos EUA (1991). Prosseguiu com sanções contra a Sérvia pela tentativas de auxílio aos sérvios ocidentais (1992). Na Bósnia, o primeiro envolvimento americano desencadeou a guerra civil (a visita de Zimmerman a Izetbegovic, no seguimento do acordo de Lisboa) e mais tarde resultou na campanha de bombardeios de 1999 e na ocupação do Kosovo [51].
Houve quem suspeitasse que o envolvimento americano era motivado pela vontade de ter um novo oleoduto transbalcânico e uma nova base militar americana para o defender nos Balcãs. Embora essas críticas tenham sido inicialmente ridicularizadas, ambas as previsões depressa se tornaram verdade. A empresa AMBO, registrada nos EUA e dirigida pelo antigo executivo da BP Ted Ferguson, iniciou a construção de um oleoduto da Albânia para a Macedônia em 2007 [52]. Próximo, está a base americana semipermanente de Camp Bonsteel, que pode abrigar até 7000 soldados.
Em 2007, o presidente George W. Bush criou um novo ‘United States Africa Command’, ‘U.S. AFRICOM’, mas o quartel-general está em Stuttgart, na Alemanha. Isto levou à especulação na Internet de que os EUA têm olho no aeroporto internacional da Líbia, que a aviação americana tinha utilizado como Base da Força Aérea Wheelus até à sua expulsão em 1970.
DO PRIMEIRO ATENTADO NO WORLD TRADE CENTER ATÉ AO 11 DE SETEMBRO: O DECLÍNIO INTERNO DOS EUA A PARTIR DO CONLUIO COM TERRORISTAS
O fato de os americanos terem tido repetido recurso a islamitas da Al-Qaida como instrumento dos seus projetos de expansão não constitui prova de que exista uma estratégia sistemática de longo prazo para o fazer e ainda menos de que exista uma aliança secreta.
Acredito, antes, que a América sofre de uma condição maligna de poder militar desgovernado, poder este que, tal como um câncer maligno, tende a reproduzir-se a si próprio em tempos e de modos contraproducentes para mais largos objetivos. Aqueles que são nomeados para gerir esse vasto poder viciam-se na utilização de qualquer instrumento disponível para sustentar uma sociodinâmica de intervenção global, a qual, ironicamente, são depois impotentes para contrariar ou contornar. Os poucos dissidentes que tentam fazê-lo são previsivelmente postos de lado ou mesmo retirados dos postos de poder como estranhos “à equipe”.
Aqueles em Washington que decidiram apoiar terroristas e traficantes de droga parece não terem considerado “externalidades” como as consequências domésticas de se negociar oficialmente com redes criminosas terroristas que têm um alcance global. Contudo, as consequências foram e são reais, visto que os terroristas islâmicos que foram protegidos pelos EUA na subversão da ordem no Kosovo e noutros países estavam em breve a ser protegidos igualmente dentro dos EUA. Conforme o antigo agente Michael Levine da DEA relatou sobre as redes de droga ligadas ao ELK, “Esses tipos têm uma rede que está ativa nas ruas deste país… São os piores elementos da sociedade que se possa imaginar e agora, de acordo com as minhas fontes do combate à droga, encontram-se politicamente protegidos” [53].
Por outras palavras, os kosovares estavam agora se beneficiando no seu tráfico de drogas nos EUA da proteção de fato que antes tinham tido chineses, cubanos, italianos, tailandeses e outros peões da CIA dos anos 40 [54].
‘Mother Jones’ (revista política americana independente – N.T.) noticiou em 2000, depois do bombardeio da OTAN em apoio do ELK, que a heroína afegã, muita dela distribuída por kosovares albaneses, representava atualmente quase 20% da heroína capturada nos EUA, aproximadamente o dobro da percentagem de quatro anos antes [55].
Entretanto, na Europa, calcula-se que “os albaneses do Kosovo controlam 40% da heroína europeia” [56] Além disso, existe um consenso quase universal de que, no fim da guerra na Bósnia, os jihadistas da Al-Qaida ficaram muito mais fortemente entrincheirados nos Balcãs do que antes. Nas palavras do Professor John Schindler, a Bósnia “a sociedade mais pro-ocidental da ‘umma’ [mundo muçulmano]” foi “convertida num Jihadistão através do embuste doméstico, do conflito violento e de uma desastrada intervenção internacional” [57].
É muito cedo para prever com confiança qual será o resultado interno ou o “coice” a sofrer pelo apoio da OTAN a islamitas na criação do caos na Líbia. Contudo, as consequências domésticas de semelhantes intervenções americanas no passado são indiscutíveis e contribuíram para os maiores atos de terrorismo neste país.
A proteção americana da base de apoio mujahedin al-Kifah em Brooklyn levou a interferência na aplicação da lei interna dos EUA. Isso permitiu aos recrutados pelos mujahedin na al-Kifah planejarem e/ou executarem um certo número de ataques terroristas nacionais ou estrangeiros na América. Esses ataques incluem as primeiras bombas no World Trade Center em 1993, o chamado “plano dos monumentos de Nova York” de 1995 e os ataques a embaixadas em 1998 no Quênia e na Tanzânia. Em todos estes acontecimentos, estiveram terroristas que deviam ter sido neutralizados antes, por crimes já cometidos, mas que foram deixados andar em liberdade.
No centro de todos esses ataques, esteve o papel de Ali Mohamed. Apesar de constar da lista de vigilância do Departamento de Estado, veio para os EUA, cerca de 1984, sob a cobertura do que um consultor do FBI chamou “um programa de vistos controlado pela CIA” [58]. O mesmo fez o xeque cego Omar Abdel Rahman, chefe da al-Kifah. Rahman obteve dois vistos, um deles de “um agente da CIA trabalhando secretamente na secção consular da embaixada americana no Sudão” [59].
Ali Mohamed treinou os recrutas da al-Kifah na tática de guerrilha próximo de Brooklyn. Essa operação foi considerada tão sensível que a polícia de Nova York e o FBI evitaram mais tarde dois dos recrutas de serem presos, quando assassinaram o extremista judeu Meir Kahane. Em vez disso, a polícia de Nova York designou o terceiro assassino (El Sayyid Nosair) como “pistoleiro solitário louco” e libertou os outros dois (Mahmoud Abouhalima and Mohammed Salameh). Isso permitiu a Abouhalima e Salameh, juntamente com outro instruendo de Ali Mohamed (Nidal Ayyad) tomarem parte três anos mais tarde no primeiro atentado contra o World Trade Center (1993) [60].
Os procuradores públicos protegeram de novo Ali Mohamed no julgamento dos “monumentos” em 1994-5, quando Omar Abdul Rahman e alguns dos elementos treinados por Mohamed foram acusados de conspiração para dinamitarem edifícios de Nova York. Neste caso, o procurador Patrick Fitzgerald designou Ali Mohamed coconspirador não-acusado e, no entanto, deixou-o ficar em liberdade. Quando a defesa requereu que Mohamed comparecesse no tribunal, o procurador interveio evitando que Mohamed tivesse que testemunhar [61].
Ali Mohamed estava bem ciente da sua situação de protegido e utilizou-a em 1993 para obter a liberdade quando detido pela polícia montada canadense no aeroporto de Vancouver. Uma vez que esse episódio foi tão ignorado pela imprensa americana, cito o que sobre ele foi escrito no primeiro jornal do Canadá, o ‘Globe and Mail’ de Toronto:
“A RCMP (‘Royal Canadian Mounted Police’, polícia montada canadense – N.T.) tinha em mãos um dos elementos-chave da rede terrorista Al-Qaida de Osama bin Laden, mas este foi libertado após ter conseguido ligação da polícia para o seu supervisor no ‘Federal Bureau of Investigation’ (FBI) dos EUA.
Ali Mohamed, californiano de origem egípcia que se crê ser o membro de patente mais elevada da Al-Qaida a ter aterrissado no Canadá, trabalhava com agentes contraterroristas americanos fazendo jogo duplo ou triplo, quando foi interrogado em 1993. Mohamed está agora numa prisão americana.
“Agente da RCMP disse-me, por volta da meia-noite, que eu podia ir embora” escreveu Mohamed, que confessou nos EUA ser íntimo associado de Bin Laden, numa declaração prestada sob juramento e mostrada ao ‘Globe and Mail’.
O incidente deu-se quando os funcionários da alfândega no aeroporto internacional de Vancouver detiveram Essam Marzouk, um egípcio que chegava de Damasco via Frankfurt, depois de lhe descobrirem dois passaportes sauditas falsos.
Mohamed, que esperava no aeroporto para o levar, interpelou a polícia sobre a detenção do amigo, o que tornou a RCMP curiosa acerca de si próprio, suspeita esta afastada pela sua declaração de que era um colaborador do FBI [62].”
A história do ‘Globe and Mail’ torna claro que, já em 1993, Mohamed tinha um contacto no FBI, a quem a RCMP passou o assunto. Patrick Fitzgerald, nas suas declarações à Comissão do 11 de Setembro, contou uma história bastante diferente: a de que Mohamed, depois de voltar de Nairobi em 1994, se candidatou a um lugar de “tradutor do FBI” [63]. A diferença é vital: como o FBI disse à RCMP para libertar Mohamed, ele conseguiu viajar para Nairobi e planejar aí o bombardeio da embaixada americana.
De acordo com o autor Peter Lance, por volta de 2007 Fitzgerald tinha suficientes provas para prender e acusar Mohamed, mas não o fez. Em vez disso, entrevistou Mohamed na Califórnia, junto com o agente do FBI Jack Cloonan. Depois da entrevista, Fitzgerald optou por não prender Mohamed, mas em vez disso pôr o telefone sob escuta e penetrar no computador. Lance faz uma pergunta muito relevante: será que Fitzgerald receava que ”uma acusação ao principal espião da Al-Qaida poderia desmascarar os anos de grosseira negligência de três das mais importantes agências de espionagem americanas?" [64].
Um mês após às bombas na embaixada, em 10 de setembro de 1998, Ali Mohamed foi finalmente preso. Contudo, quando dois meses mais tarde Fitzgerald elaborou treze acusações, o nome de Mohamed não constava de nenhuma. Em vez disso, uma vez mais, Fitzgerald permitiu-lhe escapar ao interrogatório no tribunal, aceitando um acordo processual, cujos termos são ainda em parte desconhecidos. Concretamente, não conhecemos os termos das declarações de Mohamed: essa página da transcrição da sua presença em tribunal (pg. 17) foi arquivada e selada [65].
Como parte do acordo processual, Mohamed disse ao tribunal que, a pedido pessoal de bin Laden, fez vigilância à embaixada americana no Quênia, “tirou fotografias, desenhou diagramas e escreveu um relatório” que foi enviado pessoalmente a bin Laden no Sudão [66]. Patrick Fitzgerald, o procurador que negociou o acordo processual, testemunhou sobre Mohamed na Comissão do 11 de Setembro, que concluiu no seu relatório (pg. 68) ter Mohamed “conduzido” a operação de explosão da embaixada. Ironicamente, a razão oficial pela qual Zawahiri (como Bin Laden antes dele) é procurado pelo FBI, com um prêmio de US$ 25 milhões pela sua cabeça, é a sabotagem da embaixada.
No entanto, o público americano não tem tido o direito de saber qual o envolvimento de Ali Mohamed noutros atos terroristas. Particularmente relevante seria o seu envolvimento no 11 de Setembro. Conforme o seu contacto no FBI, Cloonan, mais tarde declarou, Mohamed explicou-lhe ter treinado pessoalmente os autores acusados dos desvios sobre como assaltar aviões:
Tinha realizado treinos para a Al-Qaida sobre desvio de aviões. Orientou exercícios práticos no Paquistão e dizia “É assim que se introduz uma lâmina a bordo. Agarra-se numa faca, tira-se a lâmina, enrola-se em [palavra riscada] e põe-se na bagagem de mão.” Eles sabem os regulamentos da FAA. Sabem que quatro polegadas não podem caber. “É assim que se fica em posição”, dizia. “Ensinei pessoas a sentarem-se em primeira classe. Sentas-te aqui e outros sentam-se aqui.” Escreveu tudo isso [67].
CONCLUSÃO
A América está atualmente no meio de uma crise orçamental sem precedentes, provocada em grande parte pelas múltiplas guerras onde está metida. No entanto, está também a ponto de realizar várias outras futuras intervenções: no Iêmen, na Somália, possivelmente na Síria ou no Irã (onde se diz que a CIA está em contato com a Jundallah, seção de tráfico de droga da Al-Qaida) [68], e na Líbia.
Só o público americano os pode parar. Mas, de modo ao público americano se levantar e gritar “Parem!”, tem que haver, primeiro, um melhor entendimento das alianças obscuras subjacentes às alegadas intervenções humanitárias dos americanos.
Essa consciência pode aumentar quando os americanos finalmente perceberem que há consequências internas do apoio a terroristas. A prolongada e complicada dança entre Mohamed e os seus supervisores do Departamento de Justiça tornam claro que a manipulação de terroristas para fins corruptos corrompe tanto os terroristas como os manipuladores. Mais tarde, quer manipuladores, quer manipulados se tornam efetivamente coconspiradores, com segredos acerca do seu conluio que ambas as partes precisam esconder.
A camuflagem do conluio continuará, até o público dar por ela. E enquanto continuar, continuaremos a ver-nos negada a verdade sobre que conluios estão por detrás do 11 de Setembro.
Pior ainda, é possível que vejamos mais ataques terroristas, tanto no país, como no estrangeiro, juntamente com mais guerras, ilegais, dispendiosas e desnecessárias.
NOTAS
[1] Cf. Telegraph (London), “Cortes na Defesa em dúvida na Líbia, diz conselheiro militar,“ 7 de Abril de 2011, “A crise líbia levantou dúvidas sobre a revisão da defesa da Coligação e podia forçar os ministros a revogarem os cortes incluindo a raspagem dos jatos Harrier britânicos, disse um conselheiro militar sénior,” (link).
[2] Scott, The Road to 9/11, 163-65.
[3] Scott, The Road to 9/11, 44-45; citando Robert Dreyfuss, Devil’s Game, 109-11; Saïd Aburish, A Brutal Friendship, 60-61; Miles Copeland, The Game Player, 149-54. Cf. Ian Johnson, “A história secreta de Washington com a Irmandade Muçulmana,” New York Review of Books, 5 de Fevereiro de 2011.
[4] John R. Schindler, Unholy Terror: Bosnia, Al-Qa’ida, and the Rise of Global Jihad, 71, 81. De acordo com Schindler, “a CNN mostrou repetidamente imagens de ‘muçulmanos mortos’ assassinados por sérvios, que eram na verdade sérvios assassinados por muçulmanos” (92).
[5] Schindler, Unholy Terror, 91.
[6] Schindler, Unholy Terror, 179-80; Christian Science Monitor, March 28, 2011. Em 1994, BHL apresentou o líder bósnio Izetbegovich ao presidente francês Mitterand; em 2011, BHL preparou o encontro de três líderes benghazi com o presidente francês Sarkozy. Cf. “Rebeldes líbios reconhecerão Israel, disse Bernard-Henri Lévy a Netanyahu,” Radio France Internationale, 2 de Junho de 2011, “O Conselho Nacional de Transição (CNT) dos rebeldes da Líbia está pronto a reconhecer Israel, de acordo com o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, que diz ter passado a mensagem ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu,” (link).
[7] Sobre as queixas das grandes petrolíferas contra Kadafi, ver Peter Dale Scott, “A Guerra Líbia, o Poder Americano e o Declínio do Sistema do Petrodólar “, Asian-Pacific Journal: Japan Focus, 27 de Abril de 2011.
[8] Scott, Road to 9/11, 77; citando Diego Cordovez e Selig S. Harrison, Out of Afghanistan: The Inside Story of the Soviet Withdrawal [Fora do Afeganistão: a História Secreta da Retirada Soviética] (New York: Oxford University Press, 16), 16.
[9] Scott, Road to 9/11, 72-75; citando de “As revelações de um antigo conselheiro de Carter: ‘Sim, a CIA entrou no Afeganistão antes dos russos…’” Le Nouvel Observateur [Paris], 15-21 de Janeiro de 1998: “B[rzezinski]: [A 3 de Julho de 1979] escrevi uma nota ao presidente, na qual lhe explicava que em minha opinião esta ajuda iria induzir uma intervenção militar soviética.… P: E nem lamenta ter apoiado o fundamentalismo islâmico, que deu armas e instrução a futuros terroristas? B: O que é mais importante na história mundial? Os talibãs ou o colapso do império soviético? Uns poucos muçulmanos agitados ou a libertação da Europa Central e o fim da guerra fria?”
[10] Ahmed Rashid, Talibã, 129. De acordo com o autor espanhol Robert Montoya, a ideia nasceu no Safari Club de elite, que tinha sido criado pelo chefe dos serviços secretos francês Alexandre de Marenches em 1976, arrastando outros chefes da espionagem, como o general Akhtar Abdur Rahman do ISI no Paquistão e Kamal Adham da Arábia Saudita (Roberto Montoya, El Mundo [Madrid], 16 Fevereiro, 2003).
[11] Scott, Road to 9/11, 139-40; citando Steven Emerson, American Jihad, 131-32.
[12] Peter Dale Scott, “A Guerra Líbia, o Poder Americano e o Declínio do Sistema do Petrodólar “, Asian-Pacific Journal: Japan Focus, 27 de Abril de 2011.
[13] “Empresa de relações públicas ajuda rebeldes líbios a fazerem campanha por apoio dos EUA,” The Hill.com, 12 de Abril de 2011.
[14] Rob Crilly, Daily Telegraph (London), 23 de Março de 2011; citado em Stephen Lendman, “Mudança Planeada de Regime na Líbia,” SteveLendmanBlog, 28 de Março de 2011. Cf. Los Angeles Times, 24 de Março de 2011.
[15] Morris Herman, “Milícias Rebeldes Incluem Traficantes de Humanos de Bengazi,” Foreign Policy Journal, 28 de Julho de 2011, citando Thomas C. Mountain.
[16] Anissa Haddadi, “Representará Realmente o Conselho de Transição a Democracia Líbia e a Oposição a Kadafi?” International Business Times, 20 de Julho de 2011.
[17] Haddadi, idem.
[18] Center for Defense Information, “Na Ribalta: O Grupo Islâmico de Combatentes Líbios (GICL),” 18 de Janeiro de 2005. Que o GICL está a prosseguir objetivos próprios pode explicar a apreensão pelos rebeldes de mísseis anti-aéreos dos arsenais de Kadafi, agora sem utilidade contra ele (já sem força aérea) e que aparentemente estão a ser embarcados para fora da Líbia para venda ou utilização noutro sítio (New York Times, 15 de Julho de 2011).
[19] Estudo de West Point de Dezembro de 2007, citado em Webster Tarpley, “Os Rebeldes Líbios da CIA: Os mesmos Terroristas que Mataram Tropas dos EUA e da Otan no Iraque” Tarpley.net, 24 de Março de 2011.
[20] Daily Mail (London), 25 de Março de 2001, link; citado em Lendman; “Mudança Planejada de Regime na Líbia.”
[21] Akhtar Jamal, “Forças dos EUA, Reino-Unido e França aterram na Líbia,” Pakistan Observer, Fevereiro 2011.
[22] Gary Gambill, “O Grupo Islâmico de Combatentes Líbios (GICL), Jamestown Foundation,” Terrorism Monitor, 5 de Maio de 2005; citando Al-Hayat (London), 20 de Outubro de 1995 [“communiqué”]; “O caso Shayler: O Espantalho, o Coronel e o Denunciante Encarcerado,” The Observer (London), 9 de Agosto de 1998; Jean-Charles Brisard e Guillaume Dasquié, Ben Laden: La Verite interdite (Bin Laden: A Verdade Proibida). Cf. também Annie Machon, Espias, Mentiras e Denunciantes: MI5, MI6 e o caso Shayler (Book Guild Publishing, 2005) [Shayler].
[23] Ex.: Washington Post, 7 de outubro de 2001: “Ao longo do tempo, alguns dissidentes suspeitos de envolvimento em atos terroristas por governos estrangeiros têm, por uma razão ou por outra, sido protegidos da extradição ou deportação pelo governo britânico …No passado, dizem especialistas em terrorismo, o Reino Unido beneficiou significativamente com a sua disponibilidade para estender pelo menos hospitalidade condicional a um grande leque de dissidentes árabes e figuras da oposição…Mustafa Alani, um perito em terrorismo no Royal United Services Institute for Defense Studies, um grupo de estudos londrino, disse que [Anas] al-Liby tinha provavelmente sido deixado pelo governo britânico num limbo legal que lhe permitia ser usado ou descartado conforme as circunstâncias proporcionassem.”
[24] “Sahelian Concern Deepens over Libya, AQIM,” [Aumenta Preocupação do Sahel com a Líbia e AQIM - Organização da Al-Qaeda no Magreb Islâmico] Sahel Blog, 2 de Maio de 2011. De acordo com o Los Angeles Times, a AQIM propôs-se a 24 de Fevereiro “fazer o que pudermos” para ajudar a causa dos rebeldes. (Ken Dilanian, “Os EUA não encontra sinal firme de presença da Al-Qaida na rebelião líbia,” Los Angeles Times, 24 de março de 2011). Cf. “Rebeldes da Líbia não são anti-ocidente, mas Al-Qaida é preocupante,” Reuters, 29 de março de 2011; “A ameaça mutante da Al-Qaida no Maghreb islâmico,” Strategic Forum, National Defense University; CNN World, 25 de Fevereiro de 2011.
[25] Andre Lesage, idem. Cf. “Aviões sob disfarce transportam droga através do Atlântico; Ligações à Al-Qaida,” National Post, January 14, 2014; “Senhores da droga latinos encontram aliados em islamitas africanos,” Washington Times, November 17, 2009.
[26] Uma história no New York Times (“Islamitas exilados vêem a rebelião desenrolar-se no seu país,” 19 de Julho de 2011) conta que membros KIFG do CNT “renunciaram à Al-Qaida.” Contudo, nenhuma prova independente é adiantada que mostre uma mudança de política.
[27] Michael Evans, “Soldados muçulmanos ‘falharam na defesa da cidade contra os sérvios’” Times (London), 14 de Julho de 1995.
[28] Richard Palmer. “O que aconteceu realmente na Bósnia,” theTrumpet.com, 12 de Julho de 2011.
[29] Schindler, Unholy Terror, 87; citando de Jan Willem Honig e Norbert Both, Srebrenica: Registo de um Crime de Guerra, 79.
[30] John Rosenthal, “Os outros crimes da Bósnia,” BigPeace.com, 2 de Junho de 2011; resumo da entrevista de Galbraith por J.M. Berger, “Exclusivo: Política dos EUA sobre o Tráfico de Armas na Bósnia.”
[31] Schindler, Unholy Terror, 182-83; “Exclusivo: Política dos EUA sobre o Tráfico de Armas na Bósnia.”; Cees Wiebes, Espionagem e Guerra na Bósnia 1992 1995 (Munster: LIT Verlag, 2003), 166-69.
[32] “Aliados e Mentiras,” BBC OnLine, 22 de Junho de 2001; Wiebes, Espionagem e Guerra, 183. Também presente em Tuzla estava um americano que se apresentou como “major Guy Sands” e que dizia ter sido veterano com dez anos de guerra do Vietnã. Cf. com o relatório sueco de Tuzla sobre um americano que não fazia segredo do seu passado nas Forças Especiais (Brendan O’Shea, Crise em Bihac: o Campo de Batalha Sangrento da Bósnia [Stroud, Gloucestershire: Sutton, 1998], p. 159). Para relatórios sobre mujahedin estrangeiros em ou próximo de Tuzla, ver Kohlmann, A Jihad da Al-Qaeda na Europa, 74, 155, 164.
[33] Brendan O’Neill, “Como treinamos a al-Qa’eda,” Spectator (London), 13 de Setembro de 2003.
[34] Wiebes, Espionagem e a Guerra da Bósnia, 177.
[35] Wiebes, idem, 187, 196; citando Cameron Spence, Todas as Medidas Necessárias, 99-104.
[36] Wiebes, idem, 184, 197.
[37] “Os EUA usaram islamitas para armar os bósnios,” Guardian, 22 de Abril de 2002. Comparar a tese muito diferente de Richard Clarke, Contra Todos os Inimigos, 140: “Os EUA também bloquearam a influência iraniana e da Al-Qaida no país [Bósnia].”
[38] Kohlmann, A Jihad da Al-Qaida na Europa, 39-41; citando Steve Coll e Steve LeVine, “Rede Global Fornece Dinheiro e Protecção,” Washington Post, 3 de Agosto de 1993. Cf. Schindler, Unholy Terror, 121-22.
[39] Scott, Road to 9/11, 149-50; Kohlmann, ibidem, 45, 73-75.
[40] Scott, Road to 9/11, 149.
[41] Lawrence Wright: “Zawahiri decidiu procurar dinheiro no centro mundial do capitalismo de risco - Silicon Valley. Tinha estado anteriormente na América uma vez, em 1989, quando fez uma visita de recrutamento às instalações do gabinete de serviços dos mujahidin em Brooklyn. Segundo o FBI, voltou na primavera de 1993, desta vez a Santa Clara, na Califórnia, onde foi recebido por Ali Mohamed, o agente duplo.” Para mais sobre Ali Mohamed, e especificamente sobre como o FBI disse à RCMP para não o prender (o que o pôs Mohamed à vontade para planejar a explosão da embaixada americana no Quênia), ver Peter Dale Scott, The Road to 9/11, 147-60.
[42] Ottawa Citizen, 15 de Dezembro de 2001.
[43] Sir Alfred Sherman, Discurso na Conferência Internacional Intervenção Americana nos Balcãs, 28 Fevereiro a 2 de março de 1997. html
[44] Cf. Schindler, Unholy Terror, 74: Izetbegovic “decidiu estragar a iniciativa, com o aparente incitamento de Warren Zimmermann [sic].” (Cf. 109-10). Zimmerman negou ter persuadido Izetbegovic, escrevendo numa carta ao New York Times “que tinha insistido com Izetbegovic para ‘cumprir os seus compromissos,’” (Steven L. Burg e Paul Shoup, A Guerra na Bósnia-Herzegovina, 114).
[45] Washington Times, 4 de Maio de 1999. Frank Viviano, “Drogas Pagam o Conflito na Europa,” San Francisco Chronicle, 10 de Junho de 1994: “O contrabando de narcóticos tornou-se a principal fonte de financiamento das guerras civis já em curso , ou em rápida gestação, no sul da Europa e no Mediterrâneo oriental, de acordo com um relatório saído aqui esta semana. “O relatório do Observatoire Géopolitique des Drogues, ou Observatório Geopolítico da Droga, com base em Paris identifica beligerantes nas antigas repúblicas da Iugoslávia e na Turquia como elementos-chave do crescente tráfico regional de droga-para-armas. “Os nacionalistas albaneses da etnicamente tensa Macedônia e da província sérvia do Kosovo construíram uma vasta rede de heroína, indo dos campos de ópio do Paquistão até aos negociantes de armas no mercado-negro da Suíça, transportando cerca de US$ 2 bilhões de droga por ano no coração da Europa , diz o relatório. Mais de 500 albaneses do Kosovo ou macedônios estão presos na Suíça por crimes de tráfico de droga ou de armas e mais de 1000 outros estão sob acusação.”
[46] Michael Levine, New American, 24 de maio de 1999; citado no livro de Nafeez Mosaddeq Ahmed, A Guerra da Verdade, 41.
[47] Ralf Mutschke, testemunho no Committee on the Judiciary, 13 de Dezembro de 2000.
[48] Sunday Times (Londres), 12 de março de 2000: “Agim Ceku, o comandante do ELK nas últimas fases do conflito, tinha estabelecido contactos com os americanos através do seu trabalho no exército croata, que fora modernizado com a ajuda da Military Professional Resources Inc, empresa americana especializada em treino e encomendas militares. O pessoal desta empresa estava no Kosovo junto com o de uma outra empresa idêntica, Dyncorps [sic], que deu ajuda no programa apoiado pelos americanos para o exército bósnio.”
[49] David Hackworth, “Procura-se: Armas para Alugar,” Hackworth.com, 9 de julho de 2001. Cf. James R. Davis, Guerreiros da Fortuna: Exércitos Privados e a Nova Ordem Mundial, 112; P.W. Singer, Guerreiros de Empresa, 219.
[50] Wiebes, Espionagem e a guerra na Bósnia 1992 – 1995, 66; Observer, 5 de novembro de 1995. J.M. Berger relata a partir de documentos desclassificados que o contrato da MPRI com a Bósnia foi preparado através de uma empresa privada dirigida pelo neocon Richard Perle: “O controverso filósofo neocon Richard Perle dirigiu uma obscura organização não-governamental encarregada de contratar uma empresa privada para orientar o programa do Departamento de Estado dos EUA “Treinar e Equipar” para a Bósnia-Herzegovina em 1996.
O grupo de Perle, “Instituto de Apoio à Aquisição”, contratou a Military Professional Resources Inc., em essência uma empresa de mercenários profissionais mais ou menos tão controversa como o próprio Perle. Não é de todo claro quem é responsável pelo Instituto ou porquê uma “organização não-governamental e não lucrativa” seria responsável pela escolha do receptor de um enorme contrato do Departamento de Estado numa das mais sensíveis questões da atualidade. Equipada com uma colecção de oficiais militares reformados, a MPRI estabeleceu-se a si mesma como virtual extensão do governo dos EUA tanto na Croácia, como na Bósnia, conforme documentado num extenso conjunto de documentos do Freedom of Information Act que publicarei durante as próximas semanas.
Os operacionais da MPRI foram encarregados da condução do país, recebendo pagamentos e armas da Arábia Saudita, do Kuwait e de outros países muçulmanos, que subscreveram operações da ordem das centenas de milhões de dólares.
Em muitos casos, estes pagamentos foram feitos diretamente pelo Departamento de Estado. Nalguns casos, foram encaminhados fundos e armas para a Bósnia sem a aprovação expressa do Estado, mas frequentemente com o seu conhecimento, conforme documentado nos registos recentemente desclassificados. Assistência não autorizada parece ter vindo do Paquistão, UAE e Turquia, entre outros.” (Richard Perle, A MPRI e os Envios de Armas Bósnias,” Intelwire, 7 de Fevereiro de 2007).
[51] Sir Alfred Sherman, “Império para o Novo Milênio?” The Centre for Peace in Balkans, 22 de Maio de 2000.
[52] Cf. os cínicos comentários do grupo de análise suíço Zeit-Fragen: (Current Concerns, “Onde está o 8º corredor?” Setembro/Outubro de 2001): “Ao criar um ponto de tensão no Kosovo, os EUA ficam em condições de controlarem a Albânia e com ela o planejado oleoduto da AMBO… Os EUA mostram interesse evidente no controle desses estratégicos corredores de ligação de transporte nos Balcãs. Proibiram um projeto programado para ser construído através da Sérvia e ofereceram à Romênia US$ 100 milhões para deslocarem o percurso do planejado oleoduto SEEL (Linha Europeia do Sudeste) para norte, para a Hungria. A firma italiana ENI tinha planejado este projeto de oleoduto utilizando infraestruturas existentes de um oleoduto na Eslovênia, Croácia e Sérvia. Os EUA bombardearam a seção iugoslava desta infraestrutura com notável persistência.”
[53] Michael Levine, New American, 24 de Maio de 1999; citado em Nafeez Mosaddeq Ahmed, A Guerra da Verdade, 41.
[54] Para detalhes, ver Scott, A Máquina de Guerra Americana, 84, 123, 151, etc.; Scott, Política Profunda e a Morte de JFK, 167.
[55] Peter Klebnikov, “Heróis da Heroína,” Mother Jones, janeiro/fevereiro 2000. Clinton montou ao mesmo tempo uma vigorosa campanha contra a heroína colombiana, fazendo aumentar a procura pela heroína afegã. Conforme Klebnikov notou, “alguns funcionários da Casa Branca receiam que a heroína kosovar possa substituir a oferta colombiana. ‘Mesmo que eliminássemos toda a produção de heroína na Colômbia, de forma alguma conseguiríamos que não entrasse mais heroína nos EUA,’ diz Bob Agresti do Gabinete da Casa Branca da Polícia Nacional de Controle da Droga. ‘Olhe para os números. A Colômbia dá conta de apenas seis por cento da heroína mundial. O Sudoeste Asiático produz 75 por cento.’”
[56] Patrick Graham, “Guerras da Droga: a Nova Batalha do Kosovo,” National Post, 13 de Abril de 2000.
[57] Schindler, Unholy Terror, 324. Cf. Cristopher Deliso, O Futuro Califado Balcânico (New York: Praeger, 2007).
[58] Scott, Road to 9/11, 152-53; citando Paul L. Williams, Al-Qaida, 117; Boston Globe, 3 de Fevereiro de 1995, “Figura citada num caso de terrorismo teria entrado nos EUA com a ajuda da CIA.”
[59] Bergen, Holy War, Inc., 67; cf. Williams, Al-Qaida, 117.
[60] Scott, Road to 9/11, 154-56, 160. Cf. Robert L. Friedman, “A CIA e o Xeque,” Village Voice, 30 de Março de 1993: “Conforme o investigador do Subcomitê de Relações Externas do Senado Jack Blum disse: “Um dos grandes problemas aqui é que muitos suspeitos do atentado do World Trade Center estavam associados aos mujahedin. E há elementos do nosso governo absolutamente desinteressados de se seguir essa pista porque ela leva a pessoas que apoiamos na guerra do Afeganistão.”
[61] Scott, Road to 9/11, 156-57; citando J.M. Berger, Ali Mohamed: Informações da Intelwire, 235-36.
[62] Estanislao Oziewicz e Tu Thanh Ha, “O Canadá libertou operacional de topo da Al-Qaida,” Globe and Mail (Toronto), 22 de Novembro de 2001. Uma investigação da Lexis-Nexis com “Ali Mohamed” + Vancouver não forneceu resultados relevantes na imprensa americana.
[63] Patrick Fitzgerald, Testemunho perante a Comissão do 11 de Setembro, Twelfth Public Hearing, 16 de Junho de 2004.
[64] Peter Lance, Triple Cross, 274-77.
[65] Tribunal Distrital dos Estados Unidos, Distrito Sul de Nova York, “EUA v. Ali Mohamed,” S (7) 98 Cr. 1023, 20 de Outubro de 2000, link, 17; in J.M. Berger, Ali Mohamed, 294.
[66] idem, S(7) 98 Cr. 1023, 27; in Berger, Ali Mohamed, 304.
[67] O agente do FBI Jack Cloonan, resumindo uma entrevista com Ali Mohamed pós-9/11, in William F. Jasper, “Libertando um Terrorista,” New American, 26 de Novembro de 2007. Cf. Lance, Triple Cross, 382.
[68] Paul Joseph Watson, “Os EUA atacam o Irã via grupo terrorista Jundullah fundado pela CIA,” NOW Observer, 20 de Outubro de 2009.”
FONTE: escrito por Peter Dale Scott, antigo diplomata canadense e professor de Inglês na Universidade da Califórnia, Berkeley. .É Investigador Associado do Centre for Research on Globalization (CRG) [Centro de Pesquisa sobre Globalização]. É autor de ‘Drugs Oil and War’ [Drogas, Petróleo e Guerra], ‘The Road to 9/11’ [O Caminho para o 11/9], e ‘The War Conspiracy: JFK, 9/11, and the Deep Politics of War’ [A Conspiração da Guerra: JFK, o 11/9 e a Política Profunda da Guerra]. O seu mais recente livro é ‘American War Machine: Deep Politics, the CIA Global Drug Connection and the Road to Afghanistan’ [A Máquina de Guerra Americana: Política Profunda, a Ligação Global da CIA à Droga e o Caminho para o Afeganistão].
Artigo publicado no site português ‘Diário.Info’ com tradução por Jorge Vasconcelos. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=165465&id_secao=9) [título e imagens do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’]
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