sábado, 15 de outubro de 2011
NO PAÍS DOS BACHARÉIS
Por Eliakim Araujo
“Li outro dia, em algum lugar, que nosso país possui mais cursos de direito do que todos os países do mundo reunidos. Segundo a informação, que veio do ‘Conselho Nacional de Justiça’, temos, nada mais nada menos, que 1.240 cursos superiores de Direito, enquanto as demais nações, reunidas, têm 1.100. O Brasil sempre foi conhecido como o país dos bacharéis, mas sinceramente nunca imaginei que fossem tantos, não fosse eu um deles.
A curiosidade pelo tema –e o desejo de checar até onde a informação procedia- me levou a pesquisar na internet e, embora não se saiba exatamente quantas faculdades de Direito existem no Sudão ou nas Filipinas, por exemplo, apurei que nos Estados Unidos, considerado, este sim, o país dos advogados, são 194 as “Law Schools” funcionando em caráter pleno, e seis em fase provisional, isto é, estão sendo observadas para uma efetivação plena.
Ora, se na Terra do Tio Sam, onde não se dá um passo sem consultar um advogado, sob pena de se entrar numa enrascada daquelas, são apenas 200 as escolas de Direito, é bem provável que a informação esteja correta. Podemos nos proclamar, verdadeiramente, campeões mundiais em cursos de Direito.
A mesma fonte do CNJ revela que o Brasil possui 800 mil advogados registrados nas diversas ordens profissionais. Esse respeitável número, destaca ainda a informação, só não é maior porque o tal “Exame de Ordem”, elimina milhares de bacharéis. Não fosse isso, teríamos aí algo em torno de três milhões de advogados entupindo nossos já entupidos –de processos e funcionários– tribunais.
Esse é um tema que merece reflexão por suas consequências na qualidade da prestação do serviço jurisdicional prestado à população. E deve interessar também à comunidade jurídica.
Mesmo com o “Exame de Ordem”, as aberrações estão ao alcance de qualquer um e são motivo de gozações nas colunas e sites que mostram as gafes e bizarrices dos advogados.
De fato, passou pelas minhas mãos, outro dia, um email de um advogado que falava em “má versação” em vez de “malversação”, “ainda sim” em lugar de “ainda assim”. Quem confiaria em um advogado que não consegue escrever corretamente palavras corriqueiras da nossa língua?
Em nome dos cidadãos que necessitam recorrer à Justiça através de um advogado e no dos próprios profissionais do direito é preciso dar um basta nessa proliferação de cursos jurídicos que despejam todos os anos um número incontável de bacharéis, com pouca ou nenhuma qualificação.
Quais serão as exigências para se abrir uma faculdade de Direito? Por ser um curso eminentemente discursivo, abrir uma faculdade de Direito é das coisas mais fáceis, do ponto de vista material. Basta uma sala, cadeiras e um professor, qualificado ou não, para dar aulas. A aprovação é com algum órgão do Ministério da Educação. E aí é que as coisas acontecem, intramuros.
Uma eficiente fiscalização federal das faculdades seria exigir demais, diante do número avassalador de cursos. Não seria o caso, então, de essa tarefa ficar a cargo das próprias entidades profissionais, que teriam poderes bastantes para decidirem sobre a aprovação de novos cursos, como é nos Estados Unidos, onde as “law schools” são autorizadas e fiscalizadas pela ABA (American Bar Association)? Além da avaliação ser feita por quem está dentro da prática jurisdicional, evitar-se-iam os riscos de deixar nas mãos de um burocrata uma decisão que pode conter “irregularidades” administrativas, para dizer o mínimo.
Nossa Justiça não goza de bom conceito junto à opinião pública. Não são poucos os casos de corrupção envolvendo juizes e advogados que lemos diariamente na mídia. Moralizar a Justiça brasileira é tarefa prioritária. E para que isso aconteça a reforma deve começar nos bancos das faculdades, com o fim dos balcões comerciais de ensino.
Apostar numa Justiça que não discrimine e atenda com igualdade ricos e pobres é tarefa de poucos e bons advogados.”
FONTE: escrito por Eliakim Araujo, jornalista. Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e, na Rádio JB, foi coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais. Artigo publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/no-pais-dos-bachareis).
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Na China os engenheiros mandam
FONTE: CONFEA
Muito se especula sobre o crescimento continuado da China nas duas últimas décadas. Qual seria o segredo da grande potência comunista para manter índices de crescimento acima de 10% por tanto tempo, desafiando as previsões dos economistas ocidentais?
Em termos de poder de compra, a China já é o segundo país do mundo, com um PIB de 7,263 trilhões de dólares e uma renda per capita de 5,6 mil dólares, atrás apenas dos Estados Unidos, que tem um PIB de 11,750 trilhões de dólares e uma renda per capita de 40,1 mil dólares anuais. O Japão fica em terceiro, com PIB de 3,745 trilhões e renda anual por habitante de 29,4 mil dólares. O Brasil vem em nono lugar, com um PIB ajustado pela paridade do poder de compra de 1,492 trilhões de dólares e uma renda per capita de 8,1 mil dólares.
A população chinesa chega a 1,3 bilhões de pessoas, mais de sete vezes a população do Brasil, para uma área de 9,6 milhões de quilômetros quadrados, dez por cento a mais que a área do Brasil. Com essa densidade populacional, a China apresenta um mercado fenomenal para comunicações. São 174 cidades com mais de um milhão de habitantes.
As maiores companhias de telecomunicações do mundo como Alcatel, Juniper e Cisco estão na China, para construir uma rede de alta velocidade que vai interligar 200 cidades, com investimento da China Telecom Corporation da ordem de 100 milhões de dólares.
A China também está desenvolvendo um padrão de televisão digital próprio, o que é natural para um mercado de 40 milhões de televisores vendidos anualmente e perto de 350 milhões de televisores instalados. A China produz quase a metade dos televisores do mundo e compra um terço deles. Isso faz com que o país tenha uma demanda de 65 bilhões de dólares em circuitos integrados (chips), suficiente para manter o mundo atento, visto que a produção chinesa supre apenas 3,1 bilhões.
Entretanto, provavelmente o grande segredo da China esteja na proporção de engenheiros no poder. Todos os membros do Comitê do Politiburo são Engenheiros. Hun Jintao, Presidente da República Popular da China, é Engenheiro Civil. Wen Jiabao, Premier do Conselho de Estado, e Luo Gan são Engenheiros de Minas. Huang Ju, Jia Qinglin, Li Changchun, Wu Bangguo, Wu Guanzheng e Zeng Qinghong são engenheiros eletricistas.
O Brasil, em contrapartida, é o País dos advogados no poder. Mais de 70% do Congresso é formado por advogados. Poucos Ministros do governo Silva são engenheiros. Isso sem falar no Judiciário, no Ministério Público e na Polícia, feudos dos advogados. Segundo estatísticas, o País forma mais advogados por ano que Estados Unidos, Europa e Coréia juntos, apesar da própria Constituição tornar a profissão de advogado, em teoria, supérflua, visto que obriga todo brasileiro a conhecer a Lei.
Quem sabe, o exemplo chinês possa influenciar os governantes e o povo a colocar em posições de comando profissionais que realmente têm algo a dar ao País e não apenas tirar, como mostra a crise atual. Pode ser a solução para garantir ao Brasil um futuro em ciência e tecnologia.
Brasília, quinta-feira, 29 de setembro de 2005
Marcelo Alencar
http://www.confea.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3156&sid=10&pai=8
Probus,
Boa análise essa. É de 2005, mas ainda atual. Tem grande parte de razão. Os engenheiros perderam prestígio no Brasil nas "décadas perdidas", em prol dos advogados, sociólogos etc. O Brasil estagnava ou decrescia. Não sei se isso foi causa ou consequência.
Maria Tereza
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