segunda-feira, 31 de outubro de 2011
RECEITA PARA DERRUBAR MINISTROS [e o governo Dilma]
Por Mário Augusto Jakobskind
“Uma semana das mais movimentadas aconteceu nestas plagas. No sábado, por exemplo, os brasileiros ficaram sabendo que Lula está com câncer na laringe e já começou a especulação sobre as perspectivas de participação política do ex-presidente, que continua bastante influente. Aguarde-se o desenrolar dos acontecimentos.
O ‘blog Brasil’ reproduziu documentos do site ‘WikiLeaks’ revelando que o 'global' William Waack, figura também de proa no famigerado ‘Instituto Millenium’, é informante do governo estadunidense. O texto assinala que Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”. Diogo Mainardi também aparece na lista de informantes dos EUA, da mesma forma que o colunista da ‘Folha de S. Paulo’, Fernando Rodrigues.
A TV Globo, em nota oficial, negou a denúncia contra Waack classificando-a de “absurda”. Mas desmentidos da Globo têm pouco valor, até porque a prática informativa da 'Vênus Platinada' fala mais do que qualquer desmentido.
No Ministério dos Esportes, saiu o seis para entrar o meia dúzia, ou seja, Aldo Rebelo no lugar de Orlando Silva e com a agravante de que o novo titular da Pasta vem sendo acusado pelos movimentos sociais [e ONGs estrangeiras e nacionais] de, como relator do Código Florestal, favorecer o pessoal do agronegócio.
Para ter uma ideia de quanto Rebelo é cultuado pelos grandes proprietários de terra, basta mencionar o comentário da senadora Kátia Abreu, também dirigente do ‘Conselho Nacional de Agricultura’ quando soube que o deputado do PC do B tinha sido nomeado para ficar no lugar do camarada Orlando Silva: “Aldo Rebelo faz parte de um time do bem! Parabéns ao governo pela escolha”. É o caso de perguntar: quem escala esse time mencionado pela porta-voz do agronegócio?
A novela dos Esportes possibilitou à oposição de direita colocar as mangas de fora e procurar desgastar o governo Dilma Rousseff.
Convenhamos, é de uma hipocrisia sem tamanho o deputado Antonio Carlos Magalhães e o senador Álvaro Dias se proclamarem 'arautos da moralidade' [!], quando se sabe que os respectivos partidos que eles integram, quando controlavam o governo federal, não primavam propriamente por práticas cristalinas, haja vista as [falcatruas nas] privatizações das estatais.
ACM aparece quase diariamente nas telas da ‘Globo’ vociferando contra o governo federal e pregando 'a moralidade' [!!!]. Álvaro Dias, uma figura vinculada ao que há de pior em matéria de reacionarismo no Estado do Paraná, não faz por menos. Como tanto o Partido Democratas, a denominação atual do PFL, o que é uma piada, como o PSDB estão completamente sem bandeiras, qualquer tipo de denúncia serve, mesmo as surgidas a partir da revista ‘Veja’, uma publicação que prima pela manipulação da informação e pela falta de credibilidade.
No fundo, bem lá no fundo, DEM e PSDB continuam inconformados pelo fato de, com o terceiro mandato presidencial consecutivo, encontrarem-se afastados do controle do Estado e, consequentemente, sem possibilidade de abocanhar os cargos para os correligionários.
A Revista ‘Veja’ agora também vinculada a capitais sul-africanos que apoiavam o apartheid, é linha auxiliar dos partidos de direita que já estão de olho no embate eleitoral em 2014, quando Dilma Rousseff completará os quatro anos de mandato. A ‘Editora Abril’ também perdeu vantagens com o governo federal na área do livro didático. Em compensação, no Estado de São Paulo, governado pelo PSDB desde muito tempo, a história é bem outra. Ou seja, ganham muitos milhões de reais com os livros, mas praticamente ninguém contesta o fato.
No caso de Orlando Silva, a primeira matéria que apareceu na mídia foi via ‘Veja’, completamente sem provas e que aqueceu os anais oposicionistas. O tal PM, de nome João Dias, ficou de comparecer na Câmara dos Deputados para fazer mais denúncias, mas na última hora acabou não indo, isso depois de grande empenho da oposição para que acontecesse o depoimento.
Enquanto a Polícia Federal continua a aguardar provas concretas sobre a participação de Orlando Silva no esquema de corrupção com as ONGs, a ‘Folha de S. Paulo’ apareceu com matéria tentando agora envolver um irmão de Aldo Rebelo nas denúncias sobre falcatruas no Ministério dos Esportes. Soa realmente estranho o fato de a denúncia, com base apenas no depoimento do PM delator, também sem provas, somente aparecer depois da nomeação de Aldo Rebelo.
Também soa estranha a condenação de antemão de um acusado de corrupção, como o ex-ministro Orlando Silva, somente pelo fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) passar a cuidar das denúncias. Isso não significa que já houve a condenação, como quer fazer crer a mídia de mercado. Açodamento dessa natureza acaba desembocando no fascismo.
Depois do episódio que culminou com a demissão de Orlando Silva, já se pode pensar em trabalho jornalístico mais aprofundado. Sugestão de título: ‘Receita para demitir um ministro’. Começa com matéria na ‘Veja’, fazendo dobradinha com a ‘Época’, desmentidos daqui e dali, repercussão nos espaços midiáticos das ‘Organizações Globo’, do ‘Fantástico’ ao ‘Jornal Nacional’, e demais órgãos da imprensa conservadora, sobretudo as revistas semanais, até alcançar o desgaste político do denunciado.
Somam-se a isso as convocações dos mesmos meios de comunicação de mercado em conjunto com as ‘Federações de Indústrias’ do Rio e São Paulo para atos públicos de 'combate à corrupção', inclusive com vassouras verde-amarelas distribuídas a granel, e o jogo está feito.
Mas informações sobre o quanto o Brasil vem gastando com a dívida pública, nem pensar. Afinal, tudo que compromete o modelo econômico e a estratégia de favorecimento ao capital financeiro, a mídia de mercado silenciará totalmente e se voltará para o varejo, de forma a produzir matérias para iludir incautos. Para se ter uma ideia dos gastos mencionados, no ano passado correspondeu a 45% do orçamento brasileiro, que foi de 1,414 trilhão de reais. Então, somente para o pagamento dos juros e amortizações, o total é de 635 bilhões de reais, o que corresponde a quase R$ 2 bilhões diários.”
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio ‘Brecha’. Foi colaborador do ‘Pasquim’, repórter da ‘Folha de São Paulo’ e editor internacional da ‘Tribuna da Imprensa’. Integra o Conselho Editorial do seminário ‘Brasil de Fato’. É autor, entre outros livros, de ‘América que não está na mídia’, ‘Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE’. Artigo publicado no site ‘Direto da Redação’ (http://www.diretodaredacao.com/noticia/receita-para-derrubar-ministro) [título e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
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2 comentários:
Sou Dilma, votei nela, e voto nela novamente em 2014 sem pensar duas vezes, mas nao posso fechar os olhos para a corrupçao, ou será que voce acredita seriamente que o Orlando Silva nao é um corrupto, faça me o favor.
Sou Dilma mas nao sou cego, nao é porque sou a favor dela que vou fingir que o governo é perfeito, estamos longe disso, mas melhorando cada dia mais.
Thaynara,
Em boa parte, penso como você. Exceto em três aspectos.
Primeiro, mesmo que preconceituosamente, não se pode acusar o Orlando Silva de corrupto, se até agora não há provas contra ele. O próprio acusador, cujo currículo policial inibe acreditarmos nele, declarou ao vivo na TV que não tem provas contra o ex-Ministro. Isso depois de estar como estrela na mídia há mais de uma semana.
Segundo, quanto à corrupção, todos sabemos que ela vem diminuindo constatadamente na última década, com o aperfeiçoamento dos mecanismos de fiscalização e controle e com a muitíssimo maior e melhor participação da Polícia Federal. Ela foi grandiosa nos anos demotucanos de FHC. A enganosa diferença é que ela, nos anos FHC, era escondida pela mídia, interessada na manutenção do governo de direita, e não era, de modo geral, investigada pelo governo e Polícia Federal.
Terceiro, nunca afirmei e nunca se poderia afirmar que um governo é perfeito. Seria ingênua utopia.
Maria Tereza
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