domingo, 16 de outubro de 2011

AS PREVISÕES DE ITAMAR FRANCO, em 2000


“Definitivamente, Itamar Franco era um visionário. Por acaso, acabei chegando a um texto dele para a revista ISTOÉ de 26 de dezembro de 2000. Impressionante como ele coloca os cenários futuros e a necessidade de mudança total de rumo em relação ao que vigorava no país comandado por FHC. E o quanto foi decisivo para o futuro do país o fato de FHC não ter feito seu sucessor, José Serra.

Da revista “IstoÉ” - nº de edição: 1631, de 26 dez 2000

O PAÍS EM TRÊS CENÁRIOS

“Nos três cenários que podemos antever para o futuro do nosso país, dois nos preocupam muito.

O primeiro cenário é o da permanência no poder das forças políticas situacionistas [FHC/PSDB/PFL(DEM)] que se identificam com o atual modelo globalizante, neoliberal e dependente.

Hoje, as decisões fundamentais da política econômica se voltam para a progressiva desnacionalização do Brasil, com o aprofundamento das consequências que o modelo acarreta em termos de quebra da soberania, progressivo esvaziamento da capacidade de autodeterminação, aniquilamento da identidade nacional, transferência para o Exterior do poder decisório sobre questões estratégicas e passividade diante de interesses financeiros internacionais cada vez mais vorazes.

Faz parte desse modelo a opção pelo “Estado mínimo”, com a rápida dilapidação do patrimônio público, o desmonte administrativo do poder público e o descrédito do servidor, objetivando eliminar os já frágeis controles sociais sobre as finanças nacionais e o destino do País.

Incorporam-na, também, outras medidas já bem conhecidas, como o conjunto de normas que, visando garantir e privilegiar os interesses do capital financeiro especulativo, impedem a União, os Estados e os municípios de adotar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida da população.

O segundo cenário é o da prevalência das forças que enfatizam pseudoconquistas sociais, comumente chamadas de políticas compensatórias. Essa opção é defendida por alguns setores como estratégia para viabilizar seu projeto de chegada ao poder. Além de exigir uma aliança espúria com forças reacionárias –que nada têm de ingênuas–, essa opção convalida o projeto neoliberal, transferindo o cerne do debate político das grandes questões nacionais para outras que são periféricas ou pontuais. Funcionam, desta forma, como válvulas de escape da tensão social e desmobilizam a sociedade.

O terceiro cenárioque se revela como o único possível para a sobrevivência da nossa identidade e da nossa autonomia– é o de enfrentamento do modelo. Para tanto, é preciso despertar as consciências para a realidade que nos cerca e um esforço de arregimentação de forças que representem a insatisfação com o rumo atual. Essas insatisfações existem, mas ainda se expressam de forma aleatória e estão politicamente desestruturadas. O choque da globalização, da invasão desordenada de capitais especulativos e da rápida expansão tecnológica (idealizada para outros ambientes e inadequada às nossas necessidades) parece ter desestruturado a capacidade crítica de importantes segmentos, colocando-os indefesos ante as novas forças que se agigantam.

É nosso dever, portanto, estimular o pensamento independente e formular proposta capaz de emular os mais diversos setores da sociedade, particularmente a juventude, que nos parece indefesa ante as perspectivas sombrias que se projetam sobre o seu futuro. Precisamos reunir forças de resistência em torno de um projeto claro de recuperação e de defesa do interesse nacional, em que o Estado assuma o papel de indutor do desenvolvimento e de executor de políticas públicas voltadas para a progressiva melhoria das condições de vida da nossa gente. Precisamos defender o que resta de patrimônio público e assumir posturas cívicas que mobilizem a sociedade em torno dos superiores interesses da coletividade, de recuperação da soberania e da liberdade.”

Itamar Franco”

FONTE: por Walter Decker, no portal do jornalista Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/as-previsoes-de-itamar-franco-em-2000#more) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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