domingo, 11 de dezembro de 2011

CGU: A CORRUPÇÃO PARTE DA DOAÇÃO DE CAMPANHA E DA IMPUNIDADE DOS RICOS

Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU)

NO "DIA CONTRA CORRUPÇÃO", MINISTRO APONTA CULPADO: PODER ECONÔMICO

“Para Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), corrupção tem 'causas profundas' no financiamento de campanhas com doação empresarial e na impunidade do crime do colarinho branco. Segundo ele, impunidade diferencia o Brasil do exterior e dá sensação de que aqui as coisas são piores. 'Ninguém diz que os Estados Unidos são 'estado policialesco''.

Por André Barrocal

O avanço do combate à corrupção exige enfrentar o poder econômico com o fim de doações privadas a campanhas eleitorais e a efetiva punição judicial de crimes do colarinho branco. As primeiras produzem laços não-republicanos entre agentes públicos e empresários que, não raro, terminam em fraudes. Já a impunidade dos ricos, em si mesma uma injustiça, cria ambiente que fertiliza condutas corruptas".

A avaliação é do ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, uma espécie de vigia ético da República. Em discurso na sexta-feira (9) em evento pelo ‘Dia Internacional contra a Corrupção’, Hage fez balanço das ações federais nessa área desde o governo Lula e aproveitou para apontar o que considera causas da corrupção e como neutralizá-las.

Ninguém desconhece que as causas mais profundas da corrupção têm raízes em questões mais amplas, como o financiamento privado de campanhas e de partidos, o sistema eleitoral, os meandros da elaboração do orçamento público”, disse Hage. Para o ministro, há “urgente necessidade de reforma das leis processuais penais, que são, hoje, a principal garantia de impunidade”.

A eliminação das doações privadas para campanhas, que seriam substituídas pelo financiamento com dinheiro do orçamento público, numa espécie de investimento do Estado na democracia, foi decisão recentemente empurrada para o ano que vem por comissão especial de deputados que debatia o tema há nove meses. Motivo: a maioria dos partidos ‘não assimila bem a ideia’, numa demonstração da força do poder econômico que a proposta busca combater.

Sabendo que é difícil que o próprio sistema enfrente a si mesmo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou, neste ano, com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que seja excluída da lei dos partidos o trecho que permite as doações privadas. A entidade tem a mesma avaliação de que esse procedimento pavimenta a corrupção.

Para Hage, também seria importante acabar com o que ele considera excesso de recursos contra decisões judiciais que, na prática, servem para adiar quase infinitamente a aplicação de penas, sobretudo quanto o réu em questão é rico, com dinheiro para gastar também eternamente com bons advogados.

O ministro defendeu proposta em discussão no Senado, de autoria do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que extingue a possibilidade de se apresentar recurso extraordinário e especial contra decisões de tribunal colegiado de segunda instância – a corte julga depois de sentença individual de um juiz.

O relator do projeto, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), deu parecer favorável, embora com uma mudança: ele preserva os recursos, mas diz que o andamento deles não impede mais a execução da pena.

Para Jorge Hage, essa é uma das principais diferenças entre o Brasil e o mundo e que, às vezes, dá a ideia de que aqui tem mais bandalheira. “A corrupção não é um problema brasileiro, afeta todos os países do mundo, incluindo o setor público e as instituições privadas”, disse o ministro. “Mas há diferença extremamente importante entre os países: a sua capacidade de punir os crimes do chamado 'colarinho branco', ou seja, o crime de quem tem poder ou tem dinheiro.”

No discurso, o ministro citou como exemplo a prisão do milionário George Madoff nos Estados Unidos apenas poucos meses depois da descoberta das fraudes que praticava à frente de fundos de investimentos. “E ninguém disse que aquele país não é um estado democrático de direito, onde não são respeitadas as garantias individuais; ninguém disse que temos ali um 'estado policialesco'”, afirmou Hage, em clara alusão à condenação do banqueiro Daniel Dantas e sua posterior [benévola e surpreendente] soltura pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Hage também voltou a defender a aprovação do projeto de lei, preparado pela CGU, que cria punições civis e administrativas contras empresas corruptoras. A proposta está tramitando numa comissão especial da Câmara e já passou por diversas audiências públicas, mas ainda não há um parecer final.”

FONTE: escrito por André Barrocal no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19181).

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