A Corte no tradicional beija-mão
Por Eduardo Guimarães“A queda do sexto ministro de Dilma sob acusação de corrupção ocorre no âmbito de um processo kafkiano iniciado em março deste ano. Sabia-se que a imprensa [por ser de direita, pró-demotucanos] continuaria se opondo ao governo federal caso a candidata de Lula se elegesse, mas os consideráveis esforços dela para distender o clima político tornam o ataque midiático inexplicável, sem razão, daí a alusão à obra de Franz Kafka.
Dilma começou a governar claramente convencida de que, se não fizesse provocações à mídia e à oposição, não sofreria processo similar ao que acompanhou cada dia da gestão de seu antecessor.
Ela desafiou a ira da militância fazendo afagos à imprensa tucana, afagos que todos os que se interessam por política sabem quais foram – aniversário da Folha, Ana Maria Braga, Hebe Camargo etc., com direito aos famosos almoços com barões da mídia aos quais Lula jamais acedeu. Por atos e declarações, também tirou do horizonte a temida lei da mídia, que esta e a oposição não aceitam sequer discutir. Desmanchou-se em mesuras ao líder máximo da oposição e da imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegando a lhe dar créditos que não merece pelo sucesso econômico do Brasil hoje.
O que mais a mídia e a oposição querem?
A resposta é simples: o poder. E não é só o poder pelo poder, mas para voltarem a roubar o patrimônio nacional como fizeram juntinhas (mídia e oposição) à época da [multibilionária] privataria, quando barões da mídia, como a família Mesquita, apuraram-se a receptar o saque tucano na telefonia, nesse caso comprando parte da operadora de telefonia celular BCP.
O poder que a mídia tem hoje deriva de sua fortuna incalculável, um tesouro que, centavo por centavo, veio sendo surrupiado da nação ao longo do século passado, sobretudo durante a ditadura militar, quando essas famílias que controlam a comunicação no país receptaram bilhões de dólares desviados pelos ditadores para construírem a máquina de comunicação que usariam para tentar manipular o povo do qual haviam usurpado todos direitos civis.
É o poder de manipular as instituições e, ainda em grande medida, a opinião pública. E é um poder que se fundamenta na posse de muito dinheiro, de volumes de riqueza que só são possíveis auferir em grandes negociatas como as privatizações.
Há nove anos fora do poder, a fonte secou. As operações desses impérios de comunicação muitas vezes são deficitárias. Essas empresas não sobrevivem sem dinheiro público e hoje só quem lhes doa dinheiro dos nossos impostos são os governos estaduais, que gerem orçamentos infinitamente menores do que o governo federal, o que lhes deixa pouco espaço para roubar.
O Santo Graal da mídia é o Pré Sal. Será com facilitação de negociatas com as reservas petrolíferas que seu 'e$toque de poder' será reposto. Todos sabem das negociações entre José Serra e as petroleiras internacionais que vazaram através do Wikileaks. O tucano lhes prometera [em prejuízo da Petrobras] regime de concessão para explorarem as recém-descobertas reservas petrolíferas do país, ou seja, prometeu que ganhariam infinitamente mais com o petróleo que extraíssem.
Não haverá gentileza deste governo, pois, que faça a mídia parar de tentar inviabilizá-lo. Recusar-se a dotar o país de um marco regulatório para as comunicações tampouco adiantará. A única forma de Dilma se compor com a imprensa é através do suborno, como faz o governo Alckmin, por exemplo, ao gastar milhões e milhões de reais em assinaturas dos jornais e revistas que denunciam sem parar seus adversários políticos e que o protegem de escândalos como o das emendas parlamentares.
A sucessiva queda de ministros, portanto, se funcionar, deixará o PSDB e os abutres internacionais em imenso débito com ‘Folhas’, ‘Estadões’, ‘Vejas’ e ‘Globos’, certamente permitindo novas incursões das empresas “jornalísticas” em negócios estranhos à própria atividade, como na época da telefonia celular privatizada.
Dessa feita, incursionarão pelo setor petrolífero.
As tropas de choque da mídia e da oposição na internet ou os militontos da oposição de ultraesquerda logo se apressarão a bradar que essa é uma “teoria conspiratória”, como se o primeiro passo de toda conspiração não fosse desacreditar qualquer suspeita de que esteja ocorrendo. Acredita quem quer…
Quem acha que nada significa o fenômeno de ministros caírem em efeito dominó sob denúncias da imprensa como a de uma carona de avião ou a de acumulação questionável de cargos públicos enquanto escândalos muito piores envolvendo governos tucanos são ignorados, como o caso recente envolvendo o ex-assessor do então ex-governador José Serra João Faustino, que se encontra preso no Rio Grande do Norte, sugiro que interrompa a leitura deste post.
Se você continua lendo é porque sabe que o processo que vem desmontando o ministério de Dilma é hipócrita. Todavia, assim mesmo, você pode estar entre os piores inimigos de seu governo se está entre os que dizem frases como “Quanto mais a mídia bate em Dilma, mais ela se torna popular” ou como “Dilma tem mesmo que se livrar de ministros picaretas”.
Nem a própria Dilma continua acreditando no que já chegou a acreditar, que ganha alguma coisa com as denúncias da imprensa. Ela bem que tentou, desta vez, segurar o ministro bola da vez. E isso porque a teoria de que se torna mais popular a cada denúncia contra seus ministros é um delírio, não existe. Nenhuma pesquisa sobre sua popularidade mostra isso. Hoje, ela tem menos aprovação do que no início de seu governo.
Administrativamente, este governo está sendo literalmente sabotado. Ou, para os que não partilham dessa teoria, está ao menos sendo paralisado. Por seis vezes neste ano, algum ministério ficou praticamente acéfalo durante semanas a fio, com o titular de cada pasta usando cada minuto para se defender.
O estilo Dilma de administrar explica a razão pela qual ela já se deixou enganar por essa história de que ganharia alguma coisa com esse processo. Seu estilo enérgico estimula bajuladores em seu entorno a dourarem a pílula, a só dizerem o que ela quer ouvir. E o que ela ainda parece querer ouvir é que há como evitar o confronto político, como se a mera rendição tivesse o poder de suspender a sabotagem.
Entre as teorias que empanam a visão da presidente está a de que a mídia quereria defenestrar apenas os ministros “da cota de Lula”, ou seja, aqueles que dizem que foram “impostos” pelo ex-presidente à sucessora, o que matéria do ‘Estadão’ divulgada domingo desmente.
A matéria “Depois dos aliados, mídia chega à cota pessoal de Dilma” acusa Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Ele teria sido escolha dela e não de Lula, mas, assim mesmo, está sendo acusado pela imprensa por atuação como consultor entre 2009 e 2010, uma acusação análoga à que sofreu Antonio Palocci, a primeira peça do dominó político em que se converteu o ministério deste governo.
E tem gente achando que não tem nada demais nesse processo.
Dilma já acordou. Tentou manter Lupi, mas esbarrou em um problema que ela mesma criou para que seus auxiliares resistam ao bombardeio. Ao não declarar apoio aos alvos da mídia, dando apenas declarações genéricas sobre querer analisar com calma as denúncias, termina por legitimá-las, retirando-lhes um caráter político que só ela não vê ou finge que não vê, achando que, assim, evitará briga. Daí o alvo da artilharia, sentindo-se sem apoio, pula fora.
Enquanto isso, lideranças políticas da oposição como José Serra e colunistas de veículos como ‘Veja’ ou ‘Globo’ já pedem o impeachment da presidente por crime de responsabilidade, porque se um ministro cai o problema é dele, mas se seis caem sucessivamente vai ficando claro que quem os escolheu, escolheu mal. Ao menos para o espectador desavisado.
Você não entende por que o ministério de Lula não passou por processo semelhante se alguns dos que estão caindo hoje já eram ministros àquela época? Para entender, tomemos o caso de Lupi. As denúncias são antigas. Por que nunca foram levantadas? É óbvio que a mídia achava que não adiantaria tentar forçar queda em série de ministros porque o titular do governo não se curvaria.
A única forma de enfrentar um processo que cada vez mais vai ficando claro que haverá de chegar à própria Dilma, será reagindo. Haveria que reagir denunciando a seletividade da imprensa, que esconde escândalos dos governos estaduais da oposição enquanto infla acusações contra o governo central. E, sobretudo, enviando ao Congresso o marco regulatório das comunicações.
Quem impede que isso aconteça é o entorno da presidente. Alguém está lhe vendendo que é possível governar assim, com ministros caindo em série, porque, após caírem todos os “da cota de Lula”, o processo será estancado. Assim, esses bajuladores estão empurrando o governo para o precipício. O entorno da presidente Dilma é hoje seu pior inimigo, pior do que a oposição e a imprensa juntas.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães no seu blog “Cidadania.com” (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/o-pior-inimigo-do-governo-dilma/).
[trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
4 comentários:
Adoro seu blog, mas nao concordo com a raiva que voce tem da imprensa.
A imprensa está certissima, pois com toda a imprensa em cima do Lupi, com toda a pressão, o ex-ministro(Graças a Deus), demorou para entregar o cardo, imagina se a imprensa nao fizesse esta pressão toda.
Sou a favor da imprensa, sou petista, e nem por isso vou fechar meus olhos para a corrupção, ou voce acredita seriamente que o Lupi é um exemplo de politico e ser humano?
Uma outra coisa que nao entendo desses blogs de esquerda, (sou de esquerda, mas nao com essas ideias mirabolantes de Chaves e Cia). Não me entra na minha cabeça essas criticas contra Globo e imprensa em geral, ou voce acredita que o Lupi nao tinha dois cargos, que nao recebeu o dinheiro da camera, que nao fez um monte de coisas que foram noticiadas.
O Brasil está mudando, e agradeço a imprensa que temos, é claro que tem um monte de podre em Minas e São Paulo que elas não noticiam, mas se o PT continuar no poder e a imprensa tentando corrigir essas falhas, que sai ganhando somos nos brasileiros honestos, e nao essa maioria de politicos vagabundos e encostados em nossos impostos.
texto muito bom,que resume a reaidade,pena que nossos lideres nao enxerguem essa realidade e nao possuem coragem para resilver esse problema.
Thaynara,
Amanhã, farei uma postagem abordando as interessantes observações que você apresentou no seu comentário acima. Pretendo me estender um pouco no texto, e este espaço para comentários seria pequeno.
Obrigada pela visita, elogio e comentários.
Maria Tereza
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