Flávio Aguiar, PhD, professor e autor de dezenas de livros
Por Flávio Aguiar, no "Carta Maior":
Falácia 1: Marina posa de vítima e brada: “Parem de querer me destruir”. Mas é Marina quem começou o processo da sua autodestruição. Em primeiro lugar, ela mesma liquidou com a Marina que conhecíamos do passado. E ela mesma se liquida diariamente, incinerando-se a cada dia que passa para ressurgir “outra” no dia seguinte. Foi assim no episódio do casamento gay, por exemplo, o primeiro destas recentes incinderações programadas. Isso nos leva a...
Falácia 2: Um bordão da candidatura de Marina, trombeteado inclusive internacionalmente, é que ela seria a primeira “mandatária verde” eleita no mundo. Isso poderia ser verdade para a Marina de antes de 2010. A de 2014 tem ligação umbilical com o capital financeiro, que sustentou suas conferências ao longo do tempo, e cujos representantes herdados da candidatura de Eduardo Campos redigiram seu programa econômico. Essa ligação, e não alguma pretérita ligação com os “povos da floresta” ou com a própria “floresta”, será o eixo de sua governança, se eleita. O que nos traz à mente a...
Falácia 3: Marina apregoa que vai governar “para além das alianças”, com “os bons” de todos os partidos. Este bordão lembra aquele “Serra é do bem” de campanha passada. Mas além disso, esse propósito é impossível para qualquer candidato, a menos que queira fechar o Congresso Nacional. Como o PT, no caso de vitória de Marina, não estará para alianças, o PSB terá uma bancada pequena, a Rede ainda não existe, e o PMDB ficaria dividido, ela terá mesmo de se apoiar nos remanescentes do PSDB e do DEM, partidos em declínio eleitoral, mas capazes ainda de grande articulação com o capital financeiro. Esse passo coloca na pauta a...
Falácia 4: Em suas transformações mirabolantes, Marina afirma que manterá – talvez ampliará – os programas sociais. Isso não tem base de sustentação diante de sua equipe econômica e da que terá por aliados depois de uma vitória nas eleições, todos absolutamente contrários a tais políticas. Aqui se inclui, como política social, a de valorização do salário mínimo, que afundará junto com as outras, além do compromisso para a aplicação prioritária dos recursos do pré-sal em educação e saúde, a política externa soberana e de perspectiva multilateral e multipolar. Para sobrenadar ou sobrevoar essas contradições, que prenunciam graves crises no país, Marina quer se afirmar como uma liderança messiânica, do tipo Jânio ou Collor, que vence no grito a corrida de obstáculos que é governar. Porém, até mesmo essa disposição é falaciosa, pois aí vem a...
Falácia 5: Ao invés de uma liderança carismática forte, as transformações de Marina (que lembram uma peça do dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo, “Hoje sou um e amanhã outro”) vão aproximando seu perfil mais e mais de um FHC/PSDB descorado pelo tempo. Já não se trata mais do “esqueçam o que que escrevi”, mas de “esqueçam o eu eu disse ontem” – com algumas exceções, é claro, onde despontam a falácia do tal “Banco Central Independente” e a política de "livre flutuação cambial", além do "reatrelamento do Brasil às políticas (desastrosas) dos Estados Unidos e da União Europeia".
Mas além de falácias, a candidatura de Marina vem chamando à tona algumas incertezas. Por exemplo:
Incerteza 1: Apregoa-se que tudo vai mudar no segundo turno, com tempo igual de exposição na propaganda obrigatória para ambas as candidaturas. Isso é incerto. Antes, Marina estava no limbo da vice-presidência de uma candidatura que, na verdade, construía uma ponte para 2018. Essa também era a sua perspectiva, a de Marina, com sua Rede em gestação. A tragédia trouxe a candidata para as luzes da ribalta. Já com seus quase dois minutos de exposição na mídia, a candidata teve que começar a se definir melhor – e os resultados dessa definição não têm sido bons para ela. Os quase dois minutos limitam – mas ao mesmo tempo protegem – a sua candidatura. Com mais tempo, haverá a necessidade de mais definições, e mais claras. O resultado pode não ser bom.
Incerteza 2: Somando e diminuindo os fatores antes enumerados, a “rede eleitoral” (não o seu projeto de partido) lançada pela candidata, na esteira de seus votos em 2010 e da herança do candidato tragicamente desaparecido, alcançou fundamentalmente o aprisco de Aécio Neves para crescer, desossando a candidatura deste. Essa rede, com seus elementos muito díspares segundo as análises disponíveis – evangélicos, ambientalistas vidrados pela Marina anterior (a que desapareceu nas dobras da atual), jovens de classe média unilateralmente insatisfeitos com a política, velha classe média que pensa que direitos são privilégios, pessedebistas descrentes na própria candidatura et alii – vai se concentrando cada vez mais na colheita do antipetismo latente ou manifesto em todas as frentes. Assim num segundo turno eventual, Marina começará sendo a candidatura deste tempero: o antipetismo. Será isso suficente para vencer? Duvido. Será ele o suficiente para governar, caso vença? Certamente não. Marina terá de demonstrar que pode governar, para além das falácias acima expostas. Vai ter que se definir em torno do seu programa anunciado, não apenas como uma “metamorfose ambulante”. E aí a cobra vai fumar.
De tudo fica uma única certeza. Ao fazer bico e pose de vítima, Marina se esqueceu da máxima do saudoso Vicente Mateus: “quem sai na chuva é pra se [molhar] queimar”.
FONTE: escrito por Flávio Aguiar, no site "Carta Maior" e por Daniel Pearl Bezerra no Blog da Dilma (http://www.blogdadilma.com/features/2095-incertezas). O autor, Flávio Wolf de Aguiar', nasceu em Porto Alegre em 1947. É graduado em Letras (1970) pela Universidade de São Paulo, Mestre (1974) e Doutor (1979), professor, autor, jornalista, tradutor brasileiro, organizador e colaborador de dezenas de livros. Atualmente, vive em Berlim, onde é correspondente de publicações brasileiras, impressas ou na internet, fazendo reportagens também para TV e rádio.
Falácia 1: Marina posa de vítima e brada: “Parem de querer me destruir”. Mas é Marina quem começou o processo da sua autodestruição. Em primeiro lugar, ela mesma liquidou com a Marina que conhecíamos do passado. E ela mesma se liquida diariamente, incinerando-se a cada dia que passa para ressurgir “outra” no dia seguinte. Foi assim no episódio do casamento gay, por exemplo, o primeiro destas recentes incinderações programadas. Isso nos leva a...
Falácia 2: Um bordão da candidatura de Marina, trombeteado inclusive internacionalmente, é que ela seria a primeira “mandatária verde” eleita no mundo. Isso poderia ser verdade para a Marina de antes de 2010. A de 2014 tem ligação umbilical com o capital financeiro, que sustentou suas conferências ao longo do tempo, e cujos representantes herdados da candidatura de Eduardo Campos redigiram seu programa econômico. Essa ligação, e não alguma pretérita ligação com os “povos da floresta” ou com a própria “floresta”, será o eixo de sua governança, se eleita. O que nos traz à mente a...
Falácia 3: Marina apregoa que vai governar “para além das alianças”, com “os bons” de todos os partidos. Este bordão lembra aquele “Serra é do bem” de campanha passada. Mas além disso, esse propósito é impossível para qualquer candidato, a menos que queira fechar o Congresso Nacional. Como o PT, no caso de vitória de Marina, não estará para alianças, o PSB terá uma bancada pequena, a Rede ainda não existe, e o PMDB ficaria dividido, ela terá mesmo de se apoiar nos remanescentes do PSDB e do DEM, partidos em declínio eleitoral, mas capazes ainda de grande articulação com o capital financeiro. Esse passo coloca na pauta a...
Falácia 4: Em suas transformações mirabolantes, Marina afirma que manterá – talvez ampliará – os programas sociais. Isso não tem base de sustentação diante de sua equipe econômica e da que terá por aliados depois de uma vitória nas eleições, todos absolutamente contrários a tais políticas. Aqui se inclui, como política social, a de valorização do salário mínimo, que afundará junto com as outras, além do compromisso para a aplicação prioritária dos recursos do pré-sal em educação e saúde, a política externa soberana e de perspectiva multilateral e multipolar. Para sobrenadar ou sobrevoar essas contradições, que prenunciam graves crises no país, Marina quer se afirmar como uma liderança messiânica, do tipo Jânio ou Collor, que vence no grito a corrida de obstáculos que é governar. Porém, até mesmo essa disposição é falaciosa, pois aí vem a...
Falácia 5: Ao invés de uma liderança carismática forte, as transformações de Marina (que lembram uma peça do dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo, “Hoje sou um e amanhã outro”) vão aproximando seu perfil mais e mais de um FHC/PSDB descorado pelo tempo. Já não se trata mais do “esqueçam o que que escrevi”, mas de “esqueçam o eu eu disse ontem” – com algumas exceções, é claro, onde despontam a falácia do tal “Banco Central Independente” e a política de "livre flutuação cambial", além do "reatrelamento do Brasil às políticas (desastrosas) dos Estados Unidos e da União Europeia".
Mas além de falácias, a candidatura de Marina vem chamando à tona algumas incertezas. Por exemplo:
Incerteza 1: Apregoa-se que tudo vai mudar no segundo turno, com tempo igual de exposição na propaganda obrigatória para ambas as candidaturas. Isso é incerto. Antes, Marina estava no limbo da vice-presidência de uma candidatura que, na verdade, construía uma ponte para 2018. Essa também era a sua perspectiva, a de Marina, com sua Rede em gestação. A tragédia trouxe a candidata para as luzes da ribalta. Já com seus quase dois minutos de exposição na mídia, a candidata teve que começar a se definir melhor – e os resultados dessa definição não têm sido bons para ela. Os quase dois minutos limitam – mas ao mesmo tempo protegem – a sua candidatura. Com mais tempo, haverá a necessidade de mais definições, e mais claras. O resultado pode não ser bom.
Incerteza 2: Somando e diminuindo os fatores antes enumerados, a “rede eleitoral” (não o seu projeto de partido) lançada pela candidata, na esteira de seus votos em 2010 e da herança do candidato tragicamente desaparecido, alcançou fundamentalmente o aprisco de Aécio Neves para crescer, desossando a candidatura deste. Essa rede, com seus elementos muito díspares segundo as análises disponíveis – evangélicos, ambientalistas vidrados pela Marina anterior (a que desapareceu nas dobras da atual), jovens de classe média unilateralmente insatisfeitos com a política, velha classe média que pensa que direitos são privilégios, pessedebistas descrentes na própria candidatura et alii – vai se concentrando cada vez mais na colheita do antipetismo latente ou manifesto em todas as frentes. Assim num segundo turno eventual, Marina começará sendo a candidatura deste tempero: o antipetismo. Será isso suficente para vencer? Duvido. Será ele o suficiente para governar, caso vença? Certamente não. Marina terá de demonstrar que pode governar, para além das falácias acima expostas. Vai ter que se definir em torno do seu programa anunciado, não apenas como uma “metamorfose ambulante”. E aí a cobra vai fumar.
De tudo fica uma única certeza. Ao fazer bico e pose de vítima, Marina se esqueceu da máxima do saudoso Vicente Mateus: “quem sai na chuva é pra se [molhar] queimar”.
FONTE: escrito por Flávio Aguiar, no site "Carta Maior" e por Daniel Pearl Bezerra no Blog da Dilma (http://www.blogdadilma.com/features/2095-incertezas). O autor, Flávio Wolf de Aguiar', nasceu em Porto Alegre em 1947. É graduado em Letras (1970) pela Universidade de São Paulo, Mestre (1974) e Doutor (1979), professor, autor, jornalista, tradutor brasileiro, organizador e colaborador de dezenas de livros. Atualmente, vive em Berlim, onde é correspondente de publicações brasileiras, impressas ou na internet, fazendo reportagens também para TV e rádio.
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