terça-feira, 2 de setembro de 2014

MARINA SE ENROLOU



Marina se enrola no debate do SBT

Por Renato Rovai, em seu blog:

"Dilma foi a sorteada para ser a primeira a fazer as perguntas nos dois blocos entre candidatos. Em ambos, escolheu Marina Silva. A estratégia de Dilma foi a de explorar as contradições e inconsistências da candidata do PSB e do seu programa de governo. Na primeira pergunta, Dilma levantou uma série de propostas de Marina e apresentou o quanto isso custaria, perguntando de onde ela tiraria o dinheiro já que não pretende continuar o Pré-Sal. Marina se atrapalhou na resposta e disse que cortaria os gastos públicos [de forma "não cartesiana"] para poder fazer o que promete. Mas não explicou como seriam esses cortes e nem onde seriam realizados.

Na segunda oportunidade que pôde fazer pergunta, Dilma também foi de Marina. E foi direto ao ponto do Pré-Sal. Disse que, das 242 páginas do seu programa, Marina havia dedicado apenas uma linha a essa questão. Marina de novo não deu uma resposta direta. Tergiversou como pôde, mas depois disse que irá continuar a exploração, mas também olhando para o futuro e para outras fontes energéticas. Dilma lhe disse que aquilo que ela menosprezava valia 1 trilhão de reais. E Marina de novo não foi direta na resposta.

Aécio ficou boa parte do tempo olhando as duas debaterem. E também observando Eduardo Jorge e Levy Fidelix, cada um ao seu jeito, darem seus shows. Quando tinha a palavra, Aécio tocava de lado e de forma burocrática. Como se já houvesse desistido da candidatura e cumprisse apenas um papel ao qual não podia mais recusar.

Mesmo quando teve a chance de confrontar Dilma Rousseff, saiu-se mal. Tomou duas coelhadas da candidata do PT, que partiu para cima no seu jeito Mônica de ser. Dilma disse que Aécio devia ter memória fraca por não se lembrar dos investimentos do governo federal em Minas Gerais.

Outro momento interessante foi quando Luciana Genro perguntou a Marina se ela era a segunda via do PSDB. Marina, quando confrontada, faz caretas e começa a resposta irritada. Não foi diferente dessa vez. Ao invés de ser direta e dizer que não, voltou no tempo e começou a elogiar os governos anteriores, tentando dizer que não era radical como a candidata do PSOL, algo absolutamente desnecessário. Na réplica, Luciana deu-lhe um truco. A psolista afirmou que não dava para conciliar o tempo todo e que Marina não iria governar para o povo, porque fazia acordo com banqueiros, usineiros e se submetia às pressões do [pastor] Malafaia. E aí, Marina mordeu a isca e voltou a culpar o revisor pelo volta atrás nas questões LGBT.

Marina não foi bem nesse debate. Teve desempenho bem inferior ao anterior. Inclusive, porque seus adversários começaram não só a explorar suas contradições, como também a chamar a atenção para o fato de que ela não responde nada de forma objetiva. Entenderam que o jeito Marina de discursar pode ser bom para um debate ou dois. Mas que, se bem explorado, pode se tornar uma arma contra a candidata.

Por outro lado, Dilma saiu um pouco da camisa de força do marketing e foi mais Dilma. Isso fez com que melhorasse sua performance. E mesmo dando suas costumeiras gaguejadas, teve o melhor desempenho entre os três principais candidatos. Até porque, Aécio virou um engravatadinho sem graça no meio da disputa franca das candidatas mulheres.

Aliás, não se pode negar isso, nem a Marina, nem a Dilma. Ambas não estão fugindo do confronto direto. E isso tem deixado os debates dessa eleição presidencial muito mais interessantes."


FONTE: escrito por Renato Rovai, em seu blog e transcrito no "Blog do Miro"   (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/09/marina-se-enrola-no-debate-do-sbt.html#more).

COMPLEMENTAÇÃO:




Sobre o segundo debate entre os candidatos presidencias 

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

"No debate de ontem, Dilma Rousseff foi mais incisiva. Seu desempenho melhorou em relação ao debate anterior. Marina Silva continuou ambígua, incapaz de abandonar aquela pose de estar acima de partidarismo, apesar de ter sido criada por intermédio de um partido e ser sustentada atualmente por outro. A candidata do PSB não conseguiu explicar seu recuo em relação ao casamento gay depois que foi enquadrada pelo Malafaia no Twitter. Sob intenso ataque de vários adversários, ela não consegui esconder sua fragilidade política.

Aécio Neves foi o grande derrotado no debate do SBT. Ele ficou escaneado. Sumiu diante das câmeras. Levy Fidelix e Eduardo Jorge conseguiram ser mais interessantes do que o candidato tucano. Aécio parece sofrer de um grave problema. Ele está tão acostumado a ser paparicado pela imprensa simpática à sua candidatura, que se tornou incapaz de superar qualquer adversidade. Pobre menino rico… Aécio será derrotado facilmente e no primeiro turno. José Serra pode até ser considerado asqueroso por seus adversários, mas nas eleições presidenciais que disputou ele demonstrou muito mais fibra do que o neto de Tancredo Neves.

Luciana Genro também se saiu melhor do que Aécio Neves no debate do SBT. A jovem candidata do PSOL é promissora, mas condenada a ficar na lanterna em razão de pertencer a um partido nanico que mais parece uma religião sem deus. Mesmo assim, devemos admitir que Luciana Genro é mais coerente do que Marina Silva. E certamente menos ridícula que o pastor Everaldo, candidato a presidente que deveria se limitar a fazer o que faz bem (usar a bíblia para tirar dinheiro de crédulos em situação de fragilidade econômica na sua igreja).

O predomínio de temas religiosos foi evidente nesse debate. Bom para os pastores e seus seguidores, ruim para o público em geral. Quando a religião entra por uma porta do debate, a política sai pela outra. A política é um campo delicado em que deve prevalecer a disputa racional, a qual desaparece junto com o próprio campo se ele for invadido pela intolerância religiosa.

Não tenho nenhum problema em defender abertamente a tese de que os temas religiosos deveriam ser banidos das disputas eleitorais e proibidos nos debates televisivos. Quem quiser discutir a sua religião que faça isso na sua comunidade religiosa. Num debate político aberto a todos os cidadãos, assim que o candidato começasse sua arenga religiosa, ele deveria ter o microfone cortado. Em caso de reincidência, deveria ser colocado para fora do recinto. Os temas religiosos impedem os fieis de verem as virtudes dos candidatos que não professam seu culto e os defeitos dos pastores que eles seguem irracionalmente nas igrejas (e que poderiam não seguir nas urnas). Além disso, as altercações por causa dos dogmas conspiram contra a saúde da CF/88, diploma que prescreve o caráter laico do Estado e garante a liberdade de culto e de consciência política e ideológica (algo absolutamente necessário num país plural que não pretende se tornar uma teocracia comandada por pastores).

As eleições presidenciais de 2014 deveriam ser uma oportunidade para os partidos discutirem o presente e os futuros possíveis do Brasil. O que interessa aos eleitores são os programas de governo, não os projetos teológicos de cada candidato. As discussões teológicas realizadas nos debates são inúteis, elas roubam dos eleitores a única oportunidade que eles têm para ver os candidatos em conflito direto e longe dos ambientes controlados das propagandas eleitorais. Isso para não dizer o óbvio: a teologia não é capaz de resolver os problemas concretos econômicos, urbanísticos, hídricos e energéticos do Brasil. No limite, os conflitos teológicos tendem a evoluir para o fanatismo e para o conflito armado entre os fieis nas ruas.

Já que estamos falando de um debate na TV - que pode também ser entendido como um programa de entretenimento - utilizarei algumas metáforas cinematográficas para qualificar o desempenho dos candidatos.

Aécio Neves entrou em cena como se fosse um grande cavaleiro andante montado num alasão cintilante. Mas o tucano foi escanteado e reagiu como se fosse Lorde Farquaad (o vilão baixinho do filme "Shrek"). Marina Silva se apresentou como se fosse senhora absoluta da disputa eleitoral, como se já estivesse eleita por antecipação, como se fosse um dragão capaz de aniquilar seus adversários. Após receber algumas críticas contundentes, a candidata do PSB começou a se coçar, a mudar de cor e a perder a saúde exatamente como a Madame Mim durante a disputa com Merlin no filme "A Espada era a Lei".

Levi Fidelix parece até o Gato Felix, sempre querendo tirar um monotrilho de sua sacola. O pastor Everaldo não ficaria mal como o Bispo Cauchon no filme “A Paixão de Joana d'Arc” de Carl Theodor Dreyer. Se ele ficasse mudo talvez conseguisse convencer o respeitável público a queimar Dilma Rousseff. A candidata do PT é marruda, não foge da briga e resiste bem aos confrontos verbais. Dilma lembra a heroina do filme "Jogos Vorazes", um pouco mais velha, mais volumosa e certamente não tão bem vestida quanto Jennifer Lawrence.


FONTE da complementação: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/sobre-o-segundo-debate-entre-os-candidatos-presidencias).

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