'NÃO VI UM CARTAZ CONTRA A CORRUPÇÃO EM SÃO PAULO'
[OBS deste blog 'democracia&política':
Além de não ter visto esses cartazes, também não vi nenhum cartaz clamando por enquadrar o próprio crime de apropriação de dinheiro público (do Imposto de Renda, INSS, FGTS, ISS, ICMS etc) como "crime hediondo".
Considerando que o brasileiro em geral roubou no ano passado mais de R$ 400 bilhões dos cofres públicos via sonegação (dados do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional), quantia essa (de somente um ano!) 200 vezes maior que toda a corrupção na Petrobras calculada pela "Lava Jato" (somente neste início de ano, já sonegaram 50 vezes mais que todo o roubo na Petrobras), pode-se afirmar que, em termos de probabilidade, mais de 70% dos manifestantes da Av. Paulista e de outras cidades, que gritaram contra a corrupção (bandeira correta, desejada por todos) incorrem também no crime de roubo de dinheiro público. Espertamente, ninguém fez cartazes sobre isso, com o título "O brasileiro está farto de sua corrupção via sonegação !".
Vejamos o ótimo artigo seguinte, do professor Safatle:]
"O Professor de Filosofia da USP Vladimir Safatle ironiza manifestação de domingo: ‘Você diz que sua manifestação é apartidária e contra a corrupção. Daí os pedidos de impeachment contra Dilma. Fiquei procurando um cartazete sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, um "Fora, Alckmin", grande timoneiro de nosso "estresse hídrico", um "Fora, Eduardo Cunha" ou "Fora, Renan", pessoas da mais alta reputação. Nada’
Do "Brasil 247"
O professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, questionou a motivação da manifestação de domingo em São Paulo e ironizou seus participantes.
Em artigo, ele faz um paralelo com a "Marcha da família, com Deus, pela liberdade", de 1964, e questiona aqueles que dizem que a manifestação de 15 de março foi apartidária e contra a corrupção:
‘Mas em uma manifestação com tanta gente contra a corrupção, fiquei procurando um cartazete sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, com seus processos milionários correndo em tribunais europeus, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, do mensalão à Petrobras, um "Fora, Alckmin", grande timoneiro de nosso "estresse hídrico", um "Fora, Eduardo Cunha" ou "Fora, Renan", pessoas da mais alta reputação. Nada’, disse.
Impeachment é pouco
"Você na rua, de novo. Que interessante. Fazia tempo que não aparecia com toda a sua família. Se me lembro bem, a última vez foi em 1964, naquela "Marcha da família, com Deus, pela liberdade". É engraçado, mas não sabia que você tinha guardado até mesmo os cartazes daquela época: "Vai para Cuba", "Pela intervenção militar", "Pelo fim do comunismo". Acho que você deveria ao menos ter tentado modernizar um pouco e inventar algumas frases novas. Sei lá, algo do tipo: "Pela privatização do ar", "Menos leis trabalhistas para a empresa do meu pai".
Vi que seus amigos falaram que sua manifestação foi uma grande "festa da democracia", muito ordeira e sem polícia jogando bomba de gás lacrimogêneo. E eu que achava que festas da democracia normalmente não tinham cartazes pedindo golpe militar, ou seja, regimes que torturam, assassinam opositores, censuram e praticam terrorismo de Estado. Houve um tempo em que as pessoas acreditavam que lugar de gente que sai pedindo golpe militar não é na rua recebendo confete da imprensa, mas na cadeia por incitação ao crime. Mas é verdade que os tempos são outros.
Em artigo, ele faz um paralelo com a "Marcha da família, com Deus, pela liberdade", de 1964, e questiona aqueles que dizem que a manifestação de 15 de março foi apartidária e contra a corrupção:
‘Mas em uma manifestação com tanta gente contra a corrupção, fiquei procurando um cartazete sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, com seus processos milionários correndo em tribunais europeus, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, do mensalão à Petrobras, um "Fora, Alckmin", grande timoneiro de nosso "estresse hídrico", um "Fora, Eduardo Cunha" ou "Fora, Renan", pessoas da mais alta reputação. Nada’, disse.
Impeachment é pouco
"Você na rua, de novo. Que interessante. Fazia tempo que não aparecia com toda a sua família. Se me lembro bem, a última vez foi em 1964, naquela "Marcha da família, com Deus, pela liberdade". É engraçado, mas não sabia que você tinha guardado até mesmo os cartazes daquela época: "Vai para Cuba", "Pela intervenção militar", "Pelo fim do comunismo". Acho que você deveria ao menos ter tentado modernizar um pouco e inventar algumas frases novas. Sei lá, algo do tipo: "Pela privatização do ar", "Menos leis trabalhistas para a empresa do meu pai".
Vi que seus amigos falaram que sua manifestação foi uma grande "festa da democracia", muito ordeira e sem polícia jogando bomba de gás lacrimogêneo. E eu que achava que festas da democracia normalmente não tinham cartazes pedindo golpe militar, ou seja, regimes que torturam, assassinam opositores, censuram e praticam terrorismo de Estado. Houve um tempo em que as pessoas acreditavam que lugar de gente que sai pedindo golpe militar não é na rua recebendo confete da imprensa, mas na cadeia por incitação ao crime. Mas é verdade que os tempos são outros.
Por sinal, eu queria aproveitar e parabenizar o pessoal que cuida da sua assessoria de imprensa. Realmente, trabalho profissional. Nunca vi uma manifestação tão anunciada com antecedência, um acontecimento tão preparado. Uma verdadeira notícia antes do fato. Depois de todo esse trabalho, não tinha como dar errado.
Agora, se não se importar, tenho uma pequena sugestão. Você diz que sua manifestação é apartidária e contra a corrupção. Daí os pedidos de impeachment contra Dilma. Mas em uma manifestação com tanta gente contra a corrupção, fiquei procurando um cartazete sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, com seus processos milionários correndo em tribunais europeus, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, do mensalão à Petrobras, um "Fora, Alckmin", grande timoneiro de nosso "estresse hídrico", um "Fora, Eduardo Cunha" ou "Fora, Renan", pessoas da mais alta reputação. Nada.
Se você não colocar ao menos um cartaz, vai dar na cara de que seu "apartidarismo" é muito farsesco, que essa história de impeachment é o velho golpe de tirar o sujeito que está na frente para deixar os operadores que estão nos bastidores intactos fazendo os negócios de sempre. Impeachment é pouco, é cortina de fumaça para um país que precisa da refundação radical de sua República. Mas isso eu sei que você nunca quis. Vai que o povo resolve governar por conta própria."
FONTE: escrito por VLADIMIR SAFATLE, professor de Filosofia da USP. Publicado na "Folha de São Paulo e transcrito e comentado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/173486/'N%C3%A3o-vi-um-cartaz-contra-a-corrup%C3%A7%C3%A3o-em-S%C3%A3o-Paulo'.htm) e (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/212140-impeachment-e-pouco.shtml).
Agora, se não se importar, tenho uma pequena sugestão. Você diz que sua manifestação é apartidária e contra a corrupção. Daí os pedidos de impeachment contra Dilma. Mas em uma manifestação com tanta gente contra a corrupção, fiquei procurando um cartazete sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, com seus processos milionários correndo em tribunais europeus, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, do mensalão à Petrobras, um "Fora, Alckmin", grande timoneiro de nosso "estresse hídrico", um "Fora, Eduardo Cunha" ou "Fora, Renan", pessoas da mais alta reputação. Nada.
Se você não colocar ao menos um cartaz, vai dar na cara de que seu "apartidarismo" é muito farsesco, que essa história de impeachment é o velho golpe de tirar o sujeito que está na frente para deixar os operadores que estão nos bastidores intactos fazendo os negócios de sempre. Impeachment é pouco, é cortina de fumaça para um país que precisa da refundação radical de sua República. Mas isso eu sei que você nunca quis. Vai que o povo resolve governar por conta própria."
FONTE: escrito por VLADIMIR SAFATLE, professor de Filosofia da USP. Publicado na "Folha de São Paulo e transcrito e comentado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/173486/'N%C3%A3o-vi-um-cartaz-contra-a-corrup%C3%A7%C3%A3o-em-S%C3%A3o-Paulo'.htm) e (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/212140-impeachment-e-pouco.shtml).
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