quarta-feira, 31 de outubro de 2012

OPINIÃO PÚBLICA DERROTOU OPINIÃO PUBLICADA (OUTRA VEZ)





Por Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”

“Cada um irá ler e analisar o resultado da eleição com suas razões. Ou, com o fígado. Mais com o fígado do que com razões, muitos apostaram que Lula seria derrotado em São Paulo. Lula bancou sua maior aposta. E ganhou com Fernando Haddad na maior e mais poderosa cidade do Brasil.

Toneladas de papel, centenas de horas e horas nas rádios e TVs, bits e mais bits foram gastos para explicar como e porque Lula seria inexoravelmente derrotado. Se tivesse perdido, choveriam manchetes sobre a "estrondosa derrota", análises infindas brotariam com erros que teriam levado à "derrota monumental".

Já os números são inequívocos: o PT e o PSB saem da eleição com mais prefeituras e mais eleitores. Juntos, conquistaram 31% dos eleitores e 1.076 das prefeituras do Brasil. O PMDB, que encolheu, mesmo assim venceu em 1.026 cidades. Somente esses três partidos da base da presidente Dilma, PT, PMDB e PSB, governarão 2.102 das 5.556 cidades. E governarão 48% dos eleitores do Brasil.

Eduardo Campos (PSB) sai forte, fortíssimo das urnas. Pode seguir com mais espaço no governo Dilma e pode começar a ensaiar seu voo solo. Não faltará quem queira o governador de Pernambuco em duetos, tercetos…

Aécio Neves (PSDB), no primeiro turno, também venceu. É paradoxal, como costuma ser a política, mas Aécio ganha espaço com a derrota de José Serra. Não há quem não saiba que os dois tucanos não se bicam.

José Serra perdeu para um conjunto de fatores: fadiga de material, má avaliação do prefeito Kassab, erros na campanha… mas Serra perdeu também para si mesmo.

Serra perdeu porque costuma subestimar os demais. Porque imagina, quase sempre, que "o outro" é um inimigo, seja o "outro" quem for. E essa é uma equação que não fecha. Menos ainda na política, onde a conta sempre chega.

Lula, Dilma e o PT perderam batalhas. Em Salvador, Campinas, Fortaleza, Porto Alegre, Recife… e outros tantos cantos. Como também perderam Eduardo Campos e Aécio Neves. Mas, é fato, eles venceram suas batalhas simbólicas.

Kassab e seu PSD ganharam 497 prefeituras… mas perderam a poderosa São Paulo, um símbolo com 6% do eleitorado do país.

Perderam os que superestimaram e apostaram em efeitos imediatos do julgamento no Supremo Tribunal Federal.

O chamado "mensalão" é um conjunto de fatos objetivos. De fatos graves, ou gravíssimos.

Mas não funcionou magnificar o “mensalão” ainda mais. Não funcionou fazer de conta que o "mensalão" é caso único e isolado na vida político-partidária brasileira.

O Brasil tem hoje 80 milhões de usuários na internet e 50 milhões usam redes sociais no cotidiano. Portanto, milhões e milhões de pessoas ouvem falar de outros escândalos, alguns monumentais. Esses escândalos [dolosamente] não chegam às manchetes. Muitas vezes mal são noticiados, ou, nem são noticiados na chamada grande mídia. É como se tais escândalos não existissem.

Talvez por isso, mesmo com a gravidade do caso "mensalão", 20% dos eleitores do Brasil se abstiveram; em São Paulo, incluídos os nulos, o número bate nos 30%.

É muito, pode ser mesmo significativo de algo, mas quem é do ramo, como José Roberto de Toledo, de “O Estado de S.Paulo”, recomenda cautela: tais números precisam ser revistos à luz de uma atualização de cadastros; entre mortos etc., a conta pode não ser exatamente esta.

Mas, fato objetivo, o “mensalão” não deu a vitória para quem se valeu do julgamento como arma e discurso principal na campanha.

O porquê desse descompasso entre uma causa, “o mensalão”, e o que tantos buscaram, os efeitos imediatos, para esta eleição, é coisa para pesquisadores, sociólogos e demais "ólogos". Mas cabem alguns raciocínios mais simples.

Por exemplo: das 5.556 cidades do Brasil, 70% têm menos de 20 mil habitantes (com 17% do eleitorado). Seus moradores, portanto, conhecem, sabem “quem leva" e "quem não leva". E sabem que o "levar" é, infelizmente, multipartidário.

O mesmo sabem moradores de milhares de cidades com dimensões que ainda permitem saber quem é quem. Ou, “quem leva” e “quem não leva”. Talvez por isso o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo (PSD) – que não é um perigoso esquerdista – tenha feito uma importante, intrigante pergunta depois da eleição:

- “Os brasileiros estão afastados dos valores éticos, ou os eleitores se consideraram manipulados pelos mecanismos (os meios) de informação?

Diante do que se viu, se leu e se ouviu antes e durante as eleições, cabe uma constatação: em muitas porções do Brasil, e mais uma vez, a opinião pública derrotou a opinião publicada.”

FONTE: vídeo e texto de Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”  (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2012/10/30/outra-vez-a-opiniao-publica-derrotou-a-opiniao-publicada/).

A PIRACEMA PROGRESSISTA

Por Saul Leblon


“Vista a partir de retinas embaçadas de cansaço ou ideologia, a transformação social parece uma impossibilidade aprisionada em seus próprios termos: as coisas não mudam, se as coisas não mudarem; e se as coisas não mudarem, as coisas não mudam...

O sistema de produção baseado na mercadoria cria e apodrece previamente as pontes das quais depende a travessia para uma sociedade justa e virtuosa.

Rompe-se o lacre da fatalidade no pulo do gato das sinapses entre condições objetivas e subjetivas, diz a concepção materialista da história. Mas a dialética dura das transformações não é uma mecânica hidráulica. Não é maquinaria lubrificada, autopropelida a toque de botão.

A história é um labirinto de contradições, uma geringonça que emperra e se arrasta, desperdiça energia e cospe parafusos por onde passa. Para surgir um 'Lula' desse emaranhado tem que sacudir muito a estrutura. Greves, levantes, porradas, descaminhos etc. Dói. Demora. Décadas, às vezes séculos.

Uma liderança desse tipo - e aquelas ao seu redor; 'uma quadrilha', diz o vulgo conservador - constitui um patrimônio inestimável. Mesmo assim, é só o começo; fica longe do resolvido.

A 'pureza' política pretendida por alguns juízes do STF é pouco mais que uma bobagem de tanga disfarçada de toga diante do cipoal da história.

A cada avanço, não regredir já é um feito Quarenta milhões passaram a respirar ares de consumo e cidadania após 11 anos de governos progressistas no país. É uma espécie de pré-sal de possibilidades emancipadoras. Como evitar que essa riqueza venha a se perder nesse sorvedouro de futuro escavado por júniores&virgílios ?

Lula talvez tenha intuído o ponto de esgotamento do cardume ao final da piracema histórica impulsionada pelos grandes levantes operários do ABC paulista nos anos 70/80.

Ao final de uma piracema, a 'rodada' do conjunto exaurido leva uma parte à morte; outra se deixa arrastar por correntezas incontroláveis; um pedaço sucumbe a predadores ferozes.

Lula precisava de um novo e gigantesco laboratório forrado de desafios e recursos para gerar contracorrentes, revigorar, sacudir e renovar a piracema progressista brasileira.

São Paulo tem o tamanho da alavanca necessária para fazer tudo isso e irradiar impulsos talvez tão fortes quanto aqueles derivados das assembleias históricas que dirigiu no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.

Haddad, os intelectuais engajados, os movimentos sociais e as lideranças mais experientes do campo progressista terão que movê-la a partir de agora e pelos próximos quatro anos.

Está em jogo o próximo ciclo de mudanças da sociedade brasileira.

Colunistas sabichões dizem que 'se isolarmos São Paulo', Lula fracassou.

Eles não sabem do que estão falando; apenas ruminam líquidos biliares da derrota na forma de desculpas para a explícita opção pela água parada do elitismo.

Topam um Serra cercado de malafaias&telhadas. Mas abjuram a correnteza de um PT - 'sujo pela história', na sua ótica. Testam versões para abduzir a derrota esmagadora da água podre na figura do delfim decaído, José Serra, em São Paulo.

Na Folha de 3ª feira, as rugas das noites mal dormidas recebem o pancake daquilo que se anuncia como sendo "uma onda oposicionista que mudou a cara do poder no Brasil".

A manchete traz a marca do jornalismo conservador cada vez mais ancorado em 'pegadinhas' à altura dos petizes que brincam nesse tanquinho de areia tucano.

Desta vez, a “Folha” induz o leitor ao erro de considerar 'oposicionista' como de oposição ao governo federal e ao PT. Na verdade, o texto trata das reviravoltas em que prefeitos e seus candidatos foram batidos por adversários locais.

Mas a isenção se dispensa de fornecer ao leitor o conjunto abrangente que relativiza a parte privilegiada. Aos fatos então:

a) o PT foi o partido que fez o maior número de prefeitos (15) no segmento de cidades grandes, com 200 mil a um milhão de habitantes;
b) o PT vai governar 25% do eleitorado nesse segmento;
c) juntos, os partidos da base federal, PMDB, PSB e PDT, fizeram outros 20 prefeitos nessa categoria das grandes cidades;
d) vão governar 26% desse eleitorado;
e) no conjunto, a base federal terá sob administração mais da metade dos eleitores desses municípios.

Os colunistas da “Folha” exageram nas cambalhotas para induzir o leitor a 'enxergar' como foi horrível o desempenho do partido [PT], 'se excluirmos', dizem eles, a 'vitória isolada' em SP.

Em eleições anteriores, o esforço era para decepar o Nordeste 'atrasado' do mapa relevante da política nacional e, desse modo, rebaixar a crescente hegemonia do PT.

Agora que o PT refluiu de fato em capitais do Norte e Nordeste (saldo esse que inspira preocupação) é a vez de desdenhar da vitória na praça paulistana, que reúne 6% da demografia nacional e 11% do PIB.

A narrativa da vitória 'isolada', como se São Paulo fora um ponto fora da curva no deserto eleitoral petista, não é verdadeira sob quaisquer critérios.

Sozinho, o PT administrará o maior contingente de eleitores de todo o país (1/5 do total) e a maior fatia de orçamentos municipais (22%).

A vitória em SP tampouco foi um feito solitário no estado-sede do PSDB.

Bombam a derrota em Diadema, mas além da capital, o partido manteve e reforçou o chamado cinturão vermelho. Venceu em Guarulhos, Santo André, Mauá, Jundiaí, S.José dos Campos, Osasco e São Bernardo.

Nos próximos quatro anos, com uma eleição presidencial pelo meio, o PT governará 45% do eleitorado do Estado de SP, contra 19,3% do PSDB.

O cardume subsiste numeroso. O que se discute é outra coisa: a qualidade, a força e a direção do impulso que irá dotá-lo de fôlego transformador nos próximos anos. É disso que se trata. E isso é muito mais sério do que as cambalhotas da razão nos tanquinhos de areia do dispositivo midiático conservador.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1125).

PT AVANÇA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Por Rodrigo Vianna, no seu blog “Escrivinhador”

A PREOCUPAÇÃO DOS TUCANOS ESTÁ NA CARA... E NOS NÚMEROS

No momento em que Serra fazia o discurso “admitindo” a derrota eleitoral, domingo à noite, chamava atenção o olhar – entre atônito e preocupado – de muitos daqueles que o circundavam, ali incluídos o governador Alckmin e o senador Aloysio Nunes Ferreira. Os tucanos de São Paulo, de fato, têm motivos para preocupação. E isso não apenas pela derrota humilhante de Serra na capital – enfrentando um petista que jamais concorrera a um cargo eletivo.

Este “Escrevinhador” teve acesso ao documento interno do PT paulista, com a avaliação política e a “Análise Numérica das Eleições de 2012″ em todo o Estado de São Paulo. A primeira parte do documento, claro, está dominada pelo tom de otimismo – natural num partido que acaba de conquistar a maior cidade brasileira. Vale a pena prestar mais atenção na segunda parte do documento, com a análise numérica. Vejamos:

* o PT passará a administrar, em 2013, cidades com um total de 18,6 milhões de pessoas – ou 45,1% da população paulista; o segundo partido nesse quesito será o PSDB, com 19,1% da população total; o PMDB (que parece se consolidar como um aliado dos petistas) terá 8,2% e é o terceiro;

* essa vantagem ampla petista se explica, claro, pela vitória na capital (o que mostra a importância da estratégia adotada por Lula, centrando esforços na candidatura Haddad); mas, mesmo excluindo-se a capital, o PT seria o partido com maior número de eleitores sob sua administração (24,6% do total em São Paulo), contra 19,1% para os tucanos;

* o PT vai administrar 6 das 7 cidades com mais de 500 mil habitantes no Estado; nas cidades com menos de 200 mil habitantes, o PT passa a disputar o segundo lugar com o PMDB, e o PSDB é ainda o partido hegemônico;

* o PT foi também o partido com o maior número de votos para vereadores no Estado – 13,8% do total, com o PSDB em segundo (13,5%) e o PMDB em terceiro (7,6%).

Vale ressaltar que, além de ter vencido na capital, o PT manteve seu domínio na Grande São Paulo -conquistando os importantes municípios de Guarulhos (quarta administração consecutiva), São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco e Mauá. Estamos falando de cidades muito grandes, mais populosas do que várias capitais de Estado. O partido de Lula teve uma derrota inesperada em Diadema, para um jovem candidato do PV – aparentemente, sem grandes ligações com o tucanato.

O PT também avançou no Vale do Paraíba - terra natal do governador tucano. O Partido dos Trabalhadores vai governar nove municípios na região, com destaque para São José dos Campos, principal polo regional, e Jacareí onde os petistas conseguiram o quarto mandato sucessivo.

Na região de Campinas, vale destacar a vitória do PCdoB (em aliança com o PT) em Jundiaí e a boa performance de Marcio Pochman – que obteve quase 40% dos votos campineiros. Ali os tucanos tiveram que se “travestir” de “socialistas” para impedir a vitória petista.

Isso tudo mostra que o PT está forte como nunca para disputar o governo paulista em 2014. Mas a vitória só virá com amplas alianças ao centro. Os números mostram que a aproximação com o PMDB é fundamental: o PT é forte nas grandes cidades, relativamente forte nas cidades médias. Nos pequenos municípios, só o PMDB pode equilibrar o jogo com os tucanos em São Paulo.

Mais que isso: o PT já transformou o PMDB em aliado preferencial. Dos 645 municípios paulistas, o PT participou de 212 coligações vitoriosas. Desse total:

- o PT tinha o cabeça-de-chapa em 68;
- o PMDB tinha o cabeça-de-chapa em 31;
- o PTB tinha o cabeça-de-chapa em 18.

Em Bauru, por exemplo, o PT apoiou o PMDB – que venceu a eleição, impondo grave derrota aos tucanos.

Em 2014, o PT também deve buscar apoio do PSD de Kassab – inimigo de Alckmin. O apoio petista foi fundamental para a vitória do PSD em Ribeirão Preto – derrotando o ex-líder do PSDB na Câmara Federal.

Nas grandes cidades paulistas, Alckmin conseguiu vitórias importantes em Sorocaba, São Carlos, Taubaté, Franca, Santos, Piraciba e Campinas (nessa última, para vencer, deu apoio ao candidato do PSB). Mas os números são claros: o PSDB encolheu, e a crise na Segurança Pública também enfraquece a imagem do governador tucano.

O PT foi eleito em 2008 para governar 17,4% da população paulista e o PSDB 17,8%. Já a partir de 2013, o PT governará 45,2%, quase metade da população do estado e o PSDB, 19,4%”, diz Edinho Silva, presidente do PT paulista. Ele lembra que ”PSDB e DEM perderam juntos, entre 2008 e 2012, 61 prefeituras”.

FONTE: escrito por Rodrigo Vianna, no seu blog “Escrivinhador”  (http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/pt-avanca-no-estado-de-sao-paulo.html#more-16364).

NOS JORNAIS DO MUNDO, SÓ DÁ LULA E HADDAD

“Os jornais estrangeiros chamaram a atenção ontem para a vitória de Fernando Haddad na maior cidade do Brasil. Nas publicações do exterior, a volta do PT ao poder em um "tradicional reduto tucano" foi viabilizada pelo apoio do ex-presidente Lula.


O jornal espanhol "El País", diz que a derrota de José Serra significa que "as peças se moveram e começa agora um novo jogo político", com Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) como protagonistas.

Nos EUA, o "New York Times" e o "Washington Post" replicaram um boletim da agência Associated Press (AP). Segundo o texto da AP, "o candidato do PT Fernando Haddad venceu facilmente a disputa pela prefeitura da maior cidade da América Latina". O jornal lembra que Haddad entrou na disputa com índices baixíssimos nas pesquisas, mas "conseguiu o cargo à custa de forte campanha do popular ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff".

No "El País", o correspondente Juan Arias disse que, em São Paulo, apostou-se em um candidato que começou a eleição com apenas 3% das intenções de voto. O jornal considerou que foi vitoriosa a estratégia de Lula de apresentar o jovem Haddad como símbolo de renovação, diante de José Serra, "com 70 anos e no final de sua carreira política".

"Clarín" mostra derrota de Serra

Para o argentino "Clarín", o que sobressai no resultado em São Paulo não é a vitória de Haddad, e sim "a devastadora derrota de José Serra".

O francês "Le Monde" fez paralelo da eleição do Brasil com as eleições municipais no Chile, também realizadas no domingo. O jornal diz que os dois eventos confirmam crescimento de partidos de centro-esquerda nos dois países.

A agência de notícias francesa AFP afirmou que "vários analistas previam que Haddad seria derrotado por causa da repercussão do mensalão", mas que o mensalão "não fez barulho nas eleições".

A emissora britânica BBC também noticiou a vitória de Haddad, e lembrou que, "apesar de ser o centro econômico, São Paulo é uma megacidade que sofre com engarrafamentos crônicos, infraestrutura inadequada e falta de segurança".

FONTE: do blog “Os amigos do Presidente Lula”  (http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2012/10/nos-jornais-do-mundo-so-da-lula-e-haddad.html).

SETE SEGREDOS E UMA PERGUNTA QUE A GRANDE IMPRENSA ESCONDE

SETE SEGREDOS E UMA PERGUNTA QUE A GRANDE IMPRENSA E OS “GRANDES ESPECIALISTAS” ESCONDEM DE SI PRÓPRIOS E DOS SEUS LEITORES E OUVINTES


Por Armando Boito Jr.

“É possível colher informações úteis na grande imprensa e aproveitar ideias esclarecedoras que são apresentadas por alguns analistas. Mas, são exceções. Além de não praticarem o jornalismo objetivo e investigativo, no geral, a grande imprensa e os “grandes especialistas” fazem das tripas coração para ocultar do público fatos e ideias que não lhes convêm divulgar.

1. Numa conversa de “alto nível” nas emissoras de TV, ninguém quer ser um desmancha prazer. Afirmar que a eleição presidencial de 2014 está decidida seria o mesmo que falar um palavrão na frente da garotada. No entanto, é óbvio que a presidenta Dilma Roussef, que já era franca favorita, saiu da campanha eleitoral mais favorita ainda, posto que os três principais partidos da base governista – PT, PMDB e PSB – governam agora, nos municípios, 65 milhões de eleitores, contra minguados 25 milhões dos dois principais partidos de oposição (PSDB e DEM).

2. Silêncio! Falar ou escrever que a oposição se escondeu como um bichinho acuado seria o mesmo que soltar o diabo no meio da procissão. No entanto, é óbvio que a oposição não pôde se apresentar como tal. Nenhum candidato ou partido oposicionista (?) ousou falar contra o governo Dilma. Esconderam-se, ao contrário dos candidatos e partidos da situação que faziam questão de ostentar sua posição política pró-governo. Não queriam cair em desgraça. Falaram, quando muito, contra o partido da presidenta, agitando com o “Mensalão”, num tipo de discurso que explora o que há de mais atrasado na cultura política nacional que é a posição antipartido em geral. José Serra repetiu o tempo todo, como se fosse um achado literário, a vulgar expressão “a turma do PT” para se referir ao partido do governo. Ora, em 2014, será a própria chefia do executivo federal que estará em disputa. O que é que a oposição dirá ao eleitorado? Vai remendar a bandeira rota do “mensalão”? Vai se apresentar como continuadora do Governo Dilma? Nesse caso, apenas reforçarão a tendência da grande maioria do eleitorado em votar na reeleição da presidenta.

3. Falar que a agitação em torno do “Mensalão” e a exploração da homofobia evidenciam a inviabilidade eleitoral do programa político real da oposição, nem pensar! Seria atrapalhar a democracia que exige a “alternância no poder” – sempre que o poder não agrade à grande imprensa, claro. No entanto, se o PSDB confinou-se no discurso moralista contra a corrupção e na exploração do preconceito homofóbico é porque o seu programa real, que é um programa neoliberal ortodoxo, está em crise em toda América Latina e cada vez mais desmoralizado na Europa. Onde encontrar o programa real, e não o programa retórico, do PSDB?

Nas manifestações dos seus cardeais, deputados, economistas e intelectuais no dia-a-dia da luta política e, no mais das vezes, voltadas para um público restrito. Os tucanos vituperam contra a recuperação do salário mínimo – ameaçaria a previdência e a estabilidade da moeda, contra os programas de transferência de renda – o Bolsa Família não teria “porta de saída”…, contra as quotas sociais e raciais – ameaçariam o justo critério meritocrático e a unidade nacional…, contra o “protecionismo” para a produção industrial local – criaria cartórios…, contra a redução dos juros – esse desatino que nos afasta do famigerado centro da meta de inflação, a política de investimentos do BNDES etc. etc. Convenhamos que essas belas ideias, se reunidas num só pacote e apresentadas ao grande público, são a senha certa para o fiasco eleitoral. Melhor mesmo ficar na agitação "contra a corrupção" – dos outros partidos, é claro

4. E Aécio Neves, a estrela ascendente do estagnado PSDB? Pegaria mal chamar atenção para o fato de que as “suas grandes vitórias” nas eleições municipais consistiram em eleger candidatos a prefeito pertencentes a um partido da base governista – o PSB – e não candidatos oposicionistas do próprio PSDB? Aécio foi a Campinas fazer comício para o candidato vitorioso Jonas Donizette, mas a propaganda desse último fazia questão de ostentar sua condição de apoiador da presidenta Dilma e de manter distância do partido de Aécio. Donizete entoava nas rádios campineiras jingles enaltecendo o governo e a figura da presidenta Dilma, nada de elogio ao tucanato. Essa foi uma das “vitórias” que Aécio organizou para a “oposição”!

5. Falar que a maioria definiu o voto politicamente seria cometer o pecado mortal de valorizar a vitória dos candidatos odiados pela grande imprensa e pelos “grandes especialistas”. No entanto, se a população votou em nomes desconhecidos, como o de Fernando Haddad em São Paulo, não seria, justamente, porque usou, como critério para definir o voto, o campo político que esse nome, até então desconhecido, representava? Carisma de Lula? Mas, além de ninguém saber ao certo o que poderia significar “carisma”, a grande imprensa e os “grandes especialistas” sempre disseram que "carisma não se transfere"… E o “conceito” de “poste”? Vale lembrar que a expressão foi muito usada na época da ditadura militar para indicar o seguinte: a maioria sufraga os nomes, conhecidos ou não, que se declarem contra a ditadura, isto é, o voto em “poste”, como foi dito da candidatura senatorial vitoriosa de Orestes Quércia em 1974, era – corretamente – avaliado como um voto politizado, e não como voto personalista. Mudaram-se os tempos, mudaram-se os interesses, mudaram-se, sem pejo, os conceitos.

6. Seria falta de modos perguntar, numa mesa redonda de um canal qualquer de TV, quantas vezes a antiga UDN, à qual o PSDB se parece cada vez mais, derrotou o varguismo agitando a bandeira da "luta contra a corrupção"? José Serra, depois de obter 78% dos votos nos Jardins, o bairro onde reside a alta burguesia paulistana, e míseros 16% no proletário bairro de Parelheiros, terá, a exemplo do candidato presidencial udenista, o Brigadeiro Eduardo Gomes, a franqueza e a resignação para desdenhar os votos dos “marmiteiros”?

7. Nas mesas redondas, quadradas e retangulares montadas pelas emissoras de TV, não se diz nada que extrapole a alternativa PT/PSDB; mas, esperar uma discussão sobre a possibilidade de acumulação de forças de um programa político popular, alternativo ao programa do governo atual, seria iludir-se quanto à natureza de classe da grande imprensa e dos “grandes especialistas”.

8. Onde se pode ler, ver e ouvir mais bobagens, abobrinhas e ideias repletas de segundas intenções? Nos jornalismo político, no jornalismo econômico, no cultural ou na imprensa esportiva?”

FONTE: escrito por Armando Boito Júnior, professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp. Artigo transcrito no blog “Escrivinhador”  (http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/sete-segredos-e-uma-pergunta-que-a-grande-imprensa-esconde.html#more-16351). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

A GUERRA CIBERNÉTICA JÁ COMEÇOU

Por Luciana Bruno e Francisco Nixon Frota, no “Valor Econômico”


“Richard Clarke, consultor: “empresas brasileiras estão começando a investir agora para evitar esse tipo de risco, enquanto os EUA o fizeram há uma década

Um dos principais especialistas em segurança cibernética dos Estados Unidos, Richard Clarke, que trabalhou nos governos Bill Clinton e George W. Bush, disse ao jornal “Valor” que o mundo já vive o que se pode chamar de guerra cibernética, envolvendo tanto governos quanto empresas. O especialista veio ao Brasil para se reunir com empresários e autoridades, na semana passada, a convite da empresa brasileira “Módulo”, especializada em segurança cibernética.

Para as companhias, a maior ameaça é o roubo de informações sigilosas, por meio de espionagem industrial. Segundo Clarke, as ameaças vêm de gangues de “hackers” de países como Romênia, Bielorrússia, China e Rússia.

Clarke acusa as empresas chinesas de serem as que mais financiam essas organizações, com o objetivo de obter informações de concorrentes do mundo todo.

Para ele, mesmo as companhias brasileiras não estão imunes. "Tudo pode ser valioso, desde informações sobre fusões e aquisições, até número de clientes ou quanto uma empresa vai oferecer por uma área de exploração de óleo em outro país, por exemplo", disse o especialista. "Quanto mais desenvolvido o país, maior o risco." As empresas mais vulneráveis são bancos, companhias de petróleo e gás, além de indústrias farmacêuticas e químicas.

Já houve casos notórios de espionagem industrial via internet. Clarke acusa uma petroleira estatal chinesa de ter se valido de “hackers” para descobrir quanto as concorrentes ofereceriam por áreas de exploração de petróleo no Iraque. "Empresas chinesas contratam esses cartéis para ajudá-las. Em alguns casos, o próprio governo faz isso", disse Clarke, que foi chefe de cibersegurança no mandato de Bush, tendo abandonado o governo por não concordar com a invasão do Iraque em 2003.

Para o executivo, que hoje trabalha em uma consultoria de segurança, as empresas não estão gastando quanto poderiam para se proteger de ataques cibernéticos. "Mas não basta gastar dinheiro, é necessário ter uma estratégia, entender o risco e proteger o que importa", disse. "Os tempos em que dava para proteger toda a rede ficaram para trás", afirmou.

O Brasil é um dos países emergentes mais desenvolvidos tecnologicamente, segundo Sérgio Thompson Flores, presidente da “Módulo”. "Apesar de o Brasil usar muito TI, nossas empresas estão começando agora a investir em segurança cibernética, enquanto as empresas americanas o fizeram uma década atrás", afirmou Flores.

Além das questões envolvendo as empresas mundiais, Clarke vê a escalada de uma guerra cibernética envolvendo os Estados Unidos e Israel, de um lado, e o Irã de outro. Segundo ele, o governo americano já "promoveu sabotagem" contra as instalações nucleares iranianas. Ele se refere ao caso “Stuxnet”, vírus usado contra usinas nucleares de Natanz dois anos atrás. O governo americano não confirma nem nega ter sido o autor desse ataque.

"Os Estados Unidos e Israel estão planejando uma guerra camuflada contra o Irã, e o Irã está respondendo. Acho que isso pode fugir do controle", alertou.

Nas últimas semanas, grandes instituições financeiras dos Estados Unidos sofreram ataques de “hackers” que tiraram seus sites do ar. Para Clarke, tratou-se de uma retaliação iraniana. "Os ataques cibernéticos podem ser tão graves quanto ataques militares. É possível descarrilar trens, explodir tubulações de gás, sem estar no país, só usando um computador", afirmou.

Os críticos aos teóricos da segurança na internet alegam que existe certo exagero quando se fala em guerra cibernética, e que essas teses têm como único objetivo ampliar o controle da rede. Questionado sobre isso, Clarke se declarou defensor da liberdade na internet. "Mas não acho que exista liberdade sem segurança", afirmou. "Conheço 23 países que criaram centros militares de proteção cibernética. Só o centro americano tem cerca de 25 mil pessoas trabalhando. Os Estados Unidos gastam bilhões nesse setor todos os anos. Quem quiser acreditar que não é um grande problema, corra o risco", provocou.”

FONTE: escrito por Luciana Bruno e Francisco Nixon Frota, no “Valor Econômico”. Transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/guerra-cibernetica-ja-comecou-diz-especialista) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

COPÉRNICO TRAÍDO

O polonês Nicolau Copérnico (1473-1543)

Por Marcelo Gleiser

“Tendo dedicado seu grande tratado ao próprio papa, provavelmente não era a Igreja Católica que ele temia

Nos séculos 16 e 17, o que você pensava sobre o Cosmos podia lhe custar a vida; se não a vida, ao menos a liberdade e a integridade física. Imagine viver numa sociedade na qual o arranjo dos céus, por fazer parte da interpretação teológica da Bíblia, era determinado não pela ciência, mas pela fé. Essa era a época em que viveram Copérnico, Galileu e Johannes Kepler, os pioneiros da chamada Revolução Copernicana.

Copérnico trabalhava para a Igreja Católica na Polônia como uma espécie de administrador local. Mas, embora houvesse estudado medicina e jurisprudência, seu interesse real estava nos céus.

Em 1500, todos acreditavam que a Terra era o centro do Cosmo e que o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta. Em 1510, Copérnico escreveu um pequeno tratado propondo algo inteiramente diferente: o Sol era o centro e a Terra girava à sua volta, tal como todos os planetas.

Ele resolveu testar a recepção da ideia distribuindo o trabalho para alguns intelectuais e membros do clero. Ao contrário do que muitos pensam, a Igreja Católica não tinha ainda uma posição oficial contra o sistema heliocêntrico (o Sol no centro). Quem se manifestou contra Copérnico foi Martinho Lutero: "Há aí um astrônomo que diz que a Terra gira em torno dos céus. O tolo acha que vivemos num carrossel". Fora isso, nada de muito dramático ocorreu com Copérnico e seu tratado.

Apesar de sua fama crescente como excelente astrônomo, Copérnico só foi publicar sua grande obra, o resumo do trabalho de toda a sua vida, em 1543.

Nicolau Copérnico
Alguns afirmam que ele temia os outros astrônomos, pois sabia que seus dados não eram dos melhores: construiu seu sistema usando medidas astronômicas tiradas por Ptolomeu em 150 d.C. e por astrônomos árabes durante a Idade Média - Copérnico era mais um arquiteto do que um observador.

Talvez se preocupasse também com os luteranos, que avançavam em seu domínio na Europa Central. Mas quando, devido à insistência de seu único pupilo, Rheticus, ele termina o tratado, Copérnico o dedica ao papa! Certamente não era a Igreja que ele temia.

Na época, publicar um livro significava passar um tempo junto com o editor, acertando todos os detalhes. Como era já bem velho, Copérnico manda Rheticus para Nuremberg de modo a tomar conta disso.

Só que o rapaz era homossexual e acabou sendo expulso da cidade. Na pressa, deixou o manuscrito aos cuidados de Andreas Osiander, um teólogo luterano conservador.

Péssima escolha. Osiander, representando o pensamento de sua igreja, acrescenta um prefácio anônimo ao livro, dizendo que o sistema ali proposto era apenas um modelo matemático que ajudava no cálculo das posições planetárias, nada dizendo sobre o real arranjo dos céus, que permanecia geocêntrico.

Nesse meio tempo, Copérnico sofre um derrame e só recebe as provas do livro na cama. Segundo os relatos, ao ler o prefácio, compreendendo a dimensão da traição de Osiander, Copérnico morre no mesmo dia. Apenas em 1609 é que Kepler desmascara a traição, argumentando que Copérnico jamais teria escrito tal coisa. Copérnico morreu traído, mas é imortalmente celebrado como um dos heróis da história do pensamento.”

FONTE: escrito por Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Artigo publicada na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/74524-copernico-traido.shtml). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O QUE FAZER COM A VITÓRIA EM SP?

Foto: Marcelo Camargo/ABr

Por Saul Leblon

“Nem o gigantismo da cidade, nem o valor do 3º orçamento do país, depois do brasileiro e o do Estado de SP - ainda que isso tenha um peso objetivo óbvio - elucidam porque o pleito de São Paulo se transformou no principal foco de atenção da mídia e do interesse nacional.

O que distinguia o embate aqui como a disputa-chave da política brasileira em 2012 era o confronto direto entre duas concepções de país, duas visões de democracia e duas propostas de desenvolvimento.

Pode-se dizer, em adendo, que um julgamento de recorte nitidamente conservador desse antagonismo --quase um horário eleitoral paralelo-- está sendo levado a cabo no STF há mais de 70 dias.

No das urnas, venceu a agenda personificada por Fernando Haddad, com a desassombrada estratégia política de Lula.

O que foi derrotado não é pouco.

em 2002, ao perceber como inexorável a vitória do PT, o tucano José Serra fez uma opção endossada pelos barões da mídia, embarcados no mesmo destino. O tucano queria reunir uma bolsa de, pelo menos, 35 milhões de votos no segundo turno para se tornar o líder do antipetismo no país.

Consolidar-se como a nova garganta conservadora, na linhagem de um Carlos Lacerda&assemelhados, implicava eliminar concorrentes dentro e fora do PSDB; catalisar com a facilidade previsível um leque de interesses do mercado e, sobretudo, coordenar a crosta de jornalistas e editores alinhados ao objetivo de impedir que Lula e o PT consolidassem uma nova hegemonia progressista na sociedade brasileira.

Serra teve pouco mais que 33 milhões de votos em 2002, contra quase 53 milhões de Lula, o segundo presidente mais votado do mundo, depois de Reagan.

Sofreria um segundo revés para a estreante Dilma Rousseff, em 2010, que trincou compartimentos do amplo comboio conservador que comandava. Pode-se perguntar, com razão, o que seria o futuro de Serra se não dispusesse da ancora midiática que o sustentou até agora.

Em que pesem os descarrilamentos e colisões, o tucano manteve intacto esse vagão cargueiro estratégico, de olho numa aposta ainda mais ousada.

No curral de escribas e editores aliados, estava a arma decisiva para o tudo ou nada que se urdia mais adiante: fazer do julgamento do chamado ' mensalão' a mãe de todas as eleições; uma espécie de terceiro turno reordenador capaz de condicionar o futuro e reescrever o passado, na determinação de desmoralizar o PT, destruir uma geração de lideranças, inviabilizar Lula e fragilizar Dilma até o limite do constrangimento. Quem sabe, viabilizar, assim, a nova tentativa do tucano de chegar à Presidência, em 2014.

Serra vislumbrou, na desfrutável interseção entre a eleição municipal e o julgamento da Ação 470, o palanque ideal para emergir como a garganta de ouro dessa desforra antipetista, modulada pelo jogral das togas no STF.

A derrota em SP acontece quando o conservadorismo e o seu curral midiático manejavam o que parecia ser a tempestade perfeita contra a esquerda.

Essa é a natureza do desastre de proporções ferroviárias que Serra e companhia acabam de colher na capital logística, política, financeira e ideológica das forças que o apoiam.

O PT não pode tratar essa vitória com acanhamento.

Ela é mais profunda até do que sugerem os ingredientes visíveis na superfície das urnas.

O moralismo oportunista de Serra, sua mutação de quadro "desenvolvimentista" ("de boca", diz Conceição Tavares) para um aliciador de malafaias, telhadas&higienistas sociais não acontece por acaso.

Trata-se da exteriorização predatória de um colapso subjacente à campanha na qual muitos viam uma mutação do eleitor em consumidor.

Errado.

A degradação ética e política de Serra reflete, além do caráter, o esgotamento do projeto neoliberal abraçado pela coalizão conservadora no Brasil.

Quem se propunha a resolver os desafios da economia e da sociedade com a desregulação radical dos mercados, associada a um choque de ‘laissez-faire’ sobre os diretos sociais, perdeu o chão a partir da crise de 2008, a maior do capitalismo desde 29.

Sobrou às gargantas conservadoras contrapor à desordem neoliberal a ordem e o progresso dos savonarolas & malafaias que não alteram a essência da mecânica conflagrada.

Recolocar as forças da economia a favor da sociedade, a favor da cidade e da cidadania implica, em primeiro lugar, politizar uma crise capturada pelo hermetismo das mesmas propostas e protagonistas que a originaram.

Essa é a contrapartida imediata que a cidade de São Paulo espera do PT. Em primeiro lugar, estabelecer laços de participação e discernimento que permitam à população entender a raiz de seus problemas. No limite, decidir em escrutínios plebiscitários o rumo a tomar.

A desordem quase ruinosa do ambiente urbano paulistano guarda vínculos com a desordem decorrente do naufrágio da exacerbação mercadista que jogou o mundo na crise atual.

Estamos falando de um tecido urbano conflagrado por cisões, desigualdade, terceirizações suspeitas, recuo criminoso do Estado, abandono do espaço público, privilégio, precariedade, desperdício de um lado e desencanto de outro.

Não há panaceia técnica, tampouco orçamento suficiente para colar, a curto prazo, esse vaso de cristal trincado em milhares de pedaços.

Ou se politiza as diretrizes a seguir, com a participação da sociedade, ou será a rendição aos ditames dos donos da metrópole.

O PT cometeu um erro em 2003, quando despolitizou em parte e negligenciou em grande medida o debate desassombrado dos desafios herdados do tucanato.

Não pode repetir esse passo agora, assentado nas lições de mais de dez anos no plano federal, ademais de duas gestões em SP.

Fernando Haddad dispõe de saldo de experiências administrativas de esquerda para que se possa partir aqui de um nível superior de interlocução com a cidadania.

Mais que isso, ao contrário das administrações petistas anteriores na cidade, não assume constrangido pelo cerco federal; tampouco tem na Presidência da República uma corrente de transmissão da crise internacional para dentro do país.

Quando assumiu o governo em 2003, o PT, ao contrário, recebeu como herança um fracasso em espiral ascendente. O “risco-Brasil” estava nas alturas; o dólar perto de R$ 4 reais e a inflação projetada para 12 meses perseguia a fronteira dos 30%.

A urgência da estabilização relegou a reforma política para um segundo momento.

Acuado pelo cerco conservador e perplexo com as mazelas herdadas, o partido, durante os primeiros anos de governo, sequer discutiu a necessidade de uma mídia independente que facilitasse o diálogo honesto entre as opções limitadas do país e as urgências da sociedade.

Rendeu-se, assim, à mediação feita pelo dispositivo conservador, que seccionava seu diálogo com a população e pautava diariamente a agenda do governo, ao sabor de interesses que não eram os do país, nem do seu povo.

Em uma palavra, tornou-se quase refém da lógica que havia derrotado no voto.

Uma relação de forças distorcida pela exacerbação midiática, incapaz de dar suporte democrático às mudanças requeridas pela sociedade, manteve-se, desse modo, como o fiel da balança dos compromissos e programas sancionados pelas urnas.

O antagonismo entre as duas lógicas acentuou-se na permanente negociação da governabilidade que seguiu o padrão histórico: coalizão com divisão de cargos, dentro de um sistema político que irradia suas distorções para as políticas públicas.

A construção das coalizões políticas é indispensável nas democracias representativas. O PT não errou ao ampliá-las. Mas urdi-las sem o debate simultâneo com a sociedade pode amesquinhar o próprio mandato e a força intrínseca que as urnas conferem ao governante.

É querer infantilizar a sociedade brasileira reduzir esse impasse --e seus desdobramentos-- a um enredo de bandidos e mocinhos; de puros contra pecadores, como pretende certa narrativa preconceituosa e despolitizante que se esponja no teatro das togas da Ação Penal 470.

Por isso tudo, o primeiro passo em São Paulo é arejar o poder da cidade sobre ela mesma; abrir as portas da prefeitura, criar outras novas, eliminar trancas e truques contrários aos interesses da população, sobretudo a mais pobre, e trazer a cidadania para a discussão serena e responsável da equação que interliga urgências, recursos e solidariedade.

No auge da crise de 2005, quando a oposição ensaiou um movimento de “impeachment” contra o Presidente Lula, o escritor Fernando Veríssimo lembrou em uma crônica, o militante anônimo do PT, "....aquele sujeito agitando a bandeira vermelha, sozinho na esquina, porque acreditava, porque confiava'.

A melhor forma de São Paulo trazer de volta esse espírito tão precioso de desprendimento engajado é chamar a população a assumir as rédeas do seu destino. Abrindo discussão imediatamente sobre o futuro da cidade com a cidadania. A ver.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1123).

18 min: IRINEU, MANDA O KAMEL EMBORA !

Ataulfo Merval e Ali Kamel "Nós não somos racistas": o soft- power já teve mais poder

Do portal “Conversa Afiada”

“Todo o ‘soft-power’ da ‘Globo’ foi dedicado à Obra Magna do Governo Ayres Britto. E o Kamel jogou tudo no lixo !

Quanto valem, amigo navegante, 18 minutos no ‘jornal nacional’ ?

Uma fábula, não é isso ?

E a desmoralização ?

Fazer uma “publi-reportagem“ de 18 minutos e não dar em nada ?

Desperdício e desmoralização – foi o que o Ali Kamel conseguiu com os históricos 18 minutos do jornal nacional sobre a Obra Magna do Governo Ayres Britto.

Deu errado.

Primeiro, que o Edu [Eduardo Guimarães, da ONG “Movimento dos Sem Mídia”] foi à PGR para obrigar a Globo a explicar como se utiliza de um bem público – o espectro eletromagnético- para fazer propaganda eleitoral.

Depois, foi uma malversação de recursos intelectuais e profissionais.

Todo jornalismo da Globo passou meses a trabalhar no cronograma do trabalho no STF.

Com a precisão com que o “Master” central entra e sai de “breaks” nacionais para regionais.

E o STF, pronto, a tempo e hora.

Todo o “soft Power” global conseguiu que Peluso votasse e Zavascki não votasse.

Deu tudo certo.

Até o Senado ajudou.

Nesse ponto, então, a contribuição do "Ataulfo Merval de Paiva" foi decisiva.

Quantos milhões de dólares não gastou a “GloboNews” com a cobertura 24 horas por dia, todo dia de julgamento ?

E tudo isso para o Ali Kamel jogar no lixo.

Em 1989, o “jn” ajudou a eleger o Collor contra o Lula, numa “edição” do debate e notável editorial de "Alexandre Maluf Garcia".

Em 2006, o mesmo Kamel levou a eleição do Lula para o segundo turno, mesmo que tenha sido necessário ignorar o desastre do avião da Gol.

Agora, a Globo impediu que as pesquisas com Haddad na liderança chegassem ao ‘jornal nacional’.

A Globo fez tudo certo.

E o Haddad, que não é poste, ganhou com a mesma confortável diferença com que a Dilma derrotou o “Cerra”.

O que deu errado, Roberto Irineu ?

O Kamel.

Ele “perdeu a mão”.

Ou o problema é mais em cima.

Na própria Globo.

Que usa o espectro eletromagnético como quer.

Impune.

Por enquanto.

Porque o pobre não é bobo.”

FONTE: do portal “Conversa Afiada” do jornalista Paulo Henrique Amorim  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/10/28/18-irineu-manda-o-kamel-embora/). [Pequenas modificações e aspas introduzidas por este blog 'democracia&política'].                            

A RETÓRICA DO ÓDIO NA MÍDIA

Do “Brasil de Fato”

“A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que, nas palavras de um dos colunistas da “Veja”, “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da “elite sudestina” ao Palácio do Planalto

Por Jaime Amparo Alves

Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio - São Paulo. Com seus “gatekeepers” escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí, nada novo.

Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da “síndrome de Estocolmo” (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerecência moral, com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela "intelligentsia nacional" que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na “Veja” sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que, a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Cantanhêde, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia jornalística não apenas como exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus “gatekeepers” estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo! A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja“se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite ‘sudestina’ ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações “Globo” e “Abril” via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.

Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor "para agilizar o trabalho da imprensa" (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições européias, e avisei-lhes que, por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter outra conotação. O Brasil, finalmente, recebeu status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma America Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia. Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mprensa?”

FONTE: escrito por Jaime Amparo Alves, jornalista, doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin. Publicado no “Brasil de Fato” e transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/jaime-amparo-alves-a-retorica-do-odio-na-midia). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

UM BALANÇO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Por Emir Sader


“As eleições municipais foram sobredeterminadas pelas eleições de São Paulo. Em primeiro lugar, porque é o centro dos dois partidos mais importantes do Brasil nas últimas duas décadas. Em segundo, pelo peso que a cidade tem no conjunto do país – pelo seu peso econômico, por ser sede de dois dos três maiores jornais da velha mídia. Esse caráter emblemático foi reforçado porque o candidato opositor ao governo federal foi o mesmo candidato à presidência derrotado há dois anos, enquanto o candidato do bloco do governo federal foi indicado pelo Lula, que se empenhou prioritariamente na sua eleição. E pelo fato de que São Paulo era o epicentro do bloco da direita, que se estendia ao Paraná, Santa Catarina e aos estados do roteiro da soja, no centro oeste do Brasil

As eleições municipais tiveram claros vencedores e derrotados. O maior vencedor foi o governo federal, que ampliou o número de prefeituras conquistadas pelos partidos que o apoiam, mas, principalmente, conquistou cidades importantes como São Paulo e Curitiba, arrebatadas ao eixo central da oposição. Ao mesmo tempo que a oposição seguiu sua tendência a se enfraquecer a cada eleição, ao longo de toda a ultima década, perdendo, desta vez, especialmente, a capital paulista, mas também a paranaense e em toda a região Sul, Sudeste e Centro Oeste, em que os tucanos não conseguiram eleger nenhum prefeito nas capitais.

No plano nacional, avança claramente a base aliada, com dois dos seus partidos fortalecendo-se: PT e PSB e enfraquecendo-se relativamente o PMDB. Houve certa fragmentação no interior da base aliada e mesmo no bloco opositor, mas nada que mude a tendência, que se consolida ao longo da década, da hegemonia do bloco governamental, apontando a que, nas eleições de 2014, Dilma apareça como a franca favorita,

A eleição de São Paulo se dá na contramão da tendência que se havia consolidado nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, em que o Nordeste, de bastião da direita, se havia tornado bastião da esquerda, pelo voto popular dos maiores beneficiários das políticas sociais que caracterizam o governo federal desde 2003. Por outro lado, se havia deslocado o bastião da direita para os estados mais ricos do sul, do sudeste e do centro-oeste, com São Paulo – onde os tucanos tinham a prefeitura e o governo do Estado – como eixo fundamental desse bloco opositor.

A derrota em São Paulo, a nova derrota do seu ex-candidato duas vezes à presidência e a incapacidade de eleger sequer um prefeito em toda essa região, demonstra como a direita se enfraquece também onde concentrava seu maior apoio.

Por outro lado, somando erros do PT e campanhas com forte apoio de governos estaduais que detêm, aliados do governo derrotaram o PT em várias cidades importantes entre elas Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, como as mais significativas. Somente em um caso – Salvador – essa derrota se deu para a direita. Revela erros – em alguns casos gravíssimos do PT, como Salvador e Recife – do PT e limitações da ação de Lula e de Dilma para compensar esses erros. Um grande chamado de atenção sobre fraquezas do PT, sem que afete em nada a projeção eleitoral presidencial para 2014.

A derrota em São Paulo é um golpe duro para os tucanos, que sempre contavam com um caudal grande de votos paulistas para ter chances de compensar os votos do nordeste dos candidatos do PT e agora se veem enfraquecidos em toda a região onde antes triunfavam. Eventuais candidatos presidenciais como Aécio – quase obrigado a se candidatar, embora com chances muito pequenas de protagonismo importante, quanto mais ainda de vencer – ou Eduardo Campos – sem possibilidades de se projetar como líder nacional foram dos marcos do bloco do governo, que já tem Dilma como candidata para 2014 -, são objeto de especulações jornalísticas, à falta de outro tema, mas tem reduzidas possibilidades eleitorais.

O julgamento do processo no STF contra o PT foi um dos temas centrais de Serra e revelou sua escassa influência eleitoral diante da imensidade dos problemas das cidades brasileiras e do interesse restrito da população, apesar da velha mídia tentar fazer dele o tema central do Brasil. Nas urnas, o povo demonstrou que sua transcendência é muito restrita a setores opositores e à opinião publica fabricada pelos setores monopolistas da velha mídia. Os implicados no julgamento são, basicamente, dirigentes paulistas do PT, mas a eleição em São Paulo demonstrou como o julgamento e a influência da velha mídia continuam a ser decrescentes.

Outros temas podem ser analisados a partir do resultado eleitoral, mas eles não alteram em nada fundamental o transcurso da política brasileira, que segue centrada em torno da resistência do governo aos efeitos recessivos da crise capitalista internacional, para elevar os índices de crescimento da economia e seguir expandindo as políticas sociais.”

FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1124).

Jornal argentino: “LULA, O CONSTRUTOR DE VITÓRIAS”

Artigo de Darío Pignotti, do jornal "Página/12" (Argentina)


“Nas eleições municipais de São Paulo vencidas domingo pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ser o único presidente latino-americano que mantém intacta sua influência e capacidade de conduzir as linhas de um projeto de poder de longo prazo. Basta fazer comparação rápida pelo continente para demonstrar a tese. Se a eleição de Dilma Rousseff, há dois anos, se deveu em grande parte ao ex-mandatário, a de Haddad foi uma obra que ele projetou e montou peça por peça desde o início, sob o olhar incrédulo da maioria, inclusive dentro do PT.

Há três meses, o presidente mexicano Felipe Calderón Hinojosa fracassou em sua tentativa de fazer com que sua agrupação, o direitista “Partido Ação Nacional”, continuasse no poder no próximo mandato. Na Colômbia, o ex-presidente Álvaro Uribe viu seu projeto de poder belicista ser arquivado por seu sucessor, Juan Manuel Santos, um direitista envolvido hoje no diálogo de paz com a guerrilha das FARC.

A eleição de Fernando Haddad foi, sem dúvida, um triunfo da perspicácia política do ex-mandatário.

Comunicando-se por momentos com sinais devido a um tumor na laringe, Lula convenceu a cúpula do PT, há um ano, para que o até então pouco conhecido Fernando Haddad, fosse o candidato à prefeitura de São Paulo. Estava só. Os médicos tinham diagnosticado seu câncer no dia 28 de outubro de 2011. No dia 30, começou as sessões de quimioterapia e, na mesma semana, chamou seus companheiros para conversar sobre a ideia que vários viam como um capricho: a postulação desse graduado em Direito, Economia e Filosofia, autor de uma tese de doutorado sobre novas leituras de Marx, que nunca havia disputado um cargo majoritário. Finalmente, a direção petista acatou a candidatura do afilhado político de Lula em novembro do ano passado e a oposição ligada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líder do Partido da Socialdemocracia Brasileira (PSDB) comemorou antecipadamente o que imaginou seria uma derrota humilhante do PT nas eleições nessa cidade-estado de 11 milhões de habitantes que é São Paulo.

Dono de sensibilidade política impar, Lula se envolveu não só na defesa desse professor de 49 anos, que foi eleito domingo com mais de 56% dos votos, mas na nacionalização da eleição. Era, praticamente, o único petista convencido que seu partido era capaz de vencer em São Paulo e desferir, assim, golpe no fígado da direita que havia feito da maior metrópole sul-americana uma trincheira ao projeto iniciado em 2003 com a chegada do maior partido da esquerda latino-americana ao Palácio do Planalto.

Essa obstinação colocou Lula a beira do ridículo midiático.

Desde o interior da empresa de entretenimento, notícias e desinformação “Globo”, o partido de fato, cujo norte político tem sido atacar o governo petista da maneira que puder, surgiu a interpretação disseminada com força viral nos círculos políticos, de que o ex-torneiro mecânico estava debilitado por sua enfermidade e isso tinha feito com que ele perdesse o sentido da realidade ao pretender que o “poste” Haddad se tornasse um candidato viável.

A Globo baseava sua argumentação em dado correto, o de que o postulante à prefeitura era um nada eleitoralmente, já que, há 90 dias, somente 3% dos paulistanos sabia de sua existência.

Ao longo da campanha, a “Globo” tratou Haddad com o mesmo script adotado em 2010 quando sua linha editorial foi mostrar a então candidata presidencial Dilma Rousseff como uma “ex-terrorista” sem luzes, tese urdida por Fernando Henrique Cardoso que a tratou como uma “marionete de Lula”. Cardoso e a Globo erraram o diagnóstico: Dilma demonstrou ter identidade própria e venceu as eleições presidenciais com 56 milhões de votos, derrotando Serra, do PSDB, o mesmo candidato que domingo foi derrotado por Fernando Haddad em São Paulo.

Se a eleição de Dilma Rousseff, há dois anos, se deveu em grande parte ao ex-mandatário, a de Haddad foi uma obra que ele projetou e montou peça por peça desde o início, sem contar com a visibilidade que lhe dava o exercício da presidência.

Lula é um construtor obcecado e é o verdadeiro vencedor da eleição de domingo, a qual chegou a definir como uma “guerra” diante do bloco conservador que havia tomado como bandeira de campanha o escândalo de corrupção conhecido como “mensalão”, ocorrido durante seu governo entre 2003 e 2005.

A quimioterapia afetou o timbre de sua voz, mas isso não o impediu de participar como um militante de base em dezenas de atos em favor de Haddad e de dezenas de candidatos a prefeituras em todo o país antes do primeiro turno de 7 de outubro. Após breve recesso em 17 de outubro, quando viajou a Buenos Aires para reunir-se com a presidenta Cristina Fernández de Kirchner, no dia 19 Lula já estava animando outro comício em São Paulo na reta final do segundo turno realizado no domingo.

A vigência política de Lula logo depois de deixar o governo é outro dado pouco usual na América Latina: nas recentes eleições presidenciais do México, o presidente Felipe Calderón foi derrotado pela oposição. Algo similar ocorre na Colômbia, onde o ex-presidente Álvaro Uribe viu seu projeto de guerra ser deixado de lado por seu sucessor Juan Manuel Santos em troca dos incipientes diálogos de paz com as FARC.

Quero agradecer, do fundo do meu coração, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sou grato ao presidente Lula pela confiança e o apoio sem os quais teria sido impossível vencer essa eleição”, disse Haddad diante de seus correligionários que se preparavam para os festejos na Avenida Paulista.

Haddad também agradeceu à presidenta Dilma que, na sexta-feira, havia participado de uma festa privada por ocasião do aniversário de Lula que, no sábado, completou 67 anos.

O triunfo em São Paulo e o bom desempenho do partido governante nos 5.568 municípios que realizaram eleições em 7 de outubro, dos quais 50 tiveram segundo turno domingo, também foi uma vitória para Dilma, de 64 anos, ao cumprir a primeira metade de seu governo.

Haddad conquistou a confiança de Lula graças à sua gestão como ministro da Educação entre 2005 e 2012, quando implementou um programa de bolsas para estudantes pobres, o PROUNI, que permitiu que cerca de um milhão de jovens chegassem à universidade. Agora, deverá demonstrar que é competente para governar São Paulo e, se o fizer, confirmará seu nome como referência da nova geração petista, essa que, Lula imagina, poderá governar o país na próxima década. Essa é a aposta de longo prazo do fundador do PT.”

FONTE: artigo de Darío Pignotti, no jornal “Página/12” (Argentina).Transcrito no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21166).

O PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E AO EMPREGO, o PRONATEC

MATRICULADOS NO ENSINO TÉCNICO CHEGAM A 720 MIL E NÚMERO DEVE SUBIR, afirma presidenta Dilma


“A presidenta Dilma Rousseff afirmou segunda-feira (29), no programa de rádio ‘Café com a Presidenta’, que o “Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego”, o PRONATEC, já ofertou vagas em cursos técnicos para 720 mil alunos desde seu lançamento, há um ano. Segundo ela, o governo quer ampliar esse número ainda mais.

Com o PRONATEC, nós queremos que o país, cada vez mais, tenha uma geração de jovens com formação técnica de qualidade, capazes de melhorar os nossos produtos e serviços e contribuir para ampliar a competitividade da nossa economia”, disse.

Dilma destacou que o programa fortalece o Ensino Médio e oferece à economia mão de obra de mais qualidade, porque as disciplinas do curso técnico são integradas às oferecidas durante o ensino regular. Para ampliar a oferta dos cursos, o governo está expandindo a “Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica”, segundo Dilma. Até 2014, terão sido construídas 132 novas escolas federais.

O PRONATEC está formando os técnicos para trabalhar nas mais diversas áreas, como, por exemplo, mecânica, eletrotécnica, informática, automação industrial, turismo, saúde, petróleo e gás, e dezenas de outras disciplinas que vão ajudar o Brasil a se desenvolver e ter economia cada vez mais moderna e competitiva”, disse.

Além dos jovens, o PRONATEC também tem foco na qualificação profissional dos trabalhadores. De acordo com a presidenta, 700 mil trabalhadores se matricularam nos cursos para aprimorar seus conhecimentos ou aprender uma nova profissão.

Todo o nosso esforço é para qualificar os nossos jovens e nossos trabalhadores em todo o país e aumentar a competitividade das nossas empresas, o que ajuda a melhorar os salários dos trabalhadores e a fazer a renda das famílias crescer ainda mais”, afirmou.”

FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/matriculados-no-ensino-tecnico-chegam-a-720-mil-e-numero-deve-subir-afirma-presidenta-dilma/#more-51989).

COMPLEMENTAÇÃO:

PRONATEC VAI OFERECER 8 MILHÕES DE VAGAS EM CURSOS TÉCNICOS E PROFISSIONALIZANTES ATÉ 2014, afirma Dilma

“A presidenta Dilma Rousseff disse em 7 out, na coluna ‘Conversa com a Presidenta’, que o ‘Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego’ (PRONATEC) vai oferecer oito milhões de vagas gratuitas em cursos técnicos e profissionalizantes até 2014. Ao responder pergunta de Francisco Chagas, 47 anos, comerciante da Estrutural (DF), Dilma também disse que o ‘PRONATEC Copa’ oferecerá 240 mil vagas para capacitar trabalhadores para o Mundial de 2014.

O PRONATEC foi criado para ampliar a oferta de cursos técnicos e profissionalizantes. São 8 milhões de vagas até 2014, gratuitas, em cursos de mais de 400 áreas do conhecimento. Esses cursos são oferecidos, principalmente, nas 403 unidades das escolas técnicas federais, nas escolas do “Sistema S” e nas escolas técnicas estaduais. Criamos também o “PRONATEC Copa”, pensando no crescimento do turismo, com 240 mil vagas gratuitas em 29 opções de cursos até 2014, além de 32 mil vagas para o aprendizado de inglês, espanhol e libras”, disse.

Na coluna, a presidenta Dilma explicou aos interessados nas vagas oferecidas pelo PRONATEC quais órgãos devem ser procurados para obter informações sobre os cursos.

Os interessados nos cursos técnicos do PRONATEC devem procurar a secretaria de educação do seu estado. Para curso de qualificação profissional, o trabalhador deve procurar o posto do SINE, o Sistema Nacional de Emprego, ou usar o site http://maisemprego.mte.gov.br/portal. Mais informações sobre o PRONATEC Copa estão em http://www.pronateccopa.turismo.gov.br. Em Brasília, o Instituto Federal de Brasília – IFB (http://www.ifb.edu.br) oferece cursos técnicos e de qualificação profissional do PRONATEC em 10 campus”, afirmou.”

FONTE (da complementação): Blog do Planalto  (http://blog.planalto.gov.br/pronatec-vai-oferecer-8-milhoes-de-vagas-em-cursos-tecnicos-e-profissionalizantes-ate-2014-afirma-dilma/).

OUTRAS ELEIÇÕES...

“NÃO FOI APENAS NO BRASIL QUE ACONTECERAM ELEIÇÕES NESSE [ÚLTIMO] FIM DE SEMANA

Por Flávio Aguiar

“Na Europa, houve eleições nacionais na Lituânia e na Ucrânia.

Na Lituânia, venceu uma coligação mais à esquerda no espectro político do que o atual governo conservador, campeão local dos planos de austeridade que vêm devastando as economias européias e reduzindo direitos da cidadania.

Lituânia (em destaque)
A coligação, vista como “antiausteridade”, promete elevar impostos sobre os mais ricos e os ganhos de capital, aliviando o arrocho sobre o restante da sociedade.

Já na Ucrânia, o partido do presidente Viktor Yanukovich deverá manter a maioria parlamentar de que dispõe hoje, inclusive com ajuda do Partido Comunista que o apoia. Yanukovich enfrenta graves acusações de autoritarismo por parte de dirigentes da União Européia, e mantém prisioneira sua principal opositora Yulia Timoschenko, acusada de prevaricação no caso de um contrato de fornecimento de gás para a UE.

Ucrânia (em vermelho)
Já mais perto do Brasil, no Chile o partido conservador do presidente Sebastián Piñera foi considerado o perdedor nas eleições municipais daquele país. O partido de Piñera governava 144 municipalidades e passará a governar 121, enquanto a oposição pulou de 147 para 168 prefeituras. A oposição obteve importantes vitórias em cidades como Concepción e na região de Santiago, enquanto o governo venceu, por exemplo, em Valparaíso e Viña del Mar.

Na região de Santiago, ocorreram duas vitórias simbolicamente muito significativas para a oposição.

No distrito de Nuñoa, venceu Maya Fernandez Allende, neta do ex-presidente Allende, deposto pelo golpe de 1973. E em Santiago Central, venceu Carolina Toha, filha do ex-vice presidente e ministro de estado ao tempo de Allende José Toha.

Como ministro da Defesa, José Toha liderou a resistência à primeira tentativa de deposição de Allende, em junho de 1973. Depois do golpe de Estado foi preso e torturado pelo governo de Pinochet. Com a saúde debilitada, foi internado num hospital militar onde, mesmo com ele acamado, os interrogatórios continuaram.

Pesando 49 quilos, José Toha morreu em março de 1974. A versão oficial dizia que ele se suicidara. A família contestou essa versão, alegando, inclusive, que ele nem teria forças para tanto.

Houve um processo de reavaliação, com a exumação de seus restos mortais. A conclusão, exarada em 2010, descartou a versão de suicídio e afirmou ter sido ele estrangulado.

Essas eleições municipais tiveram um índice de abstenção considerado muito alto. Por outro lado, marcaram a primeira participação institucional de muitos dos estudantes envolvidos nos recentes protestos contra o governo de Piñera.

Uma nova era política pode estar começando no Chile, com maior abertura à esquerda, retomando mais de perto a tradição de Allende.”

FONTE: escrito por Flávio Aguiar, correspondente internacional da “Carta Maior” em Berlim  (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5834) [Imagem e mapas do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’].

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Haddad: SP NÃO É UMA ILHA (dos tucanos)

Do portal “Conversa Afiada”


Agradeço ao presidente [Lula] pela orientação e apoio. Sem isso não seria possível conseguir essa vitória.”

Essas foram as primeiras palavras do prefeito eleito de São Paulo, que vai derrubar o Muro da Vergonha entre os ricos e os pobres da cidade:

Por vontade soberana dos paulistanos, sou prefeito eleito de São Paulo. Uma alegria imensa e uma enorme responsabilidade dividem espaços.”

“Agradeço ao presidente [Lula] pela orientação e apoio. Sem isso, não seria possível conseguir essa vitória.”

“Agradeço à presidenta Dilma pelo apoio durante toda a campanha e o conforto nos momentos mais difíceis.”

“Agradeço ao meu partido que se lançou de corpo e alma nessa luta por São Paulo.”

“Sei de toda a responsabilidade de ser eleito pelo signo da mudança.”

“Isso signiica unir a cidade em um projeto coletivo, de toda a cidade, de todos os paulistanos”.

“Meu objetivo é separar o muro da vergonha que divide áreas ricas e pobres. Não podemos deixar que isso siga de modo indeterminado, enquanto o Brasil está avançando nisso”.

“Mas se São Paulo não pode resolver seus problemas, que cidade poderia fazer isso? O fracasso de São Paulo será o fracasso de um projeto de todo o mundo, que se chama cidade”

“É a hora de fazer uma nova São Paulo, de construir uma nova cidade”.

“Nosso primeiro passo é atrair a intelectualidade para fazer políticas urbanas”.

“É hora, portanto, de atrair, as forças vivas do pensamento paulistano para fazer um projeto sem interferência política e partidária”.

“São Paulo não é uma ilha política, nem uma cidade de muralhas. São Paulo precisa formar parcerias para abrir a cidade para o Brasil e o mundo”.

“São Paulo é de todos os nascidos aqui e dos os que vieram para cá. Muito obrigado!”

FONTE: do portal “Conversa Afiada”  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/10/28/haddad-sp-nao-e-uma-ilha-dos-tucanos/).

O AR PROFUNDAMENTE HUMANO DO STF

Por Luis Nassif

“Períodos eleitorais deixam nervos à flor da pele e o comportamento do STF (Supremo Tribunal Federal) não tem ajudado a trazer bom senso para o debate político.

O que se passa é apenas mais um capítulo de penoso processo de aprendizado democrático. Especialmente em momento em que as urnas tornam mais distantes os sonhos de uma rotatividade no poder.

Do lado de parte da mídia, há tentativa insistente de envolver Lula no julgamento e, se possível, de processá-lo e fazê-lo perder seus direitos civis. Do lado de parte do PT, um chamado à resistência capaz de elevar ainda mais a temperatura política.

No meio, botando lenha na fogueira, os doutos Ministros [do STF].

Mentes mais conspiratórias à esquerda podem suspeitar da preparação de um novo golpe. Mentes conspiradoras à direita podem mesmo acreditar que poderão fomentar o golpe.

No fundo, o que ocorre com o Supremo é apenas uma manifestação eloquente de humanidade. Não da grande humanidade, dos princípios que consagram homens e civilizações. Mas das fraquezas e vaidades que tornam - do mais solene magistrado ao mais simples cidadão - os homens iguais entre si.

O capítulo atual do aprendizado é o da exposição do STF à luz dos holofotes, com transmissão ao vivo e, pela primeira vez, analisando um processo penal. Vaidosos por natureza, como o são todos os intelectuais dotados de conhecimento especializado – e, no caso do STF, com esse conhecimento sendo manifestação de poder – os Ministros foram expostos ao desafio de se tornarem celebridades e não perderem a linha.

Alguns não conseguiram.

Foi o que levou um Celso de Mello a colocar gasolina na fogueira, e esforçar-se tanto pelo grande momento de oratória, insistir tanto na ênfase definitiva, a ponto de comparar partidos políticos ao PCC.

O mesmo fez Marco Aurélio de Mello, com sua defesa do golpe de 64. O Ministro que sempre se jactou de chocar os pares – inclusive com alguns posicionamentos históricos – com a concorrência inédita dos demais ministros precisou avançar alguns tons na competição. E pode haver prato melhor do que um Ministro da mais alta corte defendendo uma transgressão à Constituição?

Essa mesma sensação de poder acometeu Joaquim Barbosa, a ponto de avançar sobre colegas que ousassem discordar da "voz de Deus". Contra os advogados dos réus, não a explosão de trovões – que só são utilizados contra iguais – mas o seu riso irônico de quem trata com personagens insignificantes, perto da grandeza do Olimpo.

Todos trovejam e Ayres Britto passarinha, com sua voz de pastor das almas, tentando alcançar o tom grave dos colegas mais eloquentes.

No plano real, fechadas as cortinas do espetáculo, não há possibilidade de se alcançar Lula. A teoria do “domínio do fato”, encampada pelo Procurador Geral da República, subiu na escala hierárquica e pegou José Dirceu e José Genoíno. Mas, mesmo o PGR, considerou exagero alçar voo para mais um degrau e alcançar Lula. Definitivamente, Lula está fora do processo.

Assim, as investidas dos Ministros do STF explicam-se muito mais pelas fraquezas humanas, pelo estrelismo que acomete espíritos menos sábios, do que pelo maquiavelismo político. Eles são humanos. Apenas não foram informados disso.”

FONTE: escrito por Luis Nassif em seu portal  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-ar-profundamente-humano-do-stf). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democrracia&política’].