sexta-feira, 30 de abril de 2010
PRÉ-SAL: OPOSIÇÃO NO SENADO FAZ “CORPO MOLE” PARA PREJUDICAR A PETROBRAS E O GOVERNO
A OPERAÇÃO DEMOTUCANA VISA PRINCIPALMENTE A IMPEDIR QUE EMPRESAS ESTRANGEIRAS PERCAM AS REGALIAS QUE GANHARAM POR LEI NO GOVERNO FHC/PSDB/DEM
"Em reunião com senadores, Lula volta a pedir pressa na votação do pré-sal
Durante reunião na noite de quinta-feira (29) com senadores da base aliada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o mês de maio como limite para a votação de três dos quatro projetos relacionados ao marco regulatório do pré-sal no Senado.
“Foi um tom firme, foi um apelo porque avaliamos que o Senado e o Congresso não podem fugir da responsabilidade de dar ao país um novo marco regulatório do pré-sal”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao deixar a reunião.
Padilha destacou que o objetivo do governo é ter os projetos votados ainda no primeiro semestre para que na segunda metade do ano os leilões para exploração dos blocos exploratórios possam ser retomados.
Os três projetos que serão votados são a criação da empresa estatal que administrará a exploração do pré-sal, a capitalização da Petrobras e a criação de um fundo social que destinará recursos do pré-sal para fomento à ciência e tecnologia, educação, cultura e meio ambiente.
“O projeto 16, que é o da partilha com os royalties, ficará para após as eleições, mas nós nos comprometemos a votar ainda neste ano”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-AP).
De acordo com o senador, já há um acordo com os líderes de todos os partidos, para que votação dos projetos comece a partir da próxima semana."
FONTE: reportagem de Camila Campanerut do portal UOL Notícias [título, imagem, subtítulo e negritos colocados por este blog].
DILMA CRITICA INVASÕES DE TERRA
Foto: André Lessa/AE
"Sem citar MST, Dilma critica invasões de terra em feira agrícola
A ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, presidenciável do PT nessas eleições, criticou há pouco as invasões de terra e a ocupação de prédios públicos e considerou tais invasões como “atitudes ilegais”. “Sou inteiramente contrária a criar prejuízos aos que não são responsáveis pela política e sou contrária às invasões de terra”, destacou ela, sem citar o MST e cercada por uma plateia eminentemente ruralista que visita a Agrishow.
“Não pretendo compactuar com qualquer atitude ilegal”, afirmou Dilma. Na feira agrícola, Dilma pregou também o diálogo com os movimentos sociais e procurou isentar o governo do presidente Lula de qualquer responsabilidade pelas ações desse movimento. “Governo é governo e movimento é movimento. A primeira relação é termos diálogo, mas sou inteiramente contrária à tomada de locais públicos e invasões de terra”, frisou Dilma. E continuou, sob aplausos tímidos da plateia: “Não pretendo compactuar com qualquer atitude ilegal que não deve ser premiada, pois estamos todos sob os mesmos princípios legais”.
Em rápido discurso, Dilma citou vários programas do governo federal para a concessão de crédito ao setor agrícola, entre eles o "Mais Alimentos", destinado aos pequenos agricultores e o "PSI (Programa de Sustentação dos Investimentos)", criado no ano passado durante a crise econômica financeira global para injetar liquidez no mercado e financiar máquinas e equipamentos agrícolas.
Dilma repetiu o que o presidente Lula já vem afirmando, que o nível de crédito no Brasil saiu de R$ 400 bilhões para R$1,4 trilhão nos 8 anos de sua gestão e lembrou ainda que no ano passado foram destinados R$ 92,5 bilhões para a agricultura empresarial e mais R$ 15 bilhões para a agricultura familiar, dentro do programa de safra.
A ex-ministra deu sinais de que pretende perenizar algumas políticas temporárias adotadas pela equipe econômica do governo Lula, como a redução do IPI para bens de consumo e o próprio PSI, que está previsto para acabar no final deste ano.
Dilma admitiu que o governo não conseguiu fazer uma reforma tributária durante os oito anos do presidente Lula, mas prometeu que “a questão deve estar na ordem do dia nos próximos anos” [o governo federal fez o que podia, mas não conseguiu fazer a reforma porque não houve boa vontade e engajamento dos Estados, especialmente São Paulo].
FONTE: reportagem de Gustavo Porto, de Ribeirão Preto, publicada no Jornal da Tarde e reproduzida no blog do Favre [título e trecho entre colchetes colocados por este blog].
OPOSIÇÃO E (ÓBVIO) A MÍDIA CRITICAM A "TIME" PELA ESCOLHA DE LULA
"Revista Time: 'Lula é o líder mais influente do mundo'.
"Obama está em quarto lugar na lista de 100 nomes, entre os quais não figuram FHC, nem Serra, tampouco os colunistas da pág. 2 da Folha. Todos eles, como se sabe, críticos da política externa soberana, e do Mercosul, que projetou o Brasil no mundo, mas que o candidato demotucano chama de farsa e quer "flexibilizar". (Carta Maior e os fatos que explicam de onde veio Serra, a quem se aliou)
O trecho acima é o cabeçalho da 1ª página do site "Carta Maior". Sobre o assunto, reproduzo o seguinte texto do blog do jornalista Luis Nassif:
DEM TENTA ASSASSINAR REPUTAÇÃO DA "TIME"
[DESPEITO. IMAGINEM O ESTARDALHAÇO ELOGIOSO DA IMPRENSA, MESES A FIO, SE FOSSE FHC OU O SERRA O ESCOLHIDO...]
Da Folha Online (reportagem de MARIA CLARA CABRAL):
"Oposição critica escolha de Lula pela revista “Time”
Líderes da oposição criticaram a escolha da revista “Time”, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos 25 líderes mais influentes do mundo em 2010.
Integrantes do PSDB e DEM afirmaram quinta-feira que o feito não deve ter nenhum reflexo na campanha presidencial de outubro.
Para o deputado Paulo Bornhausen (SC), líder do DEM na Câmara, ou a revista “ficou louca ou ganhou um patrocínio de uma estatal brasileira”. “Ele não fez nada para merecer, deve ter servido como um prêmio de consolação por sua saída, ou será usado para sua candidatura para um cargo na ONU”, disse.
O líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), concorda que Lula não merecia ser escolhido. “Ele apenas capitalizou os feitos que o Brasil vem conquistando faz tempo.” O tucano disse ainda que o prêmio da “Time” não deve se reverter em votos para a candidata Dilma Rousseff (PT). “O eleitor não é bobo, sabe que ela não é o Lula. Ela agora está se apresentando inteira e mostrando o desastre que é. Isso não vai mudar”, afirmou.
[Este blog acrescenta: a Folha de São Paulo de hoje (30/04), como sempre lutando forte pela volta da direita ao poder no Brasil (com Serra/PSDB/DEM/PPS), publicou na coluna de Fernando de Barros e Silva:]
"LULA, THE GUY
Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela "Time"? Havia ontem uma intensa discussão a respeito do lugar que foi destinado ao presidente brasileiro. Seria mesmo "o primeirão"? Ou era apenas um dos "25 eleitos" pela publicação americana na categoria "líderes"? Conforme a própria revista depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta.
Mas, afinal, que diferença faz? A discussão serviu apenas para pôr em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que fabrica. Todo ranking, no fundo, é só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo.
A lista é tola, mas não significa que seja "arbitrária". Já houve coisas muito piores."
[Repito: o despeito é flagrante na mídia serrista. Imaginem como seriam as manchetes elogiosas dos jornalões e TVs, por muito tempo, se o escolhido pela "Time" fosse FHC ou Serra!...]
FONTE: textos extraídos do site "Carta Maior", do blog do Nassif e da "Folha" de hoje [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
"Obama está em quarto lugar na lista de 100 nomes, entre os quais não figuram FHC, nem Serra, tampouco os colunistas da pág. 2 da Folha. Todos eles, como se sabe, críticos da política externa soberana, e do Mercosul, que projetou o Brasil no mundo, mas que o candidato demotucano chama de farsa e quer "flexibilizar". (Carta Maior e os fatos que explicam de onde veio Serra, a quem se aliou)
O trecho acima é o cabeçalho da 1ª página do site "Carta Maior". Sobre o assunto, reproduzo o seguinte texto do blog do jornalista Luis Nassif:
DEM TENTA ASSASSINAR REPUTAÇÃO DA "TIME"
[DESPEITO. IMAGINEM O ESTARDALHAÇO ELOGIOSO DA IMPRENSA, MESES A FIO, SE FOSSE FHC OU O SERRA O ESCOLHIDO...]
Da Folha Online (reportagem de MARIA CLARA CABRAL):
"Oposição critica escolha de Lula pela revista “Time”
Líderes da oposição criticaram a escolha da revista “Time”, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos 25 líderes mais influentes do mundo em 2010.
Integrantes do PSDB e DEM afirmaram quinta-feira que o feito não deve ter nenhum reflexo na campanha presidencial de outubro.
Para o deputado Paulo Bornhausen (SC), líder do DEM na Câmara, ou a revista “ficou louca ou ganhou um patrocínio de uma estatal brasileira”. “Ele não fez nada para merecer, deve ter servido como um prêmio de consolação por sua saída, ou será usado para sua candidatura para um cargo na ONU”, disse.
O líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), concorda que Lula não merecia ser escolhido. “Ele apenas capitalizou os feitos que o Brasil vem conquistando faz tempo.” O tucano disse ainda que o prêmio da “Time” não deve se reverter em votos para a candidata Dilma Rousseff (PT). “O eleitor não é bobo, sabe que ela não é o Lula. Ela agora está se apresentando inteira e mostrando o desastre que é. Isso não vai mudar”, afirmou.
[Este blog acrescenta: a Folha de São Paulo de hoje (30/04), como sempre lutando forte pela volta da direita ao poder no Brasil (com Serra/PSDB/DEM/PPS), publicou na coluna de Fernando de Barros e Silva:]
"LULA, THE GUY
Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela "Time"? Havia ontem uma intensa discussão a respeito do lugar que foi destinado ao presidente brasileiro. Seria mesmo "o primeirão"? Ou era apenas um dos "25 eleitos" pela publicação americana na categoria "líderes"? Conforme a própria revista depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta.
Mas, afinal, que diferença faz? A discussão serviu apenas para pôr em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que fabrica. Todo ranking, no fundo, é só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo.
A lista é tola, mas não significa que seja "arbitrária". Já houve coisas muito piores."
[Repito: o despeito é flagrante na mídia serrista. Imaginem como seriam as manchetes elogiosas dos jornalões e TVs, por muito tempo, se o escolhido pela "Time" fosse FHC ou Serra!...]
FONTE: textos extraídos do site "Carta Maior", do blog do Nassif e da "Folha" de hoje [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
RECORDE NO USO DE ENERGIA RENOVÁVEL
Fontes renováveis responderam por 47,3% de toda a energia consumida no Brasil é o maior porcentual pelo menos desde a década de 1970
A matriz energética brasileira registrou nível inédito de energias renováveis em 2009, segundo dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN), que será divulgado hoje pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As fontes renováveis responderam por 47,3% de toda a energia consumida no Brasil.
Trata-se do maior valor pelo menos desde a década de 70, quando o consumo de lenha começou a cair no País.
O crescimento das fontes renováveis, porém, teve forte impacto de fatores pontuais, como a boa hidrologia, que permitiu maior geração hidráulica, e a crise econômica, que reduziu o consumo de carvão pelo setor siderúrgico. Ou seja, o aumento da participação renovável se deu pela redução da demanda por fontes não renováveis. O País consumiu 243,9 milhões de toneladas equivalentes de petróleo em 2009, 3,44% a menos do que em 2008.
A maior redução se deu entre as fontes não renováveis (-5.85%), para 128,6 milhões de toneladas equivalentes de petróleo. Houve queda no uso de carvão mineral (-19,4%), gás natural (-17,7%) e urânio (-7,6%). Por outro lado, energia hidráulica, produtos da cana-de-açúcar e outras renováveis tiveram aumento de 5,2%, 2,8% e 10,2%, respectivamente.
A participação das energias renováveis na matriz energética se manteve estagnada nos três anos anteriores, sempre com uma participação na matriz energética ao redor dos 45%. O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, disse que o patamar atingido em 2009 é o maior desde que o Brasil passou a usar fontes mais modernas de energia. “Pode ser que, antes dos anos 70, quando a lenha era consumida em larga escala, tenha havido porcentual maior.”
Embora haja expectativa sobre a retomada do consumo de carvão já este ano, por conta do reaquecimento do mercado externo, Tolmasquim acredita que a participação das renováveis deve se manter alta pelos próximos anos. Ele argumenta que haverá aumento da oferta de energia hidráulica, além de manutenção do crescimento das vendas de etanol.
Há três grandes projetos hidrelétricos com início de operações previsto para a primeira metade da década: Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins, e as duas usinas do Rio Madeira. Além disso, Belo Monte deve começar a gerar energia em 2015. O governo pretende licitar ainda este ano outras 13 novas usinas, com capacidade total de 4,6 mil megawatts (MW).
A EPE calcula que, nos próximos 10 anos, as térmicas a óleo combustível gerarão apenas 7% de sua capacidade. Já as usinas a óleo diesel terão uma geração média de 1%.
Tolmasquim disse ainda que espera pouca geração a gás natural nos próximos anos, em torno de 26% da capacidade instalada, apenas com usinas que têm obrigação de comprar gás em contratos chamados de take or pay.
Na matriz de energia elétrica, as fontes renováveis já têm hoje uma participação bastante expressiva, de 90,6% dos 509.5 mil gigawatts-hora (Gwh) gerados no ano passado. O volume é superior aos 86,4% verificados no ano anterior e reflete as boas chuvas que caíram durante o ano, permitindo um melhor aproveitamento das hidrelétricas em detrimento das térmicas.
Diante do avanço das renováveis, diz a EPE, o setor energético brasileiro vem reduzindo suas emissões de gás carbônico, que fecharam o ano passado a uma média de 1,43 tonelada por tonelada equivalente de petróleo consumido, após três anos em 1,48. O volume de 2009 é 11,8% inferior ao registrado no início da década.
Tolmasquim frisou que o balanço energético de 2009 confirma que os efeitos da crise econômica foram mais sentidos pela indústria exportadora do que pelo mercado interno brasileiro. A queda no consumo de carvão pelas siderúrgicas é um exemplo. Outro é o aumento do consumo residencial de energia, que chegou a 43,8 quilowatts-hora (kWh) por habitante por mês, 4,3% a mais do que em 2008.
“Enquanto o PIB caiu 0,2% e a oferta total de energia caiu 3,4%, a demanda por energia elétrica teve alta de 0,6%”, argumentou o presidente da EPE. O consumo de combustíveis, outro indicador usado por Tolmasquim para avaliar o desempenho da economia, também registrou alta, de 3,6%. O dado inclui a venda de gasolina e etanol combustível.
Belo Monte.
Tolmasquim voltou a defender a construção da usina de Belo Monte, alegando que se trata de “energia barata, limpa e que vai revolucionar a região”, com investimentos em infraestrutura e empregos. Segundo ele, o leilão de energias renováveis previsto para este ano, para o qual há projetos cadastrados com 14,6 mil MW, não concorre com a hidrelétrica.
“Belo Monte vai gerar muito de dezembro a maio e a safra de cana vai de maio a novembro, que também é época de bons ventos. São fontes complementares”, afirmou."
FONTE: reportagem de Nicola Pamplona publicada no "O Estado de S.Paulo" e postada no blog de Luis Favre [título e imagem colocados por este blog].
INDÚSTRIA: "NÃO ESTAMOS ACOSTUMADOS A CRESCER TÃO FORTE"
“Não estamos acostumados a crescer de maneira tão forte e disseminada”
Indústria acelera recomposição de mão de obra e produção em março
A recomposição da mão de obra perdida e da produção desativada durante a crise mundial se acelerou. Depois de registrar crescimento marginal nos primeiros dois meses do ano, a produção da indústria deu um salto de 23,8 pontos percentuais entre fevereiro e março. Em relação ao emprego, todos os setores criaram postos de trabalho. Os resultados de produção e emprego na indústria nos primeiros três meses do ano foram os melhores desde o terceiro trimestre de 2004, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O indicador de produção industrial calculado CNI alcançou 62,9% no mês passado, em franca aceleração se comprado aos 49,2% e 50,8% apurados em janeiro e fevereiro, respectivamente. Segundo a CNI, os empresários estão otimistas quanto a sustentação do crescimento da produção e da contratação de mão de obra. Mesmo pontos negativos, como a redução do saldo comercial devido ao desembarque de mercadorias mais acelerado que os embarques, não assustam os industriais. De acordo com a CNI, os empresários estão confiantes com a recuperação da demanda externa.
A forte aceleração da indústria, no entanto, não ocorre sem problemas.
A preocupação com a falta de trabalhador qualificado aumentou pelo quarto trimestre consecutivo, passando de 20,3%, entre as principais queixas da indústria, no primeiro trimestre de 2009, para 23,7%, entre janeiro e março deste ano. “O problema da mão de obra qualificada já entrou na agenda da indústria, e é um problema que vai se intensificar ao longo do ano, conforme o crescimento da indústria e da economia como um todo se consolida”, afirma Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “Isso fica mais claro na construção civil, mas passa por quase todos os setores. Não estamos acostumados a crescer de maneira tão forte e disseminada”, avalia.
Para o economista, a qualificação da mão de obra será tema determinante para assegurar crescimento elevado no Produto Interno Bruto (PIB), “da ordem de 6% ou 7%”, além de 2010, ano em que, de acordo com Almeida, “uma alta forte está garantida”.
A demanda superior à oferta de mão de obra qualificada tem impacto nos custos das empresas, que passam a oferecer salários maiores. Reportagem do Valor publicada no dia 19 mostrou que o custo da mão de obra atingiu, nas primeiras semanas de abril, o mais alto patamar desde julho de 2004.
Naquele ano, o PIB elevou-se em 5,7% e a indústria de transformação gerou saldo líquido de 504,6 mil postos de trabalho formais, o melhor resultado da década, superior, inclusive, aos cerca de 400 mil postos criados em 2007, quando o PIB cresceu 6,1%. Agora, o mercado trabalha com expansão de 6% para o PIB de 2010, e, apenas nos primeiros três meses do ano, a indústria já criou 204,4 mil vagas – o equivalente a 40,5% do auge de 2004.
As comparações não terminam aí. Em 2004, devido à forte expansão da demanda, interna e externa, as expectativas inflacionárias – expressas no boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central – iniciaram trajetória de alta, ao mesmo tempo em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) descolava-se da meta perseguida pelo Banco Central. O BC passou a apertar a política monetária – os juros passaram de 16% ao ano, em 2004, a 19,75% ao ano, em 2005.
“Estamos vivendo situação parecida, em 2010, com a que tivemos em 2004 e também 2008″, avalia Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria Integrada. Antes da explosão das turbulências mundiais, em setembro de 2008, a atividade crescia fortemente, a taxas de 6% ao ano, com rápida absorção de mão de obra e incremento elevado da demanda doméstica. O BC, naquele ano, elevou a taxa Selic, a partir de abril, por seis meses. “A crise desarticulou as pressões inflacionárias de 2008, porque, de outra forma, era o BC atuando mais uma vez para conter os excessos”, avalia.
A alta verificada no IPCA nos primeiros três meses deste ano – tendo acumulado 46% da meta perseguida pelo BC para o ano fechado – e os primeiros sinais de gargalos de mão de obra especializada, ligaram o radar do mercado, que elevou as expectativas de inflação por 14 semanas consecutivas. O BC iniciou ontem o aperto monetário, ao elevar a Selic em 0,75 ponto percentual. “Não há garantia de que a indústria pode atender à demanda, que cresce em ritmo chinês”, avalia Wjuniski.
Segundo avalia o economista, a “estrutura institucional brasileira” estimula o consumo. “Já provamos que o mercado interno é forte e capaz de sustentar o crescimento. Nosso limitador não é a demanda, mas a oferta”, diz."
FONTE: reportagem de João Villaverde publicada no jornal VALOR Econômico e postada no blog de Luis Favre [título e negritos colocados poe este blog].
Indústria acelera recomposição de mão de obra e produção em março
A recomposição da mão de obra perdida e da produção desativada durante a crise mundial se acelerou. Depois de registrar crescimento marginal nos primeiros dois meses do ano, a produção da indústria deu um salto de 23,8 pontos percentuais entre fevereiro e março. Em relação ao emprego, todos os setores criaram postos de trabalho. Os resultados de produção e emprego na indústria nos primeiros três meses do ano foram os melhores desde o terceiro trimestre de 2004, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O indicador de produção industrial calculado CNI alcançou 62,9% no mês passado, em franca aceleração se comprado aos 49,2% e 50,8% apurados em janeiro e fevereiro, respectivamente. Segundo a CNI, os empresários estão otimistas quanto a sustentação do crescimento da produção e da contratação de mão de obra. Mesmo pontos negativos, como a redução do saldo comercial devido ao desembarque de mercadorias mais acelerado que os embarques, não assustam os industriais. De acordo com a CNI, os empresários estão confiantes com a recuperação da demanda externa.
A forte aceleração da indústria, no entanto, não ocorre sem problemas.
A preocupação com a falta de trabalhador qualificado aumentou pelo quarto trimestre consecutivo, passando de 20,3%, entre as principais queixas da indústria, no primeiro trimestre de 2009, para 23,7%, entre janeiro e março deste ano. “O problema da mão de obra qualificada já entrou na agenda da indústria, e é um problema que vai se intensificar ao longo do ano, conforme o crescimento da indústria e da economia como um todo se consolida”, afirma Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “Isso fica mais claro na construção civil, mas passa por quase todos os setores. Não estamos acostumados a crescer de maneira tão forte e disseminada”, avalia.
Para o economista, a qualificação da mão de obra será tema determinante para assegurar crescimento elevado no Produto Interno Bruto (PIB), “da ordem de 6% ou 7%”, além de 2010, ano em que, de acordo com Almeida, “uma alta forte está garantida”.
A demanda superior à oferta de mão de obra qualificada tem impacto nos custos das empresas, que passam a oferecer salários maiores. Reportagem do Valor publicada no dia 19 mostrou que o custo da mão de obra atingiu, nas primeiras semanas de abril, o mais alto patamar desde julho de 2004.
Naquele ano, o PIB elevou-se em 5,7% e a indústria de transformação gerou saldo líquido de 504,6 mil postos de trabalho formais, o melhor resultado da década, superior, inclusive, aos cerca de 400 mil postos criados em 2007, quando o PIB cresceu 6,1%. Agora, o mercado trabalha com expansão de 6% para o PIB de 2010, e, apenas nos primeiros três meses do ano, a indústria já criou 204,4 mil vagas – o equivalente a 40,5% do auge de 2004.
As comparações não terminam aí. Em 2004, devido à forte expansão da demanda, interna e externa, as expectativas inflacionárias – expressas no boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central – iniciaram trajetória de alta, ao mesmo tempo em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) descolava-se da meta perseguida pelo Banco Central. O BC passou a apertar a política monetária – os juros passaram de 16% ao ano, em 2004, a 19,75% ao ano, em 2005.
“Estamos vivendo situação parecida, em 2010, com a que tivemos em 2004 e também 2008″, avalia Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria Integrada. Antes da explosão das turbulências mundiais, em setembro de 2008, a atividade crescia fortemente, a taxas de 6% ao ano, com rápida absorção de mão de obra e incremento elevado da demanda doméstica. O BC, naquele ano, elevou a taxa Selic, a partir de abril, por seis meses. “A crise desarticulou as pressões inflacionárias de 2008, porque, de outra forma, era o BC atuando mais uma vez para conter os excessos”, avalia.
A alta verificada no IPCA nos primeiros três meses deste ano – tendo acumulado 46% da meta perseguida pelo BC para o ano fechado – e os primeiros sinais de gargalos de mão de obra especializada, ligaram o radar do mercado, que elevou as expectativas de inflação por 14 semanas consecutivas. O BC iniciou ontem o aperto monetário, ao elevar a Selic em 0,75 ponto percentual. “Não há garantia de que a indústria pode atender à demanda, que cresce em ritmo chinês”, avalia Wjuniski.
Segundo avalia o economista, a “estrutura institucional brasileira” estimula o consumo. “Já provamos que o mercado interno é forte e capaz de sustentar o crescimento. Nosso limitador não é a demanda, mas a oferta”, diz."
FONTE: reportagem de João Villaverde publicada no jornal VALOR Econômico e postada no blog de Luis Favre [título e negritos colocados poe este blog].
CNI: ATIVIDADE INDUSTRIAL CRESCE FORTE EM MARÇO
"Atividade industrial apresenta forte crescimento em março, diz CNI
Depois de iniciar o ano com uma recuperação tímida, a indústria registrou forte crescimento em março. Segundo pesquisa divulgada (28) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de produção da indústria atingiu 62,9 pontos no mês passado. Esse indicador estava em 50,8 pontos em fevereiro e em 49,2 em janeiro. De acordo com a metodologia da CNI, valores acima de 50 pontos indicam crescimento.
O resultado de março impulsionou as estatísticas do primeiro trimestre. Segundo a CNI, o nível de produção somou 55,5 pontos nos três primeiros meses de 2010, o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2004.
Em relação ao emprego, todos os setores apresentaram geração de postos de trabalho. O indicador atingiu 55,5 pontos no trimestre, o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2004. O único setor com desempenho abaixo da média é a indústria de madeira, cujo nível de emprego cresceu no primeiro trimestre, mas abaixo do usualmente registrado para os três primeiros meses do ano.
Na avaliação da entidade, o primeiro trimestre representou a superação quase total da crise internacional. O crescimento, no entanto, está pressionando a capacidade instalada. Em março, a utilização da capacidade instalada atingiu 54 pontos em março, contra 48,9 pontos em fevereiro e 48,3 pontos em janeiro.
Apesar do uso mais intenso do maquinário e da força de trabalho, a CNI avalia que ainda não há risco de pressão inflacionária causado pelo descompasso entre a demanda e a capacidade de produção da indústria. No primeiro trimestre, a indústria trabalhou, em média, com 74% da capacidade instalada, próximo da média histórica de 73,9%. O valor é um ponto percentual abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2008, quando a indústria ainda não havia sido afetada pela crise.
A CNI também divulgou as expectativas para os próximos seis meses. O otimismo do empresariado se manteve, mas apresentou pequena redução. Em abril, o indicador somou 65,7 pontos, contra 66,1 pontos em março e 66,2 pontos em janeiro. Valores superiores a 50 pontos indicam expectativa de crescimento.
A pesquisa da CNI foi realizada com 1.227 empresas entre 5 e 15 de abril. Desse total, 677 são pequenas empresas, 367 médias e 183 grandes companhias."
FONTE: publicado no site www.pt.org.br [título e negritos colocados por este blog].
Depois de iniciar o ano com uma recuperação tímida, a indústria registrou forte crescimento em março. Segundo pesquisa divulgada (28) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de produção da indústria atingiu 62,9 pontos no mês passado. Esse indicador estava em 50,8 pontos em fevereiro e em 49,2 em janeiro. De acordo com a metodologia da CNI, valores acima de 50 pontos indicam crescimento.
O resultado de março impulsionou as estatísticas do primeiro trimestre. Segundo a CNI, o nível de produção somou 55,5 pontos nos três primeiros meses de 2010, o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2004.
Em relação ao emprego, todos os setores apresentaram geração de postos de trabalho. O indicador atingiu 55,5 pontos no trimestre, o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2004. O único setor com desempenho abaixo da média é a indústria de madeira, cujo nível de emprego cresceu no primeiro trimestre, mas abaixo do usualmente registrado para os três primeiros meses do ano.
Na avaliação da entidade, o primeiro trimestre representou a superação quase total da crise internacional. O crescimento, no entanto, está pressionando a capacidade instalada. Em março, a utilização da capacidade instalada atingiu 54 pontos em março, contra 48,9 pontos em fevereiro e 48,3 pontos em janeiro.
Apesar do uso mais intenso do maquinário e da força de trabalho, a CNI avalia que ainda não há risco de pressão inflacionária causado pelo descompasso entre a demanda e a capacidade de produção da indústria. No primeiro trimestre, a indústria trabalhou, em média, com 74% da capacidade instalada, próximo da média histórica de 73,9%. O valor é um ponto percentual abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2008, quando a indústria ainda não havia sido afetada pela crise.
A CNI também divulgou as expectativas para os próximos seis meses. O otimismo do empresariado se manteve, mas apresentou pequena redução. Em abril, o indicador somou 65,7 pontos, contra 66,1 pontos em março e 66,2 pontos em janeiro. Valores superiores a 50 pontos indicam expectativa de crescimento.
A pesquisa da CNI foi realizada com 1.227 empresas entre 5 e 15 de abril. Desse total, 677 são pequenas empresas, 367 médias e 183 grandes companhias."
FONTE: publicado no site www.pt.org.br [título e negritos colocados por este blog].
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE LULA PARA TV DO LÍBANO
Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à LBC TV, do Líbano
Realizada no Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília-DF, em 22 de abril de 2010
Jornalista: Boa noite, de Brasília. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente por duas vezes e governa o Brasil numa popularidade enorme. Esse socialista que veio, que era um trabalhador e teve sucesso, e teve o privilégio de levar o Brasil a ter um papel fundamental, forte, político e cultural, especialmente de negociações na América Latina.
Lula, ele está, esse Presidente pragmático, entre amigo dos árabes e lutador para grandes causas de justiça, de liberdade e de pobreza da democracia. Este é... Hoje estará conosco o presidente Lula, na LBC. É por isso que será muito difícil, para quem vai suceder o presidente Lula, quem vai governar depois do Lula.
Boa noite, senhor Presidente. Muito obrigado e seja muito bem-vindo à LBC nessa conversa. Qual é o segredo dessa grande popularidade que o senhor tem?
Presidente: Eu acredito que o segredo da nossa popularidade são os acertos das políticas públicas, das políticas sociais e da política econômica que estamos colocando em prática no Brasil. Eu tinha muita clareza de que quando o Brasil elegeu um torneiro mecânico para ser Presidente da República, o Brasil tinha que dar certo porque se não desse certo iria demorar mais cem anos para um trabalhador, para um operário chegar à Presidência da República.
Então, eu trabalho todo esse tempo com a cabeça muito firme numa convicção de que o Brasil tem que dar certo, o povo tem que melhorar de vida para que a gente possa provar à sociedade brasileira, aos trabalhadores, aos intelectuais, aos empresários e ao mundo que um operário, saído de dentro de uma fábrica, pode governar um país do tamanho do Brasil. E as coisas deram certo. Eu sempre me inspiro no papel de uma mãe. Não existe nenhum governante melhor do que uma mãe porque se uma mãe tiver dez filhos, cinco filhos, oito filhos, ninguém vai distribuir, de forma mais justa a comida para os filhos do que uma mãe. Não adianta ser bonito, não adianta ser maior. Todo mundo tem que ter direitos iguais e todo mundo tem que comer a mesma qualidade de comida. E no governo tem que ser assim. Nós precisamos repartir aquilo que o Brasil produz de riqueza para que atenda os 200 milhões de brasileiros e não apenas a uma pequena elite, e isso tem dado certo, graças a Deus.
Jornalista: Presidente, vai ser um papel muito difícil, uma responsabilidade, muito grande para quem suceder Vossa Excelência na Presidência. Vossa Excelência acha que quem vier a sucedê-lo nas próximas eleições, será que vai dar o mesmo sonho de um trabalhador simples que chegou à Presidência e viveu o problema dos pobres e sentiu o problema dos pobres?
Presidente: Olhe, eu tenho, eu tenho uma candidata, e essa candidata obviamente que me ajudou a elaborar o programa e, portanto, é coparticipante do sucesso que o governo vive neste momento. E eu a indiquei porque é uma pessoa da maior capacidade, uma pessoa com capacidade de gerenciamento extraordinária, uma pessoa de uma lealdade fantástica e uma pessoa que está gabaritada para dar continuidade, aprimorar, melhorar e fazer mais do que nós fizemos nesses oito anos.
Por quê? Porque o paradigma que ela tem para começar a trabalhar é diferente do paradigma que eu comecei a trabalhar em 2003. O Brasil está melhor: está melhor na Educação, está melhor na Saúde, está melhor no emprego, está melhor no salário, está melhor na distribuição de renda, a economia brasileira está melhor, o Brasil é mais respeitado no mundo hoje. Então, a pessoa que vier depois de mim vai pegar um Brasil muito mais estruturado, muito mais preparado do que o Brasil que eu herdei. E eu estou convencido de que, quem quer que seja que ganhe as eleições para Presidente da República do Brasil, vai pegar um Brasil muito melhor e, portanto, pode fazer mais. E eu tenho a convicção, também, de que será a minha candidata que vai ganhar as eleições.
Jornalista: Vossa Excelência tem a certeza de que ela vai ganhar. Mas o povo brasileiro que deu tanta popularidade, tantos votos, e Vossa Excelência continuou mais forte nas pesquisas, dará para uma mulher que teve problemas de saúde, Presidente? Essa senhora, ela não foi ainda experimentada no governo. Porque ele deu ao senhor o apoio, ele automaticamente transferirá esse apoio?
Presidente: É o que falavam, é o que falavam de mim: “O Lula nunca governou, o Lula não tem experiência, o Lula não fala inglês, o Lula não tem diploma universitário”. Falaram isso de mim durante 12 anos, até que um dia o povo falou: “Deixa eu dar uma chance para esse brasileiro”. E me deu a chance e era o que eu precisava para provar que nós estávamos preparados para montar uma boa equipe e estávamos preparados para fazer uma boa governança no Brasil. Eu não utilizo muito a palavra “governar”; eu utilizo a palavra “cuidar”. O que nós estamos fazendo é cuidar do nosso país com muito carinho, e nesse aspecto eu acho que a mulher é vítima de preconceito no Brasil e no mundo, não é? Ainda há muito preconceito contra a mulher, mas eu acho que a ministra Dilma, ela já venceu muitos dos preconceitos; a doença dela não existe mais – graças a Deus, descobriu no começo e resolveu o problema – e ela está, eu diria, do ponto de vista intelectual, do ponto de vista gerencial, do ponto de vista administrativo, ela está perfeita para governar o Brasil. E eu acho que ela é a grande possibilidade que nós temos de dar continuidade. Não é que eu tenha certeza que ela vai ser eleita porque, primeiro, eu tenho que respeitar a vontade do povo brasileiro no dia das eleições. Eu tenho a convicção de que ela, pelo fato de ter melhores condições de governar o Brasil, pelo fato de ela ter melhores condições de dar continuidade ao que nós estamos fazendo, ela tem mais chances de ganhar as eleições.
Jornalista: Senhor Presidente, apesar dessa grande aceitação e desse grande sucesso do Brasil, graças à sua popularidade e esforços de Vossa Excelência para que o Brasil tenha um papel fundamental e forte hoje, no cenário mundial, apesar dos escândalos de corrupção que atingiram o partido de Vossa Excelência, que o senhor pediu desculpas há um tempo atrás, isso não provocou o senhor que pode dificultar que alguém da esquerda tenha esse voto? O que o senhor garante para os brasileiros que esse partido que vai assumir o governo de novo não vai ter mais envolvimentos em novos escândalos?
Presidente: A certeza que o povo brasileiro tem é que, nunca, na história do Brasil, um governo trabalhou tanto para apurar as denúncias de corrupção, como o nosso governo. Nunca.
Antigamente era fácil não aparecer muita corrupção no jornal, porque você ficava jogando ela embaixo do tapete.
Nós, simplesmente, duplicamos o número de policiais federais. Nós, simplesmente, duplicamos o orçamento do Ministério da Justiça para que a gente pudesse investir em inteligência, para que a gente pudesse investigar. Nós melhoramos e qualificamos a Controladoria-Geral da República [União] e 90% das denúncias são feitas pelo governo. É a Controladoria-Geral da República [União] que faz a investigação em cada ministério, em cada obra, que manda para o Tribunal de Contas e que manda para a Polícia Federal. Portanto, grande parte das denúncias de corrupção, são feitas por nós. E nós já prendemos muitos policiais, nós já prendemos muitos servidores públicos, e vamos continuar fazendo.
Porque eu tenho 64 anos, eu não acho que a gente vai conseguir acabar com a corrupção na Humanidade mas, eu acho que a gente pode diminuir barbaramente, em um país como o Brasil, se a gente continuar com a seriedade que nós estamos trabalhando o combate à corrupção. E eu acho que o povo, o povo tem... veja, qualquer pesquisa de opinião pública feita no Brasil, hoje, quando se pergunta qual é o partido de maior credibilidade do povo brasileiro, o PT aparece em primeiro lugar com 32%, o segundo colocado tem apenas 8%. Porque o PT não são os deputados, o PT não é o presidente da República, o PT são milhões de Lulas, milhões de pessoas que representam os deputados, que estão na periferia deste país, no movimento sindical, no movimento social. Nos mais longínquos e distantes locais deste país, você encontra o cidadão comum, você pode ver que ele tem simpatia pelo PT. É isso que vai ganhar as eleições. Além do que, nós fizemos uma aliança muito forte com outros partidos políticos para garantir não só uma maioria de votos, mas garantir a governabilidade ao chegarmos ao governo.
Jornalista: Ok. Se eu fosse brasileiro, eu já teria votado no PT, com certeza, Presidente.
Presidente: Olha, eu vou lhe contar uma coisa: eu penso que a maioria do povo árabe no Brasil, e não são poucos, são quase 10 milhões de árabes e descendentes que moram no Brasil, a grande maioria em São Paulo, e eu acho que tem uma grande maioria que tem simpatia pelo PT.
Jornalista: Senhor Presidente, saber a verdade e aqueles que foram os desaparecidos, a investigação sobre os desaparecidos que sofreram (incompreensível) em 64. Precisaria ter aberto essas feridas? Para que o senhor reabriu isso? Por quê? Por que somente o Ministro da Defesa e os militares eram contra?
Presidente: Não, veja, o problema não é de ser contra ou ser a favor. O problema é de você poder garantir que este país tenha a sua história contada da forma mais verdadeira possível. Ninguém quer fazer caça às bruxas, ninguém quer ficar remoendo o passado. Agora, é muito difícil você querer que uma mãe que perdeu um filho e que não sabe onde ele está, não queira encontrar o corpo do seu filho para enterrar.
Então, é por isso que nós estamos propondo a Comissão da Verdade, que vai ser aprovada pelo Congresso Nacional, da forma mais democrática possível. Nós não queremos mexer na Lei da Anistia, ela foi aprovada por consenso, no Congresso Nacional. O que nós queremos apenas é contar ao Brasil o que aconteceu, da forma mais verdadeira possível. Ou seja, ninguém, efetivamente, tem que ter medo da Comissão da Verdade, ninguém tem que ter medo da verdadeira história. Quem errou, pagou. É assim que a gente consolida a democracia no país. E eu não quero morrer em um país que a sua história tenha sido contada pela metade, eu quero que a história seja contada com o seu todo, e é isso que nós estamos tentando fazer. E, só para você ter ideia, quem está coordenando a investigação de corpos no Araguaia é o Exército Brasileiro. Porque também, veja, não foi a instituição que cometeu um erro. O erro foi cometido por pessoas que pertencem à instituição. Ora, se um ministro meu comete um erro, não é o governo que cometeu o erro, é aquele ministro e, portanto, ele tem que pagar.
Então, eu acho que a democracia, ela exige que a gente tenha abertura de cabeça, abertura de alma, que a gente conviva com coisas que a gente não gosta, sabe? Mas é a democracia, graças a Deus, ela existe.
Jornalista: Parece que o senhor tem fé em Deus. Por quê?
Presidente: Ora, por quê? Primeiro, porque eu sou um cidadão que tem obrigação de acreditar em Deus. Eu, cada vez que olho para o céu e vejo aquele monte de estrelas, aquele monte de planetas e vejo a Terra uma bolinha deste tamanho, sabe, ser um... é o único lugar até agora que provou que tem inteligência, como nós conhecemos a inteligência. Eu fico imaginando, é no mínimo uma loucura. Tem que ter alguém superior que fez isso. Quando eu chego à Presidência da República, saído de onde eu saí, viver no mundo que eu vivi, chegar à Presidência da República, eu tenho que entender que há o dedinho de Deus ali, eu tenho que entender. E por isso eu sou grato e agradeço todos os dias.
Jornalista: Senhor Presidente, segundo a revista Economist, o senhor é o pragmático entre Bush e entre Chávez. O senhor não teve sucesso em intermediar entre o Bush e o Chávez. Hoje, o senhor acha que poderia intermediar entre Obama e Ahmadinejad?
Presidente: Olha, nós intermediamos entre Chávez e Bush. E muito. Você está lembrado que no dia 21 de janeiro de 2003, eu propus a constituição do grupo dos amigos da Venezuela. E foi esse grupo dos amigos da Venezuela, do qual faziam parte os Estados Unidos e a Espanha - que foi o primeiro signatário que reconheceu o golpe - mais o Brasil, o Chile, que nós conseguimos fazer com que o processo eleitoral na Venezuela transcorresse normalmente. Eu acho que nós evitamos o pior na Venezuela. E eu tentei, várias vezes, estabelecer uma boa relação entre Estados Unidos e Venezuela.
Da mesma forma que eu já fiz o primeiro gesto com o presidente Obama, quando nós tivemos um encontro de toda a América Latina, lá em Trinidad e Tobago e que nós fizemos uma reunião da América do Sul com o Obama. O encontro do Obama com o Chávez foi muito cordial. Bem, a partir dali os dois deveriam ter tomado a iniciativa de fazer esse processo de paz, porque eu também não posso ficar, sabe, toda hora me metendo nos problemas dos outros. Eu tenho que cuidar do meu país. Mas eu acredito, eu acredito que as pessoas estão ficando inteligentes e as pessoas sabem que somente a paz é que vai garantir o desenvolvimento do nosso país.
Jornalista: Presidente, o senhor irá ao Irã agora, no mês que vem. É que tem uma amizade com o presidente iraniano. Qual seria a mensagem... É uma mensagem que o senhor está levando, está levando uma advertência ou o que o senhor quer dizer? Qual é a mensagem que o senhor está levando para Ahmadinejad, frente às armas nucleares?
Presidente: Olha, primeiro, eu fico feliz porque o Presidente de Israel esteve em Damasco e esteve, me parece, que no Irã também, recentemente. E eu fui à Palestina, eu fui a Israel, o meu ministro Celso Amorim foi à Síria conversar com o Presidente sírio, e eu vou agora ao Irã, depois de receber o Shimon Perez no Brasil, depois de receber o presidente Abbas aqui no Brasil e depois de receber o Ahmadinejad aqui no Brasil. Eu vou lá agora. Eu vou lá agora porque eu acredito que a paz é a única coisa que pode garantir o desenvolvimento dos povos, que pode garantir o desenvolvimento e a melhoria de vida do povo humilde de cada país. E eu acho que a guerra não conduz a nada; a guerra conduz à destruição e eu sou um homem de paz. Como eu acredito que nós temos que ter argumento para mostrar ao mundo, com muita autoridade moral, aquilo que o Brasil fez. O Brasil é o único país do mundo que tem na sua Constituição a proibição de armas nucleares.
Então, o que nós queremos para o Irã é o mesmo que eu quero para o Brasil, e eu quero dizer ao presidente Ahmadinejad que ele deveria concordar com a proposta da Agência, que propôs para ele um determinado rito de enriquecimento de urânio, que eu acho que era mais importante, até que a gente possa continuar avançando no mundo diplomático.
Qual é a minha preocupação? A minha preocupação é que o bloqueio ou as sanções que a ONU quer impor - já que Líbano e Brasil fazem parte do Conselho de Segurança da ONU - não vai trazer nenhuma solução; vai apenas trazer radicalização.
Então, como eu acredito na política, como eu acredito no diálogo, eu vou ao Irã conversar com o presidente Ahmadinejad. Conversamos com o Primeiro-Ministro da Turquia, que está na mesma política nossa; conversamos com Israel; conversamos com os palestinos. Eu, sinceramente, de vez em quando me pergunto: quem quer a paz no Oriente Médio? Pois eu me pergunto. E eu acho que o povo quer a paz. Eu não sei se toda a classe política quer a paz, eu não sei se todos os grupos querem a paz, eu não sei se todos os países querem a paz. Eu sei que o povo quer.
Por isso, eu quero conversar com todos os interlocutores, porque também não pode ser primazia desse ou daquele país cuidar da paz. Se há 20, 30 ou 40 anos os interlocutores que estão negociando não conseguem a paz, eu acho que é preciso colocar mais interlocutores, colocar gente nova, colocar outros discursos, outras propostas para que a gente possa se colocar de acordo. É nisso que o Brasil acredita.
Nós participamos da primeira reunião de Annapolis, imaginávamos a segunda em Moscou, que já faz dois anos e não acontece.
Parece que tem gente que tem ciúmes que o Brasil esteja interessando em participar de conversas, porque entendemos que temos argumento, sobretudo pela harmonia em que vivem, no meu país, árabes e judeus. Este país é exemplo de convivência harmônica da comunidade árabe e da comunidade judaica. E esse exemplo eu quero levar para o mundo.
Jornalista: Sim. Eu vou para o break um minuto e, depois, vou passar, Presidente, para o assunto da economia brasileira e das relações líbano-brasileiras. Um intervalo.
Jornalista: Vamos retomar esse encontro especial com o presidente Lula, muito popular, muito atencioso, muito simpático e muito popular, grande popularidade. Eu gostaria muito que ele se candidatasse no Líbano que ele seria... com certeza, já teria ganho.
Presidente, na mesma questão do Oriente Médio, a gente quer passar para o assunto Brasil e Líbano. O senhor tem medo de uma operação israelense contra o Líbano se os desenvolvimentos forem dramáticos entre o Irã e o ocidente?
Presidente: Olha, eu penso que o Brasil aposta que não haverá mais qualquer ataque de Israel ao Líbano ou à Palestina, ou ao Irã, e nem do Irã a nenhum país. Veja, eu, na pergunta anterior, quando eu disse que o Brasil deseja para o Irã tudo aquilo que o Brasil quer para si é porque nós aceitamos o desenvolvimento da energia nuclear, o enriquecimento do urânio para fins pacíficos e nunca para a guerra. Eu acho que todo país tem direito a desenvolver energia nuclear, sobretudo quando nós precisamos despoluir o Planeta e a atmosfera, diminuindo a emissão de gás de efeito estufa.
Mas eu estou convencido de que nós precisamos encontrar um jeito de ver os dirigentes políticos entenderem que a paz é a única razão pela qual um país pode se desenvolver, pode investir na educação. O Líbano tem uma história extraordinária, o Líbano é símbolo de um país que viveu num regime democrático, era um país considerado a “Suíça” de todo o mundo árabe. Aí, de repente, o Líbano sofre guerra, sofre ataque, ou seja, destruído, depois é reconstruído, depois sofre novo ataque, ou seja, isso tem que parar. E isso passa por um acordo entre todos os países que têm conflito no Oriente Médio. Não cabe nem, agora, ficar procurando culpado. O que nós precisamos é dizer: “Chega, chega. Israel precisa de paz, a Palestina precisa de paz, o Líbano precisa de paz, o Irã precisa de paz”. Porque somente assim a gente vai desenvolver o Oriente Médio, somente assim os países vão ser ricos e vão poder fazer mais justiça social com seu povo.
Jornalista: Essas são as intenções, Presidente, esses são os desejos. Vossa Excelência acha que tem... vê uma possibilidade de negociações entre os árabes e os israelenses, que cheguem numa paz? O senhor vê isso?
Presidente: Veja, tem uma proposta árabe muito interessante, que eu acho que todo mundo deveria se colocar de acordo. Todo mundo imaginava que o acordo iria ser consagrado, até que Israel começou a construir casas em territórios que eram tidos como territórios palestinos, e o conflito, então, ficou um pouco nervoso.
Os Estados Unidos estão empenhados em encontrar uma solução; o mundo árabe está empenhado em encontrar uma solução e o Brasil está trabalhando para tentar encontrar uma solução.
É por isso que o Brasil tem brigado para que a gente faça uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU hoje representa, sobretudo os membros permanentes do Conselho de Segurança, representa a geografia política de 1948. Não representa a geografia política de 2010, ou seja, é preciso que a África esteja representada; é preciso que o Brasil esteja... O Brasil e outros países da América Latina. É preciso que a Índia esteja; é preciso que a Alemanha esteja; que o Japão esteja; que a África possa ter três representantes.
Jornalista: Os países em desenvolvimento.
Presidente: Para que você tenha gente que possa representar, condignamente, a nova geopolítica do mundo.
Eu digo sempre o seguinte: foi a ONU que criou o Estado de Israel, portanto, a ONU tem que ter força para criar o Estado Palestino, e viver os dois, democraticamente, em paz, construir parcerias e se desenvolverem concomitantemente.
Jornalista: A gente vai voltar ao Líbano, Excelentíssimo Senhor Presidente. O que o senhor acha que os libaneses... Qual o papel que eles tiveram na política, na economia, nesse arranque, nesse avanço. O que os libaneses deram para o Brasil? Porque depois vou perguntar, daqui a pouco, o que o senhor... o que o Brasil poderá dar ao libaneses, hoje.
Presidente: Os libaneses deram uma contribuição extraordinária para todo o crescimento do Brasil. A imigração libanesa para o Brasil tem 130 anos, ou seja, desde a viajem de D. Pedro, em 1876, que a partir daí começaram a vir libaneses para o Brasil, e por isso tem uma comunidade extraordinária.
Aqui muita gente pensa que McDonald’s é forte, mas no fundo o Habib’s deve ser muito mais forte do que o McDonald’s, porque vende mais barato uma comida de qualidade que é a comida árabe. E eu penso que em toda atividade econômica os libaneses deram uma contribuição extraordinária para o Brasil. Eu acho que é muito importante essa convivência que existe no Brasil. Uma relação de confiança, uma relação... Aqui no Brasil as pessoas se sentem em casa. É por isso que o ministro Celso Amorim foi retirar pessoas do ataque que o Líbano sofreu em 2008, fomos tirar lá os libaneses que estavam lá, os palestinos que estavam lá, as pessoas que queriam regressar ao Brasil. E eu acho que isso demonstra a solidariedade que o povo libanês tem com o Brasil e o carinho que o povo brasileiro e que o governo brasileiro têm com o povo libanês. Aqui nós vivemos em harmonia e somos agradecidos à contribuição. Se você puder sair de Brasília e ir à [rua] 25 de Março, em São Paulo, você vai perceber que você estará andando nas ruas de Beirute, de tanto libanês que existe.
Jornalista: E os libaneses votam no senhor?
Presidente: Eu penso que muitos votam, que muitos votam.
Jornalista: Nós vamos encorajá-los a votar. Senhor Presidente, o que o Brasil poderá oferecer novamente aos libaneses e ao Líbano, que seja a parte de investimentos, investidores, investimento na energia, na água. Quer dizer, se o senhor viesse falar para a candidata que será eleita, o que o senhor diria a ela para ajudar o Líbano, nos próximos anos?
Presidente: Vamos ver duas coisas importantes que aconteceram. Nós fizemos uma grande reunião América do Sul-Países Árabes aqui em Brasília e, depois, fizemos uma reunião América do Sul-Mundo Árabe, na Líbia. Por que é que nós estamos fazendo isso? Para que haja um processo de integração maior entre o Mundo Árabe, América do Sul e América Latina, para não ficar apenas no discurso de político. O Brasil é uma potência emergente e o Brasil pode ser, em 2016, a quinta economia do mundo. E o Líbano está colocado num lugar estratégico de entrada para o Oriente Médio.
Portanto, o Brasil pode contribuir muito com o desenvolvimento do Líbano. E o que é que nós temos que fazer? Nós temos que... Primeiro, os Presidentes precisam viajar mais; segundo, os empresários precisam viajar mais; terceiro, os nossos ministros precisam viajar também. A cada vez que vier um Presidente libanês no Brasil tem que trazer uma grande delegação de empresários, e a cada vez que for um brasileiro ao Líbano tem que levar uma forte delegação de empresários. Nós temos sete acordos em andamento e poderemos construir muito mais porque o Líbano é um país de um povo muito evoluído, muito desenvolvido, é um país que pode favorecer a entrada do Brasil no Mundo Árabe com muita facilidade. E, também nós temos muita proximidade cultural e muita coisa de língua. Tem muitos libaneses falando português no Líbano, tem muitos.
Então, cada vez que eu vou para lá, eu encontro um monte de patrícios, que moraram no Brasil, que me conheceram do Pará, que me conheceram do Rio de Janeiro. Então, é uma coisa fácil para o Brasil trabalhar. E eu acho que daqui para frente a tendência natural é evoluir.
Nós tivemos, no ano passado, uma exportação do Brasil de US$ 311 milhões. É importante lembrar que era menos, nós exportávamos US$ 52 milhões, passamos a exportar US$ 311 [milhões]. Mas nós precisamos importar do Líbano, para que haja um equilíbrio na balança comercial.
Só para você ter ideia, o fluxo comercial entre o Brasil e o Mundo Árabe pulou de 2 bilhões e 700 milhões em 2003 para 9 bilhões em 2009, ou seja, cresceu muito, cresceu muito. O fluxo entre o Brasil e o Mundo Árabe cresceu de R$ 2 para R$ 14 bilhões. Então, isso é uma demonstração de que nós temos um potencial muito maior, e nesse potencial o Líbano pode crescer muito.
Jornalista: Numa frase, senhor Presidente, como o senhor resumiria a política econômica que o senhor utilizou e fez do Brasil um dos países mais fortes? A equipe de trabalho com uma visão que é ter um equilíbrio entre os pobres e os ricos? Como Vossa Excelência conseguiu elevar este país para ser... Numa grande frase, numa frase só, o que o senhor diria?
Presidente: Olha, seriedade. Seriedade porque, em economia, não existe mágica.
Jornalista: O senhor crê ou tem medo desse crescimento muito grande que o Brasil está vivendo, dá medo? Acha que um outro presidente, o Brasil pode... isso degringolar ou recair? O senhor é otimista na decolagem, na arrancada aí, que o Brasil vai continuar nessa arrancada?
Presidente: Olhe, eu trabalho, eu trabalho com a hipótese de que o Brasil cresça durante vários anos, vários anos, que possa crescer entre os 5 e 6%, não precisa crescer 20%, crescer 5 ou 6% durante vários anos, para que a gente possa consolidar uma distribuição de renda junto à camada mais pobre da população, para que a gente possa terminar os investimentos que estamos fazendo no processo educacional do Brasil e para que a gente possa fazer com que melhore o poder aquisitivo das camadas mais pobres da população.
Se o Brasil crescer, como eu estou pensando, durante alguns anos seguidos, o Brasil, em 2016, poderá ser a 5ª economia do mundo, e o Brasil estará entre as principais nações ricas do mundo. Nós temos potencial para isso, temos conhecimento intelectual, temos investimento em pesquisa, temos gente qualificada para trabalhar, temos riquezas minerais como ninguém tem, temos um potencial agrícola que poucos países do mundo têm e, portanto, está tudo a favor do Brasil, basta que o governo seja sério e que a gente não utilize do mandato para fazer política para si próprio, mas governando para o povo. Aí eu acho que o Brasil vai se transformar nessa grande economia que é o meu sonho.
Jornalista: Senhor Presidente, se a política comercial do Brasil fez dele um país rico, o país está mais poderoso, ou Vossa Excelência pretende que o Brasil seja mais poderoso ainda?
Presidente: Olha, eu acho que o Brasil tem um potencial maior porque nós, agora, encontramos muito petróleo na camada pré-sal. É muito petróleo mesmo! Então, eu penso que esse petróleo vai ser a segunda independência do Brasil. Mas, além do petróleo, nós fizemos um investimento muito grande em ciência e tecnologia. O Brasil já passou a Rússia e a Holanda em publicações em revistas especializadas na área de tecnologia. Isso é um sinal extraordinário. E também nós fizemos uma nova lei do petróleo, em que uma boa parte do dinheiro do petróleo vai para um Fundo, do povo brasileiro, para que a gente possa investir em educação, ciência e tecnologia, saúde e na preservação ambiental. São temas que nós achamos que, se aplicar o dinheiro do pré-sal, nós estaremos garantindo que o Brasil dê um salto de qualidade enquanto potência mundial.
Jornalista: Mas, presidente Lula, esse gigante que é o Brasil hoje está uma força imperialista, por causa das crises comerciais que aconteceram com a Argentina, com a Bolívia, com o Equador. Não tem que coordenar entre o trabalho comercial e a boa vizinhança?
Presidente: O Brasil não tem vocação imperialista. O Brasil tem uma vocação de construir parceria nas suas relações bilaterais e nas suas relações internacionais. Nós acreditamos no funcionamento das instituições multilaterais e, por isso, eu digo sempre que não adianta o Brasil crescer se os países vizinhos não crescerem. É preciso que a gente cresça junto. É preciso que cresça o Brasil, mas cresça Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador, Chile. Todos crescendo, todos terão o que distribuir para o seu povo. É assim que nós trabalhamos e é por isso que o Brasil tem um forte investimento em infraestrutura em toda a América do Sul, porque nós queremos fazer um processo de integração com rodovias, ferrovias, telecomunicações, energia, para que a gente possa ser um continente forte e um continente rico.
Jornalista: Senhor Presidente, o senhor pediu para os países desenvolvidos para criarem um regime novo mais equilibrado, justo e seguro. Isso é uma coordenação que fez os Estados Unidos pela política e pela economia? E por onde que se vai começar, por esse novo regime mundial econômico?
Presidente: Olhe, quando foi feita a primeira reunião do G-20, todos os países estavam de acordo de que era preciso discutir uma nova ordem econômica mundial, de que era preciso controlar o sistema financeiro, de que era preciso acabar com os paraísos fiscais, de que era preciso fazer um certo ordenamento na política cambial, para que todos os países pudessem ter um certo equilíbrio, que a gente defendesse a liberdade de um livre comércio de verdade, que a gente mudasse a forma de ser do FMI e do Banco Mundial, com uma nova organização, com mais países participando.
Tudo isso ainda não aconteceu. O meu ministro estará participando, nesses próximos dias, da reunião do G-20 financeiro, e eu estarei no Canadá para discutir a reunião do G-20 política. E aí é que nós vamos fazer um balanço: o que aconteceu, efetivamente? O Brasil fez a lição de casa, o Brasil praticou o livre comércio, por isso é que a economia brasileira cresceu, porque, ao invés de fechar a economia, nós abrimos crédito. Os bancos públicos brasileiros têm uma importância muito grande no financiamento de casa, no financiamento de carro, no financiamento de empresa.
Agora, pelo que eu estou vendo, na Europa e nos Estados Unidos, parece que as coisas ainda não estão muito bem resolvidas. Aqui no Brasil, no ano passado que foi o pior ano da crise, nós criamos quase 1 milhão de novos empregos no Brasil e este ano vamos criar mais de 2 milhões. No primeiro trimestre criamos 607 mil novos postos de trabalho, formais, numa demonstração de que quem trabalhou colheu, quem não trabalhou não está colhendo.
Jornalista: Senhor Presidente, Sua Excelência deixa o governo dentro de alguns meses e o crime continua e não mudou a imagem do crime. Tem algum plano, alguma estratégia para reduzir a criminalidade no Brasil?
Presidente: Olha, veja, esse é um processo, esse é um processo. É um processo de longo prazo, é uma coisa que o governo federal tem trabalhado de forma extraordinária. Nós criamos um programa de investimento de R$ 6 bilhões na ajuda aos governos estaduais, para melhorar a polícia, criamos o Bolsa Formação para formar melhor os policiais, criamos o Pronasci para que a polícia aja dentro da comunidade, criamos as Mães de Paz, que são grupos de mães que nós pagamos um salário para conversarem com os jovens que estão correndo o risco de cair na deliquência. Agora, tudo isso é um processo. Na medida em que o Brasil vá se desenvolvendo, na medida em que a gente vá gerando distribuição de renda, na medida em a gente vai formando profissionalmente as pessoas, na medida em que tenha mais oferta de vaga na universidade, nós vamos diminuindo a violência no nosso país. E eu espero que o Brasil possa, nos próximos anos, viver um momento de paz e tranquilidade porque nós somos um povo ordeiro, um povo trabalhador e um povo que quer progredir, porque nós perdemos o século XX e não queremos perder o século XXI.
Jornalista: Senhor Presidente, Vossa Excelência acha que os princípios da liberdade, de ajuda aos pobres, combate à fome, merecem a admiração, em pleno século XXI, merecem esforço, merecem que se trabalhe por isso?
Presidente: Olhe, primeiro, eu estou muito orgulhoso porque certamente o Brasil vai cumprir todas as Metas do Milênio determinadas pela ONU. Isso, para mim, é motivo de orgulho.
Segundo, porque o que nós estamos fazendo poderia ter sido feito 50 anos atrás. Veja, veja uma coisa interessante: em cem anos, a elite brasileira fez apenas 140 escolas técnicas profissionais. Eu, em oito anos, vou fazer 214, em oito anos, eu vou fazer uma vez e meia o que eles fizeram em um século. Nós estamos fazendo 14 universidades novas. Nós criamos um programa chamado ProUni, que já colocou na universidade, este ano, 726 mil alunos pobres da periferia, fazendo universidade. Nós já fizemos 105 extensões universitárias. Portanto, o Brasil nunca teve a quantidade de jovens com perspectiva de estudar e de se formar como está tendo agora. É por isso que eu acredito que a próxima geração será altamente mais qualificada do que a minha geração. E isso me deixa muito feliz porque significa que o Brasil encontrou o seu caminho e acho que o povo brasileiro merece o que está acontecendo no Brasil.
Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, em breve o senhor deixa o governo. O que ganhou, o que aprendeu, com a experiência no governo, em governar?
Presidente: Olha, eu penso que eu tinha aprendido muito, perdendo três eleições. Aprendi muito com as minhas derrotas e aqui no governo eu consegui o meu doutorado porque o que eu aprendi aqui no governo vai me permitir poder, não só ajudar outras pessoas, mas eu quero viajar para o continente africano, eu quero viajar a América Latina – os países mais pobres –, tentando colocar a nossa experiência, o sucesso da economia brasileira, para que outros países sigam um caminho parecido.
Veja, porque muitas vezes os dirigentes ficam discutindo que não têm dinheiro, mas o problema não é só dinheiro. O problema é o seguinte: o pouco dinheiro que você tem, como é que você distribui ele de forma justa? Como é que você faz com que esse dinheiro chegue na mão de todos? Quando eu criei o Bolsa Família, no Brasil, a elite brasileira dizia que era esmola. Quando veio a crise econômica, quem sustentou o Brasil foi o povo pobre que consumiu mais do que a classe A e B. A classe D e E consumiu mais do que a classe A e B. Enquanto os mais ricos se acovardaram, o povo pobre foi ao shopping e segurou a economia brasileira.
Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, o que o senhor vai fazer depois de deixar o governo? Vai se aposentar, vai sonhar, vai escrever, vai apresentar palestras como uma pessoa pobre que vira Presidente?
Presidente: Olhe, eu não sei o que vou fazer. Uma coisa eu digo para você que eu gostaria de fazer: visitar o Líbano sem ser presidente da República, para conhecer o Líbano sem o aparato de seguranças, poder conhecer todas as cidades, comer um bom charuto, comer um bom quibe, quem sabe eu faça isso.
Mas eu pretendo dedicar um pouco do meu aprendizado para ver se eu presto um serviço à África. É só sonho, por enquanto, eu não tenho nada construído, mas eu, por exemplo, sonho em pegar um ônibus, num país africano e atravessar a África de ônibus, conversando com as pessoas e conversando com os governantes. Vamos ver se há condições de fazer isso.
Quando eu terminar o mandato, eu já estarei com 65 anos, e quando a gente vai ficando depois dos 60, cada ano vai diminuindo um pouco o ímpeto de a gente fazer as coisas, porque a idade vai pesando. Mas eu me considero ainda, eu diria, com muita energia para fazer muita coisa, eu sou um político por natureza, não vou parar de fazer política. A única coisa que eu não quero é ficar dando palpite no próximo governo aqui, no Brasil. Quem ganhou vai governar e eu vou cuidar de outras coisas.
Jornalista: O senhor não vai ser um orientador à próxima presidente?
Presidente: Não. Olha, rei morto, rei posto. Não existem bons exemplos na história de um ex-presidente ficar dando palpite na vida do novo presidente. Não dá certo.
Jornalista: Senhor Presidente, pela chegada ao governo... O seu grupo está me pedindo para encerrar a entrevista, mas eu tenho mais duas perguntas, as duas últimas perguntas. Através de chegar ao poder, o senhor está explicando para qualquer pessoa pobre e simples do Brasil, está dizendo para ela: você pode chegar, se você for lutador, se você tiver (incompreensível), se você tiver... A chegada incorpora esse sonho no brasileiro? O senhor está dizendo isso para qualquer jovem brasileiro?
Presidente: Eu acho, eu acho... Esse é o grande legado e é esse o discurso que eu tenho feito para os trabalhadores e para a juventude brasileira. Eu, em 20 anos, eu, em 20 anos, criei uma Central de Trabalhadores, junto com os meus companheiros, criei o maior partido político de esquerda do mundo, hoje democrático, do mundo democrático, e cheguei à Presidência da República. É uma demonstração de que não existe limite para o ser humano se ele quiser, se ele for perseverante, se ele estiver disposto a brigar. Obviamente que precisa se preparar, precisa se preparar. Você precisa conhecer o que você quer fazer, você precisa ter segurança política, você precisa ter apoiadores muito fortes, você precisa ter equipe, porque o problema é de equipe. Se você tiver uma boa equipe, meu filho, você governa o mundo.
Jornalista: Os senhores estão prontos para os Jogos Olímpicos de 2016? E se faltar luz, igual aconteceu no passado?
Presidente: Não. Tem poucos países do mundo com a garantia energética do Brasil. A gente não pode, não pode pegar um incidente ou um ato de irresponsabilidade e achar que isso é uma coisa eterna. O Brasil estará preparado para fazer o maior... os melhores... o melhor Jogo Olímpico de toda a história dos Jogos Olímpicos. Nós temos tradição, nós gostamos de futebol, nós gostamos de esporte, nós vamos fazer uma coisa espetacular, vamos fazer uma coisa de causar inveja a quem já fez Olimpíadas.
Jornalista: O senhor garante meus bilhetes para eu poder vir aqui assistir os Jogos, os meus bilhetes de avião para eu assistir os Jogos?
Presidente: Poderá vir comigo.
Jornalista: Senhor Presidente, gostaríamos que o senhor olhasse para a câmera e falasse... que o senhor estivesse na última noite do governo, como o senhor se despediria, o que diria ao povo brasileiro, como sua última frase, o último dia no governo?
Presidente: Olhe, eu digo para o povo brasileiro o seguinte: o meu maior orgulho, quando deixar a Presidência da República, ao descer a rampa do Palácio do Planalto, [será] chamar todas as pessoas que estarão lá de companheiros, porque eu tenho consciência de que eu vou voltar para onde eu saí, tenho consciência de quem são os meus amigos verdadeiros, quem são os meus amigos do mandato – se bem que alguns do mandato se tornaram amigos verdadeiros –, mas eu sei onde está o meu mundo. Então, eu quero... Esse é o maior legado meu, é poder encontrar um companheiro e falar “boa tarde” ou “boa noite, companheiro”, e ser tratado como um companheiro. E eu acho que eu vou conseguir isso porque eu não perdi a minha relação com os meus companheiros.
Jornalista: Por que o senhor ficou com os olhos lacrimejantes?
Presidente: Porque é sempre uma coisa, é sempre uma coisa difícil. Eu sei o quanto nós sofremos para chegar à Presidência da República, eu sei o quanto nós fomos atacados, eu sei, depois, o quanto as pessoas mentiram a respeito do nosso governo – tinha gente que pensava que a gente tinha acabado com a política – e nós vamos chegar ao final do governo com uma performance, eu diria, inusitada na história política deste governo e do país. E, portanto, isso me dá muito orgulho, me dá muito orgulho. Eu, se não fizer mais nada, se eu morresse agora, o povo brasileiro teria aprendido uma lição. Sabe aquela frase do Obama: “Nós podemos”? Aquela frase é do povo brasileiro. Nós podemos. E quando o povo quer, o povo pode fazer muito mais. E eu acho que eu sou apenas isso, eu sou a cara do que é possível um cidadão, que acredita na luta, fazer.
Jornalista: Senhor Presidente, essa é uma grande honra para mim, eu poder entrevistar um grande presidente do nível que o senhor está. Onde o senhor anda e onde ande o Brasil, por onde ande todos falam do senhor de uma forma positiva. Isso é muito raro, de tanta popularidade ao redor de um presidente. Eu acho que a humanidade necessita de pessoas como o senhor, os pobres do mundo necessitam de uma pessoa como Vossa Excelência. E nós estamos ao lado do senhor, dentro das possibilidades, na mídia, para a gente ver a próxima missão, se é na África ou como é que o senhor vai ajudar os pobres e o povo. Muito obrigado, mais uma vez, pelo senhor ter dado essa entrevista a nós. Muito obrigado a toda a sua equipe. Muito obrigado aos nossos. Esperamos pela tradução, (incompreensível) pela produção e muito obrigado.
Presidente: Deixa eu dizer uma coisa para você. Eu tenho em conta que quando um país ou uma liderança começa a crescer em importância política, também começa a arrumar adversários inimigos. Nem todo mundo gosta que eu vá ao Irã, nem todo mundo gosta que eu mantenha uma relação com Israel e com os palestinos, porque há 50 anos tem gente que pensa que é dono da construção dessa relação. Como eu sou um político que vim da minha origem, lá de baixo, eu aprendi a fazer política negociando, eu acredito que os negociadores estão conversando pouco. Normalmente, um presidente não conversa, ele manda um terceiro escalão, um quarto escalão, um quinto escalão quando, na verdade, tem que conversar no olho. Política é química, política é pegar na mão, política é olhar no olho.
Então, o Obama, o Sarkozy, a Angela Merkel, todos esses políticos de países importantes deveriam chamar o Irã para conversar, no olho, e perguntar cara a cara o que ele quer, não pode ficar com terceiro escalão ou quarto escalão conversando. Eu aprendi a fazer política olhando no olho. É no olho que você compreende se a pessoa está dizendo a verdade ou não. E é por isso que eu gosto de fazer política, sim, e é por isso que eu construí muitos amigos.
Jornalista: Podemos ter esperança pela missão do senhor?
Presidente: Eu tenho, e muita esperança.
Jornalista: E nós todos também temos grande esperança no senhor.
Presidente: Obrigado.
Jornalista: Muito obrigado, senhor Presidente.
FONTE: publicado no site www.pt.org.br.
Realizada no Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília-DF, em 22 de abril de 2010
Jornalista: Boa noite, de Brasília. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente por duas vezes e governa o Brasil numa popularidade enorme. Esse socialista que veio, que era um trabalhador e teve sucesso, e teve o privilégio de levar o Brasil a ter um papel fundamental, forte, político e cultural, especialmente de negociações na América Latina.
Lula, ele está, esse Presidente pragmático, entre amigo dos árabes e lutador para grandes causas de justiça, de liberdade e de pobreza da democracia. Este é... Hoje estará conosco o presidente Lula, na LBC. É por isso que será muito difícil, para quem vai suceder o presidente Lula, quem vai governar depois do Lula.
Boa noite, senhor Presidente. Muito obrigado e seja muito bem-vindo à LBC nessa conversa. Qual é o segredo dessa grande popularidade que o senhor tem?
Presidente: Eu acredito que o segredo da nossa popularidade são os acertos das políticas públicas, das políticas sociais e da política econômica que estamos colocando em prática no Brasil. Eu tinha muita clareza de que quando o Brasil elegeu um torneiro mecânico para ser Presidente da República, o Brasil tinha que dar certo porque se não desse certo iria demorar mais cem anos para um trabalhador, para um operário chegar à Presidência da República.
Então, eu trabalho todo esse tempo com a cabeça muito firme numa convicção de que o Brasil tem que dar certo, o povo tem que melhorar de vida para que a gente possa provar à sociedade brasileira, aos trabalhadores, aos intelectuais, aos empresários e ao mundo que um operário, saído de dentro de uma fábrica, pode governar um país do tamanho do Brasil. E as coisas deram certo. Eu sempre me inspiro no papel de uma mãe. Não existe nenhum governante melhor do que uma mãe porque se uma mãe tiver dez filhos, cinco filhos, oito filhos, ninguém vai distribuir, de forma mais justa a comida para os filhos do que uma mãe. Não adianta ser bonito, não adianta ser maior. Todo mundo tem que ter direitos iguais e todo mundo tem que comer a mesma qualidade de comida. E no governo tem que ser assim. Nós precisamos repartir aquilo que o Brasil produz de riqueza para que atenda os 200 milhões de brasileiros e não apenas a uma pequena elite, e isso tem dado certo, graças a Deus.
Jornalista: Presidente, vai ser um papel muito difícil, uma responsabilidade, muito grande para quem suceder Vossa Excelência na Presidência. Vossa Excelência acha que quem vier a sucedê-lo nas próximas eleições, será que vai dar o mesmo sonho de um trabalhador simples que chegou à Presidência e viveu o problema dos pobres e sentiu o problema dos pobres?
Presidente: Olhe, eu tenho, eu tenho uma candidata, e essa candidata obviamente que me ajudou a elaborar o programa e, portanto, é coparticipante do sucesso que o governo vive neste momento. E eu a indiquei porque é uma pessoa da maior capacidade, uma pessoa com capacidade de gerenciamento extraordinária, uma pessoa de uma lealdade fantástica e uma pessoa que está gabaritada para dar continuidade, aprimorar, melhorar e fazer mais do que nós fizemos nesses oito anos.
Por quê? Porque o paradigma que ela tem para começar a trabalhar é diferente do paradigma que eu comecei a trabalhar em 2003. O Brasil está melhor: está melhor na Educação, está melhor na Saúde, está melhor no emprego, está melhor no salário, está melhor na distribuição de renda, a economia brasileira está melhor, o Brasil é mais respeitado no mundo hoje. Então, a pessoa que vier depois de mim vai pegar um Brasil muito mais estruturado, muito mais preparado do que o Brasil que eu herdei. E eu estou convencido de que, quem quer que seja que ganhe as eleições para Presidente da República do Brasil, vai pegar um Brasil muito melhor e, portanto, pode fazer mais. E eu tenho a convicção, também, de que será a minha candidata que vai ganhar as eleições.
Jornalista: Vossa Excelência tem a certeza de que ela vai ganhar. Mas o povo brasileiro que deu tanta popularidade, tantos votos, e Vossa Excelência continuou mais forte nas pesquisas, dará para uma mulher que teve problemas de saúde, Presidente? Essa senhora, ela não foi ainda experimentada no governo. Porque ele deu ao senhor o apoio, ele automaticamente transferirá esse apoio?
Presidente: É o que falavam, é o que falavam de mim: “O Lula nunca governou, o Lula não tem experiência, o Lula não fala inglês, o Lula não tem diploma universitário”. Falaram isso de mim durante 12 anos, até que um dia o povo falou: “Deixa eu dar uma chance para esse brasileiro”. E me deu a chance e era o que eu precisava para provar que nós estávamos preparados para montar uma boa equipe e estávamos preparados para fazer uma boa governança no Brasil. Eu não utilizo muito a palavra “governar”; eu utilizo a palavra “cuidar”. O que nós estamos fazendo é cuidar do nosso país com muito carinho, e nesse aspecto eu acho que a mulher é vítima de preconceito no Brasil e no mundo, não é? Ainda há muito preconceito contra a mulher, mas eu acho que a ministra Dilma, ela já venceu muitos dos preconceitos; a doença dela não existe mais – graças a Deus, descobriu no começo e resolveu o problema – e ela está, eu diria, do ponto de vista intelectual, do ponto de vista gerencial, do ponto de vista administrativo, ela está perfeita para governar o Brasil. E eu acho que ela é a grande possibilidade que nós temos de dar continuidade. Não é que eu tenha certeza que ela vai ser eleita porque, primeiro, eu tenho que respeitar a vontade do povo brasileiro no dia das eleições. Eu tenho a convicção de que ela, pelo fato de ter melhores condições de governar o Brasil, pelo fato de ela ter melhores condições de dar continuidade ao que nós estamos fazendo, ela tem mais chances de ganhar as eleições.
Jornalista: Senhor Presidente, apesar dessa grande aceitação e desse grande sucesso do Brasil, graças à sua popularidade e esforços de Vossa Excelência para que o Brasil tenha um papel fundamental e forte hoje, no cenário mundial, apesar dos escândalos de corrupção que atingiram o partido de Vossa Excelência, que o senhor pediu desculpas há um tempo atrás, isso não provocou o senhor que pode dificultar que alguém da esquerda tenha esse voto? O que o senhor garante para os brasileiros que esse partido que vai assumir o governo de novo não vai ter mais envolvimentos em novos escândalos?
Presidente: A certeza que o povo brasileiro tem é que, nunca, na história do Brasil, um governo trabalhou tanto para apurar as denúncias de corrupção, como o nosso governo. Nunca.
Antigamente era fácil não aparecer muita corrupção no jornal, porque você ficava jogando ela embaixo do tapete.
Nós, simplesmente, duplicamos o número de policiais federais. Nós, simplesmente, duplicamos o orçamento do Ministério da Justiça para que a gente pudesse investir em inteligência, para que a gente pudesse investigar. Nós melhoramos e qualificamos a Controladoria-Geral da República [União] e 90% das denúncias são feitas pelo governo. É a Controladoria-Geral da República [União] que faz a investigação em cada ministério, em cada obra, que manda para o Tribunal de Contas e que manda para a Polícia Federal. Portanto, grande parte das denúncias de corrupção, são feitas por nós. E nós já prendemos muitos policiais, nós já prendemos muitos servidores públicos, e vamos continuar fazendo.
Porque eu tenho 64 anos, eu não acho que a gente vai conseguir acabar com a corrupção na Humanidade mas, eu acho que a gente pode diminuir barbaramente, em um país como o Brasil, se a gente continuar com a seriedade que nós estamos trabalhando o combate à corrupção. E eu acho que o povo, o povo tem... veja, qualquer pesquisa de opinião pública feita no Brasil, hoje, quando se pergunta qual é o partido de maior credibilidade do povo brasileiro, o PT aparece em primeiro lugar com 32%, o segundo colocado tem apenas 8%. Porque o PT não são os deputados, o PT não é o presidente da República, o PT são milhões de Lulas, milhões de pessoas que representam os deputados, que estão na periferia deste país, no movimento sindical, no movimento social. Nos mais longínquos e distantes locais deste país, você encontra o cidadão comum, você pode ver que ele tem simpatia pelo PT. É isso que vai ganhar as eleições. Além do que, nós fizemos uma aliança muito forte com outros partidos políticos para garantir não só uma maioria de votos, mas garantir a governabilidade ao chegarmos ao governo.
Jornalista: Ok. Se eu fosse brasileiro, eu já teria votado no PT, com certeza, Presidente.
Presidente: Olha, eu vou lhe contar uma coisa: eu penso que a maioria do povo árabe no Brasil, e não são poucos, são quase 10 milhões de árabes e descendentes que moram no Brasil, a grande maioria em São Paulo, e eu acho que tem uma grande maioria que tem simpatia pelo PT.
Jornalista: Senhor Presidente, saber a verdade e aqueles que foram os desaparecidos, a investigação sobre os desaparecidos que sofreram (incompreensível) em 64. Precisaria ter aberto essas feridas? Para que o senhor reabriu isso? Por quê? Por que somente o Ministro da Defesa e os militares eram contra?
Presidente: Não, veja, o problema não é de ser contra ou ser a favor. O problema é de você poder garantir que este país tenha a sua história contada da forma mais verdadeira possível. Ninguém quer fazer caça às bruxas, ninguém quer ficar remoendo o passado. Agora, é muito difícil você querer que uma mãe que perdeu um filho e que não sabe onde ele está, não queira encontrar o corpo do seu filho para enterrar.
Então, é por isso que nós estamos propondo a Comissão da Verdade, que vai ser aprovada pelo Congresso Nacional, da forma mais democrática possível. Nós não queremos mexer na Lei da Anistia, ela foi aprovada por consenso, no Congresso Nacional. O que nós queremos apenas é contar ao Brasil o que aconteceu, da forma mais verdadeira possível. Ou seja, ninguém, efetivamente, tem que ter medo da Comissão da Verdade, ninguém tem que ter medo da verdadeira história. Quem errou, pagou. É assim que a gente consolida a democracia no país. E eu não quero morrer em um país que a sua história tenha sido contada pela metade, eu quero que a história seja contada com o seu todo, e é isso que nós estamos tentando fazer. E, só para você ter ideia, quem está coordenando a investigação de corpos no Araguaia é o Exército Brasileiro. Porque também, veja, não foi a instituição que cometeu um erro. O erro foi cometido por pessoas que pertencem à instituição. Ora, se um ministro meu comete um erro, não é o governo que cometeu o erro, é aquele ministro e, portanto, ele tem que pagar.
Então, eu acho que a democracia, ela exige que a gente tenha abertura de cabeça, abertura de alma, que a gente conviva com coisas que a gente não gosta, sabe? Mas é a democracia, graças a Deus, ela existe.
Jornalista: Parece que o senhor tem fé em Deus. Por quê?
Presidente: Ora, por quê? Primeiro, porque eu sou um cidadão que tem obrigação de acreditar em Deus. Eu, cada vez que olho para o céu e vejo aquele monte de estrelas, aquele monte de planetas e vejo a Terra uma bolinha deste tamanho, sabe, ser um... é o único lugar até agora que provou que tem inteligência, como nós conhecemos a inteligência. Eu fico imaginando, é no mínimo uma loucura. Tem que ter alguém superior que fez isso. Quando eu chego à Presidência da República, saído de onde eu saí, viver no mundo que eu vivi, chegar à Presidência da República, eu tenho que entender que há o dedinho de Deus ali, eu tenho que entender. E por isso eu sou grato e agradeço todos os dias.
Jornalista: Senhor Presidente, segundo a revista Economist, o senhor é o pragmático entre Bush e entre Chávez. O senhor não teve sucesso em intermediar entre o Bush e o Chávez. Hoje, o senhor acha que poderia intermediar entre Obama e Ahmadinejad?
Presidente: Olha, nós intermediamos entre Chávez e Bush. E muito. Você está lembrado que no dia 21 de janeiro de 2003, eu propus a constituição do grupo dos amigos da Venezuela. E foi esse grupo dos amigos da Venezuela, do qual faziam parte os Estados Unidos e a Espanha - que foi o primeiro signatário que reconheceu o golpe - mais o Brasil, o Chile, que nós conseguimos fazer com que o processo eleitoral na Venezuela transcorresse normalmente. Eu acho que nós evitamos o pior na Venezuela. E eu tentei, várias vezes, estabelecer uma boa relação entre Estados Unidos e Venezuela.
Da mesma forma que eu já fiz o primeiro gesto com o presidente Obama, quando nós tivemos um encontro de toda a América Latina, lá em Trinidad e Tobago e que nós fizemos uma reunião da América do Sul com o Obama. O encontro do Obama com o Chávez foi muito cordial. Bem, a partir dali os dois deveriam ter tomado a iniciativa de fazer esse processo de paz, porque eu também não posso ficar, sabe, toda hora me metendo nos problemas dos outros. Eu tenho que cuidar do meu país. Mas eu acredito, eu acredito que as pessoas estão ficando inteligentes e as pessoas sabem que somente a paz é que vai garantir o desenvolvimento do nosso país.
Jornalista: Presidente, o senhor irá ao Irã agora, no mês que vem. É que tem uma amizade com o presidente iraniano. Qual seria a mensagem... É uma mensagem que o senhor está levando, está levando uma advertência ou o que o senhor quer dizer? Qual é a mensagem que o senhor está levando para Ahmadinejad, frente às armas nucleares?
Presidente: Olha, primeiro, eu fico feliz porque o Presidente de Israel esteve em Damasco e esteve, me parece, que no Irã também, recentemente. E eu fui à Palestina, eu fui a Israel, o meu ministro Celso Amorim foi à Síria conversar com o Presidente sírio, e eu vou agora ao Irã, depois de receber o Shimon Perez no Brasil, depois de receber o presidente Abbas aqui no Brasil e depois de receber o Ahmadinejad aqui no Brasil. Eu vou lá agora. Eu vou lá agora porque eu acredito que a paz é a única coisa que pode garantir o desenvolvimento dos povos, que pode garantir o desenvolvimento e a melhoria de vida do povo humilde de cada país. E eu acho que a guerra não conduz a nada; a guerra conduz à destruição e eu sou um homem de paz. Como eu acredito que nós temos que ter argumento para mostrar ao mundo, com muita autoridade moral, aquilo que o Brasil fez. O Brasil é o único país do mundo que tem na sua Constituição a proibição de armas nucleares.
Então, o que nós queremos para o Irã é o mesmo que eu quero para o Brasil, e eu quero dizer ao presidente Ahmadinejad que ele deveria concordar com a proposta da Agência, que propôs para ele um determinado rito de enriquecimento de urânio, que eu acho que era mais importante, até que a gente possa continuar avançando no mundo diplomático.
Qual é a minha preocupação? A minha preocupação é que o bloqueio ou as sanções que a ONU quer impor - já que Líbano e Brasil fazem parte do Conselho de Segurança da ONU - não vai trazer nenhuma solução; vai apenas trazer radicalização.
Então, como eu acredito na política, como eu acredito no diálogo, eu vou ao Irã conversar com o presidente Ahmadinejad. Conversamos com o Primeiro-Ministro da Turquia, que está na mesma política nossa; conversamos com Israel; conversamos com os palestinos. Eu, sinceramente, de vez em quando me pergunto: quem quer a paz no Oriente Médio? Pois eu me pergunto. E eu acho que o povo quer a paz. Eu não sei se toda a classe política quer a paz, eu não sei se todos os grupos querem a paz, eu não sei se todos os países querem a paz. Eu sei que o povo quer.
Por isso, eu quero conversar com todos os interlocutores, porque também não pode ser primazia desse ou daquele país cuidar da paz. Se há 20, 30 ou 40 anos os interlocutores que estão negociando não conseguem a paz, eu acho que é preciso colocar mais interlocutores, colocar gente nova, colocar outros discursos, outras propostas para que a gente possa se colocar de acordo. É nisso que o Brasil acredita.
Nós participamos da primeira reunião de Annapolis, imaginávamos a segunda em Moscou, que já faz dois anos e não acontece.
Parece que tem gente que tem ciúmes que o Brasil esteja interessando em participar de conversas, porque entendemos que temos argumento, sobretudo pela harmonia em que vivem, no meu país, árabes e judeus. Este país é exemplo de convivência harmônica da comunidade árabe e da comunidade judaica. E esse exemplo eu quero levar para o mundo.
Jornalista: Sim. Eu vou para o break um minuto e, depois, vou passar, Presidente, para o assunto da economia brasileira e das relações líbano-brasileiras. Um intervalo.
Jornalista: Vamos retomar esse encontro especial com o presidente Lula, muito popular, muito atencioso, muito simpático e muito popular, grande popularidade. Eu gostaria muito que ele se candidatasse no Líbano que ele seria... com certeza, já teria ganho.
Presidente, na mesma questão do Oriente Médio, a gente quer passar para o assunto Brasil e Líbano. O senhor tem medo de uma operação israelense contra o Líbano se os desenvolvimentos forem dramáticos entre o Irã e o ocidente?
Presidente: Olha, eu penso que o Brasil aposta que não haverá mais qualquer ataque de Israel ao Líbano ou à Palestina, ou ao Irã, e nem do Irã a nenhum país. Veja, eu, na pergunta anterior, quando eu disse que o Brasil deseja para o Irã tudo aquilo que o Brasil quer para si é porque nós aceitamos o desenvolvimento da energia nuclear, o enriquecimento do urânio para fins pacíficos e nunca para a guerra. Eu acho que todo país tem direito a desenvolver energia nuclear, sobretudo quando nós precisamos despoluir o Planeta e a atmosfera, diminuindo a emissão de gás de efeito estufa.
Mas eu estou convencido de que nós precisamos encontrar um jeito de ver os dirigentes políticos entenderem que a paz é a única razão pela qual um país pode se desenvolver, pode investir na educação. O Líbano tem uma história extraordinária, o Líbano é símbolo de um país que viveu num regime democrático, era um país considerado a “Suíça” de todo o mundo árabe. Aí, de repente, o Líbano sofre guerra, sofre ataque, ou seja, destruído, depois é reconstruído, depois sofre novo ataque, ou seja, isso tem que parar. E isso passa por um acordo entre todos os países que têm conflito no Oriente Médio. Não cabe nem, agora, ficar procurando culpado. O que nós precisamos é dizer: “Chega, chega. Israel precisa de paz, a Palestina precisa de paz, o Líbano precisa de paz, o Irã precisa de paz”. Porque somente assim a gente vai desenvolver o Oriente Médio, somente assim os países vão ser ricos e vão poder fazer mais justiça social com seu povo.
Jornalista: Essas são as intenções, Presidente, esses são os desejos. Vossa Excelência acha que tem... vê uma possibilidade de negociações entre os árabes e os israelenses, que cheguem numa paz? O senhor vê isso?
Presidente: Veja, tem uma proposta árabe muito interessante, que eu acho que todo mundo deveria se colocar de acordo. Todo mundo imaginava que o acordo iria ser consagrado, até que Israel começou a construir casas em territórios que eram tidos como territórios palestinos, e o conflito, então, ficou um pouco nervoso.
Os Estados Unidos estão empenhados em encontrar uma solução; o mundo árabe está empenhado em encontrar uma solução e o Brasil está trabalhando para tentar encontrar uma solução.
É por isso que o Brasil tem brigado para que a gente faça uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU hoje representa, sobretudo os membros permanentes do Conselho de Segurança, representa a geografia política de 1948. Não representa a geografia política de 2010, ou seja, é preciso que a África esteja representada; é preciso que o Brasil esteja... O Brasil e outros países da América Latina. É preciso que a Índia esteja; é preciso que a Alemanha esteja; que o Japão esteja; que a África possa ter três representantes.
Jornalista: Os países em desenvolvimento.
Presidente: Para que você tenha gente que possa representar, condignamente, a nova geopolítica do mundo.
Eu digo sempre o seguinte: foi a ONU que criou o Estado de Israel, portanto, a ONU tem que ter força para criar o Estado Palestino, e viver os dois, democraticamente, em paz, construir parcerias e se desenvolverem concomitantemente.
Jornalista: A gente vai voltar ao Líbano, Excelentíssimo Senhor Presidente. O que o senhor acha que os libaneses... Qual o papel que eles tiveram na política, na economia, nesse arranque, nesse avanço. O que os libaneses deram para o Brasil? Porque depois vou perguntar, daqui a pouco, o que o senhor... o que o Brasil poderá dar ao libaneses, hoje.
Presidente: Os libaneses deram uma contribuição extraordinária para todo o crescimento do Brasil. A imigração libanesa para o Brasil tem 130 anos, ou seja, desde a viajem de D. Pedro, em 1876, que a partir daí começaram a vir libaneses para o Brasil, e por isso tem uma comunidade extraordinária.
Aqui muita gente pensa que McDonald’s é forte, mas no fundo o Habib’s deve ser muito mais forte do que o McDonald’s, porque vende mais barato uma comida de qualidade que é a comida árabe. E eu penso que em toda atividade econômica os libaneses deram uma contribuição extraordinária para o Brasil. Eu acho que é muito importante essa convivência que existe no Brasil. Uma relação de confiança, uma relação... Aqui no Brasil as pessoas se sentem em casa. É por isso que o ministro Celso Amorim foi retirar pessoas do ataque que o Líbano sofreu em 2008, fomos tirar lá os libaneses que estavam lá, os palestinos que estavam lá, as pessoas que queriam regressar ao Brasil. E eu acho que isso demonstra a solidariedade que o povo libanês tem com o Brasil e o carinho que o povo brasileiro e que o governo brasileiro têm com o povo libanês. Aqui nós vivemos em harmonia e somos agradecidos à contribuição. Se você puder sair de Brasília e ir à [rua] 25 de Março, em São Paulo, você vai perceber que você estará andando nas ruas de Beirute, de tanto libanês que existe.
Jornalista: E os libaneses votam no senhor?
Presidente: Eu penso que muitos votam, que muitos votam.
Jornalista: Nós vamos encorajá-los a votar. Senhor Presidente, o que o Brasil poderá oferecer novamente aos libaneses e ao Líbano, que seja a parte de investimentos, investidores, investimento na energia, na água. Quer dizer, se o senhor viesse falar para a candidata que será eleita, o que o senhor diria a ela para ajudar o Líbano, nos próximos anos?
Presidente: Vamos ver duas coisas importantes que aconteceram. Nós fizemos uma grande reunião América do Sul-Países Árabes aqui em Brasília e, depois, fizemos uma reunião América do Sul-Mundo Árabe, na Líbia. Por que é que nós estamos fazendo isso? Para que haja um processo de integração maior entre o Mundo Árabe, América do Sul e América Latina, para não ficar apenas no discurso de político. O Brasil é uma potência emergente e o Brasil pode ser, em 2016, a quinta economia do mundo. E o Líbano está colocado num lugar estratégico de entrada para o Oriente Médio.
Portanto, o Brasil pode contribuir muito com o desenvolvimento do Líbano. E o que é que nós temos que fazer? Nós temos que... Primeiro, os Presidentes precisam viajar mais; segundo, os empresários precisam viajar mais; terceiro, os nossos ministros precisam viajar também. A cada vez que vier um Presidente libanês no Brasil tem que trazer uma grande delegação de empresários, e a cada vez que for um brasileiro ao Líbano tem que levar uma forte delegação de empresários. Nós temos sete acordos em andamento e poderemos construir muito mais porque o Líbano é um país de um povo muito evoluído, muito desenvolvido, é um país que pode favorecer a entrada do Brasil no Mundo Árabe com muita facilidade. E, também nós temos muita proximidade cultural e muita coisa de língua. Tem muitos libaneses falando português no Líbano, tem muitos.
Então, cada vez que eu vou para lá, eu encontro um monte de patrícios, que moraram no Brasil, que me conheceram do Pará, que me conheceram do Rio de Janeiro. Então, é uma coisa fácil para o Brasil trabalhar. E eu acho que daqui para frente a tendência natural é evoluir.
Nós tivemos, no ano passado, uma exportação do Brasil de US$ 311 milhões. É importante lembrar que era menos, nós exportávamos US$ 52 milhões, passamos a exportar US$ 311 [milhões]. Mas nós precisamos importar do Líbano, para que haja um equilíbrio na balança comercial.
Só para você ter ideia, o fluxo comercial entre o Brasil e o Mundo Árabe pulou de 2 bilhões e 700 milhões em 2003 para 9 bilhões em 2009, ou seja, cresceu muito, cresceu muito. O fluxo entre o Brasil e o Mundo Árabe cresceu de R$ 2 para R$ 14 bilhões. Então, isso é uma demonstração de que nós temos um potencial muito maior, e nesse potencial o Líbano pode crescer muito.
Jornalista: Numa frase, senhor Presidente, como o senhor resumiria a política econômica que o senhor utilizou e fez do Brasil um dos países mais fortes? A equipe de trabalho com uma visão que é ter um equilíbrio entre os pobres e os ricos? Como Vossa Excelência conseguiu elevar este país para ser... Numa grande frase, numa frase só, o que o senhor diria?
Presidente: Olha, seriedade. Seriedade porque, em economia, não existe mágica.
Jornalista: O senhor crê ou tem medo desse crescimento muito grande que o Brasil está vivendo, dá medo? Acha que um outro presidente, o Brasil pode... isso degringolar ou recair? O senhor é otimista na decolagem, na arrancada aí, que o Brasil vai continuar nessa arrancada?
Presidente: Olhe, eu trabalho, eu trabalho com a hipótese de que o Brasil cresça durante vários anos, vários anos, que possa crescer entre os 5 e 6%, não precisa crescer 20%, crescer 5 ou 6% durante vários anos, para que a gente possa consolidar uma distribuição de renda junto à camada mais pobre da população, para que a gente possa terminar os investimentos que estamos fazendo no processo educacional do Brasil e para que a gente possa fazer com que melhore o poder aquisitivo das camadas mais pobres da população.
Se o Brasil crescer, como eu estou pensando, durante alguns anos seguidos, o Brasil, em 2016, poderá ser a 5ª economia do mundo, e o Brasil estará entre as principais nações ricas do mundo. Nós temos potencial para isso, temos conhecimento intelectual, temos investimento em pesquisa, temos gente qualificada para trabalhar, temos riquezas minerais como ninguém tem, temos um potencial agrícola que poucos países do mundo têm e, portanto, está tudo a favor do Brasil, basta que o governo seja sério e que a gente não utilize do mandato para fazer política para si próprio, mas governando para o povo. Aí eu acho que o Brasil vai se transformar nessa grande economia que é o meu sonho.
Jornalista: Senhor Presidente, se a política comercial do Brasil fez dele um país rico, o país está mais poderoso, ou Vossa Excelência pretende que o Brasil seja mais poderoso ainda?
Presidente: Olha, eu acho que o Brasil tem um potencial maior porque nós, agora, encontramos muito petróleo na camada pré-sal. É muito petróleo mesmo! Então, eu penso que esse petróleo vai ser a segunda independência do Brasil. Mas, além do petróleo, nós fizemos um investimento muito grande em ciência e tecnologia. O Brasil já passou a Rússia e a Holanda em publicações em revistas especializadas na área de tecnologia. Isso é um sinal extraordinário. E também nós fizemos uma nova lei do petróleo, em que uma boa parte do dinheiro do petróleo vai para um Fundo, do povo brasileiro, para que a gente possa investir em educação, ciência e tecnologia, saúde e na preservação ambiental. São temas que nós achamos que, se aplicar o dinheiro do pré-sal, nós estaremos garantindo que o Brasil dê um salto de qualidade enquanto potência mundial.
Jornalista: Mas, presidente Lula, esse gigante que é o Brasil hoje está uma força imperialista, por causa das crises comerciais que aconteceram com a Argentina, com a Bolívia, com o Equador. Não tem que coordenar entre o trabalho comercial e a boa vizinhança?
Presidente: O Brasil não tem vocação imperialista. O Brasil tem uma vocação de construir parceria nas suas relações bilaterais e nas suas relações internacionais. Nós acreditamos no funcionamento das instituições multilaterais e, por isso, eu digo sempre que não adianta o Brasil crescer se os países vizinhos não crescerem. É preciso que a gente cresça junto. É preciso que cresça o Brasil, mas cresça Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador, Chile. Todos crescendo, todos terão o que distribuir para o seu povo. É assim que nós trabalhamos e é por isso que o Brasil tem um forte investimento em infraestrutura em toda a América do Sul, porque nós queremos fazer um processo de integração com rodovias, ferrovias, telecomunicações, energia, para que a gente possa ser um continente forte e um continente rico.
Jornalista: Senhor Presidente, o senhor pediu para os países desenvolvidos para criarem um regime novo mais equilibrado, justo e seguro. Isso é uma coordenação que fez os Estados Unidos pela política e pela economia? E por onde que se vai começar, por esse novo regime mundial econômico?
Presidente: Olhe, quando foi feita a primeira reunião do G-20, todos os países estavam de acordo de que era preciso discutir uma nova ordem econômica mundial, de que era preciso controlar o sistema financeiro, de que era preciso acabar com os paraísos fiscais, de que era preciso fazer um certo ordenamento na política cambial, para que todos os países pudessem ter um certo equilíbrio, que a gente defendesse a liberdade de um livre comércio de verdade, que a gente mudasse a forma de ser do FMI e do Banco Mundial, com uma nova organização, com mais países participando.
Tudo isso ainda não aconteceu. O meu ministro estará participando, nesses próximos dias, da reunião do G-20 financeiro, e eu estarei no Canadá para discutir a reunião do G-20 política. E aí é que nós vamos fazer um balanço: o que aconteceu, efetivamente? O Brasil fez a lição de casa, o Brasil praticou o livre comércio, por isso é que a economia brasileira cresceu, porque, ao invés de fechar a economia, nós abrimos crédito. Os bancos públicos brasileiros têm uma importância muito grande no financiamento de casa, no financiamento de carro, no financiamento de empresa.
Agora, pelo que eu estou vendo, na Europa e nos Estados Unidos, parece que as coisas ainda não estão muito bem resolvidas. Aqui no Brasil, no ano passado que foi o pior ano da crise, nós criamos quase 1 milhão de novos empregos no Brasil e este ano vamos criar mais de 2 milhões. No primeiro trimestre criamos 607 mil novos postos de trabalho, formais, numa demonstração de que quem trabalhou colheu, quem não trabalhou não está colhendo.
Jornalista: Senhor Presidente, Sua Excelência deixa o governo dentro de alguns meses e o crime continua e não mudou a imagem do crime. Tem algum plano, alguma estratégia para reduzir a criminalidade no Brasil?
Presidente: Olha, veja, esse é um processo, esse é um processo. É um processo de longo prazo, é uma coisa que o governo federal tem trabalhado de forma extraordinária. Nós criamos um programa de investimento de R$ 6 bilhões na ajuda aos governos estaduais, para melhorar a polícia, criamos o Bolsa Formação para formar melhor os policiais, criamos o Pronasci para que a polícia aja dentro da comunidade, criamos as Mães de Paz, que são grupos de mães que nós pagamos um salário para conversarem com os jovens que estão correndo o risco de cair na deliquência. Agora, tudo isso é um processo. Na medida em que o Brasil vá se desenvolvendo, na medida em que a gente vá gerando distribuição de renda, na medida em a gente vai formando profissionalmente as pessoas, na medida em que tenha mais oferta de vaga na universidade, nós vamos diminuindo a violência no nosso país. E eu espero que o Brasil possa, nos próximos anos, viver um momento de paz e tranquilidade porque nós somos um povo ordeiro, um povo trabalhador e um povo que quer progredir, porque nós perdemos o século XX e não queremos perder o século XXI.
Jornalista: Senhor Presidente, Vossa Excelência acha que os princípios da liberdade, de ajuda aos pobres, combate à fome, merecem a admiração, em pleno século XXI, merecem esforço, merecem que se trabalhe por isso?
Presidente: Olhe, primeiro, eu estou muito orgulhoso porque certamente o Brasil vai cumprir todas as Metas do Milênio determinadas pela ONU. Isso, para mim, é motivo de orgulho.
Segundo, porque o que nós estamos fazendo poderia ter sido feito 50 anos atrás. Veja, veja uma coisa interessante: em cem anos, a elite brasileira fez apenas 140 escolas técnicas profissionais. Eu, em oito anos, vou fazer 214, em oito anos, eu vou fazer uma vez e meia o que eles fizeram em um século. Nós estamos fazendo 14 universidades novas. Nós criamos um programa chamado ProUni, que já colocou na universidade, este ano, 726 mil alunos pobres da periferia, fazendo universidade. Nós já fizemos 105 extensões universitárias. Portanto, o Brasil nunca teve a quantidade de jovens com perspectiva de estudar e de se formar como está tendo agora. É por isso que eu acredito que a próxima geração será altamente mais qualificada do que a minha geração. E isso me deixa muito feliz porque significa que o Brasil encontrou o seu caminho e acho que o povo brasileiro merece o que está acontecendo no Brasil.
Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, em breve o senhor deixa o governo. O que ganhou, o que aprendeu, com a experiência no governo, em governar?
Presidente: Olha, eu penso que eu tinha aprendido muito, perdendo três eleições. Aprendi muito com as minhas derrotas e aqui no governo eu consegui o meu doutorado porque o que eu aprendi aqui no governo vai me permitir poder, não só ajudar outras pessoas, mas eu quero viajar para o continente africano, eu quero viajar a América Latina – os países mais pobres –, tentando colocar a nossa experiência, o sucesso da economia brasileira, para que outros países sigam um caminho parecido.
Veja, porque muitas vezes os dirigentes ficam discutindo que não têm dinheiro, mas o problema não é só dinheiro. O problema é o seguinte: o pouco dinheiro que você tem, como é que você distribui ele de forma justa? Como é que você faz com que esse dinheiro chegue na mão de todos? Quando eu criei o Bolsa Família, no Brasil, a elite brasileira dizia que era esmola. Quando veio a crise econômica, quem sustentou o Brasil foi o povo pobre que consumiu mais do que a classe A e B. A classe D e E consumiu mais do que a classe A e B. Enquanto os mais ricos se acovardaram, o povo pobre foi ao shopping e segurou a economia brasileira.
Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, o que o senhor vai fazer depois de deixar o governo? Vai se aposentar, vai sonhar, vai escrever, vai apresentar palestras como uma pessoa pobre que vira Presidente?
Presidente: Olhe, eu não sei o que vou fazer. Uma coisa eu digo para você que eu gostaria de fazer: visitar o Líbano sem ser presidente da República, para conhecer o Líbano sem o aparato de seguranças, poder conhecer todas as cidades, comer um bom charuto, comer um bom quibe, quem sabe eu faça isso.
Mas eu pretendo dedicar um pouco do meu aprendizado para ver se eu presto um serviço à África. É só sonho, por enquanto, eu não tenho nada construído, mas eu, por exemplo, sonho em pegar um ônibus, num país africano e atravessar a África de ônibus, conversando com as pessoas e conversando com os governantes. Vamos ver se há condições de fazer isso.
Quando eu terminar o mandato, eu já estarei com 65 anos, e quando a gente vai ficando depois dos 60, cada ano vai diminuindo um pouco o ímpeto de a gente fazer as coisas, porque a idade vai pesando. Mas eu me considero ainda, eu diria, com muita energia para fazer muita coisa, eu sou um político por natureza, não vou parar de fazer política. A única coisa que eu não quero é ficar dando palpite no próximo governo aqui, no Brasil. Quem ganhou vai governar e eu vou cuidar de outras coisas.
Jornalista: O senhor não vai ser um orientador à próxima presidente?
Presidente: Não. Olha, rei morto, rei posto. Não existem bons exemplos na história de um ex-presidente ficar dando palpite na vida do novo presidente. Não dá certo.
Jornalista: Senhor Presidente, pela chegada ao governo... O seu grupo está me pedindo para encerrar a entrevista, mas eu tenho mais duas perguntas, as duas últimas perguntas. Através de chegar ao poder, o senhor está explicando para qualquer pessoa pobre e simples do Brasil, está dizendo para ela: você pode chegar, se você for lutador, se você tiver (incompreensível), se você tiver... A chegada incorpora esse sonho no brasileiro? O senhor está dizendo isso para qualquer jovem brasileiro?
Presidente: Eu acho, eu acho... Esse é o grande legado e é esse o discurso que eu tenho feito para os trabalhadores e para a juventude brasileira. Eu, em 20 anos, eu, em 20 anos, criei uma Central de Trabalhadores, junto com os meus companheiros, criei o maior partido político de esquerda do mundo, hoje democrático, do mundo democrático, e cheguei à Presidência da República. É uma demonstração de que não existe limite para o ser humano se ele quiser, se ele for perseverante, se ele estiver disposto a brigar. Obviamente que precisa se preparar, precisa se preparar. Você precisa conhecer o que você quer fazer, você precisa ter segurança política, você precisa ter apoiadores muito fortes, você precisa ter equipe, porque o problema é de equipe. Se você tiver uma boa equipe, meu filho, você governa o mundo.
Jornalista: Os senhores estão prontos para os Jogos Olímpicos de 2016? E se faltar luz, igual aconteceu no passado?
Presidente: Não. Tem poucos países do mundo com a garantia energética do Brasil. A gente não pode, não pode pegar um incidente ou um ato de irresponsabilidade e achar que isso é uma coisa eterna. O Brasil estará preparado para fazer o maior... os melhores... o melhor Jogo Olímpico de toda a história dos Jogos Olímpicos. Nós temos tradição, nós gostamos de futebol, nós gostamos de esporte, nós vamos fazer uma coisa espetacular, vamos fazer uma coisa de causar inveja a quem já fez Olimpíadas.
Jornalista: O senhor garante meus bilhetes para eu poder vir aqui assistir os Jogos, os meus bilhetes de avião para eu assistir os Jogos?
Presidente: Poderá vir comigo.
Jornalista: Senhor Presidente, gostaríamos que o senhor olhasse para a câmera e falasse... que o senhor estivesse na última noite do governo, como o senhor se despediria, o que diria ao povo brasileiro, como sua última frase, o último dia no governo?
Presidente: Olhe, eu digo para o povo brasileiro o seguinte: o meu maior orgulho, quando deixar a Presidência da República, ao descer a rampa do Palácio do Planalto, [será] chamar todas as pessoas que estarão lá de companheiros, porque eu tenho consciência de que eu vou voltar para onde eu saí, tenho consciência de quem são os meus amigos verdadeiros, quem são os meus amigos do mandato – se bem que alguns do mandato se tornaram amigos verdadeiros –, mas eu sei onde está o meu mundo. Então, eu quero... Esse é o maior legado meu, é poder encontrar um companheiro e falar “boa tarde” ou “boa noite, companheiro”, e ser tratado como um companheiro. E eu acho que eu vou conseguir isso porque eu não perdi a minha relação com os meus companheiros.
Jornalista: Por que o senhor ficou com os olhos lacrimejantes?
Presidente: Porque é sempre uma coisa, é sempre uma coisa difícil. Eu sei o quanto nós sofremos para chegar à Presidência da República, eu sei o quanto nós fomos atacados, eu sei, depois, o quanto as pessoas mentiram a respeito do nosso governo – tinha gente que pensava que a gente tinha acabado com a política – e nós vamos chegar ao final do governo com uma performance, eu diria, inusitada na história política deste governo e do país. E, portanto, isso me dá muito orgulho, me dá muito orgulho. Eu, se não fizer mais nada, se eu morresse agora, o povo brasileiro teria aprendido uma lição. Sabe aquela frase do Obama: “Nós podemos”? Aquela frase é do povo brasileiro. Nós podemos. E quando o povo quer, o povo pode fazer muito mais. E eu acho que eu sou apenas isso, eu sou a cara do que é possível um cidadão, que acredita na luta, fazer.
Jornalista: Senhor Presidente, essa é uma grande honra para mim, eu poder entrevistar um grande presidente do nível que o senhor está. Onde o senhor anda e onde ande o Brasil, por onde ande todos falam do senhor de uma forma positiva. Isso é muito raro, de tanta popularidade ao redor de um presidente. Eu acho que a humanidade necessita de pessoas como o senhor, os pobres do mundo necessitam de uma pessoa como Vossa Excelência. E nós estamos ao lado do senhor, dentro das possibilidades, na mídia, para a gente ver a próxima missão, se é na África ou como é que o senhor vai ajudar os pobres e o povo. Muito obrigado, mais uma vez, pelo senhor ter dado essa entrevista a nós. Muito obrigado a toda a sua equipe. Muito obrigado aos nossos. Esperamos pela tradução, (incompreensível) pela produção e muito obrigado.
Presidente: Deixa eu dizer uma coisa para você. Eu tenho em conta que quando um país ou uma liderança começa a crescer em importância política, também começa a arrumar adversários inimigos. Nem todo mundo gosta que eu vá ao Irã, nem todo mundo gosta que eu mantenha uma relação com Israel e com os palestinos, porque há 50 anos tem gente que pensa que é dono da construção dessa relação. Como eu sou um político que vim da minha origem, lá de baixo, eu aprendi a fazer política negociando, eu acredito que os negociadores estão conversando pouco. Normalmente, um presidente não conversa, ele manda um terceiro escalão, um quarto escalão, um quinto escalão quando, na verdade, tem que conversar no olho. Política é química, política é pegar na mão, política é olhar no olho.
Então, o Obama, o Sarkozy, a Angela Merkel, todos esses políticos de países importantes deveriam chamar o Irã para conversar, no olho, e perguntar cara a cara o que ele quer, não pode ficar com terceiro escalão ou quarto escalão conversando. Eu aprendi a fazer política olhando no olho. É no olho que você compreende se a pessoa está dizendo a verdade ou não. E é por isso que eu gosto de fazer política, sim, e é por isso que eu construí muitos amigos.
Jornalista: Podemos ter esperança pela missão do senhor?
Presidente: Eu tenho, e muita esperança.
Jornalista: E nós todos também temos grande esperança no senhor.
Presidente: Obrigado.
Jornalista: Muito obrigado, senhor Presidente.
FONTE: publicado no site www.pt.org.br.
GOVERNO FEDERAL CUMPRE META DE SUPERÁVIT PRIMÁRIO
"Governo Central cumprirá meta de superávit primário para primeiro quadrimestre
O Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) cumprirá a meta de R$ 18 bilhões de superávit primário para os quatro primeiros meses do ano, sem recorrer a um mecanismo que permite o abatimento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A afirmação foi feita, ontem, pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Ele disse que as receitas em abril serão suficientes para compensar o déficit registrado em março. (...) “A entrada de recursos em caixa em abril será mais forte, mesmo porque há concentração de receitas do Imposto de Renda.”
Em março, o Governo Central apresentou déficit primário de R$ 4,6 bilhões, o pior resultado desde setembro do ano passado. Segundo o Tesouro Nacional, esse resultado foi provocado pelo pagamento de R$ 6,8 bilhões em sentenças judiciais no mês passado.
De acordo com Augustin, a concentração desses pagamentos foi atípica e decorreu da necessidade de o governo atrasar os precatórios para evitar o crescimento nos gastos no início do ano. O secretário assegurou que não haverá mais pagamentos de sentenças em volumes expressivos neste ano."
FONTE: reportagem de Wellton Máximo (edição de Nádia Franco) publicada pela Agência Brasil.
O Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) cumprirá a meta de R$ 18 bilhões de superávit primário para os quatro primeiros meses do ano, sem recorrer a um mecanismo que permite o abatimento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A afirmação foi feita, ontem, pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Ele disse que as receitas em abril serão suficientes para compensar o déficit registrado em março. (...) “A entrada de recursos em caixa em abril será mais forte, mesmo porque há concentração de receitas do Imposto de Renda.”
Em março, o Governo Central apresentou déficit primário de R$ 4,6 bilhões, o pior resultado desde setembro do ano passado. Segundo o Tesouro Nacional, esse resultado foi provocado pelo pagamento de R$ 6,8 bilhões em sentenças judiciais no mês passado.
De acordo com Augustin, a concentração desses pagamentos foi atípica e decorreu da necessidade de o governo atrasar os precatórios para evitar o crescimento nos gastos no início do ano. O secretário assegurou que não haverá mais pagamentos de sentenças em volumes expressivos neste ano."
FONTE: reportagem de Wellton Máximo (edição de Nádia Franco) publicada pela Agência Brasil.
JUROS PARA PESSOA FÍSICA BAIXAM AO MENOR NÍVEL DA SÉRIE INICIADA EM 1994
Juros de empréstimos para pessoa física têm a menor taxa desde 1994
"Em março, as taxas de juros cobradas nos empréstimos para as famílias caíram e para as empresas subiram, segundo dados do Banco Central (BC) divulgados ontem (29).
A taxa para as pessoas físicas passou de 41,9% ao ano em fevereiro para 41% ao ano, no mês passado, o menor patamar da série histórica do BC, iniciada em 1994.
“A retração esteve condicionada, principalmente, ao maior volume de contratações em modalidades de custo mais baixo, a exemplo do crédito pessoal e do financiamento para aquisição de veículos”, revela o relatório do BC.
No caso das empresas, houve alta de 0,4 ponto percentual e passou para 26,3% ao ano.
“O resultado do mês refletiu o aumento dos custos de captação associado às expectativas relacionadas ao comportamento futuro das taxas de juros”, informa o documento sobre o aumento dos juros para as empresas.
A taxa média cobrada no crédito pessoal, incluídas operações consignadas em folha de pagamento, teve redução de 1,1 ponto percentual e passou para 42,7% ao ano. No caso dos juros cobrados para a compra de veículos, a redução foi de 0,6 ponto percentual, levando a taxa para 23,5% ao ano.
Na contramão, ficou a taxa do cheque especial que apresentou alta de 0,8 ponto percentual na comparação com fevereiro e ficou em 160,3% ao ano, no mês passado.
Os dados do BC também mostram que houve ligeira redução na inadimplência. A taxa geral caiu 0,1 ponto percentual para 5,2%.
Para as pessoas físicas, a redução foi de 0,3 ponto percentual e a taxa fechou em 7%, enquanto no caso das empresas a taxa passou de 3,7%, em fevereiro, para 3,6%, em março. O BC considera como inadimplência os atrasos superiores a 90 dias."
FONTE: reportagem de Kelly Oliveira (edição de Tereza Barbosa) publicada pela Agência Brasil [título e negritos colocados por este blog].
"Em março, as taxas de juros cobradas nos empréstimos para as famílias caíram e para as empresas subiram, segundo dados do Banco Central (BC) divulgados ontem (29).
A taxa para as pessoas físicas passou de 41,9% ao ano em fevereiro para 41% ao ano, no mês passado, o menor patamar da série histórica do BC, iniciada em 1994.
“A retração esteve condicionada, principalmente, ao maior volume de contratações em modalidades de custo mais baixo, a exemplo do crédito pessoal e do financiamento para aquisição de veículos”, revela o relatório do BC.
No caso das empresas, houve alta de 0,4 ponto percentual e passou para 26,3% ao ano.
“O resultado do mês refletiu o aumento dos custos de captação associado às expectativas relacionadas ao comportamento futuro das taxas de juros”, informa o documento sobre o aumento dos juros para as empresas.
A taxa média cobrada no crédito pessoal, incluídas operações consignadas em folha de pagamento, teve redução de 1,1 ponto percentual e passou para 42,7% ao ano. No caso dos juros cobrados para a compra de veículos, a redução foi de 0,6 ponto percentual, levando a taxa para 23,5% ao ano.
Na contramão, ficou a taxa do cheque especial que apresentou alta de 0,8 ponto percentual na comparação com fevereiro e ficou em 160,3% ao ano, no mês passado.
Os dados do BC também mostram que houve ligeira redução na inadimplência. A taxa geral caiu 0,1 ponto percentual para 5,2%.
Para as pessoas físicas, a redução foi de 0,3 ponto percentual e a taxa fechou em 7%, enquanto no caso das empresas a taxa passou de 3,7%, em fevereiro, para 3,6%, em março. O BC considera como inadimplência os atrasos superiores a 90 dias."
FONTE: reportagem de Kelly Oliveira (edição de Tereza Barbosa) publicada pela Agência Brasil [título e negritos colocados por este blog].
VIVA NOSSA ELITE SUBDESENVOLVIDA !
Brizola Neto
"Os jornais brasileiros passaram o dia [de ontem] diminuindo o tamanho da notícia da "Time" que apontava Lula como o líder mais influente, até ao ponto de criar uma confusão tal que, como me advertiu um leitor, a própria revista americana tirou a numeração de sua lista, embora o mantivesse no topo, porque a escolha é subjetiva por parte de seus editores.
Vamos ver, porém, como são as notícias na mídia internacional, tema para o qual me chamou a atenção o comentarista Ademar Henrique, que copiou os textos em várias intervenções aqui, anexando os textos.
Vou colocar apenas os títulos:
Agência France Press: "Lula es la personalidad más influyente del mundo, según Time"
Europa Press: "Lula da Silva, líder más influyente del año"
Agência EFE e Jornal ABC (Espanha): "Lula da Silva elegido la persona más influyente del mundo"
Bangkok News, da Tailândia: "Gaga, Clinton, Lula top Time’s influence list"
Viva a imprensa brasileira, que fez o que põde para desmerecer um reconhecimento da importância, nem tanto de Lula, mas que o Brasil pode ter no mundo, se não viver de joelhos."
FONTE: partes da postagem de Brizola Neto em seu blog "Tijolaço", onde também constam links e vídeo da "Canção do Subdesenvolvido", de Carlos Lyra e Francisco de Assis, uma sátira à nossa elite, feita nos anos 60.
"Os jornais brasileiros passaram o dia [de ontem] diminuindo o tamanho da notícia da "Time" que apontava Lula como o líder mais influente, até ao ponto de criar uma confusão tal que, como me advertiu um leitor, a própria revista americana tirou a numeração de sua lista, embora o mantivesse no topo, porque a escolha é subjetiva por parte de seus editores.
Vamos ver, porém, como são as notícias na mídia internacional, tema para o qual me chamou a atenção o comentarista Ademar Henrique, que copiou os textos em várias intervenções aqui, anexando os textos.
Vou colocar apenas os títulos:
Agência France Press: "Lula es la personalidad más influyente del mundo, según Time"
Europa Press: "Lula da Silva, líder más influyente del año"
Agência EFE e Jornal ABC (Espanha): "Lula da Silva elegido la persona más influyente del mundo"
Bangkok News, da Tailândia: "Gaga, Clinton, Lula top Time’s influence list"
Viva a imprensa brasileira, que fez o que põde para desmerecer um reconhecimento da importância, nem tanto de Lula, mas que o Brasil pode ter no mundo, se não viver de joelhos."
FONTE: partes da postagem de Brizola Neto em seu blog "Tijolaço", onde também constam links e vídeo da "Canção do Subdesenvolvido", de Carlos Lyra e Francisco de Assis, uma sátira à nossa elite, feita nos anos 60.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
VÍDEO DA FALA DE LULA ONTEM, EM REDE NACIONAL
"Lula pendura FHC no pescoço do Serra em rede nacional
Lula massacra FHC no horário nobre
Presidente Lula convocou rede nacional de televisão e fez um balanço do governo.
Ressaltou como o Brasil melhorou no governo dele em relação a FHC.
Principalmente, o crescimento econômico aliado à inclusão social.
Lula enfatizou o crescimento da classe média e a redução da pobreza.
Ali não teve uma preposição inocente.
Até as vírgulas apontavam para o peito do Serra.
Em tempo: Logo em seguida, o jornal nacional subtraiu das manchetes a notícia desprezível de que a revista Time, uma das mais famosas do mundo, colocou Lula no primeiro lugar da lista dos líderes mais influentes do mundo. Os filhos do Roberto Marinho não se permitiriam admitir que foram apunhalados pelas costas.
Em tempo 2: No horário eleitoral gratuito, dentro do jornal nacional, o PP ressaltou o trabalho do Ministério das Cidades, que opera o programa Minha Casa Minha Vida, da Caixa Econômica. Até o PP pendurou o FHC no pescoço do Serra."
FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Henrique Amorim e postado em seu portal "Conversa Afiada".
REVISTA "TIME" (EUA) ELEGE LULA "O MAIS INFLUENTE DO MUNDO"
"Lula é eleito por revista o mais influente do mundo, Obama fica em quarto lugar
Agência Brasil:
"A revista semanal norte-americana Time elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o nome mais influente do mundo.
Lula é o primeiro de uma lista com 100 citados nas categorias líderes, pensadores, heróis e artistas.
O brasileiro ficou na frente do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que aparece em quarto lugar. Outro brasileiro que aparece entre os influentes é o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner – na lista de pensadores.
Na categoria de líderes, a segunda posição ficou com o presidente da empresa de computadores pessoais Acer, J.T Wang, depois o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos. A juíza Sonia Sotomayor, de origem latina, também está entre os 100 citados na pesquisa. Ela foi a primeira mulher latina a chegar à Corte Suprema dos Estados Unidos.
A foto de Lula está na capa da revista online e no texto interno que fala exclusivamente sobre ele. O perfil do presidente foi escrito pelo cineasta Michael Moore – um crítico do capitalismo e suas consequências. No texto, o cineasta disse que o brasileiro dá uma lição aos norte-americanos e ao mundo ao mostrar a importância de todos terem acesso ao atendimento à saúde, por exemplo.
Moore destaca como ação do governo Lula o programa Fome Zero que foi ampliado e engloba também o Bolsa Família. Baseando-se na história de vida do presidente, o cineasta conta a trajetória difícil que ele teve, começando a trabalhar muito cedo, abandonando os estudos e perdendo a primeira mulher, aos 25 anos.
A lista de pessoas influentes reúne um total de 100 nomes. Na categoria de heróis, o ex-presidente americano Bill Clinton é o primeiro citado pela ação de apoio e reconstrução do Haiti – após o terremoto de 12 de janeiro. No perfil, assinado pelo cantor Bono Vox, ele é chamado de “mestre dos mestres” e de populista.
Na lista de artistas, está a líder é a cantora Lady Gaga. O perfil de Gaga foi feito pela cantora de ritmo pop norte-americano por Cyndi Lauper. Lauper faz um texto elogioso à Gaga a qual disse que serve de “inspiração”. Também aparecem com destaque na categoria artistas o humorista Conan O'Brien e a cineasta Kathryn Bigelow – que ganhou o Oscar de melhor direção por seu filme "Guerra ao Terror" .
Na categoria de pensadores, a liderança é da matemática e arquiteta iraquiana Zaha Hadid. O perfil dela é de autoria da estilista Donna Karan. Para a estilista, a iraquiana é um ícone da nova arquitetura reunindo elementos de força, beleza e reestruturação. O brasileiro Jaime Lerner é citado como influente por ter estabelecido uma nova visão urbana. Arquiteto e urbanista, ele é consultor das Nações Unidas."
FONTE: reportagem de Renata Giraldi publicada hoje (29/04) pela Agência Brasil (edição de Talita Cavalcante) [imagens colocadas por este blog, obtidas no portal "Conversa Afiada"].
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P.S. 1: sobre o mesmo assunto, publico a seguir reportagem do portal serrista UOL, do grupo também pró-Serra "Folha", que li no portal "Conversa Afiada" [trechos entre colchetes colocados por este blog]:
["Lula é eleito o líder mais influente do mundo pela “Time”. Bye bye Serra 2010]
Texto do portal UOL:
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito nesta quinta-feira (29) pela revista americana “Time” o líder mais influente do mundo. Lula encabeça um ranking de 25 nomes e é seguido por J.T Wang, presidente da empresa de computadores pessoais Acer, o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o presidente americano Barack Obama e Ron Bloom, assessor sênior do secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Essa é a segunda vez que o brasileiro aparece em uma lista da publicação. A primeira foi em 2004.
No perfil escrito pelo cineasta Michael Moore, o programa Fome Zero (praticamente substituído pelo Bolsa Família) é citado como destaque no governo do PT como uma das conquistas para levar o Brasil ao “primeiro mundo”. A história de vida de Lula também é ressaltada por Moore, que chama o presidente brasileiro de “verdadeiro filho da classe trabalhadora da América Latina”.
A revista relembra que Lula decidiu entrar para a política quando, aos 25 anos, perdeu sua primeira esposa Maria, grávida de oito meses, pelo fato de os dois não terem acesso a um plano de saúde decente. Ironizando, Moore dá um recado aos bilionários do mundo: “Deixem os povos terem bons cuidados com a saúde, e eles causarão muito menos problemas para vocês”.
Moore afirma que quando os brasileiros elegeram Lula pela primeira vez em 2002, os "barões do roubo", que transformaram o país em um dos locais mais desiguais do planeta, nervosamente verificaram os medidores de combustível de seus jatos particulares [certamente, a revista não quis fazer alusão ao senador tucano Tasso Jereissati, famoso por seu lema "tenho jatinho porque posso", pois Jereissati abastecia seu jato com verba recebida do Senado].
Entre os líderes em destaque também estão a ex-governadora do Alasca e ex-candidata republicana à Vice-Presidência dos EUA, Sarah Palin; o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn; os primeiros-ministros japonês e palestino, respectivamente Yukio Hatoyama e Salam Fayyad, e o chefe do Governo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
A lista mostra os 100 nomes de pessoas mais influentes do mundo em diversas áreas –líderes da esfera pública e privada, heróis, artistas, pensadores, entre outros.
Outras posições de destaque
Lula apareceu no ranking da "Time" pela primeira vez em 2004, dois anos depois de ser eleito pela primeira vez à Presidência, acalçando o 3° lugar da lista de "líderes e revolucionários" encabeçada, na época, pelo ex-presidente americano George W. Bush.
Na ocasião, Lula ganhou destaque pela posição na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) no México, quando liderou uma coalizão de nações em desenvolvimento que se recusaram a negociar novas regras de investimento estrangeiro até que os EUA e a União Europeia prometessem o fim dos subsídios agrícolas à exportação.
O perfil do presidente em 2004 afirmava que "ao contrário dos radicais contra a globalização, Lula, 58, insiste que não quer destruir a nova ordem mundial. Ele só quer que funcione de forma mais justa." O texto lembrava também os escândalos de corrupção [apregoados pela mídia oposicionista, mas não comprovados] que caíram sob seu governo, mas ressaltava que, apesar de alegações, ele havia se tornado porta-voz do novo mundo em desenvolvimento.
Líderes mais influentes do mundo:
1° Luiz Inácio Lula da Silva
2° J.T. Wang
3° Almirante Mike Mullen
4° Barack Obama
5° Ron Bloom
6° Yukio Hatoyama
7° Dominique Strauss-Kahn
8° Nancy Pelosi
9° Sarah Palin
10° Salam Fayyad
11° Jon Kyl
12° Glenn Beck
13° Annise Parker
14° Tidjane Thiam
15° Jenny Beth Martin
16° Christine Lagarde
17° Recep Tayyip Erdogan
18° General Stanley McChrystal
19° Manmohan Singh
20° Bo Xilai
21° Mark Carney
22° Irmã Carol Keehan
23° Xeque Khalifa bin Zayed al-Nahyan
24° Robin Li
25° Scott Brown
Ano passado, Lula também ganhou destaque internacional quando foi eleito personagem do ano pelo jornal espanhol "El País" e pelo francês "Le Monde".
Mais categorias
O ex-presidente americano Bill Clinton é o primeiro na categoria dos “heróis” pelo trabalho realizado no Haiti depois do terremoto de 12 de janeiro por meio da ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo seu perfil, escrito pelo cantor Bono Vox, da banda irlandesa U2, “sem ele, o universo não seria tão amigável para os seres humanos.”
Abaixo de Clinton aparecem: a sul-coreana Kim Yu-na, que conseguiu o primeiro ouro em patinação artística para seu país em Vancouver; o opositor iraniano Mir Hussein Musavi, e o ator Ben Stiller por seu trabalho na reconstrução de escolas no Haiti.
A cantora Lady Gaga encabeça o ranking da categoria “artistas” e recebe elogios da colega Cyndi Lauper, que mostra sua admiração pelo trabalho da nova-iorquina de 24 anos. Lauper destaca que “a arte de Lady Gaga capta o período em que estamos agora” e rasga elogios à postura polêmica de Gaga: “ela mesma é a arte. Ela é a escultura.”
Além disso também aparecem a cantora Taylor Swift, os atores Ashton Kutcher e Neil Patrick Harris, assim como o produtor e popular juiz do programa de talentos "American Idol", Simon Cowell.
Depois de Lady Gaga, aparecem na lista artística: o humorista Conan O''Brien, que abandonou seu programa na rede de televisão americana "NBC"; a cineasta Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor direção por seu filme "Guerra ao Terror" e a apresentadora Oprah Winfrey.
Ex-governador do Paraná aparece em lista
Na lista dos “pensadores”, o urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, aparece em 16° lugar por seu “maravilhoso legado de sustentabilidade urbana", destacado pelo prefeito de Vancouver.
A revista "Time" também inclui uma análise de quem de sua lista são os mais influentes na internet, através de uma análise do número de seguidores e de conexões que essas pessoas acumulam nas redes sociais Facebook e Twitter.
Segundo essa análise, Barack Obama e Lady Gaga, seguidos do ator Ashton Kutcher, da cantora Taylor Swift e da apresentadora Oprah Winfrey dominam o manejo dessas ferramentas eletrônicas."
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P.S. 2 : MÍDIA TUCANA FAZ GESTÕES NOS EUA PARA A RETIRADA DO DESTAQUE A LULA
Esta noite, o portal UOL, do grupo "Folha", engajado fortemente há oito anos pela volta da direita ao poder no Brasil, agora com Serra/PSDB/DEM/PPS, informou que fez gestões junto à revista "Time" e logrou a retirada do destaque a Lula. Transcrevo texto do UOL:
"Pela manhã, o site da revista norte-americana divulgou uma relação com os nomes dos 25 líderes mais influentes do mundo escolhidos pela publicação. A lista era numerada de 1 a 25, não estava em ordem alfabética, e colocava o presidente brasileiro em primeiro, ao lado do número 1 . Na edição eletrônica da publicação, ao clicar na sessão "líderes", o internauta era direcionado automaticamente para um perfil de Lula escrito pelo cineasta Michael Moore.
O UOL e outros sites noticiosos brasileiros e internacionais divulgaram a informação que Lula havia sido escolhido o líder mais influente do mundo. A redação do UOL Notícias entrou em contato com o departamento de Relações Públicas da revista "Time", que negou que a lista numerada era um ranking. Segundo a assessoria, "a Time não faz distinção no nível de influência das 100 pessoas que aparecem na lista."
O jornal "O Globo" também agiu junto à revista "Time" para a retirada do destaque a Lula. O blog "Tijolaço" escreveu:
"Mas a operação “despeito” continuou. E um subeditor [do jornal O Globo] gritou: “conseguimos, conseguimos”! E contou, como está em "O Globo", que havia falado com “o setor de relações públicas” da revista que teria dito não haver um ranking.
Segundo "O Globo", a decisão de colocar Lula como o “número um” se deu por “razões editoriais”.
Viva a imprensa brasileira, que fez o que pôde para desmerecer um reconhecimento da importância, nem tanto de Lula, mas que o Brasil pode ter no mundo, se não viver de joelhos.
Após os questionamentos do UOL (Folha de São Paulo), da Globo e de outras instituições demotucanas da imprensa brasileira, o site da "Time" não retirou a escolha de Lula, mas concordou em retirar os números que ordenavam a lista de líderes mais influentes do mundo.
BRASIL DESENVOLVE FOGUETE "ECOLÓGICO"
"Lançamento ecológico
Grupo de pesquisadores brasileiros desenvolve combustível para foguetes formado a partir da mistura de etanol com água oxigenada concentrada. Além de mais seguro e econômico, o produto promete agredir menos o meio ambiente
A busca por combustíveis alternativos não se resume aos transportes terrestres e aéreos. Ela também é uma preocupação da corrida espacial. Países europeus, Japão e Rússia saíram na frente na busca por soluções de propelentes (combustíveis para foguete) que agridam menos o meio ambiente e não causem riscos para os seres humanos. No Brasil, o desafio da busca por um propelente “verde” pode estar perto do fim.
Projeto que conta com a participação de diferentes pesquisadores e uma empresa privada desenvolveu um propulsor que utiliza uma mistura de etanol e peróxido de hidrogênio — nada mais que água oxigenada concentrada. “Esses compostos vêm se revelando uma solução inovadora e bastante promissora. A grande vantagem é a disponibilidade do etanol e do peróxido de hidrogênio no país, o baixo custo do propelente e o motor em desenvolvimento”, afirma José Miraglia, engenheiro químico e aeroespacial e coordenador da iniciativa, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Segundo o pesquisador, os propelentes usados atualmente pelo Brasil são a hidrazina e o tetróxido de nitrogênio, ambos importados, extremamente caros e altamente tóxicos. “Para se ter uma ideia dessa toxicidade, quando o tetróxido de nitrogênio entra em contato com a umidade, ele se transforma em ácido nitroso”, explica o especialista.
A escolha dos pesquisadores pela combinação de etanol com peróxido de hidrogênio se deu pelo fato de que ambos são largamente produzidos pelo Brasil. No caso do etanol, a fabricação chega a 16 milhões de toneladas por ano. Além disso, o país conta com um parque industrial instalado e domínio tecnológico para a produção do combustível, comprovadamente seguro e pouco tóxico. Já o peróxido de hidrogênio é muito utilizado na indústria do papel para o clareamento da celulose, dispondo de larga produção nacional. “Comparado ao uso da hidrazina e do tetróxido de nitrogênio, a combinação que propomos é 20 vezes mais barata no consumo de propelente. O que traz uma economia importante dentro de um programa espacial”, aponta Miraglia.
Outra vantagem, considerada a mais importante pelos pesquisadores, é o baixo impacto ambiental do novo propelente. Os gases provenientes da combustão são muito menos poluentes que os utilizados pelos outros países. Isso porque entre 90% e 95% dos gases de escape do motor são compostos por vapor d’água, e o restante, por gás carbônico.
Para chegar a essa inovação, os engenheiros utilizaram um catalisador — material cerâmico desenvolvido pelo próprio engenheiro José Miraglia — que decompõe o peróxido de hidrogênio em vapor d’água e oxigênio. Essa mistura entra na câmara de combustão e pulveriza o etanol, resultando na propulsão. “O etanol pulverizado por essa mistura gera uma quantidade muito pequena de gás carbônico na combustão, por isso o escolhemos”, explica o coordenador do projeto. Existem soluções usadas por países como a Inglaterra que utilizam o metano ou mesmo o querosene de aviação. Porém, a quantidade de gás carbônico formado na combustão é muito maior.
Ensaios
A primeira etapa do projeto já foi concluída. Nela, os engenheiros construíram um motor pequeno de 10N de impulso (que gera um quilo de força) para provar a viabilidade da tecnologia proposta. Na segunda etapa, os cientistas vão construir dois motores maiores, de 10N e de 1.000N (equivalentes a 10kg e 1t de força de impulso), para testar o propelente de etanol.
Para isso, serão feitos ensaios com motores a frio e aquecidos para testar os materiais. “Utilizaremos ligas de alumínio e aços inoxidáveis para os motores a frio e apenas aços inoxidáveis nos quentes”, explica Vanderlei Neias Júnior, mestrando em engenharia aeroespacial e um dos diretores da empresa Guatifer. Já os tanques serão feitos com ligas de aços inoxidáveis para ensaios estáticos, pois não necessitam de alívio de peso. “Isso é feito propositadamente, para possibilitar ensaios com níveis de pressão no tanque acima da desejada afim de avaliar condições diversas de operação”, completa Júnior.
Alumínio diminui peso de tanques
Em março deste ano, a Nasa (agência espacial norte-americana) apresentou a primeira cúpula esférica projetada para ser utilizada em grandes tanques de combustível líquido. Esses compartimentos fazem parte do sistema de lançamento e energia de um foguete, que gera até 294 mil libras de impulso no espaço.
A cúpula, de cerca de 5,5m de diâmetro, foi desenvolvida com solda por fricção linear — processo de soldagem projetado especificamente para trabalhos com alumínio.
Por meio dessa nova tecnologia, a Nasa espera baixar em 25% o peso dos grandes tanques de combustível líquido. Além disso, o custo de produção será reduzido, porque a soldadura por fricção linear e o processo de moldagem esférica em forma de rede côncava eliminam a necessidade de alguns processos industriais.
O projeto representa um avanço na tecnologia espacial por mostrar que a nova tecnologia de soldadura é capaz de unir chapas de alumínio-lítio de forma segura e mais econômica, sem prejuízos para a capacidade de resistência. “Trata-se de um passo importante para testar os fundamentos dessa tecnologia e um ótimo exemplo de como as ligas de alumínio de nova geração continuam a expandir as fronteiras da inovação, a fim de permitir a criação de estruturas mais eficientes e de alto desempenho”, diz Harry Kiskaddon, diretor comercial global de Produtos Laminados da Alcoa, empresa americana que desenvolveu a soldadura em parceria com a Nasa. “Duas de nossas chapas largas foram unidas em uma única peça por meio da soldagem por fricção linear”, explica."
FONTE: reportagem de Silvia Pacheco publicada hoje (29/04) no Correio Braziliense [título e imagem colocados por este blog].
PSDB É COAUTOR DE ASSASSINATO DE REPUTAÇÕES NA INTERNET
“PSDB é coautor do assassinato de reputações na internet”
por Conceição Lemes
O jogo sujo na rede contra Dilma Rousseff, candidata do PT à presidência da República, e o seu partido, está aumentando em quantidade e intensidade.
Na madrugada de 12 de abril, o site do PT foi invadido. Ficou um dia inteiro fora do ar. Ao acessá-lo, muitos usuários tiveram seus computadores infectados por vírus.
Em 14 de abril, nova invasão. Além de os crackers terem pichado a capa com dizeres favoráveis a José Serra, candidato do PSDB, redirecionavam o usuário para um blog apoiador do tucano.
Em 18 de abril, a TV Globo colocou no ar o jingle do aniversário dos 45 anos da TV Globo. Embutia, de forma disfarçada, propaganda favorável a Serra, como alertou prontamente pelo twitter Marcelo Branco, o responsável pela campanha de Dilma Rousseff na internet.
Anteontem, 27 de abril, o deputado federal José Carlos Alelulia (DEM-BA) embarcou na demonização de Dilma, mas se deu mal.
A outra investida suja foi no site oficial do PSDB, que dá link para um outro – também registrado em nome do partido – intitulado “Gente que mente”, dedicado a atacar pessoalmente Dilma e os petistas.
“Ao dar espaço no seu site para um blog que ataca de forma virulenta a Dilma, tentando estigmatizá-la, o PSDB assina oficialmente a baixaria”, denuncia o deputado federal André Vargas (PT-PR). “Já pedimos ao nosso departamento jurídico o estudo de medidas judiciais cabíveis. O PSDB é coautor desses crimes de assassinato de reputações.”
“Os ataques na internet e o episódio do jingle dos 45 anos da Globo já mostraram que os adversários estão dispostos a tudo”, prossegue Vargas, que é Secretário Nacional de Comunicação do PT . “Se agem assim em abril, já imaginou a baixaria que adotarão em agosto, setembro, outubro? Temos de estar atentos o tempo inteiro e reagir rápido.”
Comunicação é considerada por muitos o calcanhar-de-aquiles tanto do PT quanto do governo federal. Por isso, resolvemos aprofundar esta entrevista, abordando algumas questões já levantadas pelos próprios leitores do Viomundo.
Viomundo – O PT está há 7 anos no poder. A mídia corporativa esconde as realizações federais, distorce ou mente sobre elas. Ao mesmo tempo, basta ligar TV, rádio, abrir jornais e revistas, para encontrarmos montes de anúncios do governo federal, Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal. É masoquismo?
André Vargas – Todos os meios de comunicação já existiam à época da ditadura. E se constituiu consenso de que é preciso anunciar na mídia independentemente do posicionamento político. Se você pega o governo do Fernando Henrique Cardoso (PSDB), havia sintonia entre o projeto neoliberal do ex-presidente e aquilo que o setor privado desejava. O nosso governo não é neoliberal, também não podemos dizer que é socialista. É um governo social-democrata preocupado com o bem-estar social, com a soberania e que entende o papel do estado na realização do projeto nacional de desenvolvimento.
Boa parte do setor privado, mesmo ganhando muito dinheiro, mantém na cabeça ideias, como “o mercado resolve”, “estado mínimo”. Concorda com a crítica do Serra de que “nós estamos fazendo o Estado crescer muito”, “não tem sentido o governo criar novas universidades federais”. Isso repercute nas linhas editoriais, dois anunciantes de peso na mesma linha. Na verdade, os meios de comunicação ainda têm o coração lastreado nos princípios do governo anterior.
Nesse contexto, como o governo federal não vai anunciar? Seria muito incompreendido no Brasil de hoje. Mas o governo está fazendo uma inversão na distribuição das verbas publicitárias. Na semana passada O Estado de S. Paulo disse que os gastos do governo Lula com publicidade cresceram 40% em seis anos. Mas “esqueceram” de dizer que são apenas 10% maiores que o maior gasto do governo FHC. Temos dissintonia de visão do setor público e privado e ao mesmo tempo distribuição mais democrática. Isso contraria interesses.
Viomundo – Como é a distribuição das verbas publicitárias?
André Vargas – No período FHC eram divididas entre 260/270 veículos de comunicação. Hoje, entre aproximadamente 2.500. Proporcionalmente os investimentos na chamada grande imprensa diminuíram. Está-se investindo em veículos pequenos no interior do país, que, antes, não recebiam nada. A internet também teve algum investimento. Ainda é pequeno, mas já cresceu. A ideia de democratizar fere os interesses dos grandes meios de comunicação. Na prática, o “bolo” é quase do mesmo tamanho da época do Fernando. Só que, agora, é dividido em 2.500 pedaços, antes, em menos de 300. É um critério técnico. É a democratização dos anúncios do governo.
Viomundo – Como senhor explica o fato de PT e o governo raramente reagirem com firmeza quando atacados? É medo, contemporização ou resignação?
André Vargas – O PT apanhou bastante ao longo da sua história, mas os episódios de 2005 deixaram o pessoal aturdido. Nunca se viu uma mobilização midiática tão grande contra um governo, contra um partido, estigmatizando-os. Isso não quer dizer que os erros do PT não têm de ser analisados pela mídia. Devem, sim.
Mas o que reivindicamos é isonomia: tratamento idêntico para problemas idênticos. É só observar a cobertura da enchente em São Paulo para ver a discrepância. Quando a Marta estava no governo, era a maior ripa todo dia. Nas enchentes de dezembro de 2009 e começo de 2010, parecia que não tinha governador. O Serra sumiu do noticiário. A população acabou sendo a culpada.
Viomundo – Publicar informação correta não é favor; é obrigação de toda a mídia. Ao deixar de responder à altura, vocês não estariam contribuindo para desinformar a sociedade e, ao mesmo tempo, estimular a oposição a bater à vontade, já que ela conta com o apoio da mídia corporativa?
André Vargas – Uma coisa é o governo. Outra coisa, o partido político. No Brasil, a área de comunicação é uma das que mais resistem à democratização. Veja a reação dos grandes veículos à Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). As emissoras de televisão e de rádio não se vêem como concessão pública. Mas, realmente, o governo e o partido poderiam ter entrado mais nesse debate. Precisamos usar todas as alternativas democráticas de comunicação. No próprio PT, muita gente ainda não se deu conta do papel que a internet terá nesta eleição. O cidadão vai poder interagir com a informação no momento em que ela está sendo construída e não só depois de pronta, no final do dia, após os telejornais. Reconheço que a sociedade está mais esclarecida sobre o que estamos fazendo por ação da internet. Graças à internet, aliás, muitos factoides foram desmascarados. Se dependêssemos da grande imprensa, estaríamos fuzilados.
Viomundo – A eleição deste ano promete muito golpe abaixo da cintura, e a mídia tradicional terá papel central. O que os senhores pretendem fazer?
André Vargas – Nós sabemos disso e estamos nos preparando para acompanhar, juridicamente, todas as possibilidades que os meios de comunicação têm de manipular as informações. Assim como nós estamos acompanhando a questão das pesquisas. Nós temos de estar muito vigilantes nestes meses agora – abril, maio, junho e julho – que não temos horário político. E como o Serra é o candidato bem tratado pela mídia, será favorecido em termos de espaço e/ou melhor exposição. Depois, vem o horário político e os tempos e espaços terão de ser iguais. Daí o desespero por parte dos aliados do José Serra de abrir larga vantagem agora. Aí, tentam construir uma imagem irreal dele e desconstruir a nossa candidatura. A tática da oposição será inclusive tirar o presidente Lula da eleição.
Viomundo – De que forma?
André Vargas – A nossa força é a relação do Lula com a população. Então, vão dizer que é abuso de poder político, que o Lula é o presidente, que ele não pode dar declaração… Essa é a estratégia da oposição capitaneada pela mídia. Como o presidente Lula já disse que fará campanha nos finais de semana, vão questionar: “Como ele vai separar o que é a presidência e o que é campanha?”
O episódio do jingle dos 45 anos da Globo mostrou que estamos atentos. Reclamaram, mas nós fizemos o que achávamos certo. E vai ser assim. Tem de ser assim. Vigilância total. E com rapidez. Na hora.
Viomundo – Como foi?
André Vargas – O Marcelo Branco, responsável pela campanha da Dilma na internet, enviou um twitter, avisando que o tal jingle embutia, de forma disfarçada, propaganda favorável a José Serra. No ato, apoiei o que ele fez e retwitei. O episódio do jingle mostrou que os adversários estão dispostos a tudo. Portanto, temos de estar atentos o tempo inteiro e reagir rápido. Entre a noite de domingo e a manhã de segunda-feira, a mensagem do Marcelo foi retwitada para mais de 100 mil internautas. À noite, por várias razões, inclusive a reação na rede, o anúncio foi tirado do ar.
O Marcelo Branco não foi criticado pelo PT, ao contrário da Folha noticiou. A campanha tem uma direção, mas é nosso dever reagir também. Na terça-feira, dia 19, nós tivemos uma reunião da Executiva Nacional do PT e todas as falas sobre o assunto foram positivas.
Viomundo – O senhor achaa que a blogosfera fará a diferença nesta eleição?
André Vargas – Não tenho a menor dúvida. Não interessa ao Brasil uma eleição judicializada, mas pode interessar à oposição. A oposição, aliás, já está judicializando o processo. É um caminho mais tortuoso, pois depende da cabeça de cada juiz. A oposição prefere a judicialização, pois não quer o debate, não quer a movimentação, não quer que o presidente Lula expresse a sua oposição.
Viomundo – O PT não fará nada contra a judicialização?
André Vargas – O PT de São Paulo já moveu uma ação e estamos nos preparando para essa batalha jurídica. Uma coisa é certa: não vamos entrar em baixarias.
Viomundo – E a militância? Muitos reclamam que o PT se afastou das bases, da rua…
André Vargas – A mobilização física é importante. Mas a mobilização pela internet talvez vá ser muito mais importante. E ela vai muito mais visível daqui em diante porque o PT e a esquerda têm conteúdo político, temos organizações sociais que atuam nas várias questões cruciais: gênero, meio ambiente, raciais, cotas, saúde, trabalhador…
Viomundo – Nós temos informação de que a oposição está preocupada com a blogosfera independente, que defende a informação correta, adequada, ética e verdadeira, os movimentos sociais, a democratização dos meios de comunicação. Fala-se que a oposição e seus aliados teriam como estratégia o sufocamento, o cerceamento e a intimidação desses blogues e sites progressistas. O que acha disso?
André Vargas – Nós temos de continuar garantindo à internet a liberdade de expressão, para que as informações verdadeiras cheguem à sociedade. Pelo Congresso Nacional, tentativas de restrição não passam. Não há ambiente propício a isso.
Talvez tentem pelo Judiciário, mas acredito que não consigam seus objetivos. Mas temos, de novo, de ficar atentos. Caso tentem sufocar esses blogues e sites, nós teremos de ter uma reação dura da cidadania. Por isso, a gente de tem de estar mobilizado. A nossa força é a nossa mobilização. Se nós nos apropriarmos da internet, como aconteceu nos EUA, vamos ter condições de manter governos mais ousados, avançar mais nas conquistas sociais e insistir mais na liberdade de imprensa verdadeira."
FONTE: publicado no porta "Viomundo", do jornalista Luiz Carlos Azenha [imagem colocada por este blog].
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