Li ontem no site “vermelho” o seguinte texto da redação do site, com informações da revista CartaCapital:
“Em meio ao bombardeio de más notícias da crise financeira internacional, alguns indicadores mostram que o Brasil ainda resiste à turbulência. No front externo, os investimentos diretos de estrangeiros no país somavam o recorde de US$ 37,1 bilhões até a segunda-feira 24 e superaram as expectativas do governo, de US$ 35 bilhões no fechamento do ano.
Segundo Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), trata-se de dinheiro que não se destina a aplicações financeiras — mas ao setor produtivo. “É o reflexo da percepção de que a economia brasileira tem bons fundamentos”, disse em entrevista coletiva.
Do lado das contas internas, outra boa-nova. O déficit nominal público, que inclui os gastos com o juro da dívida interna, somou R$ 1,835 bilhão entre janeiro e outubro. Nos últimos 12 meses, este montante corresponde a apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e é o menor em 17 anos.
O crescimento econômico do país, que deve superar ligeiramente 5% neste ano, explica o bom resultado. Isso porque mais produção implica maior arrecadação. Os números positivos foram obtidos nas quatro esferas de governo: União, estados, municípios e estatais.
O mercado de trabalho também não reflete a desaceleração mundial. A taxa de desemprego, nas seis regiões metropolitanas do país, caiu de 14,1%, em setembro, para 13,4%, em outubro. Segundo o Dieese e a Seade — que apuram os números —, é a menor taxa para o mês, desde que foi iniciada a série histórica, em 1998. O número de desempregados em outubro totalizou 2,6 milhões.
No crédito, o estoque total de operações somou R$ 1,187 trilhão, em outubro, com crescimento de 34,2% em 12 meses. O valor alcançou 40% do PIB, relação também recorde.
Mas há sinais de desaceleração, segundo o BC. Isso se deve sobretudo à elevação da taxa de juro, que atingiu 42,9% ao ano, um aumento de 2,5 pontos porcentuais no mês e 7,5 pontos porcentuais em doze meses. É o retrato do empoçamento de recursos, pois os bancos têm relutado em financiar empresas e cidadãos, temendo futura inadimplência com o crescimento menor do PIB em 2009.”
domingo, 30 de novembro de 2008
A INDIGNAÇÃO SELETIVA DA MÍDIA É ALGO COMOVENTE
Li ontem no site “vermelho” o seguinte texto de Renato Rovai, postado originariamente em seu blog:
ROVAI IRONIZA: TUCANOS DÃO EXEMPLO DE ÉTICA NA PARAÍBA
“É impressionante como a ética tucana é algo muito especial. Vejam o caso do governador Cássio Cunha Lima, filho de Ronaldo Cunha Lima, que também foi governador do estado (Paraíba) e que como maior legado nos deixou o atentado a tiros que praticou contra Tarcisio Burity, seu antecessor.
O Cunha Lima pai entrou num restaurante e deu três tiros à queima roupa em Burity. E ainda continua por aí livrinho da silva.
Seu filho, que eu saiba, ainda não deu tiros em ninguém. Mas fez uma campanha de reeleição onde distribuiu mais de 30 mil cheques de um programa social durante o período eleitoral. O que todos os tribunais estão considerando uso da máquina pública. Por isso, está sendo cassado.
Mas com a ajuda da “ética” direção nacional do seu partido e com um jeitinho aqui e outro ali, tem escapado. Agora mesmo, conseguiu mais uma liminar para se manter no cargo.
Além disso, quando achou que estava na “roça”, Cunha Lima (o filho) articulou seus aliados na Assembléia Legislativa e aprovou aumento para boa parte dos servidores. Tudo para inviabilizar o governo de seu sucessor.
Mas, isso está sendo tratado como um problema local. E no limite como notícia. Sem a indignação que costuma invadir a pena de alguns articulistas quando se trata de um petista ou comunista. A indignação seletiva da mídia é algo comovente”.
ROVAI IRONIZA: TUCANOS DÃO EXEMPLO DE ÉTICA NA PARAÍBA
“É impressionante como a ética tucana é algo muito especial. Vejam o caso do governador Cássio Cunha Lima, filho de Ronaldo Cunha Lima, que também foi governador do estado (Paraíba) e que como maior legado nos deixou o atentado a tiros que praticou contra Tarcisio Burity, seu antecessor.
O Cunha Lima pai entrou num restaurante e deu três tiros à queima roupa em Burity. E ainda continua por aí livrinho da silva.
Seu filho, que eu saiba, ainda não deu tiros em ninguém. Mas fez uma campanha de reeleição onde distribuiu mais de 30 mil cheques de um programa social durante o período eleitoral. O que todos os tribunais estão considerando uso da máquina pública. Por isso, está sendo cassado.
Mas com a ajuda da “ética” direção nacional do seu partido e com um jeitinho aqui e outro ali, tem escapado. Agora mesmo, conseguiu mais uma liminar para se manter no cargo.
Além disso, quando achou que estava na “roça”, Cunha Lima (o filho) articulou seus aliados na Assembléia Legislativa e aprovou aumento para boa parte dos servidores. Tudo para inviabilizar o governo de seu sucessor.
Mas, isso está sendo tratado como um problema local. E no limite como notícia. Sem a indignação que costuma invadir a pena de alguns articulistas quando se trata de um petista ou comunista. A indignação seletiva da mídia é algo comovente”.
ALTERNATIVA PARA MANTER O PAC
O Jornal do Brasil ontem publicou a seguinte reportagem de Raphael Bruno, de João Pessoa:
“Com o objetivo de driblar dificuldades na execução do programa e manter cronograma, governo se apóia cada vez mais na mão-de-obra militar
Preocupado em garantir, diante dos impactos da crise financeira, a continuidade dos investimentos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao mesmo tempo em que enfrenta dificuldades com o Tribunal de Contas da União para manter o repasse de recursos a projetos do programa onde o órgão detectou irregularidades, o governo federal encontrou uma válvula de escape rápida e barata para dar vazão às necessidades do cronograma planejado pela Casa Civil: o Exército brasileiro.
Por meio de uma série de acordos entre o governo federal e as Forças Armadas, diversas obras do PAC têm sido tocadas pela Diretoria de Obras de Cooperação (DOC) do Exército. Em todo o país, já são 80 os projetos, a grande maioria deles parte do PAC, executados pelos batalhões de engenharia.
Entre estas obras, estão o projeto de integração do Rio São Francisco, a restauração da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), além da reconstrução do aeroporto de Natal e do porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. O Exército abocanha, hoje, o equivalente a 5% dos recursos para obras do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Um repasse anual próximo dos R$ 200 milhões.
FARDAS
O JB visitou um desses canteiros onde homens fardados substituem operários da construção civil tradicionais. Dos 320 quilômetros da BR-101, que liga Natal ao Recife, em obras de restauração e duplicação, 140 quilômetros estão sob a responsabilidade da engenharia do Exército. A DOC assumiu três dos oito trechos da rodovia originalmente licitados para a iniciativa privada. Os lotes, como são chamados os trechos, foram entregues aos militares após seguidas impugnações dos processos de licitação.
O governo tinha a intenção de iniciar as reformas ainda em 2003, muito antes do lançamento do PAC. Mas bastava uma empresa sair derrotada de uma licitação para impugnar o processo e exigir outro. Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou: se as empreiteiras não entrassem em acordo ou não respeitassem o resultado das licitações, iria entregar as obras para o Exército. Dito e feito. Imediatamente, a briga entre as construtoras no restante dos lotes cessou.
Os interesses acirrados em torno das obras da BR-101 se justificam pelos valores envolvidos no projeto. Só a parte do Exército está estimada em R$ 500 milhões. A obra como um todo custará algo próximo de R$ 1,5 bilhão. A mão-de-obra militar empregada pela DOC na BR-101 supera mil homens.
Fora o que a engenharia do Exército, a exemplo do que costumam fazer as empreiteiras, terceiriza para outras empresas. No caso da rodovia, principalmente construções como pontes, viadutos e passarelas.
CONCRETO
O trabalho na rodovia consiste na restauração do asfalto da via já existente e, a grande novidade da obra, na duplicação da BR, não com asfalto mas com concreto, a chamada pista rígida. Enquanto o asfalto dura no máximo 10 anos e precisa de manutenção constante, o concreto, em condições adequadas, pode ter uma durabilidade de até 50 anos e com muito menos trabalho de manutenção. A diferença é suficiente para que, mesmo custando R$ 2 milhões o quilômetro, a pista rígida ainda leve vantagem sobre a flexível, cujo custo por quilômetro não costuma passar dos R$ 800 mil.
Embora o governo aposte cada vez mais no Exército como uma solução eficiente para driblar não só os custos de obras do PAC mas dificuldades envolvendo licitações de projetos do programa, os militares não estão livres de muitos dos problemas que afligem as empreiteiras privadas. Na BR-101, a DOC tem redobrado de esforços para conseguir cumprir o cronograma.
Ao longo dos trechos percorridos pelo JB, mesmo que fosse possível encontrar locais em fases avançadas das obras, parte ainda passa pelos estágios iniciais da duplicação, como a terraplenagem. Entre as maiores dificuldades que tiraram o sono da engenharia do Exército, estão o volume excessivo de chuvas no ano, a lentidão dos processos de obtenção de licença ambiental e a desapropriação de residências localizadas na margem da rodovia ¬ mais de mil famílias já foram relocadas ¬ além dos solos moles encontrados em alguns dos trechos.
Apesar das dificuldades, o Exército brasileiro cumprirá esta missão dentro do prazo estipulado pelo presidente ¬ promete o disciplinado coronel Tito Tavares, comandante do 1º Batalhão de Engenharia e Construção. A previsão da DOC é que, até o fim do ano, algo entre 40 e 45 quilômetros dos 140 sob encargo das Forças Armadas seja entregue. O prazo final para conclusão das obras vai até abril de 2010 para alguns dos trechos.
EXÉRCITO SAI MAIS BARATO DO QUE CONSTRUTORAS
A atuação dos militares na região não deve nada à de gigantes da construção civil presentes em outros lotes da BR-101, empresas do porte de Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht. Pelo contrário: a pavimentadora de concreto usada pelo Exército na obra, e que foi importada da Alemanha por R$ 4,5 milhões, é considerado equipamento de ponta em tecnologia de construção de rodovias, e o número de máquinas semelhantes nas mãos da iniciativa privada brasileira não passa de três.
A usina de asfalto em uso pelo Exército na BR-101 já foi sondada por empreiteiras para ser empregada em obras como a construção de novos setores do Rodoanel, em São Paulo. Engenheiros militares são constantemente assediados pelas construtoras e trocam o trabalho de farda pelo mercado privado, de olho em salários até quatro vezes maiores.
– Não tem problema, não ficamos chateados – concede o general Jorge Ernesto Praxe, comandante do Grupamento de Engenharia de João Pessoa. – Faz parte da função social do Exército.
EM CONTA
A execução, pelo Exército, das obras, costuma sair, de acordo com o diretor de Obras de Cooperação do Exército, general José Cláudio Fróes de Moraes, de 10% a 15% mais em conta do que quando a iniciativa privada entra em cena. Legalmente, são as leis complementares 97/1999 e 117/2004 que tratam da organização das funções das Forças Armadas. Elas abrem a possibilidade do emprego do Exército em obras ordinárias.
– Uma das funções principais do Exército é adestrar-se, estar preparado para realizar, quando necessário, seu trabalho – sublinha o general. – Neste caso, está o mesmo trabalho de engenharia que faríamos durante uma guerra. A diferença é que estamos fazendo isso sem tiros disparados contra nós, o que facilita.
A parceria entre o governo e as Forças Armadas se ampliou tanto nos últimos meses com o PAC que começa a sobrecarregar a engenharia do Exército.
– Já estamos operando praticamente com nossa capacidade total de operação – informa o general Fróes. – Mas é claro que fazemos o possível para atender a novas solicitações.
Mesmo trabalhando próximo do limite, a engenharia do Exército começa a articular para se manter entre as opções preferenciais da União para a execução de obras. A DOC pleiteia, agora, participação nos projetos de continuidade da duplicação das rodovias do litoral nordestino.”
“Com o objetivo de driblar dificuldades na execução do programa e manter cronograma, governo se apóia cada vez mais na mão-de-obra militar
Preocupado em garantir, diante dos impactos da crise financeira, a continuidade dos investimentos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao mesmo tempo em que enfrenta dificuldades com o Tribunal de Contas da União para manter o repasse de recursos a projetos do programa onde o órgão detectou irregularidades, o governo federal encontrou uma válvula de escape rápida e barata para dar vazão às necessidades do cronograma planejado pela Casa Civil: o Exército brasileiro.
Por meio de uma série de acordos entre o governo federal e as Forças Armadas, diversas obras do PAC têm sido tocadas pela Diretoria de Obras de Cooperação (DOC) do Exército. Em todo o país, já são 80 os projetos, a grande maioria deles parte do PAC, executados pelos batalhões de engenharia.
Entre estas obras, estão o projeto de integração do Rio São Francisco, a restauração da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), além da reconstrução do aeroporto de Natal e do porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. O Exército abocanha, hoje, o equivalente a 5% dos recursos para obras do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Um repasse anual próximo dos R$ 200 milhões.
FARDAS
O JB visitou um desses canteiros onde homens fardados substituem operários da construção civil tradicionais. Dos 320 quilômetros da BR-101, que liga Natal ao Recife, em obras de restauração e duplicação, 140 quilômetros estão sob a responsabilidade da engenharia do Exército. A DOC assumiu três dos oito trechos da rodovia originalmente licitados para a iniciativa privada. Os lotes, como são chamados os trechos, foram entregues aos militares após seguidas impugnações dos processos de licitação.
O governo tinha a intenção de iniciar as reformas ainda em 2003, muito antes do lançamento do PAC. Mas bastava uma empresa sair derrotada de uma licitação para impugnar o processo e exigir outro. Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou: se as empreiteiras não entrassem em acordo ou não respeitassem o resultado das licitações, iria entregar as obras para o Exército. Dito e feito. Imediatamente, a briga entre as construtoras no restante dos lotes cessou.
Os interesses acirrados em torno das obras da BR-101 se justificam pelos valores envolvidos no projeto. Só a parte do Exército está estimada em R$ 500 milhões. A obra como um todo custará algo próximo de R$ 1,5 bilhão. A mão-de-obra militar empregada pela DOC na BR-101 supera mil homens.
Fora o que a engenharia do Exército, a exemplo do que costumam fazer as empreiteiras, terceiriza para outras empresas. No caso da rodovia, principalmente construções como pontes, viadutos e passarelas.
CONCRETO
O trabalho na rodovia consiste na restauração do asfalto da via já existente e, a grande novidade da obra, na duplicação da BR, não com asfalto mas com concreto, a chamada pista rígida. Enquanto o asfalto dura no máximo 10 anos e precisa de manutenção constante, o concreto, em condições adequadas, pode ter uma durabilidade de até 50 anos e com muito menos trabalho de manutenção. A diferença é suficiente para que, mesmo custando R$ 2 milhões o quilômetro, a pista rígida ainda leve vantagem sobre a flexível, cujo custo por quilômetro não costuma passar dos R$ 800 mil.
Embora o governo aposte cada vez mais no Exército como uma solução eficiente para driblar não só os custos de obras do PAC mas dificuldades envolvendo licitações de projetos do programa, os militares não estão livres de muitos dos problemas que afligem as empreiteiras privadas. Na BR-101, a DOC tem redobrado de esforços para conseguir cumprir o cronograma.
Ao longo dos trechos percorridos pelo JB, mesmo que fosse possível encontrar locais em fases avançadas das obras, parte ainda passa pelos estágios iniciais da duplicação, como a terraplenagem. Entre as maiores dificuldades que tiraram o sono da engenharia do Exército, estão o volume excessivo de chuvas no ano, a lentidão dos processos de obtenção de licença ambiental e a desapropriação de residências localizadas na margem da rodovia ¬ mais de mil famílias já foram relocadas ¬ além dos solos moles encontrados em alguns dos trechos.
Apesar das dificuldades, o Exército brasileiro cumprirá esta missão dentro do prazo estipulado pelo presidente ¬ promete o disciplinado coronel Tito Tavares, comandante do 1º Batalhão de Engenharia e Construção. A previsão da DOC é que, até o fim do ano, algo entre 40 e 45 quilômetros dos 140 sob encargo das Forças Armadas seja entregue. O prazo final para conclusão das obras vai até abril de 2010 para alguns dos trechos.
EXÉRCITO SAI MAIS BARATO DO QUE CONSTRUTORAS
A atuação dos militares na região não deve nada à de gigantes da construção civil presentes em outros lotes da BR-101, empresas do porte de Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht. Pelo contrário: a pavimentadora de concreto usada pelo Exército na obra, e que foi importada da Alemanha por R$ 4,5 milhões, é considerado equipamento de ponta em tecnologia de construção de rodovias, e o número de máquinas semelhantes nas mãos da iniciativa privada brasileira não passa de três.
A usina de asfalto em uso pelo Exército na BR-101 já foi sondada por empreiteiras para ser empregada em obras como a construção de novos setores do Rodoanel, em São Paulo. Engenheiros militares são constantemente assediados pelas construtoras e trocam o trabalho de farda pelo mercado privado, de olho em salários até quatro vezes maiores.
– Não tem problema, não ficamos chateados – concede o general Jorge Ernesto Praxe, comandante do Grupamento de Engenharia de João Pessoa. – Faz parte da função social do Exército.
EM CONTA
A execução, pelo Exército, das obras, costuma sair, de acordo com o diretor de Obras de Cooperação do Exército, general José Cláudio Fróes de Moraes, de 10% a 15% mais em conta do que quando a iniciativa privada entra em cena. Legalmente, são as leis complementares 97/1999 e 117/2004 que tratam da organização das funções das Forças Armadas. Elas abrem a possibilidade do emprego do Exército em obras ordinárias.
– Uma das funções principais do Exército é adestrar-se, estar preparado para realizar, quando necessário, seu trabalho – sublinha o general. – Neste caso, está o mesmo trabalho de engenharia que faríamos durante uma guerra. A diferença é que estamos fazendo isso sem tiros disparados contra nós, o que facilita.
A parceria entre o governo e as Forças Armadas se ampliou tanto nos últimos meses com o PAC que começa a sobrecarregar a engenharia do Exército.
– Já estamos operando praticamente com nossa capacidade total de operação – informa o general Fróes. – Mas é claro que fazemos o possível para atender a novas solicitações.
Mesmo trabalhando próximo do limite, a engenharia do Exército começa a articular para se manter entre as opções preferenciais da União para a execução de obras. A DOC pleiteia, agora, participação nos projetos de continuidade da duplicação das rodovias do litoral nordestino.”
A LAVAGEM DA NOTÍCIA
Li ontem no blog do jornalista Luis Nassif:
“Por Fabio
O "ESQUEMA DD" NÃO LAVA SOMENTE DINHEIRO.
“Existe uma "técnica" repetida em tudo o que essa quadrilha faz.
Além da "lavagem de dinheiro", Dantas estruturou também a "lavagem da credibilidade da notícia" e a "lavagem do posicionamento político".
Me explico. Ninguém tem dúvidas que Raul Jungmann faz parte da "Bancada Dantas". Em tudo que realmente interessa ao banqueiro ele está lá. Representa contra o juiz Dr Sanctis, ataca a ABIN, faz da CPI do Grampo um show patético de defesa de um bandido, etc. Suas motivações certamente não são de interesse público. Mas aí, para "lavar a aparente isenção" do deputado, ele ataca a BROI e pede ajuda ao Governo americano para abrir os HDs de Dantas. Note que essas ultimas coisas são só bla bla bla, onde a ação de Jungmann não faz a menor diferença. Em resumo, ajuda Dantas de forma eficaz, e é contra ele "de mentirinha".
A mesma coisa vale para a imprensa. Diogo Mainardi por exemplo. Nunca, repito NUNCA fez uma coluna com algo que realmente representasse um problema para Dantas, como esse Opportunity Fund, o dinheiro que Dantas levou da Telecom Italia, ou as sacanagens conjuntas com Mangabeira Unger. Mas tem gente leiga que pensa que Mainardi é "contra Dantas", porque liga Dantas ao Mensalão e outras coisas que só servem à chantagem de Dantas, mas aparentemente "falam mal". É a lavagem da notícia”.
“Por Fabio
O "ESQUEMA DD" NÃO LAVA SOMENTE DINHEIRO.
“Existe uma "técnica" repetida em tudo o que essa quadrilha faz.
Além da "lavagem de dinheiro", Dantas estruturou também a "lavagem da credibilidade da notícia" e a "lavagem do posicionamento político".
Me explico. Ninguém tem dúvidas que Raul Jungmann faz parte da "Bancada Dantas". Em tudo que realmente interessa ao banqueiro ele está lá. Representa contra o juiz Dr Sanctis, ataca a ABIN, faz da CPI do Grampo um show patético de defesa de um bandido, etc. Suas motivações certamente não são de interesse público. Mas aí, para "lavar a aparente isenção" do deputado, ele ataca a BROI e pede ajuda ao Governo americano para abrir os HDs de Dantas. Note que essas ultimas coisas são só bla bla bla, onde a ação de Jungmann não faz a menor diferença. Em resumo, ajuda Dantas de forma eficaz, e é contra ele "de mentirinha".
A mesma coisa vale para a imprensa. Diogo Mainardi por exemplo. Nunca, repito NUNCA fez uma coluna com algo que realmente representasse um problema para Dantas, como esse Opportunity Fund, o dinheiro que Dantas levou da Telecom Italia, ou as sacanagens conjuntas com Mangabeira Unger. Mas tem gente leiga que pensa que Mainardi é "contra Dantas", porque liga Dantas ao Mensalão e outras coisas que só servem à chantagem de Dantas, mas aparentemente "falam mal". É a lavagem da notícia”.
COMO LIDAR COM A MÍDIA?
O jornalista e escritor Miguel do Rosário escreveu ontem em seu blog “Óleo do Diabo”:
“Semanas atrás, publiquei uma enquete neste blog com a seguinte pergunta: Como lidar com a mídia? Mais de duzentos responderam em poucos dias. A enquete ainda duraria mais uns 30 dias, mas, quando fiz a mudança no design do blog, ela foi cortada sem que eu tivesse controle. As opções de resposta eram:
1) Investir na blogosfera
2) Cobrar uma atitude do governo
3) Cobrar dos partidos
4) Eu gosto da mídia
5) Sei lá!
6) Deixá-la se auto-enforcar.
A opção ganhadora, com 69%, foi: Investir na blogosfera. Em segundo lugar, veio a opção Deixá-la se enforcar. Em seguida, vieram Cobrar do governo, Cobrar do partido. Alguns escolheram Sei Lá! E uma pessoa afirmou gostar da mídia.
Os resultados mostram que as pessoas estão começando a levar a blogosfera à sério, e a acreditar que a internet pode fazer diferença nas disputas políticas daqui para a frente.
Também revela que há descrença quanto à conveniência de um enfrentamento, por parte do presidente, contra a mídia corporativa.”
“Semanas atrás, publiquei uma enquete neste blog com a seguinte pergunta: Como lidar com a mídia? Mais de duzentos responderam em poucos dias. A enquete ainda duraria mais uns 30 dias, mas, quando fiz a mudança no design do blog, ela foi cortada sem que eu tivesse controle. As opções de resposta eram:
1) Investir na blogosfera
2) Cobrar uma atitude do governo
3) Cobrar dos partidos
4) Eu gosto da mídia
5) Sei lá!
6) Deixá-la se auto-enforcar.
A opção ganhadora, com 69%, foi: Investir na blogosfera. Em segundo lugar, veio a opção Deixá-la se enforcar. Em seguida, vieram Cobrar do governo, Cobrar do partido. Alguns escolheram Sei Lá! E uma pessoa afirmou gostar da mídia.
Os resultados mostram que as pessoas estão começando a levar a blogosfera à sério, e a acreditar que a internet pode fazer diferença nas disputas políticas daqui para a frente.
Também revela que há descrença quanto à conveniência de um enfrentamento, por parte do presidente, contra a mídia corporativa.”
CHINA E BRASIL: UM GRANDE ENCONTRO PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS
Li ontem no site Carta Maior o seguinte texto de Luis Alberto Gómez de Sousa. O autor é sociólogo e ex-funcionário das Nações Unidas, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes:
“Se a China aparece como a grande potência emergente, poderíamos tomar distância da tutela americana e européia a abrir-nos ao futuro chinês. Não estará aí o grande desafio que nos espera neste século XXI?
“Giovanni Arrighi escreveu um livro desafiante: Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI (2007, trad. bras. Boitempo 2008). Deixando de lado as receitas neo-liberais que em boa hora se dissolveram na crise atual, vítimas de suas ilusões tresloucadas, o autor vai diretamente ao pai do liberalismo, que se perguntava em 1776:
“No futuro talvez, os nativos desses países (não europeus), se tornarão mais fortes, ou os da Europa mais fracos, e os habitantes de todas as diversas partes do mundo poderão chegar àquela igualdade de coragem e de força que, por inspirar o temor mútuo pode, por si só, transformar a injustiça das nações independentes numa espécie de respeito uns dos outros” (A Riqueza das Nações).
Hoje incluiríamos os Estados Unidos ao lado da velha Europa; o texto foi publicado no mesmo ano da declaração da independência norte-americana. Arrighi cita Martin Wolf: “A Europa foi o passado, os Estados Unidos são o presente e a Ásia dominada pela China será o futuro da economia global. Esse futuro parece fadado a se realizar. As grandes perguntas são quando e quão suavemente ele se dará” (pp. 18-19).
Para além da receita “tamanho único” do Consenso de Washington, “cada vez mais desacreditado”, Arrighi traz, com Joshua Cooper Ramo, a hipótese de um Consenso de Beijing, com duas possíveis características: o reconhecimento da importância de ajustar o desenvolvimento às necessidades locais e o multilateralismo, com base na interdependência entre os Estados, mas respeitando diferenças políticas e culturais, em contraste com o unilateralismo das políticas norte-americanas (p. 383). E lança a aposta: um novo Bandung, não político-ideológico como o primeiro, mas bem mais sólido em bases econômicas (p. 388).
Não por acaso Brasil e China se encontram na linha emergente dos BRICs. Trata-se de economias continentais, com crescente mercado interno de amplo fôlego potencial. É verdade que a China ainda representa uma parte pequena nas relações comerciais com o Brasil (9% de nossas exportações). Mas, num momento de retração dos Estados Unidos e da União Européia, esses dois mercados, eles e nós, não poderíamos crescer em intercomunicação? Pelo momento há um nítido desequilíbrio. Exportamos basicamente soja e minério de ferro e importamos produtos industriais.
Enquanto países de industrialização mais antiga têm desenvolvimento decrescente ou mesmo negativo, a China, que cresceu nos últimos anos em assombrosos 10%, encolhe, nas previsões do Banco Mundial para 2009, em “apenas” 7,5%, na verdade uma taxa menor do que a necessária para integrar e enorme mão de obra que deixa a produção rural para a urbana. O governo brasileiro, por sua vez, acena com 4% para o ano próximo, abaixo dos 4,5% atuais. Porém, mesmo com essa redução, e em parte por causa dela, no bojo de uma crise mundial, poderia ser hora de repensar o intercâmbio entre China e Brasil, como nova prioridade para nós.
O desenvolvimento industrial do Brasil se deu durante a crise dos anos trinta, com o processo de substituição de importações, quando as ofertas dos países industriais despencaram, o que obrigou a responder internamente às demandas. Hoje temos, no panorama internacional, a China, com um bilhão e trezentos milhões de habitantes ávidos e sempre com novas necessidades. E no Brasil, o resultado das políticas sociais recentes e de uma economia em estabilidade, está criando um mercado aberto a demandas em aumento, especialmente de bens de consumo popular. Não poderíamos dirigir, aos poucos, nossa produção, tanto para o mercado interno que se amplia e que pode minorar o impacto da crise global, quanto para o imenso mercado chinês?
Isso não se faz da noite para o dia, mas há que programá-lo num processo de médio prazo, firme e cuidadoso.
Se a China aparece como a grande potência emergente, poderíamos tomar distância da tutela americana e européia a abrir-nos ao futuro chinês. Não estará aí o grande desafio que nos espera neste século XXI? Como lembrou recentemente Immanuel Walerstein, o Brasil, “líder presumido do bloco sul-americano”, tem diante de si “um imenso terreno para alianças”, num sistema mundial que entra num estado de caos, mas que irá mais adiante gestar a solução de sua crise, numa “ordem emanada do caos” (Ilya Prigogine) (“Construir um outro mundo em meio à tempestade”, Le Monde Diplomatique Brasil, 18-7-2008, IHU, 19-7-2008).
Os dois outros países do BRIC, com amplos mercados, estão enredados em estruturas de castas rígidas a Índia e na corrupção, em guerras localizadas e terrorismos a Rússia. Por que, no caso do Brasil, não priorizar o encontro com a China, por cima das geografias que separam, no fôlego potencial que nos aproxima? O eixo da economia mundial passou do Mediterrâneo para o Atlântico norte e agora chega ao Pacífico. Mas a planetarização supera barreiras geográficas e, embora de costas para o Pacífico, poderemos encontrar este último, na saída para ele através de nossos vizinhos andinos, articulados com o Brasil numa política sul-americana ambiciosa. A América do Sul, com o Brasil, por sua dimensão, como um eixo vigoroso do lado de cá, deveria ir desenhando, aos poucos, uma política de intenso intercâmbio com a China. Para isso, na área sul-americana, precisaríamos desde já superar mal-entendidos e desconfianças, afastando a sombra de uma tentação de hegemonia de segunda instância auto-destruidora.
A Ásia ocidental está em chamas e a potência atualmente dominante ali se empantanou.
De nosso extremo ocidente ao sul, ao extremo oriente, deveriam ser criadas pontes de intercâmbio em vários níveis, do econômico ao cultural. Isso exige fôlego e bastante ambição. Saberemos planejar essas novas políticas? Nosso Plano de Aceleração do Crescimento teria que levar em conta, aos poucos, as potencialidades do grande salto da economia chinesa, que vai passando do terceiro lugar para o segundo e em um tempo mais para o primeiro, num posicionamento das nações mais vigorosas. Possivelmente nessa aliança repousa a possibilidade de sermos um país emergente com boa margem de êxito, na multipolaridade de um milênio que está nascendo”.
“Se a China aparece como a grande potência emergente, poderíamos tomar distância da tutela americana e européia a abrir-nos ao futuro chinês. Não estará aí o grande desafio que nos espera neste século XXI?
“Giovanni Arrighi escreveu um livro desafiante: Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI (2007, trad. bras. Boitempo 2008). Deixando de lado as receitas neo-liberais que em boa hora se dissolveram na crise atual, vítimas de suas ilusões tresloucadas, o autor vai diretamente ao pai do liberalismo, que se perguntava em 1776:
“No futuro talvez, os nativos desses países (não europeus), se tornarão mais fortes, ou os da Europa mais fracos, e os habitantes de todas as diversas partes do mundo poderão chegar àquela igualdade de coragem e de força que, por inspirar o temor mútuo pode, por si só, transformar a injustiça das nações independentes numa espécie de respeito uns dos outros” (A Riqueza das Nações).
Hoje incluiríamos os Estados Unidos ao lado da velha Europa; o texto foi publicado no mesmo ano da declaração da independência norte-americana. Arrighi cita Martin Wolf: “A Europa foi o passado, os Estados Unidos são o presente e a Ásia dominada pela China será o futuro da economia global. Esse futuro parece fadado a se realizar. As grandes perguntas são quando e quão suavemente ele se dará” (pp. 18-19).
Para além da receita “tamanho único” do Consenso de Washington, “cada vez mais desacreditado”, Arrighi traz, com Joshua Cooper Ramo, a hipótese de um Consenso de Beijing, com duas possíveis características: o reconhecimento da importância de ajustar o desenvolvimento às necessidades locais e o multilateralismo, com base na interdependência entre os Estados, mas respeitando diferenças políticas e culturais, em contraste com o unilateralismo das políticas norte-americanas (p. 383). E lança a aposta: um novo Bandung, não político-ideológico como o primeiro, mas bem mais sólido em bases econômicas (p. 388).
Não por acaso Brasil e China se encontram na linha emergente dos BRICs. Trata-se de economias continentais, com crescente mercado interno de amplo fôlego potencial. É verdade que a China ainda representa uma parte pequena nas relações comerciais com o Brasil (9% de nossas exportações). Mas, num momento de retração dos Estados Unidos e da União Européia, esses dois mercados, eles e nós, não poderíamos crescer em intercomunicação? Pelo momento há um nítido desequilíbrio. Exportamos basicamente soja e minério de ferro e importamos produtos industriais.
Enquanto países de industrialização mais antiga têm desenvolvimento decrescente ou mesmo negativo, a China, que cresceu nos últimos anos em assombrosos 10%, encolhe, nas previsões do Banco Mundial para 2009, em “apenas” 7,5%, na verdade uma taxa menor do que a necessária para integrar e enorme mão de obra que deixa a produção rural para a urbana. O governo brasileiro, por sua vez, acena com 4% para o ano próximo, abaixo dos 4,5% atuais. Porém, mesmo com essa redução, e em parte por causa dela, no bojo de uma crise mundial, poderia ser hora de repensar o intercâmbio entre China e Brasil, como nova prioridade para nós.
O desenvolvimento industrial do Brasil se deu durante a crise dos anos trinta, com o processo de substituição de importações, quando as ofertas dos países industriais despencaram, o que obrigou a responder internamente às demandas. Hoje temos, no panorama internacional, a China, com um bilhão e trezentos milhões de habitantes ávidos e sempre com novas necessidades. E no Brasil, o resultado das políticas sociais recentes e de uma economia em estabilidade, está criando um mercado aberto a demandas em aumento, especialmente de bens de consumo popular. Não poderíamos dirigir, aos poucos, nossa produção, tanto para o mercado interno que se amplia e que pode minorar o impacto da crise global, quanto para o imenso mercado chinês?
Isso não se faz da noite para o dia, mas há que programá-lo num processo de médio prazo, firme e cuidadoso.
Se a China aparece como a grande potência emergente, poderíamos tomar distância da tutela americana e européia a abrir-nos ao futuro chinês. Não estará aí o grande desafio que nos espera neste século XXI? Como lembrou recentemente Immanuel Walerstein, o Brasil, “líder presumido do bloco sul-americano”, tem diante de si “um imenso terreno para alianças”, num sistema mundial que entra num estado de caos, mas que irá mais adiante gestar a solução de sua crise, numa “ordem emanada do caos” (Ilya Prigogine) (“Construir um outro mundo em meio à tempestade”, Le Monde Diplomatique Brasil, 18-7-2008, IHU, 19-7-2008).
Os dois outros países do BRIC, com amplos mercados, estão enredados em estruturas de castas rígidas a Índia e na corrupção, em guerras localizadas e terrorismos a Rússia. Por que, no caso do Brasil, não priorizar o encontro com a China, por cima das geografias que separam, no fôlego potencial que nos aproxima? O eixo da economia mundial passou do Mediterrâneo para o Atlântico norte e agora chega ao Pacífico. Mas a planetarização supera barreiras geográficas e, embora de costas para o Pacífico, poderemos encontrar este último, na saída para ele através de nossos vizinhos andinos, articulados com o Brasil numa política sul-americana ambiciosa. A América do Sul, com o Brasil, por sua dimensão, como um eixo vigoroso do lado de cá, deveria ir desenhando, aos poucos, uma política de intenso intercâmbio com a China. Para isso, na área sul-americana, precisaríamos desde já superar mal-entendidos e desconfianças, afastando a sombra de uma tentação de hegemonia de segunda instância auto-destruidora.
A Ásia ocidental está em chamas e a potência atualmente dominante ali se empantanou.
De nosso extremo ocidente ao sul, ao extremo oriente, deveriam ser criadas pontes de intercâmbio em vários níveis, do econômico ao cultural. Isso exige fôlego e bastante ambição. Saberemos planejar essas novas políticas? Nosso Plano de Aceleração do Crescimento teria que levar em conta, aos poucos, as potencialidades do grande salto da economia chinesa, que vai passando do terceiro lugar para o segundo e em um tempo mais para o primeiro, num posicionamento das nações mais vigorosas. Possivelmente nessa aliança repousa a possibilidade de sermos um país emergente com boa margem de êxito, na multipolaridade de um milênio que está nascendo”.
FALA, LULA!
Li ontem no site Carta Maior o seguinte texto do filósofo e cientista político Emir Sader:
O QUE O LULA DEVERIA FALAR (E FAZER):
- O capital financeiro é o maior inimigo do crescimento econômico do país. Remunerado pelas mais altas taxas de juros reais do mundo, é um capital parasita, sanguessuga, que vive às custas do endividamento das pessoas, do Estado e das empresas (especialmente das pequenas e médias empresas). Seus balanços são um acinte pelo nível de lucros que seguem acumulando, sem criar empregos (ao contrário, despedindo trabalhadores), sem criar riqueza, sem financiar as pesquisas, os investimentos produtivos e o consumo. Deve ser combatido frontalmente, para o quê o governo precisa impor um plano rigoroso de diminuição radical e imediata das taxas de juros e submeter o Banco Central às diretrizes gerais do governo, eleito para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil e não o enriquecimento dos banqueiros.
Para que diminua a desigualdade e a injustiça social no Brasil, precisamos adotar um modelo econômico que privilegie a produção, a criação de empregos, o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, para o que medidas fundamentais que terminem com a hegemonia do capital financeiro – que entre nós é fundamentalmente um capital especulativo.
Para que tenhamos um Brasil realmente para todos, precisamos terminar com a farra especulativa do sistema financeiro, que já demonstrou seu caráter anti-social, para que seja possível utilizar os recursos do Estado brasileiro para estender os direitos sociais, econômicos e culturais para todos, superando o estigma de país mais desigual do mundo, em grande parte porque remunera o capital financeiro da maneira mais generosa e submete a massa da população a políticas de crédito que só os enriquecem, em lugar de favorecer o crescimento econômico e social do país.
- No Brasil, quem paga impostos são os cidadãos e os trabalhadores comuns. Grandes empresas e, sobretudo, os bancos e o sistema financeiro, sempre encontram formas de driblar o fisco. Por isso o Brasil precisa urgentemente de uma grande reforma tributaria, com um profundo caráter social e redistributivo, em que quem ganha mais e tem mais, paga mais. Só assim o Estado brasileiro deixará de transferir renda do mundo do trabalho para o mundo financeiro.
- Os capitais financeiros são verdadeiros urubus, que voam para onde encontram maiores ganhos, com maior liquidez e pouco ou nenhum imposto. Não têm nacionalidade, nem compromisso com os interesses do país e da massa da população. Por isso a circulação do capital financeiro precisa ser controlada, tributada, orientada para as necessidades de financiamento dos setores que o crescimento econômico e social impõem. A entrada e saída de capitais do país será tributada, com impostos que servirão para estender os direitos de cidadania da grande massa pobre do país.
- O governo não concederá nenhuma isenção fiscal ou favores afins, sem contrapartidas concretas de parte das empresas, centralmente extensão dos empregos formais, melhoria das condições de trabalho, respeito estrito às condições meio ambientais, pagamento rigoroso de todas as tributações governamentais.
- A crise atual demonstra a fragilidade do sistema financeiro internacional. Por essa razão o Brasil propugnará para que o Banco do Sul seja o depositário fundamental das reservas do nosso país e de todos os outros da região. Se determinará a centralização do câmbio, porque a política monetária é uma variável com inúmeras conseqüências sobre a economia e por essa razão não pode estar simplesmente determinada pelos vai-e-vens do mercado.
- Como as grandes empresas privadas da mídia brasileira são propriedade de algumas poucas grandes famílias, que pretendem impor seus pontos de vista à grande maioria da população, o governo passará a atuar para fortalecer de forma decididas as mídias públicas, assim como todas as formas alternativas de mídia – de radio comunitárias a internet -, utilizando para isso, de forma clara, os recursos da publicidade governamental.
O povo decidiu, nas duas últimas eleições presidenciais, que não está de acordo com a grande mídia privada e que, ao contrário, elegeu e reelegeu o candidato que essa mídia oligárquica ataca sistematicamente. Essas eleições são a maior e a mais verdadeira pesquisa de opinião. E o povo disse que quer uma mídia democrática, pluralista, de raízes nacionais, identificada com as grandes políticas governamentais que favorecem o povo. Por isso atuaremos firmemente na direção da democratização profunda da mídia brasileira, sem a qual nunca teremos uma democracia real no país.
- O Brasil precisa engajar-se prioritariamente no fortalecimento da economia familiar, das pequenas e medias empresas e das cooperativas que são as que realmente produzem para o mercado interno e geram ocupação e renda no campo para a grande massa de trabalhadores. Para isso incentivará a produção desses setores com créditos e toda forma de apoio técnico, combatendo ao mesmo tempo a produção com trangênicos por parte das empresas de agronegócios.
- O governo incentivará todas as formas de mobilizações populares na luta pelos interesses da massa da população, sem a qual não será possível combater e superar os enormes obstáculos à construção de um Brasil para todos. Foi assim que se conseguiu, no segundo turno das eleições presidenciais de 2006, derrotar à direita e seu candidato neoliberal, apesar de todo o empenho da mídia. É assim que será possível construís no Brasil uma democracia com alma social.
- O governo se empenhará fortemente na construção, junto a todas as forças do campo popular, de uma plataforma anti-neoliberal, para que o candidato que suceda a este governo possa consolidar os avanços conseguidos, combater as forças conservadoras e fazer o país avançar na direção de uma sociedade justa e solidária.
O QUE MAIS LULA DEVERIA FALAR (E FAZER)?”
O QUE O LULA DEVERIA FALAR (E FAZER):
- O capital financeiro é o maior inimigo do crescimento econômico do país. Remunerado pelas mais altas taxas de juros reais do mundo, é um capital parasita, sanguessuga, que vive às custas do endividamento das pessoas, do Estado e das empresas (especialmente das pequenas e médias empresas). Seus balanços são um acinte pelo nível de lucros que seguem acumulando, sem criar empregos (ao contrário, despedindo trabalhadores), sem criar riqueza, sem financiar as pesquisas, os investimentos produtivos e o consumo. Deve ser combatido frontalmente, para o quê o governo precisa impor um plano rigoroso de diminuição radical e imediata das taxas de juros e submeter o Banco Central às diretrizes gerais do governo, eleito para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil e não o enriquecimento dos banqueiros.
Para que diminua a desigualdade e a injustiça social no Brasil, precisamos adotar um modelo econômico que privilegie a produção, a criação de empregos, o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, para o que medidas fundamentais que terminem com a hegemonia do capital financeiro – que entre nós é fundamentalmente um capital especulativo.
Para que tenhamos um Brasil realmente para todos, precisamos terminar com a farra especulativa do sistema financeiro, que já demonstrou seu caráter anti-social, para que seja possível utilizar os recursos do Estado brasileiro para estender os direitos sociais, econômicos e culturais para todos, superando o estigma de país mais desigual do mundo, em grande parte porque remunera o capital financeiro da maneira mais generosa e submete a massa da população a políticas de crédito que só os enriquecem, em lugar de favorecer o crescimento econômico e social do país.
- No Brasil, quem paga impostos são os cidadãos e os trabalhadores comuns. Grandes empresas e, sobretudo, os bancos e o sistema financeiro, sempre encontram formas de driblar o fisco. Por isso o Brasil precisa urgentemente de uma grande reforma tributaria, com um profundo caráter social e redistributivo, em que quem ganha mais e tem mais, paga mais. Só assim o Estado brasileiro deixará de transferir renda do mundo do trabalho para o mundo financeiro.
- Os capitais financeiros são verdadeiros urubus, que voam para onde encontram maiores ganhos, com maior liquidez e pouco ou nenhum imposto. Não têm nacionalidade, nem compromisso com os interesses do país e da massa da população. Por isso a circulação do capital financeiro precisa ser controlada, tributada, orientada para as necessidades de financiamento dos setores que o crescimento econômico e social impõem. A entrada e saída de capitais do país será tributada, com impostos que servirão para estender os direitos de cidadania da grande massa pobre do país.
- O governo não concederá nenhuma isenção fiscal ou favores afins, sem contrapartidas concretas de parte das empresas, centralmente extensão dos empregos formais, melhoria das condições de trabalho, respeito estrito às condições meio ambientais, pagamento rigoroso de todas as tributações governamentais.
- A crise atual demonstra a fragilidade do sistema financeiro internacional. Por essa razão o Brasil propugnará para que o Banco do Sul seja o depositário fundamental das reservas do nosso país e de todos os outros da região. Se determinará a centralização do câmbio, porque a política monetária é uma variável com inúmeras conseqüências sobre a economia e por essa razão não pode estar simplesmente determinada pelos vai-e-vens do mercado.
- Como as grandes empresas privadas da mídia brasileira são propriedade de algumas poucas grandes famílias, que pretendem impor seus pontos de vista à grande maioria da população, o governo passará a atuar para fortalecer de forma decididas as mídias públicas, assim como todas as formas alternativas de mídia – de radio comunitárias a internet -, utilizando para isso, de forma clara, os recursos da publicidade governamental.
O povo decidiu, nas duas últimas eleições presidenciais, que não está de acordo com a grande mídia privada e que, ao contrário, elegeu e reelegeu o candidato que essa mídia oligárquica ataca sistematicamente. Essas eleições são a maior e a mais verdadeira pesquisa de opinião. E o povo disse que quer uma mídia democrática, pluralista, de raízes nacionais, identificada com as grandes políticas governamentais que favorecem o povo. Por isso atuaremos firmemente na direção da democratização profunda da mídia brasileira, sem a qual nunca teremos uma democracia real no país.
- O Brasil precisa engajar-se prioritariamente no fortalecimento da economia familiar, das pequenas e medias empresas e das cooperativas que são as que realmente produzem para o mercado interno e geram ocupação e renda no campo para a grande massa de trabalhadores. Para isso incentivará a produção desses setores com créditos e toda forma de apoio técnico, combatendo ao mesmo tempo a produção com trangênicos por parte das empresas de agronegócios.
- O governo incentivará todas as formas de mobilizações populares na luta pelos interesses da massa da população, sem a qual não será possível combater e superar os enormes obstáculos à construção de um Brasil para todos. Foi assim que se conseguiu, no segundo turno das eleições presidenciais de 2006, derrotar à direita e seu candidato neoliberal, apesar de todo o empenho da mídia. É assim que será possível construís no Brasil uma democracia com alma social.
- O governo se empenhará fortemente na construção, junto a todas as forças do campo popular, de uma plataforma anti-neoliberal, para que o candidato que suceda a este governo possa consolidar os avanços conseguidos, combater as forças conservadoras e fazer o país avançar na direção de uma sociedade justa e solidária.
O QUE MAIS LULA DEVERIA FALAR (E FAZER)?”
SOBRE A PRIVATIZAÇÃO DA TELEFONIA
O jornalista e escritor Miguel do Rosário escreveu ontem em seu blog “Óleo do Diabo”:
“Eles vêm com esse discursinho de que a privatização modernizou o sistema telefônico do país, que antes ninguém tinha celular e tal. Balela! Ninguém tinha celular porque não existia celular. Vendo esses anúncios monstruosos das telefônicas, fico pensando que, se a telefonia não tivesse sido privatizada, o preço das ligações poderia estar muito mais baixo.
Todo mundo tem celular hoje mas ninguém pode ligar porque o preço da ligação é absurdo. E ainda criaram a Anatel, que dificulta ainda mais um possível controle do governo sobre as tarifas telefônicas.
Eles poderiam ter privatizado uma parte do sistema telefônico, para atrair investimentos estrangeiros, mas ter mantido o controle do Estado. A ideologia neoliberal tucana nunca pensa no custo para os cidadãos. Só pensam no lucro de empresas das quais são sócios.
Abaixo os bancos privados. Delenda Serra.”
“Eles vêm com esse discursinho de que a privatização modernizou o sistema telefônico do país, que antes ninguém tinha celular e tal. Balela! Ninguém tinha celular porque não existia celular. Vendo esses anúncios monstruosos das telefônicas, fico pensando que, se a telefonia não tivesse sido privatizada, o preço das ligações poderia estar muito mais baixo.
Todo mundo tem celular hoje mas ninguém pode ligar porque o preço da ligação é absurdo. E ainda criaram a Anatel, que dificulta ainda mais um possível controle do governo sobre as tarifas telefônicas.
Eles poderiam ter privatizado uma parte do sistema telefônico, para atrair investimentos estrangeiros, mas ter mantido o controle do Estado. A ideologia neoliberal tucana nunca pensa no custo para os cidadãos. Só pensam no lucro de empresas das quais são sócios.
Abaixo os bancos privados. Delenda Serra.”
sábado, 29 de novembro de 2008
DESMATE NA AMAZÔNIA É REDUZIDO EM OUTUBRO
O blog do jornalista Ricardo Noblat postou o seguinte texto de Soraya Aggege, publicado ontem no jornal O Globo:
“Foram 102 quilômetros de desflorestamento; nuvens, no entanto, encobriram áreas analisadas.
O Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) constatou que, em outubro, foram desmatados mais 102 km² da Floresta Amazônica, o equivalente a um campo de futebol a cada dois dias.
Houve uma redução de 81% no desflorestamento, em relação a outubro do ano passado, quando o desmate atingiu 524 km².
Cerca de 22% da Amazônia Legal, porém, estavam encobertas por nuvens, o que impede uma visão global dos satélites. As áreas que não foram monitoradas estão no Amapá (61% do estado estava encoberta) e em cerca de um terço da área do Acre, de Roraima, do Pará e de Amazonas. Além disso, a parte do Maranhão que integra a Amazônia não foi analisada. A margem de erro do relatório é de 8%.
Segundo o levantamento do Imazon, o desmatamento acumulado no período de agosto a outubro de 2008 (são os três primeiros meses do calendário atual de desmatamento, por causa das chuvas), totalizou 524 km². Em relação ao mesmo período de 2007, houve redução de 77%.”
“Foram 102 quilômetros de desflorestamento; nuvens, no entanto, encobriram áreas analisadas.
O Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) constatou que, em outubro, foram desmatados mais 102 km² da Floresta Amazônica, o equivalente a um campo de futebol a cada dois dias.
Houve uma redução de 81% no desflorestamento, em relação a outubro do ano passado, quando o desmate atingiu 524 km².
Cerca de 22% da Amazônia Legal, porém, estavam encobertas por nuvens, o que impede uma visão global dos satélites. As áreas que não foram monitoradas estão no Amapá (61% do estado estava encoberta) e em cerca de um terço da área do Acre, de Roraima, do Pará e de Amazonas. Além disso, a parte do Maranhão que integra a Amazônia não foi analisada. A margem de erro do relatório é de 8%.
Segundo o levantamento do Imazon, o desmatamento acumulado no período de agosto a outubro de 2008 (são os três primeiros meses do calendário atual de desmatamento, por causa das chuvas), totalizou 524 km². Em relação ao mesmo período de 2007, houve redução de 77%.”
VALTER POMAR: DEBATENDO A CRISE
Li ontem no site “vermelho” o seguinte texto de Valter Pomar*, secretário de Relações Internacionais do PT. O artigo foi originariamente publicado na página oficial do PT:
“O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores promoveu, no dia 26 de novembro, um concorrido debate sobre a crise internacional e seus efeitos no Brasil, tendo como palestrantes Guido Mantega e Marco Aurélio Garcia.
Dois outros debates estão previstos, o primeiro no dia 2 de dezembro, em São Paulo, em promoção conjunta com o PCdoB; e o segundo no dia 16 de dezembro, em Salvador, em promoção conjunta com o PSB e com o PCdoB.
O debate realizado em Brasília reafirmou que a crise internacional é produto direto das chamadas políticas neoliberais, em particular da desregulamentação dos mercados financeiros.
Reafirmou, também, que enfrentar a crise exige adotar medidas que reforcem o investimento público, o mercado interno, a integração regional e, de maneira geral, o papel do Estado na economia.
Noutras palavras: tanto a crise quanto a solução apontam para a desmoralização da visão de mundo neoliberal. Este é um aspecto que nunca é demais destacar, até porque os porta-vozes do neoliberalismo continuam à solta, especialmente nas empresas de comunicação, exigindo do governo brasileiro que corte investimentos e reduza o papel do Estado.
O debate promovido pelo Diretório Nacional do PT mostrou, também, que há muitas questões polêmicas, em aberto e a aprofundar.
A primeira delas diz respeito à profundidade e a duração da crise. Existe uma tendência, bastante compreensível, a destacar as vantagens comparativas dos "países em desenvolvimento", em particular o Brasil, frente aos Estados Unidos e à Europa.
Esta tendência pode conduzir a dois equívocos: por um lado, a minimizar os efeitos da crise na "periferia"; por outro lado, a não considerar devidamente que os paises centrais vão tentar transferir os custos da crise para o "resto do mundo". Mesmo quem acredita que o imperialismo é um "tigre de papel", deveria levar em conta e se prevenir adequadamente contra esta tentativa.
A diferença de opinião sobre estas questões ajuda a explicar as atitudes opostas que existem, em nosso Partido, acerca da rodada Doha: enquanto alguns comemoram seu fracasso, outros defendem a ressurreição. Explica, ainda, porque alguns se entusiasmaram com a reunião do G20, enquanto outros alertaram para seus limites e riscos.
Outra questão em aberto é a natureza da conexão entre a crise financeira e a crise econômica no sentido geral da palavra.
Existe uma tendência a considerar o fechamento de empresas e o desemprego como uma decorrência da crise financeira, não percebendo ou não considerando em devida conta que, em última análise, a crise financeira e a especulação que a precedeu é, em si mesma, uma decorrência da dinâmica contraditória da produção capitalista.
Noutras palavras: o contraditório "sucesso" da expansão capitalista, inclusive no terreno produtivo, é que está na origem da vertigem financeira.
O superdimensionamento do aspecto financeiro da crise conduz à adoção de medidas anticíclicas de apoio ao "capital produtivo", sem considerar (ou sem considerar devidamente) que este próprio "capital produtivo", e não apenas os mercados financeiros, também precisa ser submetido a fortíssimos controles.
Aliás, o próprio conceito de capital financeiro supõe aquilo que conhecemos na realidade das grandes empresas brasileiras e mundiais: a imbricação entre capital industrial e bancário.
A diferença de opinião sobre estas questões está na base das divergências acerca de algumas medidas adotadas pelo governo, em benefício de segmentos do empresariado. E, por outro lado, nas diferentes ênfases que uns e outros concedemos a bandeiras como a redução da jornada de trabalho, a reforma agrária e o fortalecimento radical das políticas sociais universais.
Uma terceira questão em aberto diz respeito ao impacto da crise sobre o Brasil.
A este respeito, parece haver alguns consensos: a) a economia brasileira está menos vulnerável, hoje, do que nos anos 1990; b) estamos mais fortes do que estaríamos, caso estivéssemos aplicando as políticas tucanas; c) estaríamos ainda melhor se, durante parte do primeiro mandato de Lula, o Ministério da Fazenda não fosse linha auxiliar das políticas pró-capital financeiro.
Destas conclusões, aparentemente (uma vez que os liberais existentes na própria esquerda andam meio calados) consensuais, desdobram-se linhas diferentes de análise e de propostas.
Entre estas linhas, registro a tendência a superestimar a fortaleza da economia brasileira e a considerar suficiente a adoção de medidas preventivas e corretivas.
Claro que algumas destas medidas, como a redução dos juros, são fundamentais e inadiáveis, sendo incrível ver como Henrique Meirelles insiste, contra quase tudo e contra quase todos, em retardar o inevitável. Sendo ainda mais incrível que o governo tolere, no seu meio, um sabotador assumido e explícito das políticas anticíclicas.
Mas medidas preventivas e corretivas, por si só, não parecem suficientes para enfrentar uma crise internacional desta magnitude, especialmente do ponto de vista de quem tem como objetivo patamares de desenvolvimento e igualdade social muito superiores aos já experimentados pelo Brasil, nos anos 1980 e antes.
É preciso ir além, revertendo medidas adotadas ao longo dos anos 90 e implementando reformas estruturais, a começar pela tributária (não confundir com as medidas parciais e contraditórias que volta e meia entram em discussão no Congresso Nacional). Mas para isto se transformar em realidade, é preciso outro enfoque, que considere a necessidade de medidas extraordinárias, que exigem intensa mobilização social e luta político-ideológica.
O maior equívoco, contudo, não reside na ingenuidade de algumas análises econômicas, sobre nossa fortaleza e sobre que medidas adotar. O maior perigo está num certo "economicismo", ou seja, na visão que reduz e confunde a gestão da crise com a gestão administrativa da economia.
Nota bene: enfrentamos as eleições de 2008 num cenário ainda favorável e obtivemos um resultado aquém do necessário. Enfrentaremos as eleições 2010 num cenário diferente e pior, pois mesmo que tenhamos total êxito na administração da economia, ainda assim haverá desaceleração, com todas as conseqüências derivadas.
O que quer dizer que teremos que "compensar", no terreno da política (debate ideológico, mobilização social e partidária, medidas legislativas e de governo), os prejuízos decorrentes da crise.
A esse respeito, vivemos uma situação contraditória, que fica mais evidente no terreno ideológico.
A saber: se é verdade que os neoliberais foram desmoralizados (embora a Miriam Leitão ainda não tenha percebido isto); e se é verdade que "todo mundo virou keynesiano"; também é verdade que batalhas passadas não vencem as guerras do presente nem do futuro.
Desde já e ao longo dos próximos anos, no Brasil, na região latino-americana e no mundo, está em questão a natureza do pós-neoliberalismo. Ou seja: qual mundo será construído depois do que alguns têm chamado de "a queda do muro" deles.
Espera-se da esquerda, especialmente de um partido socialista como pretende ser o nosso PT, que consiga oferecer um horizonte mais amplo e uma perspectiva diferente daquela que é oferecida por Lord Keynes. Que, vamos lembrar, tinha como propósito salvar o capitalismo”.
“O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores promoveu, no dia 26 de novembro, um concorrido debate sobre a crise internacional e seus efeitos no Brasil, tendo como palestrantes Guido Mantega e Marco Aurélio Garcia.
Dois outros debates estão previstos, o primeiro no dia 2 de dezembro, em São Paulo, em promoção conjunta com o PCdoB; e o segundo no dia 16 de dezembro, em Salvador, em promoção conjunta com o PSB e com o PCdoB.
O debate realizado em Brasília reafirmou que a crise internacional é produto direto das chamadas políticas neoliberais, em particular da desregulamentação dos mercados financeiros.
Reafirmou, também, que enfrentar a crise exige adotar medidas que reforcem o investimento público, o mercado interno, a integração regional e, de maneira geral, o papel do Estado na economia.
Noutras palavras: tanto a crise quanto a solução apontam para a desmoralização da visão de mundo neoliberal. Este é um aspecto que nunca é demais destacar, até porque os porta-vozes do neoliberalismo continuam à solta, especialmente nas empresas de comunicação, exigindo do governo brasileiro que corte investimentos e reduza o papel do Estado.
O debate promovido pelo Diretório Nacional do PT mostrou, também, que há muitas questões polêmicas, em aberto e a aprofundar.
A primeira delas diz respeito à profundidade e a duração da crise. Existe uma tendência, bastante compreensível, a destacar as vantagens comparativas dos "países em desenvolvimento", em particular o Brasil, frente aos Estados Unidos e à Europa.
Esta tendência pode conduzir a dois equívocos: por um lado, a minimizar os efeitos da crise na "periferia"; por outro lado, a não considerar devidamente que os paises centrais vão tentar transferir os custos da crise para o "resto do mundo". Mesmo quem acredita que o imperialismo é um "tigre de papel", deveria levar em conta e se prevenir adequadamente contra esta tentativa.
A diferença de opinião sobre estas questões ajuda a explicar as atitudes opostas que existem, em nosso Partido, acerca da rodada Doha: enquanto alguns comemoram seu fracasso, outros defendem a ressurreição. Explica, ainda, porque alguns se entusiasmaram com a reunião do G20, enquanto outros alertaram para seus limites e riscos.
Outra questão em aberto é a natureza da conexão entre a crise financeira e a crise econômica no sentido geral da palavra.
Existe uma tendência a considerar o fechamento de empresas e o desemprego como uma decorrência da crise financeira, não percebendo ou não considerando em devida conta que, em última análise, a crise financeira e a especulação que a precedeu é, em si mesma, uma decorrência da dinâmica contraditória da produção capitalista.
Noutras palavras: o contraditório "sucesso" da expansão capitalista, inclusive no terreno produtivo, é que está na origem da vertigem financeira.
O superdimensionamento do aspecto financeiro da crise conduz à adoção de medidas anticíclicas de apoio ao "capital produtivo", sem considerar (ou sem considerar devidamente) que este próprio "capital produtivo", e não apenas os mercados financeiros, também precisa ser submetido a fortíssimos controles.
Aliás, o próprio conceito de capital financeiro supõe aquilo que conhecemos na realidade das grandes empresas brasileiras e mundiais: a imbricação entre capital industrial e bancário.
A diferença de opinião sobre estas questões está na base das divergências acerca de algumas medidas adotadas pelo governo, em benefício de segmentos do empresariado. E, por outro lado, nas diferentes ênfases que uns e outros concedemos a bandeiras como a redução da jornada de trabalho, a reforma agrária e o fortalecimento radical das políticas sociais universais.
Uma terceira questão em aberto diz respeito ao impacto da crise sobre o Brasil.
A este respeito, parece haver alguns consensos: a) a economia brasileira está menos vulnerável, hoje, do que nos anos 1990; b) estamos mais fortes do que estaríamos, caso estivéssemos aplicando as políticas tucanas; c) estaríamos ainda melhor se, durante parte do primeiro mandato de Lula, o Ministério da Fazenda não fosse linha auxiliar das políticas pró-capital financeiro.
Destas conclusões, aparentemente (uma vez que os liberais existentes na própria esquerda andam meio calados) consensuais, desdobram-se linhas diferentes de análise e de propostas.
Entre estas linhas, registro a tendência a superestimar a fortaleza da economia brasileira e a considerar suficiente a adoção de medidas preventivas e corretivas.
Claro que algumas destas medidas, como a redução dos juros, são fundamentais e inadiáveis, sendo incrível ver como Henrique Meirelles insiste, contra quase tudo e contra quase todos, em retardar o inevitável. Sendo ainda mais incrível que o governo tolere, no seu meio, um sabotador assumido e explícito das políticas anticíclicas.
Mas medidas preventivas e corretivas, por si só, não parecem suficientes para enfrentar uma crise internacional desta magnitude, especialmente do ponto de vista de quem tem como objetivo patamares de desenvolvimento e igualdade social muito superiores aos já experimentados pelo Brasil, nos anos 1980 e antes.
É preciso ir além, revertendo medidas adotadas ao longo dos anos 90 e implementando reformas estruturais, a começar pela tributária (não confundir com as medidas parciais e contraditórias que volta e meia entram em discussão no Congresso Nacional). Mas para isto se transformar em realidade, é preciso outro enfoque, que considere a necessidade de medidas extraordinárias, que exigem intensa mobilização social e luta político-ideológica.
O maior equívoco, contudo, não reside na ingenuidade de algumas análises econômicas, sobre nossa fortaleza e sobre que medidas adotar. O maior perigo está num certo "economicismo", ou seja, na visão que reduz e confunde a gestão da crise com a gestão administrativa da economia.
Nota bene: enfrentamos as eleições de 2008 num cenário ainda favorável e obtivemos um resultado aquém do necessário. Enfrentaremos as eleições 2010 num cenário diferente e pior, pois mesmo que tenhamos total êxito na administração da economia, ainda assim haverá desaceleração, com todas as conseqüências derivadas.
O que quer dizer que teremos que "compensar", no terreno da política (debate ideológico, mobilização social e partidária, medidas legislativas e de governo), os prejuízos decorrentes da crise.
A esse respeito, vivemos uma situação contraditória, que fica mais evidente no terreno ideológico.
A saber: se é verdade que os neoliberais foram desmoralizados (embora a Miriam Leitão ainda não tenha percebido isto); e se é verdade que "todo mundo virou keynesiano"; também é verdade que batalhas passadas não vencem as guerras do presente nem do futuro.
Desde já e ao longo dos próximos anos, no Brasil, na região latino-americana e no mundo, está em questão a natureza do pós-neoliberalismo. Ou seja: qual mundo será construído depois do que alguns têm chamado de "a queda do muro" deles.
Espera-se da esquerda, especialmente de um partido socialista como pretende ser o nosso PT, que consiga oferecer um horizonte mais amplo e uma perspectiva diferente daquela que é oferecida por Lord Keynes. Que, vamos lembrar, tinha como propósito salvar o capitalismo”.
SUPLICY DIZ QUE TUCANOS EXAGERAM SOBRE EMPRÉSTIMO À PETROBRAS
Li ontem no site “Vermelho” o seguinte texto de Iram Alfaia:
“Num árduo debate nesta quinta (27) no plenário do Senado, o petista Eduardo Suplicy (SP) sugeriu aos senadores da oposição que ao invés de darem um tom de gravidade para o empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras deveriam antes telefonar para o presidente da estatal do petróleo, Sérgio Gabrielli, afim de pedirem explicações. Os senadores tucanos Tasso Jeressati (CE) e Arthur Virgílio (AM) provocaram alvoroço no mercado ao avaliarem que a transação revela sérios problemas de caixa na empresa”.
“Eu até fiquei pensando: será que não seria adequado, antes de Vossa Excelência fazer o pronunciamento com o tom de gravidade sobre a maior empresa brasileira, ter telefonado ao presidente da Petrobras e obtido as informações que agora estão aqui colocadas?”, disse Suplicy a Jeressati. O petista leu uma nota da empresa na qual consta que o empréstimo não passou de uma situação normal.
Sobre a convocação feita pelos tucanos para que Sérgio Gabrielli compareça na próxima semana à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para dar explicações, o senador petista disse que conversou com Gabrielli que se colocou à disposição.
“Ele tinha, de ontem para hoje, compromissos e avaliou que esses esclarecimentos de maior urgência eram necessários dadas as perguntas que Vossa Excelência levantou ontem. Mas ele tem a disposição de vir ao Senado”, afirmou.
O senador aproveitou para questionar o modo de agir da oposição. Referindo-se novamente a Jeressati, lembrou que o tucano noutro dia estava “bravo e indignado” porque o presidente Lula havia recomendado aos brasileiros que pudessem adquirir automóveis e bens. O mesmo comportamento não teve quando um aliado fez a mesma convocação.
“Vossa Excelência considerou que havia ali declarações um tanto irresponsáveis. Eu fiquei lembrando que ouvi, há poucos dias, o governador José Serra (PSDB-SP) conclamar pessoas no Brasil a adquirirem automóveis. Fez isso a cerca de duas semana. Eu fiquei esperando que Vossa Excelência fosse fazer aqui um paralelo, que não ouvi até agora”, questionou Suplicy.
O senador cearense contra-atacou chamando Suplicy de ingênuo ao dar crédito aos números fornecidos pelos aliados. Sem explicar a contradição nos discursos, ironizou os governistas: “Normalmente, os ingênuos são pessoas de muito bom caráter. Não faz parte dessa ingenuidade, no entanto, a enorme fixação que Vossa Excelência e o senador Mercadante (Aloizio) têm pelo governador José Serra”, disse.
Prosseguiu: “Não há uma acusação, uma denúncia, uma colocação mais séria sobre o governo federal que a gente faça aqui que não esteja na ponta da língua o nome do nosso querido governador José Serra. Não sei se isso é uma admiração ou uma frustração de não serem o governador José Serra”, ironizou.
“Mas Vossa Excelência observou que ele, há poucos dias, conclamou os paulistas e brasileiros a adquirirem automóveis?”, interveio o petista. “Vou chegar lá. Conclamou e fez”, respondeu Jeressati sem maiores explicações.
SUPLICY RESSALTA OS NÚMEROS DA ESTATAL
O senador petista explicou que de fato a Petrobras teve, no último trimestre, uma diminuição de caixa de R$ 2,3 bilhões, mas terminou o terceiro trimestre com R$ 10 bilhões no cofre. “Então uma situação extremamente tranqüila.” Disse que os R$ 17,3 bilhões de faturamento nos primeiros noves meses deste ano demonstra uma empresa saudável.
No mesmo período, a estatal investiu US$ 20,2 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 36 bilhões. “A Petrobras, com situação econômico-financeira saudável, distribuiu, ao longo desses nove meses, R$ 6 bilhões e teve uma captação líquida de recursos de R$ 4,2 bilhões”, destacou Suplicy.
“No custo de suas atividades operacionais e financeiras, a Petrobras sempre acessa os mercados de capital e bancários nacionais e internacionais. A companhia sempre analisa todas as alternativas de financiamento, buscando sempre as opções mais adequadas ao perfil de sua dívida, seja na parte de custos, como nos prazos”, diz um trecho da nota lida pelo senador..
Disse que em viturde das condições atuais do mercado financeiro internacional e a solidez do sistema financeiro nacional, as companhias brasileiras, incluindo a Petrobras, vêm utilizando com maior freqüência o mercado doméstico para suprir suas necessidades normais de financiamento. Além disso a evolução do câmbio propicia melhores condições para captações no mercado interno diminuindo a exposição da empresa a dívidas em dólar.
TUCANO REBATE OS NÚMEROS
Com base no balanço da estatal, Jereissati disse que o passivo circulante líquido da Petrobras chegou, ao final do último mês, a R$ 92,9 bilhões. “Passivo circulante líquido, o professor conhece, pois é professor da Escola de Administração de Empresas, são aquelas dívidas de curto prazo, de curtíssimo prazo, que a Petrobras tem a pagar. Correto, professor, o conceito? R$92,9 bilhões extraídos do balanço.”
Argumentou que o ativo circulante líquido, aquilo que a Petrobras tem em caixa e tem a receber no curto prazo, soma R$ 57 bilhões. “Há, portanto, um buraco aí de curto prazo de R$36 bilhões. Isso está claro? Isso significa que existe um problema de liquidez, concorda, professor?”, provocou.
Após a explanação do tucano, Suplicy afirmou que os números serão confrontados na audiência com Gabrielli, mas assegurou que não existe problemas de caixa e nem com pagamento de fornecedores como foi alardeado.”
“Num árduo debate nesta quinta (27) no plenário do Senado, o petista Eduardo Suplicy (SP) sugeriu aos senadores da oposição que ao invés de darem um tom de gravidade para o empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras deveriam antes telefonar para o presidente da estatal do petróleo, Sérgio Gabrielli, afim de pedirem explicações. Os senadores tucanos Tasso Jeressati (CE) e Arthur Virgílio (AM) provocaram alvoroço no mercado ao avaliarem que a transação revela sérios problemas de caixa na empresa”.
“Eu até fiquei pensando: será que não seria adequado, antes de Vossa Excelência fazer o pronunciamento com o tom de gravidade sobre a maior empresa brasileira, ter telefonado ao presidente da Petrobras e obtido as informações que agora estão aqui colocadas?”, disse Suplicy a Jeressati. O petista leu uma nota da empresa na qual consta que o empréstimo não passou de uma situação normal.
Sobre a convocação feita pelos tucanos para que Sérgio Gabrielli compareça na próxima semana à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para dar explicações, o senador petista disse que conversou com Gabrielli que se colocou à disposição.
“Ele tinha, de ontem para hoje, compromissos e avaliou que esses esclarecimentos de maior urgência eram necessários dadas as perguntas que Vossa Excelência levantou ontem. Mas ele tem a disposição de vir ao Senado”, afirmou.
O senador aproveitou para questionar o modo de agir da oposição. Referindo-se novamente a Jeressati, lembrou que o tucano noutro dia estava “bravo e indignado” porque o presidente Lula havia recomendado aos brasileiros que pudessem adquirir automóveis e bens. O mesmo comportamento não teve quando um aliado fez a mesma convocação.
“Vossa Excelência considerou que havia ali declarações um tanto irresponsáveis. Eu fiquei lembrando que ouvi, há poucos dias, o governador José Serra (PSDB-SP) conclamar pessoas no Brasil a adquirirem automóveis. Fez isso a cerca de duas semana. Eu fiquei esperando que Vossa Excelência fosse fazer aqui um paralelo, que não ouvi até agora”, questionou Suplicy.
O senador cearense contra-atacou chamando Suplicy de ingênuo ao dar crédito aos números fornecidos pelos aliados. Sem explicar a contradição nos discursos, ironizou os governistas: “Normalmente, os ingênuos são pessoas de muito bom caráter. Não faz parte dessa ingenuidade, no entanto, a enorme fixação que Vossa Excelência e o senador Mercadante (Aloizio) têm pelo governador José Serra”, disse.
Prosseguiu: “Não há uma acusação, uma denúncia, uma colocação mais séria sobre o governo federal que a gente faça aqui que não esteja na ponta da língua o nome do nosso querido governador José Serra. Não sei se isso é uma admiração ou uma frustração de não serem o governador José Serra”, ironizou.
“Mas Vossa Excelência observou que ele, há poucos dias, conclamou os paulistas e brasileiros a adquirirem automóveis?”, interveio o petista. “Vou chegar lá. Conclamou e fez”, respondeu Jeressati sem maiores explicações.
SUPLICY RESSALTA OS NÚMEROS DA ESTATAL
O senador petista explicou que de fato a Petrobras teve, no último trimestre, uma diminuição de caixa de R$ 2,3 bilhões, mas terminou o terceiro trimestre com R$ 10 bilhões no cofre. “Então uma situação extremamente tranqüila.” Disse que os R$ 17,3 bilhões de faturamento nos primeiros noves meses deste ano demonstra uma empresa saudável.
No mesmo período, a estatal investiu US$ 20,2 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 36 bilhões. “A Petrobras, com situação econômico-financeira saudável, distribuiu, ao longo desses nove meses, R$ 6 bilhões e teve uma captação líquida de recursos de R$ 4,2 bilhões”, destacou Suplicy.
“No custo de suas atividades operacionais e financeiras, a Petrobras sempre acessa os mercados de capital e bancários nacionais e internacionais. A companhia sempre analisa todas as alternativas de financiamento, buscando sempre as opções mais adequadas ao perfil de sua dívida, seja na parte de custos, como nos prazos”, diz um trecho da nota lida pelo senador..
Disse que em viturde das condições atuais do mercado financeiro internacional e a solidez do sistema financeiro nacional, as companhias brasileiras, incluindo a Petrobras, vêm utilizando com maior freqüência o mercado doméstico para suprir suas necessidades normais de financiamento. Além disso a evolução do câmbio propicia melhores condições para captações no mercado interno diminuindo a exposição da empresa a dívidas em dólar.
TUCANO REBATE OS NÚMEROS
Com base no balanço da estatal, Jereissati disse que o passivo circulante líquido da Petrobras chegou, ao final do último mês, a R$ 92,9 bilhões. “Passivo circulante líquido, o professor conhece, pois é professor da Escola de Administração de Empresas, são aquelas dívidas de curto prazo, de curtíssimo prazo, que a Petrobras tem a pagar. Correto, professor, o conceito? R$92,9 bilhões extraídos do balanço.”
Argumentou que o ativo circulante líquido, aquilo que a Petrobras tem em caixa e tem a receber no curto prazo, soma R$ 57 bilhões. “Há, portanto, um buraco aí de curto prazo de R$36 bilhões. Isso está claro? Isso significa que existe um problema de liquidez, concorda, professor?”, provocou.
Após a explanação do tucano, Suplicy afirmou que os números serão confrontados na audiência com Gabrielli, mas assegurou que não existe problemas de caixa e nem com pagamento de fornecedores como foi alardeado.”
SOBRE A MÁFIA
O blog do jornalista Mino Carta ontem publicou:
“Parece-me haver equívocos nas referências de alguns navegantes à Máfia. Certo é que no Brasil não medrou, tampouco na Argentina, que também recebeu grandes levas de imigrantes italianos. Bem ao contrário do que se deu nos Estados Unidos. Por que lá sim e aqui não? Porque aqui os imigrantes encontraram ambiente favorável, que possibilitou a ascensão de muitos a despeito das resistências das elites locais. Em São Paulo, os chamados “quatrocentões”.
Nada de muito sério, creio eu, tanto que Francisco Matarazzo, o fundador da estirpe, presidiu a Fiesp por décadas. É símbolo convincente das excelentes oportunidades rapidamente aproveitadas. Matarazzo chegou a ser o cidadão mais rico do Brasil, secundado por Lunardelli, Crespi e outros do mesmo porte, além de um belo grupo de sírios e libaneses. Nos Estados Unidos a música foi outra, a hostilidade aos degos, como os italianos eram chamados, foi feroz e Sacco e Venzetti são os símbolos do preconceito ianque. A remota origem da Cosa Nostra não é criminosa, é a de uma sociedade secreta nascida para defender a minoria oprimida. A transformação leva anos e a organização se fortalece no tempo da Lei Seca. Em São Paulo, virou lenda um ladrão toscano, Amleto Gino Meneghetti, a quem foram atribuídos roubos rocambolescos dignos de um Arsene Lupin.
Francamente, não sei até onde vai a verdade factual e onde começa a fantasia.
Conheci Meneghetti há quarenta e um anos. Era um velhinho simpático de olhos de um azul celeste que inspirava confiança. Veio visitar-me na redação do Jornal da Tarde, que então eu dirigia, ao sair do xilindró de uma delegacia, onde ficara por duas noites ao ser pego ao roubar uma galinha. A criminalidade organizada no Brasil é coisa recente e nada tem a ver com máfia, de M grande ou pequeno.
Fomos, e somos ainda, um santuário para foragidos da justiça, a confirmar as histórias cinematográficas de criminosos que sonham em fugir para o Rio e às vezes conseguem. Ronald Biggs é um exemplo clássico. Outro exemplo, recentíssimo: o italiano Cesare Battisti, preso no momento em Brasília enquanto a Itália solicita a sua extradição. Ele se apresenta como ex-militante da luta armada, foragido político, portanto, mas não passa de um criminoso comum. Ineludíveis pendores mafiosos são características marcantes dos nossos donos do poder.”
“Parece-me haver equívocos nas referências de alguns navegantes à Máfia. Certo é que no Brasil não medrou, tampouco na Argentina, que também recebeu grandes levas de imigrantes italianos. Bem ao contrário do que se deu nos Estados Unidos. Por que lá sim e aqui não? Porque aqui os imigrantes encontraram ambiente favorável, que possibilitou a ascensão de muitos a despeito das resistências das elites locais. Em São Paulo, os chamados “quatrocentões”.
Nada de muito sério, creio eu, tanto que Francisco Matarazzo, o fundador da estirpe, presidiu a Fiesp por décadas. É símbolo convincente das excelentes oportunidades rapidamente aproveitadas. Matarazzo chegou a ser o cidadão mais rico do Brasil, secundado por Lunardelli, Crespi e outros do mesmo porte, além de um belo grupo de sírios e libaneses. Nos Estados Unidos a música foi outra, a hostilidade aos degos, como os italianos eram chamados, foi feroz e Sacco e Venzetti são os símbolos do preconceito ianque. A remota origem da Cosa Nostra não é criminosa, é a de uma sociedade secreta nascida para defender a minoria oprimida. A transformação leva anos e a organização se fortalece no tempo da Lei Seca. Em São Paulo, virou lenda um ladrão toscano, Amleto Gino Meneghetti, a quem foram atribuídos roubos rocambolescos dignos de um Arsene Lupin.
Francamente, não sei até onde vai a verdade factual e onde começa a fantasia.
Conheci Meneghetti há quarenta e um anos. Era um velhinho simpático de olhos de um azul celeste que inspirava confiança. Veio visitar-me na redação do Jornal da Tarde, que então eu dirigia, ao sair do xilindró de uma delegacia, onde ficara por duas noites ao ser pego ao roubar uma galinha. A criminalidade organizada no Brasil é coisa recente e nada tem a ver com máfia, de M grande ou pequeno.
Fomos, e somos ainda, um santuário para foragidos da justiça, a confirmar as histórias cinematográficas de criminosos que sonham em fugir para o Rio e às vezes conseguem. Ronald Biggs é um exemplo clássico. Outro exemplo, recentíssimo: o italiano Cesare Battisti, preso no momento em Brasília enquanto a Itália solicita a sua extradição. Ele se apresenta como ex-militante da luta armada, foragido político, portanto, mas não passa de um criminoso comum. Ineludíveis pendores mafiosos são características marcantes dos nossos donos do poder.”
BRASIL E ITÁLIA
O blog do jornalista Mino Carta publicou 5ª feira:
“Respondo a Marco Clerris. Meu caro, as comparações entre a Itália e o Brasil são, no mínimo, muito difíceis. Sim, existe um certo desequilíbrio entre Norte e Sul, como se dá no Brasil no sentido oposto. Sim, há uma boa fatia de brasileiros que se parecem com os italianos nas manifestações do seu temperamento. Mas a semelhança não vai muito além disso. Por exemplo: por incrível que pareça, o Brasil é muito mais país que a Itália, até hoje, na prática, uma colcha de retalhos.
Há diferenças profundas entre uma região e outra e até entre uma cidade e outra.
Entre uma aldeia e outra, entre um vale e outro. Diferenças lingüísticas, e alguns dialetos são verdadeiras línguas. Diferenças nos hábitos, na culinária, na música, na cultura na acepção mais ampla. Ao mesmo tempo, a península tem milhares de anos de história e a sua miscigenação foi completada há muito tempo.
Perspectivas novas, deste ponto de vista, abrem-se agora com a imigração dos chamados extra-comunitários e do leste europeu. Este processo, de todo modo, no Brasil, está em pleno andamento. A Itália é terra em grande parte pedregosa, se excluirmos o vale do Po e alguns espaços férteis. E tem montanhas nevadas em todo canto, ao norte com os Alpes e ao longo da península, como espinha dorsal, com os Apeninos. O Mediterrâneo que a banha é raramente bravio e tem marés que se medem em dezenas de centímetros. E há os monumentos, os cimélios, a documentar a longa história. Sessenta por cento das obras de arte do mundo ocidental estão na Itália. E ali as estações têm fisionomias próprias e inconfundíveis e setenta por cento do território está sujeito a riscos telúricos. Etc. etc. etc.”
“Respondo a Marco Clerris. Meu caro, as comparações entre a Itália e o Brasil são, no mínimo, muito difíceis. Sim, existe um certo desequilíbrio entre Norte e Sul, como se dá no Brasil no sentido oposto. Sim, há uma boa fatia de brasileiros que se parecem com os italianos nas manifestações do seu temperamento. Mas a semelhança não vai muito além disso. Por exemplo: por incrível que pareça, o Brasil é muito mais país que a Itália, até hoje, na prática, uma colcha de retalhos.
Há diferenças profundas entre uma região e outra e até entre uma cidade e outra.
Entre uma aldeia e outra, entre um vale e outro. Diferenças lingüísticas, e alguns dialetos são verdadeiras línguas. Diferenças nos hábitos, na culinária, na música, na cultura na acepção mais ampla. Ao mesmo tempo, a península tem milhares de anos de história e a sua miscigenação foi completada há muito tempo.
Perspectivas novas, deste ponto de vista, abrem-se agora com a imigração dos chamados extra-comunitários e do leste europeu. Este processo, de todo modo, no Brasil, está em pleno andamento. A Itália é terra em grande parte pedregosa, se excluirmos o vale do Po e alguns espaços férteis. E tem montanhas nevadas em todo canto, ao norte com os Alpes e ao longo da península, como espinha dorsal, com os Apeninos. O Mediterrâneo que a banha é raramente bravio e tem marés que se medem em dezenas de centímetros. E há os monumentos, os cimélios, a documentar a longa história. Sessenta por cento das obras de arte do mundo ocidental estão na Itália. E ali as estações têm fisionomias próprias e inconfundíveis e setenta por cento do território está sujeito a riscos telúricos. Etc. etc. etc.”
HELICÓPTEROS RUSSOS VÃO PATRULHAR AMAZÔNIA
Ontem, o jornal “O Estado de São Paulo” publicou o seguinte artigo de Roberto Godoy:
“Os 12 helicópteros MI-35M, de ataque, que o Comando da aeronáutica comprou em outubro, na Rússia, serão empregados “fundamentalmente na Amazônia”, de acordo com o brigadeiro Juniti Saito, comandante da aviação.
A formalização da escolha foi anunciada no Rio, durante o encontro entre os presidentes Lula e Dimitri Medvedev há três dias. O valor do contrato é estimado em não menos de US$ 250 milhões - US$ 20,3 milhões cada unidade, considerados suprimentos, peças, componentes, documentação e treinamento.
No processo de seleção, iniciado há sete meses, foi considerado também o helicóptero italiano Agusta AW-129. Segundo um integrante ao Alto Comando, pesou na decisão do colegiado de oficiais o fato de a aeronave russa, em diversas versões, ter sido provada em 22 diferentes conflitos entre 1977 e 2008.
Também foi fundamental a garantia de pronta entrega oferecida pela agência russa Rosoboronexport. O modelo selecionado é o arranjo mais avançado da série iniciada faz 36 anos, na extinta União Soviética. A aeronave é empregada por 34 países entre os quais, na América Latina, Venezuela, Peru, Cuba e Nicarágua.
O cronograma de referência para as entregas prevê a chegada dos primeiros três MI-35M até agosto de 2009 e a dos últimos três em 2011. A especificação da FAB para o equipamento exige sistemas que permitam o combate noturno, redutor de ruído e de emissão de calor em ambas as turbinas de 2.200 shp.
A tripulação - dois pilotos - ocupa cabines independentes cobertas por dois globos blindados. O compartimento traseiro pode acomodar até oito soldados equipados. Os cabides externos levam até 1.500 quilos de armas - mísseis, foguetes, bombas de até 500 kg - ou 2,5 toneladas de cargas. Toda a seção inferior é revestida com placa bimetálica resistente a tiros e impacto equivalente ao calibre .50 ou granadas.
Sob a fuselagem, na seção dianteira, uma torre abriga um canhão de alta velocidade, que pode ser o russo GsH de 23 milímetros, o Gatling americano de 20mm ou um rotativo de 30 mm.”
“Os 12 helicópteros MI-35M, de ataque, que o Comando da aeronáutica comprou em outubro, na Rússia, serão empregados “fundamentalmente na Amazônia”, de acordo com o brigadeiro Juniti Saito, comandante da aviação.
A formalização da escolha foi anunciada no Rio, durante o encontro entre os presidentes Lula e Dimitri Medvedev há três dias. O valor do contrato é estimado em não menos de US$ 250 milhões - US$ 20,3 milhões cada unidade, considerados suprimentos, peças, componentes, documentação e treinamento.
No processo de seleção, iniciado há sete meses, foi considerado também o helicóptero italiano Agusta AW-129. Segundo um integrante ao Alto Comando, pesou na decisão do colegiado de oficiais o fato de a aeronave russa, em diversas versões, ter sido provada em 22 diferentes conflitos entre 1977 e 2008.
Também foi fundamental a garantia de pronta entrega oferecida pela agência russa Rosoboronexport. O modelo selecionado é o arranjo mais avançado da série iniciada faz 36 anos, na extinta União Soviética. A aeronave é empregada por 34 países entre os quais, na América Latina, Venezuela, Peru, Cuba e Nicarágua.
O cronograma de referência para as entregas prevê a chegada dos primeiros três MI-35M até agosto de 2009 e a dos últimos três em 2011. A especificação da FAB para o equipamento exige sistemas que permitam o combate noturno, redutor de ruído e de emissão de calor em ambas as turbinas de 2.200 shp.
A tripulação - dois pilotos - ocupa cabines independentes cobertas por dois globos blindados. O compartimento traseiro pode acomodar até oito soldados equipados. Os cabides externos levam até 1.500 quilos de armas - mísseis, foguetes, bombas de até 500 kg - ou 2,5 toneladas de cargas. Toda a seção inferior é revestida com placa bimetálica resistente a tiros e impacto equivalente ao calibre .50 ou granadas.
Sob a fuselagem, na seção dianteira, uma torre abriga um canhão de alta velocidade, que pode ser o russo GsH de 23 milímetros, o Gatling americano de 20mm ou um rotativo de 30 mm.”
EXERCÍCIO PARA ESCREVER COMO SANTAYANNA
Ontem, li no blog “Óleo do Diabo” o seguinte artigo escrito por Miguel do Rosário, jornalista, escritor e editor:
Tenho procurado ser elegante. Realizar uma crônica política culta, irônica, e, valendo-me de minha privilegiada posição de blogueiro independente, tornar-me um sereno e temido crítico da imprensa corporativa. Meu ídolo é Mauro Santayanna. Há momentos, porém, em que o sangue ferve e meu natural nervosismo tropical torna difícil manter a fleuma britânica que tenho me imposto. Hoje está sendo assim. A divulgação dos números de emprego e dívida pública para outubro comprovam que a mídia, mais uma vez, jogou contra o país. A taxa de emprego aumentou em todos os setores, em plena crise! A divida pública caiu fortemente, em função da valorização do dólar. O Brasil está crescendo na crise!
Minha irritação aumenta quando eu percebo que os poucos empresários que vem reduzindo investimentos e demitindo, o fazem não por observarem queda em demanda, mas por estarem "menos confiantes". Ou seja, a mídia tem conseguido envenenar a atmosfera nas altas rodas industriais. E ainda quero evitar um outro pensamento, incômodo, insuportável, de que as elites poderiam se mancomunar para forçar uma recessão econômica no país, com vistas à facilitar a ascenção política da oposição.
Ontem, Miriam Leitão e Merval Pereira entrevistaram a mesma fonte: Armínio Fraga, títere tucano, gerente de campanha do Gabeira, ex-presidente do BC numa época em que os juros chegaram a quase 50% ao ano e o Brasil se vergava a crises ocorridas em qualquer ilha do Pacífico. Fraga, assim como outros de sua laia (olha a fleuma indo pro espaço...), não procuram tranquilizar a opinião pública, não procuram apontar caminhos pelos quais o Brasil, assentado em poderosos e quase inesgotáveis recursos naturais, poderá atravessar a crise financeira mundial sentindo apenas a sua "marolinha" batendo-lhe suavemente no rosto. Não, ele quer apavorar. A crise financeira foi agarrada pelo chifre, assim como foi a febre amarela, o cartão corporativo, o dossiê, o escambal, para ser manipulada politicamente.
É um jogo perigoso, todavia. Os donos da mídia, isolados em seus coquetéis, em suas mansões, em suas viagens internacionais, não percebem a mudança profunda já ocorrida na opinião pública brasileira. A internet enfiou uma faca no tórax do porco, e o bicho grita grita e grita. As pesquisas de opinião revelam o desprestígio crescente da imprensa. Ainda existe muita gente, na classe média, pendurada nas opiniões pré-fabricadas da mídia. Mas essas pessoas se vêem cada vez mais perplexas e confusas diante da realidade. A América Latina foi inteiramente colorida de vermelho, restando apenas um país, Colômbia, governado pela direita. E seu presidente Uribe, é acusado pela justiça federal de seu próprio país, de aliar-se ao narcotráfico e ao paramilitarismo.
E agora, causando uma reviravolta geopolítica no continente, um negro de esquerda assume o poder nos Estados Unidos. Um negro que prometeu dialogar com Chávez e romper o bloqueio à Cuba. Um negro que já revelou sua afinidade com o Brasil. Os segmentos mais americanizados da classe média brasileira assistem, confusos, os EUA se abrasileirarem! Os frutos da vitória de Obama ainda reverberarão por muito tempo, até porque encontram agora terreno propício, em nossa América morena e democrática, para germinarem, crescerem e se multiplicarem.
Naturalmente, a política tem seus mistérios, assim como a história, mas é evidente que as chances de José Serra se reduziram com a vitória de Obama. Serra representa a ala mais conservadora do PSDB, mais ligada ao DEM, a segmentos da opinião pública extremamanente reacionários. Serra esteve presente ao lançamento do livro "País dos Petralhas", de Reinaldo Azevedo, ícone maior da extrema-direita nacional, que havia tratado Obama com escárnio e racismo. Azevedo estava entre os que desacreditavam totalmente da possiblidade de vitória de Obama. Como é possível? Os EUA, um país de direita? De brancos? Votar num negro? Um senador democrata com o maior histórico de votações à esquerda do Congresso? Pois é. Obama ganhou e agora a base ideológica que sustenta os sonhos de Serra à presidência recebeu um duro golpe.
Sem contar que a administração Serra tem sido desastrosa. Ele consegue a proeza de, em meio a um crescimento econômico sem igual na história recente brasileira, realizar uma gestão retrógrada e incompetente, em que seus secretários de Estado, em vez de governarem, ficam batendo boca com seus próprios médicos e policiais, em praça pública.
Os professores de SP ganham mal. Os policiais ganham mal. Os médicos ganham mal. Está certo que, a nível federal, ainda existem médicos que ganham mal, mas o governo, ao menos, tem consciência disso e não vai para o jornal procurar humilhar seus próprios funcionários, como fez um secretário de Serra, que debochou do médico Davi de Lacerda, afirmando, em carta enviada ao jornal Folha de SP, que ele havia dito "gabolices sobre sua formação no exterior, do tipo ´venci nos EUA´". Ora, que mesquinhez! Em primeiro lugar, isso é abuso de poder! Um secretário de Estado não pode usar o seu cargo e seu poder para tentar humilhar um médico profissional. Poderia ter respondido ao artigo de maneira protocolar, educada, mas não usando esse tom jocoso, desrespeitoso.
Enfim, chega. Já perdi as estribeiras. Termino com meu lema. Delenda Serra.”
Tenho procurado ser elegante. Realizar uma crônica política culta, irônica, e, valendo-me de minha privilegiada posição de blogueiro independente, tornar-me um sereno e temido crítico da imprensa corporativa. Meu ídolo é Mauro Santayanna. Há momentos, porém, em que o sangue ferve e meu natural nervosismo tropical torna difícil manter a fleuma britânica que tenho me imposto. Hoje está sendo assim. A divulgação dos números de emprego e dívida pública para outubro comprovam que a mídia, mais uma vez, jogou contra o país. A taxa de emprego aumentou em todos os setores, em plena crise! A divida pública caiu fortemente, em função da valorização do dólar. O Brasil está crescendo na crise!
Minha irritação aumenta quando eu percebo que os poucos empresários que vem reduzindo investimentos e demitindo, o fazem não por observarem queda em demanda, mas por estarem "menos confiantes". Ou seja, a mídia tem conseguido envenenar a atmosfera nas altas rodas industriais. E ainda quero evitar um outro pensamento, incômodo, insuportável, de que as elites poderiam se mancomunar para forçar uma recessão econômica no país, com vistas à facilitar a ascenção política da oposição.
Ontem, Miriam Leitão e Merval Pereira entrevistaram a mesma fonte: Armínio Fraga, títere tucano, gerente de campanha do Gabeira, ex-presidente do BC numa época em que os juros chegaram a quase 50% ao ano e o Brasil se vergava a crises ocorridas em qualquer ilha do Pacífico. Fraga, assim como outros de sua laia (olha a fleuma indo pro espaço...), não procuram tranquilizar a opinião pública, não procuram apontar caminhos pelos quais o Brasil, assentado em poderosos e quase inesgotáveis recursos naturais, poderá atravessar a crise financeira mundial sentindo apenas a sua "marolinha" batendo-lhe suavemente no rosto. Não, ele quer apavorar. A crise financeira foi agarrada pelo chifre, assim como foi a febre amarela, o cartão corporativo, o dossiê, o escambal, para ser manipulada politicamente.
É um jogo perigoso, todavia. Os donos da mídia, isolados em seus coquetéis, em suas mansões, em suas viagens internacionais, não percebem a mudança profunda já ocorrida na opinião pública brasileira. A internet enfiou uma faca no tórax do porco, e o bicho grita grita e grita. As pesquisas de opinião revelam o desprestígio crescente da imprensa. Ainda existe muita gente, na classe média, pendurada nas opiniões pré-fabricadas da mídia. Mas essas pessoas se vêem cada vez mais perplexas e confusas diante da realidade. A América Latina foi inteiramente colorida de vermelho, restando apenas um país, Colômbia, governado pela direita. E seu presidente Uribe, é acusado pela justiça federal de seu próprio país, de aliar-se ao narcotráfico e ao paramilitarismo.
E agora, causando uma reviravolta geopolítica no continente, um negro de esquerda assume o poder nos Estados Unidos. Um negro que prometeu dialogar com Chávez e romper o bloqueio à Cuba. Um negro que já revelou sua afinidade com o Brasil. Os segmentos mais americanizados da classe média brasileira assistem, confusos, os EUA se abrasileirarem! Os frutos da vitória de Obama ainda reverberarão por muito tempo, até porque encontram agora terreno propício, em nossa América morena e democrática, para germinarem, crescerem e se multiplicarem.
Naturalmente, a política tem seus mistérios, assim como a história, mas é evidente que as chances de José Serra se reduziram com a vitória de Obama. Serra representa a ala mais conservadora do PSDB, mais ligada ao DEM, a segmentos da opinião pública extremamanente reacionários. Serra esteve presente ao lançamento do livro "País dos Petralhas", de Reinaldo Azevedo, ícone maior da extrema-direita nacional, que havia tratado Obama com escárnio e racismo. Azevedo estava entre os que desacreditavam totalmente da possiblidade de vitória de Obama. Como é possível? Os EUA, um país de direita? De brancos? Votar num negro? Um senador democrata com o maior histórico de votações à esquerda do Congresso? Pois é. Obama ganhou e agora a base ideológica que sustenta os sonhos de Serra à presidência recebeu um duro golpe.
Sem contar que a administração Serra tem sido desastrosa. Ele consegue a proeza de, em meio a um crescimento econômico sem igual na história recente brasileira, realizar uma gestão retrógrada e incompetente, em que seus secretários de Estado, em vez de governarem, ficam batendo boca com seus próprios médicos e policiais, em praça pública.
Os professores de SP ganham mal. Os policiais ganham mal. Os médicos ganham mal. Está certo que, a nível federal, ainda existem médicos que ganham mal, mas o governo, ao menos, tem consciência disso e não vai para o jornal procurar humilhar seus próprios funcionários, como fez um secretário de Serra, que debochou do médico Davi de Lacerda, afirmando, em carta enviada ao jornal Folha de SP, que ele havia dito "gabolices sobre sua formação no exterior, do tipo ´venci nos EUA´". Ora, que mesquinhez! Em primeiro lugar, isso é abuso de poder! Um secretário de Estado não pode usar o seu cargo e seu poder para tentar humilhar um médico profissional. Poderia ter respondido ao artigo de maneira protocolar, educada, mas não usando esse tom jocoso, desrespeitoso.
Enfim, chega. Já perdi as estribeiras. Termino com meu lema. Delenda Serra.”
AMÉRICA LATINA ESTÁ DEIXANDO DE SER O QUINTAL DOS ESTADOS UNIDOS
O site Carta Maior postou ontem o seguinte texto de Noam Chomsky, traduzido por Katarina Peixoto, publicado pela “Agencia de Prensa Alternativa Humanista Sur”. Este blog, em postagem de 25/06, já fez pequeno resumo da biografia do autor do artigo, Avram Noam Chomsky. Acrescento que ele é o mais citado e, provavelmente, o mais controverso intelectual vivo, segundo Global Intellectuals Poll:
“Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina, diz Noam Chomsky, em entrevista. Para ele, a região está começando a superar seus problemas internos e sua subordinação ao Ocidente, principalmente em relação aos EUA. Chomsky acredita que a crise atual traz oportunidades de mudanças reais na ordem mundial. "Até onde essa mudança pode chegar, isso depende daquilo que estamos dispostos a empreender".
A Agencia de Prensa Alternativa Humanista “Sur” (APAHs) entrevistou Noam Chomsky sobre o desenrolar da crise econômica atual.
Reproduzimos, aqui, a entrevista, onde Chomsky defende a necessidade de desmontar algumas mitologias relacionadas à crise, destaca o novo papel que a América Latina vem desempenhando no mundo e aponta a abertura de uma janela de oportunidades para mudanças na atual ordem político-econômica global.
COMO EXPLICAR QUE, APESAR DE MUITA GENTE TER VISTO A CRISE SE APROXIMANDO, AQUELES QUE ESTAVAM NA LIDERANÇA DOS GOVERNOS E DAS ECONOMIAS NÃO SE MOSTRARAM PREPARADOS PARA ENFRENTÁ-LA?
NOAM CHOMSKY: As bases para a crise eram previsíveis. Um fator constitutivo da liberalização financeira é que haverá crises freqüentes e profundas.
De fato, desde que a liberalização financeira foi instituída há cerca de 35 anos, estabeleceu-se uma tendência a incrementar a regularidades crises, e crises cada vez mais profundas. As razões são intrínsecas e entendidas: tem a ver fundamentalmente com as bem conhecidas ineficiências dos mercados. Assim, por exemplo, se você e eu fazemos uma transação, digamos que me vende um automóvel, podemos fazer um bom negócio para nós mesmos, mas não consideramos o efeito sobre os outros.
Se eu compro um automóvel, aumenta o uso da gasolina, aumenta a contaminação, o congestionamento, etc. Mas não levamos em conta esses efeitos. Isto é o que os economistas chamam de externalidades, que não são consideradas nos cálculos do mercado.
Estas externalidades podem ser enormes. No caso das instituições financeiras, são particularmente grandes. A tarefa de uma instituição financeira é assumir riscos. Se é uma instituição financeira bem administrada, digamos, a Goldman Sachs, ela considerará os riscos para si própria, mas a expressão crucial aqui é “para si própria”. Não leva em conta os riscos sistêmicos, os riscos para o conjunto do sistema se a Goldman Sachs tiver uma perda substancial. Isso significa que esses riscos são subestimados. Assume-se mais riscos do que se deveria tomar em um sistema eficiente que leva em conta todas as implicações.
Assim, esta fixação errônea de preços se integra simplesmente como parte do sistema do mercado e da liberalização das finanças.
Como conseqüência dessa subestimação de riscos, estes passam a ser mais freqüentes e quando há fracassos, os custos são mais altos que o esperado. As crises passam a ser mais freqüentes e mais graves à medida que o alcance e o volume das transações financeiras aumentam.
Tudo isso se amplifica ainda mais pelo fanatismo dos fundamentalistas do mercado que desmontaram o aparato regulador e permitiram a criação de instrumentos financeiros exóticos e opacos.
É um tipo de fundamentalismo irracional porque fica claro que o enfraquecimento de mecanismos regulatórios em um sistema de mercado incorpora um risco de crise desastrosa. Trata-se de atos sem sentido, salvo para o interesse no curto prazo dos senhores da economia e da sociedade. As corporações financeiras podem, e conseguiram, colher enormes lucros no curto prazo ao empreender ações extremamente aventuradas, incluindo especialmente a desregulação, que trazem dano à economia em geral, mas não para elas, ao menos no curto prazo que é o que orienta o seu planejamento.
Não se podia prever o momento exato de uma crise severa, nem se podia prever o alcance exato da crise, mas era óbvio que ela viria. De fato, ocorreram crises sérias e repetidas durante este período de desregulação crescente. Só que até agora não tinham golpeado tão duramente o centro da riqueza e do poder, mas sim, sobretudo, os países do chamado terceiro mundo. Vejamos o caso dos Estados Unidos.
É um país rico, mas para uma maioria substancial da população, os últimos trinta anos provavelmente figuram entre os piores da história econômica norte-americana.
Neste período, não ocorreram crises massivas, grandes guerras, depressões, etc. No entanto, os salários reais permaneceram praticamente estancados para a maioria durante trinta anos.
Para a economia internacional, o efeito da liberalização financeira foi bastante daninho.
Líamos na imprensa que os últimos trinta anos, os do neoliberalismo, mostraram o maior decréscimo da pobreza na história do mundo, um enorme crescimento, etc. Há algo de verdade nisso, mas o que falta dizer é que a diminuição da pobreza e o crescimento ocorreram em países que não seguiram as regras neoliberais, como ocorreu no leste asiático. E os países que observaram tais regras sofreram gravemente, como ocorreu na América Latina.
JOSEPH STIGLITZ ESCREVEU RECENTEMENTE QUE ESTA ÚLTIMA CRISE MARCA O FIM DO NEOLIBERALISMO. CHÁVEZ, DURANTE UMA COLETIVA DE IMPRENSA, DISSE QUE A CRISE PODERIA SER O FINAL DO CAPITALISMO. QUAL DOS DOIS ESTÁ MAIS PRÓXIMO DA VERDADE?
CHOMSKY: Em primeiro lugar, devemos ter claro que o capitalismo não pode terminar porque nunca começou. O sistema no qual vivemos deve ser chamado de capitalismo de Estado, não simplesmente capitalismo.
No caso dos Estados Unidos, a economia se apóia muito fortemente no setor estatal.
No momento, há muita angústia sobre a socialização da economia, mas isso é uma grande brincadeira. A economia avançada de alta tecnologia e similares sempre dependeu amplamente do setor dinâmico da economia estatal. É o caso da informática, da internet, da aviação, da biotecnologia, quase tudo o que está à vista.
O Massachusetts Institute of Technology (MIT), de onde estou falando, é uma espécie de funil no qual o setor público despeja o dinheiro e de onde sai a tecnologia do futuro, que será entregue ao poder privado para que saquem os lucros. Então, temos um sistema de socialização dos custos e riscos e privatização dos lucros. Isso não ocorre somente no sistema financeiro, mas em toda economia avançada.
De modo que, para o sistema financeiro, provavelmente o resultado será mais ou menos o descrito por Stiglitz. É o final de uma certa era da liberalização financeira conduzida pelo fundamentalismo de mercado. O jornal Wall Street Journal lamenta que Wall Street, tal como a conhecemos, tenha desaparecido com a derrocada da banca de investimentos.
Alguns passos serão dados na direção da regulação. Isso é certo. No entanto, as propostas que estão sendo formuladas, por mais extensas e severas que sejam, não mudam a estrutura das instituições básicas subjacentes. Não há nenhuma ameaça ao capitalismo de Estado.
Suas instituições fundamentais seguirão sendo as mesmas, talvez, inclusive, sem grandes sacudidas. Elas podem ser reacomodadas de várias maneiras. Alguns conglomerados podem absorver outros, alguns podem ser semi-nacionalizados tibiamente, sem que isso afete fortemente o monopólio privado da tomada de decisões.
No entanto, do jeito que vão as coisas, as relações de propriedade e a distribuição de poder e riqueza não mudarão significativamente, embora a era do neoliberalismo, vigente há uns trinta e cinco anos, seguramente será modificada de maneira significativa. Diga-se de passagem, ninguém sabe o quão grave essa crise poderá se tornar.
Cada dia traz novas surpresas. Alguns economistas estão prevendo uma verdadeira catástrofe. Outros pensam que ela pode ser consertada, com um transtorno modesto e uma recessão, que provavelmente será pior na Europa do que nos Estados Unidos. Mas ninguém sabe ao certo.
NA SUA AVALIAÇÃO, VEREMOS ALGO PARECIDO COM A DEPRESSÃO, COM PESSOAS SEM TRABALHO FAZENDO GRANDES FILAS PARA CONSEGUIR ALIMENTOS, NOS ESTADOS UNIDOS E NA EUROPA? E, SE ISSO OCORRER, VEREMOS UMA GRANDE GUERRA PARA REPOR AS ECONOMIAS EM PÉ, UMA TERAPIA DE CHOQUE OU ALGO TIPO?
CHOMSKY: Não acredito que a situação seja comparável com o período da grande depressão, ainda que haja algumas semelhanças com essa época. Os anos 20 também foram um período de especulação selvagem e de uma enorme expansão de crédito e empréstimos, com a criação de uma enorme concentração de riqueza em um setor muito pequeno da população e a destruição do movimento sindical. Deste ponto de vista, há semelhanças com o período atual. Mas também há muitas diferenças.
Existe um aparato muito mais estável de controle e regulação, resultante do New Deal, e ainda que tenha se enfraquecido, boa parte dele permanece intacto.
Além disso, há a compreensão de que os tipos de políticas, vistas como extremamente radicais no período do New Deal, hoje são mais ou menos normais. Assim, por exemplo, no recente debate presidencial dos EUA, John McCain, o candidato da direita, propôs medidas tomadas do New Deal para enfrentar a crise da habitação. Então, há a compreensão de que o governo deve assumir um papel importante na gestão da economia e, de fato, os setores avançados da economia já vivem essa experiência há cerca de 50 anos.
Muito do que se lê sobre isso é pura mitologia. Por exemplo, lemos que a crença apaixonada de Reagan no milagre dos mercados agora está sendo atacada. Atribuiu-se ao ex-presidente o papel de Grande Sacerdote da fé nos mercados. De fato, Reagan foi o presidente mais protecionista da história econômica estadunidense do pós-guerra.
Ele aumentou as barreiras protecionistas mais que todos os seus precursores juntos.
Convocou o Pentágono a desenvolver projetos para treinar administradores norte-americanos nos métodos avançados de produção japoneses. Ele também operou um dos maiores salvamentos bancários da história norte-americana e conformou um conglomerado baseado no Estado para tratar de revitalizar a indústria de semi-condutores. De fato, ele acreditava em um governo poderoso, de intervenção radical na economia. Quando digo “Reagan” refiro-me a sua administração. O que ele acreditava sobre tudo isso, se é que acreditou em algo, realmente não sabemos e isso não é muito importante.
Há muita mitologia que precisamos desmontar, incluindo aí o que diz a respeito do grande crescimento e da redução da pobreza. Nos próprios Estados Unidos, quando se aplicaram as regras neoliberais, os resultados foram bastante daninhos para a maioria da população.
Olhando para além da mitologia, podemos perceber que uma economia capitalista de Estado que, particularmente desde a Segunda Guerra Mundial, dependeu muito fortemente do setor estatal, agora está voltando a depender do Estado para o manejo do sistema financeiro que está desmoronando. Por enquanto, não há sinais de que se produzirá algo parecido com o que ocorreu em 1929.
ENTÃO, VOCÊ NÃO CONSIDERA QUE ESTAMOS NOS ENCAMINHANDO PARA UMA MUDANÇA NA ORDEM MUNDIAL?
CHOMSKY: Bom, há mudanças muito significativas na ordem mundial e esta crise talvez contribua para isso. Mas elas estão aí há algum tempo. Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina.
Costuma-se dizer que a América Latina é o quintal dos EUA e que, há muito tempo, é uma região controlada pelos EUA. Mas isso está mudando. Em meados de setembro tivemos uma ilustração dramática disso.
No dia 15 de setembro, ocorreu uma reunião da Unasul, a União das Nações Sul-americanas, da qual participaram todos os governos sul-americanos, incluindo a Colômbia, atual favorito dos EUA na região. A reunião foi realizada em Santiago, Chile, outro favorito dos EUA. Dela, saiu uma declaração muito contundente de apoio a Evo Morales, da Bolívia, e de rechaço aos setores quase-secessionistas deste país, que contam com o apoio dos Estados Unidos.
Há uma luta muito significativa na Bolívia. As elites estão se mobilizando pela autonomia e mesmo pela secessão, gerando fortes níveis de violência com a evidente concordância dos EUA. Mas as repúblicas sul-americanas assumiram uma postura firme, em apoio ao governo democrático. A declaração foi lida pela presidente Bachelet, do Chile, uma favorita do Ocidente. Evo Morales respondeu agradecendo aos presidentes pelo apoio e assinalou, corretamente, que esta era a primeira vez em 500 anos que a América Latina havia tomado seu destino em suas próprias mãos, sem a interferência da Europa nem, sobretudo, dos EUA. Esse é um símbolo de mudança muito significativo que está em curso, às vezes chamado de “maré rosada”. Foi tão importante que não foi reportado pela imprensa dos EUA. Há uma frase aqui, outra ali, que registra que algo aconteceu, mas suprimiram totalmente o conteúdo e a importância do que ocorreu.
Isso é parte de um processo de longo prazo, no qual a América do Sul está começando a superar seus enormes problemas internos e também sua subordinação ao Ocidente, principalmente em relação aos Estados Unidos. A América do Sul também está diversificando suas relações com o mundo. O Brasil tem relações cada vez maiores com a África do Sul, a Índia e, particularmente, a China, país cada vez mais envolvido com investimentos e intercâmbios com países latino-americanos. São processos extremamente importantes, que agora estão começando a chegar também na América Central. Honduras, por exemplo, era a clássica república bananeira. Serviu de base para as guerras do terror perpetradas por Reagan na região e subordinou-se totalmente aos EUA.
Mas Honduras somou-se recentemente a ALBA, a Alternativa Bolivariana para os Povos da América, proposta pela Venezuela. É um pequeno passo, mas não deixa de ser muito significativos.
VOCÊ ACHA QUE ESTAS TENDÊNCIAS NA AMÉRICA DO SUL, COMO ALBA, UNASUL E OS GRANDES ACONTECIMENTOS NA VENEZUELA, BOLÍVIA E OUTROS PAÍSES, PODEM SER AFETADOS POR UMA CRISE ECONÔMICA DA DIMENSÃO DESTA QUE ESTAMOS ENFRENTANDO AGORA?
CHOMSKY: Bem, esses países serão afetados pela crise mas, no momento, não tanto como estão sendo a Europa e os Estados Unidos.
Se olhamos o caso da Bolsa no Brasil, ela caiu muito rapidamente, mas os bancos brasileiros não estão quebrando. Do mesmo modo, na Ásia, as bolsas estão declinando agudamente, mas os governos não estão assumindo o controle dos bancos, como ocorre na Inglaterra, Estados Unidos e boa parte da Europa. Essas regiões, América do Sul e Ásia, de alguma maneira conseguiram se separar das calamidades dos mercados financeiros. O que desatou a crise atual foram os empréstimos subprime para ativos construídos sobre areia, e estes, claro, estão em mãos de estadunidenses e de bancos europeus. O fato de possuir ativos tóxicos baseados em hipotecas envolveu-se muito rapidamente nestes acontecimentos.
Além disso, os europeus têm suas próprias crises da habitação, particularmente a Inglaterra e a Espanha.
A Ásia e a América Latina ficaram muito menos expostas por terem mantido estratégias de crédito mais cautelosas, particularmente a partir do descalabro neoliberal de 1997-1998.
Um grande banco japonês, Mitsubishi UFG, acaba de comprar uma parte substancial do Morgan Stanley, nos EUA. Então, não parece, até agora, que a Ásia e a América Latina serão afetadas tão gravemente como Estados Unidos e Europa.
VOCÊ ACREDITA QUE HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE OBAMA E MCCAIN NO QUE DIZ RESPEITO A TEMAS COMO O TRATADO DE LIVRE COMÉRCIO E O PLANO COLÔMBIA? NA COLÔMBIA, PODE-SE SENTIR QUE O PRESIDENTE E SEUS APOIADORES ESTÃO ASSUSTADOS FRENTE À ELEIÇÃO DE OBAMA. SEI QUE VOCÊ TEM A SENSAÇÃO QUE OBAMA É COMO UMA FOLHA EM BRANCO, MAS PENSA QUE ELA FARÁ ALGUMA DIFERENÇA?
CHOMSKY: Com efeito, Obama tem se apresentado mais ou menos como uma folha em branco. Mas não há motivo para que o governo colombiano se assuste com sua eleição. O Plano Colômbia é uma política de Clinton e há muitas razões para supor que Obama será outro Clinton.
Ele é bastante impreciso, a propósito. Mesmo quando explicita políticas, elas se parecem muito a políticas centristas, como Clinton, que modelou o Plano Colômbia e militarizou o conflito.
TENHO, ÀS VEZES, A SENSAÇÃO DE QUE OS PERÍODOS DE BUSH SE DERAM EM UM CONTEXTO DE MUDANÇA DA ORDEM MUNDIAL, TRATANDO DE MANTER O PODER COM O USO DA FORÇA, E QUE, EM TROCA, OBAMA PODE REPRESENTAR A CARA BOA PARA RENEGOCIAR A ORDEM MUNDIAL. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE ISSO?
CHOMSKY: É importante lembrar que o espectro político nos EUA é bastante estreito. É uma sociedade controlada pelas empresas, basicamente, é um Estado de partido único, com duas facções, democratas e republicanos. As facções têm algumas diferenças e estas, às vezes, são significativas. Mas o espectro é bastante estreito. A administração Bush, porém, se situava bastante além do final do espectro, com nacionalistas radicais extremos, crentes extremos no poder do Estado, na violência no exterior e em um alto gasto governamental.
De fato, estavam tão fora do espectro que foram criticados duramente inclusive por parte do poder, desde os primeiros tempos.
Seja quem for que assuma o mandato, é provável que desloque o tabuleiro político para o centro do espectro. Obama talvez faça isso em maior medida. Diria que, no caso de Obama, haverá algo como um renascimento dos anos Clinton, adaptado certamente às novas circunstâncias.
AGORA QUE ESTAMOS CHEGANDO AO FIM DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL, EXISTE A POSSIBILIDADE DE ALGO REALMENTE NOVO, UMA GLOBALIZAÇÃO BOA?
CHOMSKY: Penso que as perspectivas hoje estão muito melhores do que estavam antes. O poder está extraordinariamente concentrado, mas há mudanças a medida que a economia internacional torna-se mais diversificada e complexa. O Sul está se tornando mais independente.
Mas, se olhamos para os EUA, mesmo com todo o dano causado por Bush, segue sendo a maior economia homogênea, com o maior mercado interno, a força militar mais forte e tecnologicamente mais avançada, com gastos anuais comparáveis aos do resto do mundo combinados e com um arquipélago de bases militares espalhadas pelo mundo. Estas são fontes de continuidade, mesmo que a ordem neoliberal esteja sofrendo uma erosão dentro dos EUA, na Europa e internacionalmente, com um crescimento da oposição a ela. Então, há oportunidades para uma mudança real. Até onde essa mudança pode chegar, isso depende da gente e daquilo que estamos dispostos a empreender”.
“Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina, diz Noam Chomsky, em entrevista. Para ele, a região está começando a superar seus problemas internos e sua subordinação ao Ocidente, principalmente em relação aos EUA. Chomsky acredita que a crise atual traz oportunidades de mudanças reais na ordem mundial. "Até onde essa mudança pode chegar, isso depende daquilo que estamos dispostos a empreender".
A Agencia de Prensa Alternativa Humanista “Sur” (APAHs) entrevistou Noam Chomsky sobre o desenrolar da crise econômica atual.
Reproduzimos, aqui, a entrevista, onde Chomsky defende a necessidade de desmontar algumas mitologias relacionadas à crise, destaca o novo papel que a América Latina vem desempenhando no mundo e aponta a abertura de uma janela de oportunidades para mudanças na atual ordem político-econômica global.
COMO EXPLICAR QUE, APESAR DE MUITA GENTE TER VISTO A CRISE SE APROXIMANDO, AQUELES QUE ESTAVAM NA LIDERANÇA DOS GOVERNOS E DAS ECONOMIAS NÃO SE MOSTRARAM PREPARADOS PARA ENFRENTÁ-LA?
NOAM CHOMSKY: As bases para a crise eram previsíveis. Um fator constitutivo da liberalização financeira é que haverá crises freqüentes e profundas.
De fato, desde que a liberalização financeira foi instituída há cerca de 35 anos, estabeleceu-se uma tendência a incrementar a regularidades crises, e crises cada vez mais profundas. As razões são intrínsecas e entendidas: tem a ver fundamentalmente com as bem conhecidas ineficiências dos mercados. Assim, por exemplo, se você e eu fazemos uma transação, digamos que me vende um automóvel, podemos fazer um bom negócio para nós mesmos, mas não consideramos o efeito sobre os outros.
Se eu compro um automóvel, aumenta o uso da gasolina, aumenta a contaminação, o congestionamento, etc. Mas não levamos em conta esses efeitos. Isto é o que os economistas chamam de externalidades, que não são consideradas nos cálculos do mercado.
Estas externalidades podem ser enormes. No caso das instituições financeiras, são particularmente grandes. A tarefa de uma instituição financeira é assumir riscos. Se é uma instituição financeira bem administrada, digamos, a Goldman Sachs, ela considerará os riscos para si própria, mas a expressão crucial aqui é “para si própria”. Não leva em conta os riscos sistêmicos, os riscos para o conjunto do sistema se a Goldman Sachs tiver uma perda substancial. Isso significa que esses riscos são subestimados. Assume-se mais riscos do que se deveria tomar em um sistema eficiente que leva em conta todas as implicações.
Assim, esta fixação errônea de preços se integra simplesmente como parte do sistema do mercado e da liberalização das finanças.
Como conseqüência dessa subestimação de riscos, estes passam a ser mais freqüentes e quando há fracassos, os custos são mais altos que o esperado. As crises passam a ser mais freqüentes e mais graves à medida que o alcance e o volume das transações financeiras aumentam.
Tudo isso se amplifica ainda mais pelo fanatismo dos fundamentalistas do mercado que desmontaram o aparato regulador e permitiram a criação de instrumentos financeiros exóticos e opacos.
É um tipo de fundamentalismo irracional porque fica claro que o enfraquecimento de mecanismos regulatórios em um sistema de mercado incorpora um risco de crise desastrosa. Trata-se de atos sem sentido, salvo para o interesse no curto prazo dos senhores da economia e da sociedade. As corporações financeiras podem, e conseguiram, colher enormes lucros no curto prazo ao empreender ações extremamente aventuradas, incluindo especialmente a desregulação, que trazem dano à economia em geral, mas não para elas, ao menos no curto prazo que é o que orienta o seu planejamento.
Não se podia prever o momento exato de uma crise severa, nem se podia prever o alcance exato da crise, mas era óbvio que ela viria. De fato, ocorreram crises sérias e repetidas durante este período de desregulação crescente. Só que até agora não tinham golpeado tão duramente o centro da riqueza e do poder, mas sim, sobretudo, os países do chamado terceiro mundo. Vejamos o caso dos Estados Unidos.
É um país rico, mas para uma maioria substancial da população, os últimos trinta anos provavelmente figuram entre os piores da história econômica norte-americana.
Neste período, não ocorreram crises massivas, grandes guerras, depressões, etc. No entanto, os salários reais permaneceram praticamente estancados para a maioria durante trinta anos.
Para a economia internacional, o efeito da liberalização financeira foi bastante daninho.
Líamos na imprensa que os últimos trinta anos, os do neoliberalismo, mostraram o maior decréscimo da pobreza na história do mundo, um enorme crescimento, etc. Há algo de verdade nisso, mas o que falta dizer é que a diminuição da pobreza e o crescimento ocorreram em países que não seguiram as regras neoliberais, como ocorreu no leste asiático. E os países que observaram tais regras sofreram gravemente, como ocorreu na América Latina.
JOSEPH STIGLITZ ESCREVEU RECENTEMENTE QUE ESTA ÚLTIMA CRISE MARCA O FIM DO NEOLIBERALISMO. CHÁVEZ, DURANTE UMA COLETIVA DE IMPRENSA, DISSE QUE A CRISE PODERIA SER O FINAL DO CAPITALISMO. QUAL DOS DOIS ESTÁ MAIS PRÓXIMO DA VERDADE?
CHOMSKY: Em primeiro lugar, devemos ter claro que o capitalismo não pode terminar porque nunca começou. O sistema no qual vivemos deve ser chamado de capitalismo de Estado, não simplesmente capitalismo.
No caso dos Estados Unidos, a economia se apóia muito fortemente no setor estatal.
No momento, há muita angústia sobre a socialização da economia, mas isso é uma grande brincadeira. A economia avançada de alta tecnologia e similares sempre dependeu amplamente do setor dinâmico da economia estatal. É o caso da informática, da internet, da aviação, da biotecnologia, quase tudo o que está à vista.
O Massachusetts Institute of Technology (MIT), de onde estou falando, é uma espécie de funil no qual o setor público despeja o dinheiro e de onde sai a tecnologia do futuro, que será entregue ao poder privado para que saquem os lucros. Então, temos um sistema de socialização dos custos e riscos e privatização dos lucros. Isso não ocorre somente no sistema financeiro, mas em toda economia avançada.
De modo que, para o sistema financeiro, provavelmente o resultado será mais ou menos o descrito por Stiglitz. É o final de uma certa era da liberalização financeira conduzida pelo fundamentalismo de mercado. O jornal Wall Street Journal lamenta que Wall Street, tal como a conhecemos, tenha desaparecido com a derrocada da banca de investimentos.
Alguns passos serão dados na direção da regulação. Isso é certo. No entanto, as propostas que estão sendo formuladas, por mais extensas e severas que sejam, não mudam a estrutura das instituições básicas subjacentes. Não há nenhuma ameaça ao capitalismo de Estado.
Suas instituições fundamentais seguirão sendo as mesmas, talvez, inclusive, sem grandes sacudidas. Elas podem ser reacomodadas de várias maneiras. Alguns conglomerados podem absorver outros, alguns podem ser semi-nacionalizados tibiamente, sem que isso afete fortemente o monopólio privado da tomada de decisões.
No entanto, do jeito que vão as coisas, as relações de propriedade e a distribuição de poder e riqueza não mudarão significativamente, embora a era do neoliberalismo, vigente há uns trinta e cinco anos, seguramente será modificada de maneira significativa. Diga-se de passagem, ninguém sabe o quão grave essa crise poderá se tornar.
Cada dia traz novas surpresas. Alguns economistas estão prevendo uma verdadeira catástrofe. Outros pensam que ela pode ser consertada, com um transtorno modesto e uma recessão, que provavelmente será pior na Europa do que nos Estados Unidos. Mas ninguém sabe ao certo.
NA SUA AVALIAÇÃO, VEREMOS ALGO PARECIDO COM A DEPRESSÃO, COM PESSOAS SEM TRABALHO FAZENDO GRANDES FILAS PARA CONSEGUIR ALIMENTOS, NOS ESTADOS UNIDOS E NA EUROPA? E, SE ISSO OCORRER, VEREMOS UMA GRANDE GUERRA PARA REPOR AS ECONOMIAS EM PÉ, UMA TERAPIA DE CHOQUE OU ALGO TIPO?
CHOMSKY: Não acredito que a situação seja comparável com o período da grande depressão, ainda que haja algumas semelhanças com essa época. Os anos 20 também foram um período de especulação selvagem e de uma enorme expansão de crédito e empréstimos, com a criação de uma enorme concentração de riqueza em um setor muito pequeno da população e a destruição do movimento sindical. Deste ponto de vista, há semelhanças com o período atual. Mas também há muitas diferenças.
Existe um aparato muito mais estável de controle e regulação, resultante do New Deal, e ainda que tenha se enfraquecido, boa parte dele permanece intacto.
Além disso, há a compreensão de que os tipos de políticas, vistas como extremamente radicais no período do New Deal, hoje são mais ou menos normais. Assim, por exemplo, no recente debate presidencial dos EUA, John McCain, o candidato da direita, propôs medidas tomadas do New Deal para enfrentar a crise da habitação. Então, há a compreensão de que o governo deve assumir um papel importante na gestão da economia e, de fato, os setores avançados da economia já vivem essa experiência há cerca de 50 anos.
Muito do que se lê sobre isso é pura mitologia. Por exemplo, lemos que a crença apaixonada de Reagan no milagre dos mercados agora está sendo atacada. Atribuiu-se ao ex-presidente o papel de Grande Sacerdote da fé nos mercados. De fato, Reagan foi o presidente mais protecionista da história econômica estadunidense do pós-guerra.
Ele aumentou as barreiras protecionistas mais que todos os seus precursores juntos.
Convocou o Pentágono a desenvolver projetos para treinar administradores norte-americanos nos métodos avançados de produção japoneses. Ele também operou um dos maiores salvamentos bancários da história norte-americana e conformou um conglomerado baseado no Estado para tratar de revitalizar a indústria de semi-condutores. De fato, ele acreditava em um governo poderoso, de intervenção radical na economia. Quando digo “Reagan” refiro-me a sua administração. O que ele acreditava sobre tudo isso, se é que acreditou em algo, realmente não sabemos e isso não é muito importante.
Há muita mitologia que precisamos desmontar, incluindo aí o que diz a respeito do grande crescimento e da redução da pobreza. Nos próprios Estados Unidos, quando se aplicaram as regras neoliberais, os resultados foram bastante daninhos para a maioria da população.
Olhando para além da mitologia, podemos perceber que uma economia capitalista de Estado que, particularmente desde a Segunda Guerra Mundial, dependeu muito fortemente do setor estatal, agora está voltando a depender do Estado para o manejo do sistema financeiro que está desmoronando. Por enquanto, não há sinais de que se produzirá algo parecido com o que ocorreu em 1929.
ENTÃO, VOCÊ NÃO CONSIDERA QUE ESTAMOS NOS ENCAMINHANDO PARA UMA MUDANÇA NA ORDEM MUNDIAL?
CHOMSKY: Bom, há mudanças muito significativas na ordem mundial e esta crise talvez contribua para isso. Mas elas estão aí há algum tempo. Uma das principais mudanças na ordem mundial está sendo vivida agora na América Latina.
Costuma-se dizer que a América Latina é o quintal dos EUA e que, há muito tempo, é uma região controlada pelos EUA. Mas isso está mudando. Em meados de setembro tivemos uma ilustração dramática disso.
No dia 15 de setembro, ocorreu uma reunião da Unasul, a União das Nações Sul-americanas, da qual participaram todos os governos sul-americanos, incluindo a Colômbia, atual favorito dos EUA na região. A reunião foi realizada em Santiago, Chile, outro favorito dos EUA. Dela, saiu uma declaração muito contundente de apoio a Evo Morales, da Bolívia, e de rechaço aos setores quase-secessionistas deste país, que contam com o apoio dos Estados Unidos.
Há uma luta muito significativa na Bolívia. As elites estão se mobilizando pela autonomia e mesmo pela secessão, gerando fortes níveis de violência com a evidente concordância dos EUA. Mas as repúblicas sul-americanas assumiram uma postura firme, em apoio ao governo democrático. A declaração foi lida pela presidente Bachelet, do Chile, uma favorita do Ocidente. Evo Morales respondeu agradecendo aos presidentes pelo apoio e assinalou, corretamente, que esta era a primeira vez em 500 anos que a América Latina havia tomado seu destino em suas próprias mãos, sem a interferência da Europa nem, sobretudo, dos EUA. Esse é um símbolo de mudança muito significativo que está em curso, às vezes chamado de “maré rosada”. Foi tão importante que não foi reportado pela imprensa dos EUA. Há uma frase aqui, outra ali, que registra que algo aconteceu, mas suprimiram totalmente o conteúdo e a importância do que ocorreu.
Isso é parte de um processo de longo prazo, no qual a América do Sul está começando a superar seus enormes problemas internos e também sua subordinação ao Ocidente, principalmente em relação aos Estados Unidos. A América do Sul também está diversificando suas relações com o mundo. O Brasil tem relações cada vez maiores com a África do Sul, a Índia e, particularmente, a China, país cada vez mais envolvido com investimentos e intercâmbios com países latino-americanos. São processos extremamente importantes, que agora estão começando a chegar também na América Central. Honduras, por exemplo, era a clássica república bananeira. Serviu de base para as guerras do terror perpetradas por Reagan na região e subordinou-se totalmente aos EUA.
Mas Honduras somou-se recentemente a ALBA, a Alternativa Bolivariana para os Povos da América, proposta pela Venezuela. É um pequeno passo, mas não deixa de ser muito significativos.
VOCÊ ACHA QUE ESTAS TENDÊNCIAS NA AMÉRICA DO SUL, COMO ALBA, UNASUL E OS GRANDES ACONTECIMENTOS NA VENEZUELA, BOLÍVIA E OUTROS PAÍSES, PODEM SER AFETADOS POR UMA CRISE ECONÔMICA DA DIMENSÃO DESTA QUE ESTAMOS ENFRENTANDO AGORA?
CHOMSKY: Bem, esses países serão afetados pela crise mas, no momento, não tanto como estão sendo a Europa e os Estados Unidos.
Se olhamos o caso da Bolsa no Brasil, ela caiu muito rapidamente, mas os bancos brasileiros não estão quebrando. Do mesmo modo, na Ásia, as bolsas estão declinando agudamente, mas os governos não estão assumindo o controle dos bancos, como ocorre na Inglaterra, Estados Unidos e boa parte da Europa. Essas regiões, América do Sul e Ásia, de alguma maneira conseguiram se separar das calamidades dos mercados financeiros. O que desatou a crise atual foram os empréstimos subprime para ativos construídos sobre areia, e estes, claro, estão em mãos de estadunidenses e de bancos europeus. O fato de possuir ativos tóxicos baseados em hipotecas envolveu-se muito rapidamente nestes acontecimentos.
Além disso, os europeus têm suas próprias crises da habitação, particularmente a Inglaterra e a Espanha.
A Ásia e a América Latina ficaram muito menos expostas por terem mantido estratégias de crédito mais cautelosas, particularmente a partir do descalabro neoliberal de 1997-1998.
Um grande banco japonês, Mitsubishi UFG, acaba de comprar uma parte substancial do Morgan Stanley, nos EUA. Então, não parece, até agora, que a Ásia e a América Latina serão afetadas tão gravemente como Estados Unidos e Europa.
VOCÊ ACREDITA QUE HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE OBAMA E MCCAIN NO QUE DIZ RESPEITO A TEMAS COMO O TRATADO DE LIVRE COMÉRCIO E O PLANO COLÔMBIA? NA COLÔMBIA, PODE-SE SENTIR QUE O PRESIDENTE E SEUS APOIADORES ESTÃO ASSUSTADOS FRENTE À ELEIÇÃO DE OBAMA. SEI QUE VOCÊ TEM A SENSAÇÃO QUE OBAMA É COMO UMA FOLHA EM BRANCO, MAS PENSA QUE ELA FARÁ ALGUMA DIFERENÇA?
CHOMSKY: Com efeito, Obama tem se apresentado mais ou menos como uma folha em branco. Mas não há motivo para que o governo colombiano se assuste com sua eleição. O Plano Colômbia é uma política de Clinton e há muitas razões para supor que Obama será outro Clinton.
Ele é bastante impreciso, a propósito. Mesmo quando explicita políticas, elas se parecem muito a políticas centristas, como Clinton, que modelou o Plano Colômbia e militarizou o conflito.
TENHO, ÀS VEZES, A SENSAÇÃO DE QUE OS PERÍODOS DE BUSH SE DERAM EM UM CONTEXTO DE MUDANÇA DA ORDEM MUNDIAL, TRATANDO DE MANTER O PODER COM O USO DA FORÇA, E QUE, EM TROCA, OBAMA PODE REPRESENTAR A CARA BOA PARA RENEGOCIAR A ORDEM MUNDIAL. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE ISSO?
CHOMSKY: É importante lembrar que o espectro político nos EUA é bastante estreito. É uma sociedade controlada pelas empresas, basicamente, é um Estado de partido único, com duas facções, democratas e republicanos. As facções têm algumas diferenças e estas, às vezes, são significativas. Mas o espectro é bastante estreito. A administração Bush, porém, se situava bastante além do final do espectro, com nacionalistas radicais extremos, crentes extremos no poder do Estado, na violência no exterior e em um alto gasto governamental.
De fato, estavam tão fora do espectro que foram criticados duramente inclusive por parte do poder, desde os primeiros tempos.
Seja quem for que assuma o mandato, é provável que desloque o tabuleiro político para o centro do espectro. Obama talvez faça isso em maior medida. Diria que, no caso de Obama, haverá algo como um renascimento dos anos Clinton, adaptado certamente às novas circunstâncias.
AGORA QUE ESTAMOS CHEGANDO AO FIM DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL, EXISTE A POSSIBILIDADE DE ALGO REALMENTE NOVO, UMA GLOBALIZAÇÃO BOA?
CHOMSKY: Penso que as perspectivas hoje estão muito melhores do que estavam antes. O poder está extraordinariamente concentrado, mas há mudanças a medida que a economia internacional torna-se mais diversificada e complexa. O Sul está se tornando mais independente.
Mas, se olhamos para os EUA, mesmo com todo o dano causado por Bush, segue sendo a maior economia homogênea, com o maior mercado interno, a força militar mais forte e tecnologicamente mais avançada, com gastos anuais comparáveis aos do resto do mundo combinados e com um arquipélago de bases militares espalhadas pelo mundo. Estas são fontes de continuidade, mesmo que a ordem neoliberal esteja sofrendo uma erosão dentro dos EUA, na Europa e internacionalmente, com um crescimento da oposição a ela. Então, há oportunidades para uma mudança real. Até onde essa mudança pode chegar, isso depende da gente e daquilo que estamos dispostos a empreender”.
SEREMOS OS SUB-IMPERIALISTAS DA BANANA?
O blog “Vi o Mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha, anteontem publicou o seguinte texto:
“Não vou entrar no mérito da disputa comercial entre Brasil e Equador, que se tornou uma disputa diplomática.
Não tenho informações suficientes para opinar.
Li a referência a "yankees do Sul" na internet, no que me pareceu uma tentativa de brincar com o presidente do Equador, Rafael Correa, que estaria enxergando fantasmas.
Vou repetir o que já escrevi antes e que se perdeu em algum canto deste site: o Brasil e os brasileiros precisam se dar conta de que, justa ou injustamente, somos vistos na vizinhança como "yankees do Sul", mesmo.
Não é um problema apenas no Equador e não tem relação com tucanos ou petistas, direitistas ou esquerdistas.
Em Bogotá, numa mesa de restaurante, acompanhei de orelhada uma discussão sobre o "imperialismo brasileiro".
No Paraguai entrevistei gente visivelmente revoltada com a "invasão" de brasileiros, que controlam as melhores terras para o cultivo da soja. Da dona de um restaurante ouvi o lamento de que só é possível ouvir emissoras de rádio ou ver emissoras de TV em português em regiões fronteiriças.
Quando fui fazer um documentário sobre a reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, e esperava ver a "invasão" do Brasil promovida por "índios imperialistas", o que descobri foi que o Brasil é que "invade" a Venezuela e a Guiana, através de comerciantes e garimpeiros.
É simples: a expansão econômica do capitalismo brasileiro está agregando mercados na vizinhança. É só fazer uma lista das grandes aqusições de grupos econômicos brasileiros e das obras tocadas por empreiteiras do Brasil na Argentina, Paraguai, Bolívia, Uruguai, Colômbia, Venezuela e assim por diante.
E a lógica destes grupos -- como, aliás, de qualquer empresa capitalista -- é o lucro. O lucro acima de tudo. Já sugeri, quando toquei neste assunto anteriormente, que as empresas brasileiras que pretendem investir a longo prazo pratiquem "diplomacia privada", ou seja, que contratem funcionários locais, que invistam em projetos locais, que demonstrem concretamente que se preocupam com os lugares em que atuam.
Mas, no modelo selvagem do capitalismo brasileiro, é esperar demais. A conseqüência é que disputas comerciais como a que envolve o Equador só vão aumentar.
A mídia corporativa brasileira grita "sangue" em defesa do interesse de seus patrocinadores. É cega, surda e se faz de idiota. Prefere questionar a legitimidade de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo ou qualquer outro líder da vizinhança que navegue no enfrentamento dos "yankees do Sul".
Essa tese ganha força quando os líderes regionais vêem o presidente Lula ao lado de George W. Bush na reunião do G20 ou quando o Brasil faz o serviço no Haiti com o objetivo de livrar fuzileiros navais americanos para lutar no Iraque e no Afeganistão.
Enquanto o Brasil persegue uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, se distancia dos vizinhos.
A mídia brasileira prefere esquecer, mentir, omitir ou distorcer: Chávez acaba de "perder" eleições regionais em que candidatos apoiados por ele venceram mais de 70% das prefeituras e "apenas" 17 de 22 governos regionais. Isso com o petróleo em baixa e a inflação em alta, depois de 10 anos de desgaste no poder.
A mídia brasileira prefere esquecer que Correa reformou a Constituição com apoio de mais de 60% dos votos, que Morales foi mantido no poder com 66% de "sim" e que Lugo chegou ao poder prometendo renegociar o acordo de Itaipu e fazer a reforma agrária.
Independentemente da permanência destes líderes no poder, o que os levou até lá veio para ficar: a defesa de interesses nacionais (deles) que em alguns casos se contrapõe a interesses de empresas brasileiras.
Sem ter clareza quanto a isso o risco é de que o Brasil assuma o papel de "polícia" que os Estados Unidos sempre desempenharam na região. Com resultados desastrosos para a política externa brasileira. Não se esqueçam: a diplomacia do porrete de Washington começou com a derrubada de governos para defender os interesses da bananeira United Fruit Company.
Seremos os sub-imperialistas da banana?”
“Não vou entrar no mérito da disputa comercial entre Brasil e Equador, que se tornou uma disputa diplomática.
Não tenho informações suficientes para opinar.
Li a referência a "yankees do Sul" na internet, no que me pareceu uma tentativa de brincar com o presidente do Equador, Rafael Correa, que estaria enxergando fantasmas.
Vou repetir o que já escrevi antes e que se perdeu em algum canto deste site: o Brasil e os brasileiros precisam se dar conta de que, justa ou injustamente, somos vistos na vizinhança como "yankees do Sul", mesmo.
Não é um problema apenas no Equador e não tem relação com tucanos ou petistas, direitistas ou esquerdistas.
Em Bogotá, numa mesa de restaurante, acompanhei de orelhada uma discussão sobre o "imperialismo brasileiro".
No Paraguai entrevistei gente visivelmente revoltada com a "invasão" de brasileiros, que controlam as melhores terras para o cultivo da soja. Da dona de um restaurante ouvi o lamento de que só é possível ouvir emissoras de rádio ou ver emissoras de TV em português em regiões fronteiriças.
Quando fui fazer um documentário sobre a reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, e esperava ver a "invasão" do Brasil promovida por "índios imperialistas", o que descobri foi que o Brasil é que "invade" a Venezuela e a Guiana, através de comerciantes e garimpeiros.
É simples: a expansão econômica do capitalismo brasileiro está agregando mercados na vizinhança. É só fazer uma lista das grandes aqusições de grupos econômicos brasileiros e das obras tocadas por empreiteiras do Brasil na Argentina, Paraguai, Bolívia, Uruguai, Colômbia, Venezuela e assim por diante.
E a lógica destes grupos -- como, aliás, de qualquer empresa capitalista -- é o lucro. O lucro acima de tudo. Já sugeri, quando toquei neste assunto anteriormente, que as empresas brasileiras que pretendem investir a longo prazo pratiquem "diplomacia privada", ou seja, que contratem funcionários locais, que invistam em projetos locais, que demonstrem concretamente que se preocupam com os lugares em que atuam.
Mas, no modelo selvagem do capitalismo brasileiro, é esperar demais. A conseqüência é que disputas comerciais como a que envolve o Equador só vão aumentar.
A mídia corporativa brasileira grita "sangue" em defesa do interesse de seus patrocinadores. É cega, surda e se faz de idiota. Prefere questionar a legitimidade de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo ou qualquer outro líder da vizinhança que navegue no enfrentamento dos "yankees do Sul".
Essa tese ganha força quando os líderes regionais vêem o presidente Lula ao lado de George W. Bush na reunião do G20 ou quando o Brasil faz o serviço no Haiti com o objetivo de livrar fuzileiros navais americanos para lutar no Iraque e no Afeganistão.
Enquanto o Brasil persegue uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, se distancia dos vizinhos.
A mídia brasileira prefere esquecer, mentir, omitir ou distorcer: Chávez acaba de "perder" eleições regionais em que candidatos apoiados por ele venceram mais de 70% das prefeituras e "apenas" 17 de 22 governos regionais. Isso com o petróleo em baixa e a inflação em alta, depois de 10 anos de desgaste no poder.
A mídia brasileira prefere esquecer que Correa reformou a Constituição com apoio de mais de 60% dos votos, que Morales foi mantido no poder com 66% de "sim" e que Lugo chegou ao poder prometendo renegociar o acordo de Itaipu e fazer a reforma agrária.
Independentemente da permanência destes líderes no poder, o que os levou até lá veio para ficar: a defesa de interesses nacionais (deles) que em alguns casos se contrapõe a interesses de empresas brasileiras.
Sem ter clareza quanto a isso o risco é de que o Brasil assuma o papel de "polícia" que os Estados Unidos sempre desempenharam na região. Com resultados desastrosos para a política externa brasileira. Não se esqueçam: a diplomacia do porrete de Washington começou com a derrubada de governos para defender os interesses da bananeira United Fruit Company.
Seremos os sub-imperialistas da banana?”
PIRRAÇA E ‘MAROLINHA’
Li ontem no blog Cidadania.com, de Eduardo Guimarães, o seguinte interessante texto:
“Não adianta tentar argumentar com crianças pequenas quando elas se atiram ao chão, esperneiam e berram por não quererem ir a algum lugar ou fazer alguma coisa. Tenho 4 filhos (três meninas e um menino) e uma neta de sete anos. Bem sei como a lógica é inútil quando crianças querem impor seus desejos imediatos sobre a realidade. Para os infantes, o mundo tem que se adaptar aos seus desejos. Esse comportamento é da natureza humana, simplesmente, e é popularmente conhecido como pirraça.
Admite-se pirraça em crianças. Alguns, como eu, aprenderam a lidar pacientemente com um tipo de comportamento que afeta dez entre dez petizes, mas só quando quem assim atua é petiz; quando marmanjos fazem pirraça, o caso passa à esfera da psiquiatria.
A mídia faz pirraça com a crise. Enquanto os dados econômicos mostram, cada vez mais, que o tsunami que atingiu os Estados Unidos, a Europa e a Ásia chegou ao Brasil como mera “marolinha”, jornalões, revistões e todos os outros meios de comunicação premiados com sufixos superlativos tentam fazer o público crer que a crise vai nos pegar e que Lula não sabe o que diz.
A charge abaixo foi publicada hoje pela Folha de São Paulo. Reflete perfeitamente a discurseira irresponsável da mídia apesar da montanha de dados que vai se acumulando e mostrando que em outubro, mês em que a mídia se dedicou a dizer que estavam acontecendo “demissões”, “fuga de investimentos”, “paralisia econômica” etc, na verdade a economia bateu recordes, o desemprego recuou, os investimentos – inclusive os estrangeiros – cresceram, enfim, que a crise, aqui, está sendo, de fato, uma “marolinha”.
Mas, de todos os dados positivos sobre a economia do país, dados que vêm sendo divulgados com enorme parcimônia pela mídia, um deles me pareceu que saiu quase sem querer da boca da imprensa golpista. Foi ontem no Jornal Nacional, no fim do terceiro bloco do programa, no espaço de alguns segundos. Reproduzo, abaixo, a locução textual da apresentadora Fátima Bernardes:
“As contas do governo melhoraram com a alta da moeda americana. Como o Brasil tem mais aplicações [reservas] em dólares do que dívidas [em dólar], a variação da moeda derrubou a relação entre a dívida pública e o produto interno bruto em outubro para 36,6%, o nível mais baixo em uma década [desde 1998, quando a quebra do Brasil fez a dívida se multiplicar]. Esse índice é o principal indicador da saúde das contas de um país; quanto menor ele for, melhor.”
Amigos meus daqui do blog e do meu círculo de relações pessoais têm me perguntado, pessoalmente, por telefone e por e-mail, se foi chute quando eu disse, já naquele momento em que as pessoas pensaram que teria explodido a crise, em 15 de setembro último, que o país seria pouco afetado. Agora revelo: não foi chute, foi lógica.
No início, espantei-me ao ver até setores da esquerda ceder à conversa fiada da mídia de que seriamos pegos de jeito pela crise. Sem perceber, esses setores se tornaram inocentes úteis ao concordarem com a conversa da mídia de que, se países tão importantes, governados por doutores, foram arrasados economicamente, não seria um país do Terceiro Mundo, governado por um ex-operário sem diploma universitário, que iria resistir.
Não sei se a falta de diploma ajuda ou atrapalha Lula, mas, ao dar a decisão final sobre as políticas públicas, ao escolher caminhos que lhe são colocados à frente pelos técnicos das diversas áreas, ao menos na economia o diploma universitário – ou a sua falta – não tem impedido o presidente de tomar as melhores decisões.
O dado sobre a relação dívida Vs. PIB é sumamente importante porque mostra a saúde financeira do país. E o melhor é que não foi conseguido com recessão, como sempre foi perseguido pelos antecessores de Lula. Foi conseguido em meio a forte crescimento. Enquanto a mídia gritava que era bobagem acumular tantas reservas, quem tinha informações sobre o que começava a acontecer no mundo rico tratou de pôr as barbas de molho como fez o governo Lula.
Não adianta, no entanto, argumentar muito. A crise internacional gerou uma espécie de fetiche no topo da nossa pirâmide social. É quase como se fosse chique entrar em crise junto com países que a direita brasileira sempre quis imitar. E, por pura pirraça, Folhas, Globos, Estados, Vejas e seu exército de zumbis teleguiados na sociedade civil não querem porque não querem aceitar a excelência da administração do Brasil nos últimos quase seis anos. São piores do que crianças pirracentas”.
“Não adianta tentar argumentar com crianças pequenas quando elas se atiram ao chão, esperneiam e berram por não quererem ir a algum lugar ou fazer alguma coisa. Tenho 4 filhos (três meninas e um menino) e uma neta de sete anos. Bem sei como a lógica é inútil quando crianças querem impor seus desejos imediatos sobre a realidade. Para os infantes, o mundo tem que se adaptar aos seus desejos. Esse comportamento é da natureza humana, simplesmente, e é popularmente conhecido como pirraça.
Admite-se pirraça em crianças. Alguns, como eu, aprenderam a lidar pacientemente com um tipo de comportamento que afeta dez entre dez petizes, mas só quando quem assim atua é petiz; quando marmanjos fazem pirraça, o caso passa à esfera da psiquiatria.
A mídia faz pirraça com a crise. Enquanto os dados econômicos mostram, cada vez mais, que o tsunami que atingiu os Estados Unidos, a Europa e a Ásia chegou ao Brasil como mera “marolinha”, jornalões, revistões e todos os outros meios de comunicação premiados com sufixos superlativos tentam fazer o público crer que a crise vai nos pegar e que Lula não sabe o que diz.
A charge abaixo foi publicada hoje pela Folha de São Paulo. Reflete perfeitamente a discurseira irresponsável da mídia apesar da montanha de dados que vai se acumulando e mostrando que em outubro, mês em que a mídia se dedicou a dizer que estavam acontecendo “demissões”, “fuga de investimentos”, “paralisia econômica” etc, na verdade a economia bateu recordes, o desemprego recuou, os investimentos – inclusive os estrangeiros – cresceram, enfim, que a crise, aqui, está sendo, de fato, uma “marolinha”.
Mas, de todos os dados positivos sobre a economia do país, dados que vêm sendo divulgados com enorme parcimônia pela mídia, um deles me pareceu que saiu quase sem querer da boca da imprensa golpista. Foi ontem no Jornal Nacional, no fim do terceiro bloco do programa, no espaço de alguns segundos. Reproduzo, abaixo, a locução textual da apresentadora Fátima Bernardes:
“As contas do governo melhoraram com a alta da moeda americana. Como o Brasil tem mais aplicações [reservas] em dólares do que dívidas [em dólar], a variação da moeda derrubou a relação entre a dívida pública e o produto interno bruto em outubro para 36,6%, o nível mais baixo em uma década [desde 1998, quando a quebra do Brasil fez a dívida se multiplicar]. Esse índice é o principal indicador da saúde das contas de um país; quanto menor ele for, melhor.”
Amigos meus daqui do blog e do meu círculo de relações pessoais têm me perguntado, pessoalmente, por telefone e por e-mail, se foi chute quando eu disse, já naquele momento em que as pessoas pensaram que teria explodido a crise, em 15 de setembro último, que o país seria pouco afetado. Agora revelo: não foi chute, foi lógica.
No início, espantei-me ao ver até setores da esquerda ceder à conversa fiada da mídia de que seriamos pegos de jeito pela crise. Sem perceber, esses setores se tornaram inocentes úteis ao concordarem com a conversa da mídia de que, se países tão importantes, governados por doutores, foram arrasados economicamente, não seria um país do Terceiro Mundo, governado por um ex-operário sem diploma universitário, que iria resistir.
Não sei se a falta de diploma ajuda ou atrapalha Lula, mas, ao dar a decisão final sobre as políticas públicas, ao escolher caminhos que lhe são colocados à frente pelos técnicos das diversas áreas, ao menos na economia o diploma universitário – ou a sua falta – não tem impedido o presidente de tomar as melhores decisões.
O dado sobre a relação dívida Vs. PIB é sumamente importante porque mostra a saúde financeira do país. E o melhor é que não foi conseguido com recessão, como sempre foi perseguido pelos antecessores de Lula. Foi conseguido em meio a forte crescimento. Enquanto a mídia gritava que era bobagem acumular tantas reservas, quem tinha informações sobre o que começava a acontecer no mundo rico tratou de pôr as barbas de molho como fez o governo Lula.
Não adianta, no entanto, argumentar muito. A crise internacional gerou uma espécie de fetiche no topo da nossa pirâmide social. É quase como se fosse chique entrar em crise junto com países que a direita brasileira sempre quis imitar. E, por pura pirraça, Folhas, Globos, Estados, Vejas e seu exército de zumbis teleguiados na sociedade civil não querem porque não querem aceitar a excelência da administração do Brasil nos últimos quase seis anos. São piores do que crianças pirracentas”.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
ATIVIDADE DA INDÚSTRIA PAULISTA SOBE 0,2% EM OUTUBRO, DIZ FIESP
O Jornal do Brasil Online ontem publicou o seguinte texto da agência norte-americana de notícias Reuters:
“A atividade da indústria de São Paulo cresceu 0,2 por cento em outubro sobre setembro, segundo dados com ajuste sazonal divulgados nesta quinta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Sem ajuste, houve alta de 3,4 por cento no nível da atividade. Frente a outubro do ano passado, o avanço foi de 4,6 por cento.
No ano, a atividade tem expansão de 7,5 por cento e nos últimos 12 meses, de 7,7 por cento.
Entre os setores, em outubro os destaques de alta foram Alimentos e Bebidas, com ganho de 3,6 por cento na comparação mensal, com ajuste, seguido por Veículos automotores, com avanço de 1,4 por cento.
As vendas reais da indústria cresceram 4,7 por cento mês a mês, sem ajuste sazonal, e 8,6 por cento na comparação anual. No ano, o avanço das vendas foi de 5,7 por cento.
O uso da capacidade instalada na indústria do Estado, considerando os dados sem ajuste sazonal, totalizou 83,9 por cento em outubro, comparado a 83,7 por cento em setembro e a 84,3 por cento em igual mês de 2007.”
“A atividade da indústria de São Paulo cresceu 0,2 por cento em outubro sobre setembro, segundo dados com ajuste sazonal divulgados nesta quinta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Sem ajuste, houve alta de 3,4 por cento no nível da atividade. Frente a outubro do ano passado, o avanço foi de 4,6 por cento.
No ano, a atividade tem expansão de 7,5 por cento e nos últimos 12 meses, de 7,7 por cento.
Entre os setores, em outubro os destaques de alta foram Alimentos e Bebidas, com ganho de 3,6 por cento na comparação mensal, com ajuste, seguido por Veículos automotores, com avanço de 1,4 por cento.
As vendas reais da indústria cresceram 4,7 por cento mês a mês, sem ajuste sazonal, e 8,6 por cento na comparação anual. No ano, o avanço das vendas foi de 5,7 por cento.
O uso da capacidade instalada na indústria do Estado, considerando os dados sem ajuste sazonal, totalizou 83,9 por cento em outubro, comparado a 83,7 por cento em setembro e a 84,3 por cento em igual mês de 2007.”
CRESCIMENTO SERÁ MAIOR NO MERCADO BRASILEIRO
O Jornal do Brasil Online ontem publicou o seguinte texto do InvestNews:
“A América Latina é em geral bem vista pelos empresários de todo o mundo. O Brasil é o mercado que mais irá expandir, segundo uma pesquisa realizada pela Economist Intelligence Unit (EIU). Argentina e Venezuela, no entanto, receberam uma má pontuação por supostas instabilidades políticas e econômicas.
O relatório, encomendado pela seguradora Atradius, indicou que do total de empresários consultados, 53% disseram preferirem investir na América Latina frente à falta de outros mercados.
Cerca de 69% afirmaram que o Brasil é o mercado que mais irá crscer no médio prazo, seguido pelo México, votado por 48%. Já 61% dos empresários entrevistados disseram que seu comércio com a América Latina irá aumentar em 6% dentro dos próximos 3 anos.
O estudo, intitulado "Um panorama complexo: Investir e fazer negócios na América Latina", foi elaborado após consultas a 300 empresários de todo o mundo.
O documento indicou que o continente ainda sofre com altas taxas de criminalidade, corrupção e instabilidade política, citando a Argentina e a Venezuela como os países com mais problemas para se investir.
Os países latino-americanos mais votados pelos empresários internacionais para fazer negócios foram: Brasil, México, Peru e Chile, principalmente por sua estabilidade econômica e política, sua governabilidade corporativa, sistema legal e falta de disputas de contratos comerciais.
O continente "conta com uma população jovem florescente disposta a importar bens de consumo, e as reformas dos últimos anos continuam melhorando a estabilidade econômica e política em grande parte da região", concluiu.”
“A América Latina é em geral bem vista pelos empresários de todo o mundo. O Brasil é o mercado que mais irá expandir, segundo uma pesquisa realizada pela Economist Intelligence Unit (EIU). Argentina e Venezuela, no entanto, receberam uma má pontuação por supostas instabilidades políticas e econômicas.
O relatório, encomendado pela seguradora Atradius, indicou que do total de empresários consultados, 53% disseram preferirem investir na América Latina frente à falta de outros mercados.
Cerca de 69% afirmaram que o Brasil é o mercado que mais irá crscer no médio prazo, seguido pelo México, votado por 48%. Já 61% dos empresários entrevistados disseram que seu comércio com a América Latina irá aumentar em 6% dentro dos próximos 3 anos.
O estudo, intitulado "Um panorama complexo: Investir e fazer negócios na América Latina", foi elaborado após consultas a 300 empresários de todo o mundo.
O documento indicou que o continente ainda sofre com altas taxas de criminalidade, corrupção e instabilidade política, citando a Argentina e a Venezuela como os países com mais problemas para se investir.
Os países latino-americanos mais votados pelos empresários internacionais para fazer negócios foram: Brasil, México, Peru e Chile, principalmente por sua estabilidade econômica e política, sua governabilidade corporativa, sistema legal e falta de disputas de contratos comerciais.
O continente "conta com uma população jovem florescente disposta a importar bens de consumo, e as reformas dos últimos anos continuam melhorando a estabilidade econômica e política em grande parte da região", concluiu.”
RESERVAS INTERNACIONAIS SOBEM PARA US$ 206,648 BILHÕES
O Jornal do Brasil Online ontem publicou o seguinte texto de Maria de Lourdes Chagas, do InvestNews:
“As reservas brasileiras internacionais subiram em US$ 413 milhões na véspera no conceito de liquidez internacional, segundo o Banco Central (BC). Com isso, o total das reservas brutas passou de US$ 205,235 bilhões para US$ 206,648 bilhões.”
“As reservas brasileiras internacionais subiram em US$ 413 milhões na véspera no conceito de liquidez internacional, segundo o Banco Central (BC). Com isso, o total das reservas brutas passou de US$ 205,235 bilhões para US$ 206,648 bilhões.”
A CRISE NO BRASIL VISTA POR UM PESSIMISTA ALARMISTA DA CRISE
Ontem, o jornal Folha de São Paulo publicou o seguinte texto de Vinicius Torres Freire:
BRASIL: ESTÁ FRIO, ESTÁ QUENTE?
“Primeiros dados sobre meses do pânico mostram estragos, mas não tão terríveis como pareciam, dada a gritaria”
“Para quem viveu como adulto ou quase isso o quarto de século da crise brasileira iniciada nos anos 1980, os primeiros indicadores sobre o efeito do tumulto mundial sobre o Brasil afinal não pareceram tão impressionantes. Dias piores estão à espreita, decerto, mas as muralhas resistiram à primeira grande carga dos cavaleiros do apocalipse da finança euroamericana.
É o que se depreende da publicação do primeiro trio relevante de informações agregadas sobre a economia em outubro: contas externas, crédito e contas públicas.
O déficit do setor público é mais baixo desde quando tal medida é confiável -1991. Caiu bastante em relação à média do ano, a 1,1% do PIB. Sim, sabe-se que a receita federal tem crescido ao dobro do ritmo do PIB.
Sim, o déficit da Previdência não deverá cair tanto como neste ano, de alta forte na carteira assinada.
Sim, o governo encomendou gastos pesados para 2009. Mas, desde abril, o crescimento da despesa se acalmou. Enfim, ainda que os ingredientes não sejam de primeira qualidade, o bolo do déficit fiscal até que ficou com uma cara boa.
Viu-se que não houve o "congelamento geral" do crédito. Os bancos enfiaram a faca, é verdade, elevando os juros muito além do aumento de seus custo de captação. A concessão de crédito para pessoas físicas caiu em relação a outubro de 2007, mas não a de empréstimos para empresas, as quais no entanto os juros escorcharam. Enfim, houve mais encarecimento do que seca de crédito.
O fato de os bancos estatais terem dado uma força extra para segurar a peteca dos empréstimos é um dilema. Avançaram mais no crédito que bancos privados, em geral. Ok, se a discrepância for momentânea, um calmante para o pânico. Mas os estatais não serão capazes de conter tendências duradouras de contração econômica -e, se tentarem fazê-lo, podem arrumar rombos.
No caso do crédito externo, os exportadores penaram, sim, no deserto. Quanto a emissões de papéis no exterior, o resultado foi previsivelmente ruim (mas de 2001 a 2005 foram piores). Mas o desastre parou por aí no financiamento externo.
Para contraditar, ao menos por ora, os pessimistas (como este que escreve), o saldo da conta corrente foi bem melhor do que o esperado. Caíram as remessas de lucros, gasta-se menos em viagens e compras no exterior, e a balança comercial ainda não afundou. O investimento externo "na produção" ainda está em ritmo pré-crise, embora o desembolso de dinheiro para tais projetos seja um reflexo de decisões já antigas.
Já fomos varridos pela maxidesvalorização do real e pela seca localizada de crédito, mas as ondas do maremoto da crise mundial ainda não chegaram todas.
Haverá o risco de o saldo comercial cair demais (mas não sabemos se as importações vão cair também e se outras contas do balanço externo vão melhorar). O nível de emprego costuma reagir mais tarde tanto em recuperações como em declínios econômicos. É pois muito cedo para prever efeitos da queda na atividade sobre a arrecadação de impostos. Mas os amortecedores brasileiros contra a crise funcionaram e estão intactos: reservas, contas públicas, inflação ruim mas não descabelada e contas externas sem deterioração adicional.”
BRASIL: ESTÁ FRIO, ESTÁ QUENTE?
“Primeiros dados sobre meses do pânico mostram estragos, mas não tão terríveis como pareciam, dada a gritaria”
“Para quem viveu como adulto ou quase isso o quarto de século da crise brasileira iniciada nos anos 1980, os primeiros indicadores sobre o efeito do tumulto mundial sobre o Brasil afinal não pareceram tão impressionantes. Dias piores estão à espreita, decerto, mas as muralhas resistiram à primeira grande carga dos cavaleiros do apocalipse da finança euroamericana.
É o que se depreende da publicação do primeiro trio relevante de informações agregadas sobre a economia em outubro: contas externas, crédito e contas públicas.
O déficit do setor público é mais baixo desde quando tal medida é confiável -1991. Caiu bastante em relação à média do ano, a 1,1% do PIB. Sim, sabe-se que a receita federal tem crescido ao dobro do ritmo do PIB.
Sim, o déficit da Previdência não deverá cair tanto como neste ano, de alta forte na carteira assinada.
Sim, o governo encomendou gastos pesados para 2009. Mas, desde abril, o crescimento da despesa se acalmou. Enfim, ainda que os ingredientes não sejam de primeira qualidade, o bolo do déficit fiscal até que ficou com uma cara boa.
Viu-se que não houve o "congelamento geral" do crédito. Os bancos enfiaram a faca, é verdade, elevando os juros muito além do aumento de seus custo de captação. A concessão de crédito para pessoas físicas caiu em relação a outubro de 2007, mas não a de empréstimos para empresas, as quais no entanto os juros escorcharam. Enfim, houve mais encarecimento do que seca de crédito.
O fato de os bancos estatais terem dado uma força extra para segurar a peteca dos empréstimos é um dilema. Avançaram mais no crédito que bancos privados, em geral. Ok, se a discrepância for momentânea, um calmante para o pânico. Mas os estatais não serão capazes de conter tendências duradouras de contração econômica -e, se tentarem fazê-lo, podem arrumar rombos.
No caso do crédito externo, os exportadores penaram, sim, no deserto. Quanto a emissões de papéis no exterior, o resultado foi previsivelmente ruim (mas de 2001 a 2005 foram piores). Mas o desastre parou por aí no financiamento externo.
Para contraditar, ao menos por ora, os pessimistas (como este que escreve), o saldo da conta corrente foi bem melhor do que o esperado. Caíram as remessas de lucros, gasta-se menos em viagens e compras no exterior, e a balança comercial ainda não afundou. O investimento externo "na produção" ainda está em ritmo pré-crise, embora o desembolso de dinheiro para tais projetos seja um reflexo de decisões já antigas.
Já fomos varridos pela maxidesvalorização do real e pela seca localizada de crédito, mas as ondas do maremoto da crise mundial ainda não chegaram todas.
Haverá o risco de o saldo comercial cair demais (mas não sabemos se as importações vão cair também e se outras contas do balanço externo vão melhorar). O nível de emprego costuma reagir mais tarde tanto em recuperações como em declínios econômicos. É pois muito cedo para prever efeitos da queda na atividade sobre a arrecadação de impostos. Mas os amortecedores brasileiros contra a crise funcionaram e estão intactos: reservas, contas públicas, inflação ruim mas não descabelada e contas externas sem deterioração adicional.”
O FMI NA CRISE
O jornal Folha de São Paulo ontem publicou o seguinte artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. O autor é Diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago):
“REGRA GERAL, OS PAÍSES SÓ SE DISPÕEM A APARECER AQUI, NO FMI, EM ÚLTIMO CASO, QUANDO AS ALTERNATIVAS SE ESGOTARAM”
“O leitor vai me perdoar se o artigo sair meio pesado hoje. Estou realmente exaurido depois de dois meses de crise intensa aqui no FMI. Nunca emprestei tanto dinheiro na minha vida (espero que paguem). O meu complexo de brasileiro, devedor, subdesenvolvido e às vezes inadimplente deu os célebres "arrancos triunfais de cachorro atropelado" (Nelson Rodrigues).
Abro aqui um breve parêntese. Um leitor escreveu reclamando gentilmente da ausência de citações de escritores, de filósofos e, sobretudo, de Nelson Rodrigues. Prometi corrigir a falha e estou aqui cumprindo a promessa.
Fecho o parêntese e volto ao FMI. Neste mês de novembro, a diretoria do Fundo aprovou empréstimos de tipo "stand-by" no total de US$ 41,8 bilhões, com desembolsos concentrados no início dos programas. Nunca o Fundo emprestou tanto em tão pouco tempo. A Ucrânia recebeu US$ 16,4 bilhões, a Hungria, US$ 15,7 bilhões, o Paquistão, US$ 7,6 bilhões, e a Islândia, US$ 2,1 bilhões. Esse último caso é extraordinário: o setor bancário islandês detinha ativos equivalentes a quase 900% do PIB no final de 2007! A turma da bufunfa barbarizou -e levou o país à ruína.
É notável que, nessa nova leva, os primeiros clientes do FMI tenham vindo, em sua maioria, da periferia européia. Trata-se de uma região que apresenta vulnerabilidades evidentes: déficits elevados no balanço de pagamentos em conta corrente, forte dependência de crédito externo, reservas internacionais modestas, sistemas financeiros frágeis, entre outros problemas. A Islândia é a primeira economia desenvolvida da Europa a recorrer ao Fundo desde a década de 1970.
Esses empréstimos são apenas o começo, tudo indica. Há uma série de outros países iniciando contatos e buscando o apoio financeiro do Fundo. Como se sabe, o FMI vinha emprestando muito pouco nos últimos anos. Os países fugiam do Fundo como o diabo da cruz. Sem os juros pagos pelos devedores, o dinheiro começou a ficar curto e, no início deste ano, o Fundo teve que provar do próprio remédio, implementando um programa de ajustamento, com cortes de gastos e demissões.
Agora os demitidos talvez façam falta. Com a intensificação da crise desde setembro último, o Fundo voltou a ser procurado, ainda que com grande relutância. Regra geral, os países só se dispõem a aparecer aqui em último caso, quando as alternativas se esgotaram.
A direção do Fundo está consciente do "estigma" associado aos empréstimos da instituição e tem procurado enfrentar o problema. Acionou o mecanismo de emergência, que permite aprovar empréstimos em tempo muito curto. As condicionalidades dos novos empréstimos são mais focadas, voltadas sobretudo para a solução dos desequilíbrios de balanço de pagamentos e outros problemas macroeconômicos de curto prazo.
Há cerca de um mês, a diretoria aprovou uma nova linha de financiamento -a SLF ("short-term liquidity facility"), ainda não utilizada, que permite emprestar até 500% da quota do país por prazos curtos, mas sem as condicionalidades tradicionais (carta de intenções, critérios de desempenho e monitoramento). Essa nova linha só poderá ser acionada por países que tenham políticas econômicas basicamente sólidas, mas que estejam sofrendo problemas de liquidez provocados por choques na conta de capitais, o chamado contágio externo.
O dinossauro continua se movendo.”
“REGRA GERAL, OS PAÍSES SÓ SE DISPÕEM A APARECER AQUI, NO FMI, EM ÚLTIMO CASO, QUANDO AS ALTERNATIVAS SE ESGOTARAM”
“O leitor vai me perdoar se o artigo sair meio pesado hoje. Estou realmente exaurido depois de dois meses de crise intensa aqui no FMI. Nunca emprestei tanto dinheiro na minha vida (espero que paguem). O meu complexo de brasileiro, devedor, subdesenvolvido e às vezes inadimplente deu os célebres "arrancos triunfais de cachorro atropelado" (Nelson Rodrigues).
Abro aqui um breve parêntese. Um leitor escreveu reclamando gentilmente da ausência de citações de escritores, de filósofos e, sobretudo, de Nelson Rodrigues. Prometi corrigir a falha e estou aqui cumprindo a promessa.
Fecho o parêntese e volto ao FMI. Neste mês de novembro, a diretoria do Fundo aprovou empréstimos de tipo "stand-by" no total de US$ 41,8 bilhões, com desembolsos concentrados no início dos programas. Nunca o Fundo emprestou tanto em tão pouco tempo. A Ucrânia recebeu US$ 16,4 bilhões, a Hungria, US$ 15,7 bilhões, o Paquistão, US$ 7,6 bilhões, e a Islândia, US$ 2,1 bilhões. Esse último caso é extraordinário: o setor bancário islandês detinha ativos equivalentes a quase 900% do PIB no final de 2007! A turma da bufunfa barbarizou -e levou o país à ruína.
É notável que, nessa nova leva, os primeiros clientes do FMI tenham vindo, em sua maioria, da periferia européia. Trata-se de uma região que apresenta vulnerabilidades evidentes: déficits elevados no balanço de pagamentos em conta corrente, forte dependência de crédito externo, reservas internacionais modestas, sistemas financeiros frágeis, entre outros problemas. A Islândia é a primeira economia desenvolvida da Europa a recorrer ao Fundo desde a década de 1970.
Esses empréstimos são apenas o começo, tudo indica. Há uma série de outros países iniciando contatos e buscando o apoio financeiro do Fundo. Como se sabe, o FMI vinha emprestando muito pouco nos últimos anos. Os países fugiam do Fundo como o diabo da cruz. Sem os juros pagos pelos devedores, o dinheiro começou a ficar curto e, no início deste ano, o Fundo teve que provar do próprio remédio, implementando um programa de ajustamento, com cortes de gastos e demissões.
Agora os demitidos talvez façam falta. Com a intensificação da crise desde setembro último, o Fundo voltou a ser procurado, ainda que com grande relutância. Regra geral, os países só se dispõem a aparecer aqui em último caso, quando as alternativas se esgotaram.
A direção do Fundo está consciente do "estigma" associado aos empréstimos da instituição e tem procurado enfrentar o problema. Acionou o mecanismo de emergência, que permite aprovar empréstimos em tempo muito curto. As condicionalidades dos novos empréstimos são mais focadas, voltadas sobretudo para a solução dos desequilíbrios de balanço de pagamentos e outros problemas macroeconômicos de curto prazo.
Há cerca de um mês, a diretoria aprovou uma nova linha de financiamento -a SLF ("short-term liquidity facility"), ainda não utilizada, que permite emprestar até 500% da quota do país por prazos curtos, mas sem as condicionalidades tradicionais (carta de intenções, critérios de desempenho e monitoramento). Essa nova linha só poderá ser acionada por países que tenham políticas econômicas basicamente sólidas, mas que estejam sofrendo problemas de liquidez provocados por choques na conta de capitais, o chamado contágio externo.
O dinossauro continua se movendo.”
BRASIL COMPRA 12 HELICÓPTEROS RUSSOS DE COMBATE PARA A FAB
O jornal Folha de São Paulo ontem publicou o seguinte texto de Raphael Gomide:
CONTRATO ASSINADO POR LULA E MEDVEDEV É ESTIMADO ENTRE US$ 250 MI E US$ 300 MI
“Em reunião no Itamaraty, no Rio, presidentes firmam acordo para isentar turistas dos dois países de vistos para visitas de até 90 dias
O Brasil anunciou ontem a compra de 12 helicópteros de ataque e transporte de tropas Mi-35M para a Força Aérea Brasileira, durante o último dia da visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, ao país.
O contrato, estimado entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões, prevê ainda o fornecimento de peças para as aeronaves. A FAB não falou sobre detalhes do contrato, que vinha sendo negociado há dois anos.
O Mi-35M é um dos mais modernos helicópteros do mundo, podendo transportar oito soldados, e deverá ser empregado na Amazônia -por sinal um dos teatros de operações do mesmo aparelho na vizinha Venezuela. Hoje o Brasil não tem helicópteros de ataque, improvisando armamentos em aparelhos de transporte.
Foi assinado também um protocolo de intenção de cooperação militar de amplo espectro, mas de pouca substância. De todo modo, é um passo para Moscou tentar reposicionar-se na disputa com a França pelo papel de parceiro estratégico do país no campo de defesa -embora o acordo a ser assinado com Paris na visita do presidente Nicolas Sarkozy em dezembro deverá ser bem mais detalhado e aprofundado.
Ele deverá incluir a compra de 50 helicópteros de transporte, de tecnologia menos avançada, da França. Eles seriam montados em Minas Gerais pela Helibrás, que é subsidiária da francesa Eurocopter.
A aquisição das aeronaves foi informada durante o encontro do presidente Lula com Medvedev, no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, estava presente no encontro ontem.
A Agência Espacial Brasileira e a Agência Federal Espacial da Federação da Rússia firmaram programa de cooperação para usar e desenvolver o Sistema Global de Navegação por Satélite russo, o Glonass -que pretende ser uma alternativa ao consagrado GPS, controlado pelos Estados Unidos.
Pelo combinado no acordo, as partes não podem vender ou transferir a terceiros produtos de destinação militar ou informações obtidas nesse intercâmbio, sem autorização prévia, por escrito, da outra parte.
Outro fruto das reuniões dos presidentes do Brasil e da Rússia foi a isenção de vistos de curta duração para turistas brasileiros e russos. Nacionais dos dois países poderão entrar, sair e transitar pelo outro Estado por até 90 dias, a cada período de 180 dias, a partir da primeira entrada, sem visto.
A decisão vale apenas para as visitas de turismo; para exercer alguma atividade profissional, missionária, trabalho voluntário, estudo, estágio ou pesquisa, continua a ser necessário ter o visto correspondente.
O presidente do Brasil afirmou que o comércio com a Rússia deve ir além das commodities e incluir produtos de maior valor agregado. Lula citou as áreas de tecnologia e militar, e disse que o PAC oferece uma oportunidade de empregar a experiência russa em ferrovias e infra-estrutura, bem como a Rússia pode se beneficiar do know-how brasileiro em biocombustíveis.
Medvedev foi ontem para a Venezuela, onde navios russos chegaram para polêmicos exercícios conjuntos no Caribe, e depois segue para Cuba”.
CONTRATO ASSINADO POR LULA E MEDVEDEV É ESTIMADO ENTRE US$ 250 MI E US$ 300 MI
“Em reunião no Itamaraty, no Rio, presidentes firmam acordo para isentar turistas dos dois países de vistos para visitas de até 90 dias
O Brasil anunciou ontem a compra de 12 helicópteros de ataque e transporte de tropas Mi-35M para a Força Aérea Brasileira, durante o último dia da visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, ao país.
O contrato, estimado entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões, prevê ainda o fornecimento de peças para as aeronaves. A FAB não falou sobre detalhes do contrato, que vinha sendo negociado há dois anos.
O Mi-35M é um dos mais modernos helicópteros do mundo, podendo transportar oito soldados, e deverá ser empregado na Amazônia -por sinal um dos teatros de operações do mesmo aparelho na vizinha Venezuela. Hoje o Brasil não tem helicópteros de ataque, improvisando armamentos em aparelhos de transporte.
Foi assinado também um protocolo de intenção de cooperação militar de amplo espectro, mas de pouca substância. De todo modo, é um passo para Moscou tentar reposicionar-se na disputa com a França pelo papel de parceiro estratégico do país no campo de defesa -embora o acordo a ser assinado com Paris na visita do presidente Nicolas Sarkozy em dezembro deverá ser bem mais detalhado e aprofundado.
Ele deverá incluir a compra de 50 helicópteros de transporte, de tecnologia menos avançada, da França. Eles seriam montados em Minas Gerais pela Helibrás, que é subsidiária da francesa Eurocopter.
A aquisição das aeronaves foi informada durante o encontro do presidente Lula com Medvedev, no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, estava presente no encontro ontem.
A Agência Espacial Brasileira e a Agência Federal Espacial da Federação da Rússia firmaram programa de cooperação para usar e desenvolver o Sistema Global de Navegação por Satélite russo, o Glonass -que pretende ser uma alternativa ao consagrado GPS, controlado pelos Estados Unidos.
Pelo combinado no acordo, as partes não podem vender ou transferir a terceiros produtos de destinação militar ou informações obtidas nesse intercâmbio, sem autorização prévia, por escrito, da outra parte.
Outro fruto das reuniões dos presidentes do Brasil e da Rússia foi a isenção de vistos de curta duração para turistas brasileiros e russos. Nacionais dos dois países poderão entrar, sair e transitar pelo outro Estado por até 90 dias, a cada período de 180 dias, a partir da primeira entrada, sem visto.
A decisão vale apenas para as visitas de turismo; para exercer alguma atividade profissional, missionária, trabalho voluntário, estudo, estágio ou pesquisa, continua a ser necessário ter o visto correspondente.
O presidente do Brasil afirmou que o comércio com a Rússia deve ir além das commodities e incluir produtos de maior valor agregado. Lula citou as áreas de tecnologia e militar, e disse que o PAC oferece uma oportunidade de empregar a experiência russa em ferrovias e infra-estrutura, bem como a Rússia pode se beneficiar do know-how brasileiro em biocombustíveis.
Medvedev foi ontem para a Venezuela, onde navios russos chegaram para polêmicos exercícios conjuntos no Caribe, e depois segue para Cuba”.
FEIO E BONITO
Texto de Eliane Cantanhêde, na Folha de São Paulo de ontem:
“BRASÍLIA - No espaço de uma semana, três poderosos entraram na linha de fogo e foram atingidos.
Ontem, o Supremo Tribunal Federal abriu ação penal contra o ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça. De magistrado, Medina passa a réu, por "indícios suficientes" de envolvimento num esquema de venda de sentenças judiciais para bicheiros e donos de bingos da chamada "máfia dos caça-níqueis". Feio, não é?
Também ontem, o deputado Paulo Piau deu parecer favorável à cassação do colega Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) no Conselho de Ética da Câmara. Paulinho da Força Sindical -que estava convidado para um jantar de Lula com sindicalistas ontem mesmo- é suspeito em diferentes casos cabeludos de desvio de verbas, ora do BNDES, ora do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Feio, não é?
E, na quinta-feira passada, o TSE decidiu cassar o mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), e de seu vice, José Lacerda (DEM), sob a acusação de distribuição irregular de recursos públicos que seriam de... programas sociais. Feio, não é?
Feio para eles. O importante é que os processos andam, são analisados, criam polêmica e têm conseqüência. Os suspeitos/acusados têm direito a ampla defesa e dão as explicações que julgam pertinentes, a população acompanha tudo e pode concordar ou discordar.
Melhor assim do que inquéritos mirabolantes que custam fortunas, enroscam-se neles mesmos e acabam dando em nada. Ou quando -o que não é raro- acabam misturando réus e vítimas, acusados e acusadores, numa barafunda em que ninguém mais é capaz de saber quem é quem. Daí surgirem acusações e defesas igualmente inflamadas contra o investigado ou contra os seus investigadores.
Quem quiser que vista a carapuça. E você, aí, que não é nem uma coisa nem outra, sabe muito bem de quem estamos falando, certo?”
“BRASÍLIA - No espaço de uma semana, três poderosos entraram na linha de fogo e foram atingidos.
Ontem, o Supremo Tribunal Federal abriu ação penal contra o ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça. De magistrado, Medina passa a réu, por "indícios suficientes" de envolvimento num esquema de venda de sentenças judiciais para bicheiros e donos de bingos da chamada "máfia dos caça-níqueis". Feio, não é?
Também ontem, o deputado Paulo Piau deu parecer favorável à cassação do colega Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) no Conselho de Ética da Câmara. Paulinho da Força Sindical -que estava convidado para um jantar de Lula com sindicalistas ontem mesmo- é suspeito em diferentes casos cabeludos de desvio de verbas, ora do BNDES, ora do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Feio, não é?
E, na quinta-feira passada, o TSE decidiu cassar o mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), e de seu vice, José Lacerda (DEM), sob a acusação de distribuição irregular de recursos públicos que seriam de... programas sociais. Feio, não é?
Feio para eles. O importante é que os processos andam, são analisados, criam polêmica e têm conseqüência. Os suspeitos/acusados têm direito a ampla defesa e dão as explicações que julgam pertinentes, a população acompanha tudo e pode concordar ou discordar.
Melhor assim do que inquéritos mirabolantes que custam fortunas, enroscam-se neles mesmos e acabam dando em nada. Ou quando -o que não é raro- acabam misturando réus e vítimas, acusados e acusadores, numa barafunda em que ninguém mais é capaz de saber quem é quem. Daí surgirem acusações e defesas igualmente inflamadas contra o investigado ou contra os seus investigadores.
Quem quiser que vista a carapuça. E você, aí, que não é nem uma coisa nem outra, sabe muito bem de quem estamos falando, certo?”
O RECUO DE CORREA
O jornal Folha de São Paulo publicou ontem no seu editorial:
“O MINISTRO de Setores Estratégicos do Equador, Galo Borja, afirmou que o país continuará honrando a dívida de US$ 243 milhões contraída no BNDES para a construção da hidrelétrica de San Francisco. Trata-se de um gesto positivo, que corrige a atitude hostil da semana passada, quando Quito anunciou um calote.
Com a medida, a querela em torno da usina volta ao seu curso normal. Sem a pressão do calote, a divergência sobre eventuais vícios de construção ocasionados pela empreiteira Odebrecht deveria agora ser encaminhada para as cortes, observando-se o devido processo legal.
Foi o governo Correa que, ao ameaçar a moratória, elevou o assunto a um nível de Estado. O desembolso teria de ser bancado pelo contribuinte brasileiro, já que a dívida é assegurada pelo Tesouro. Além disso, o Equador seria prejudicado no âmbito do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), pacto que garante o comércio de bens e serviços entre os países da Associação Latino-Americana de Integração.
Após o gesto amigável de Quito, o impasse pode retornar à esfera comercial. Para isso, foi decisiva a mudança de tom de Brasília. Até então, bravatas e violências contra interesses brasileiros eram tratadas com condescendência pelo governo Lula.
Foi o caso da invasão militar de uma refinaria da Petrobras na Bolívia. No Equador, além da ocupação de instalações da Odebrecht, executivos da empreiteira precisaram se refugiar na representação brasileira, pois foram sumariamente ameaçados de prisão. Ações truculentas e injustificáveis desse tipo não podem ser recebidas passivamente.
O anúncio do calote levou o Planalto a convocar o embaixador brasileiro em Quito, o movimento mais agressivo da diplomacia no governo Lula. Respostas diplomáticas duras são um recurso extremo: não podem ser banalizadas, nem tampouco descartadas por princípio.”
“O MINISTRO de Setores Estratégicos do Equador, Galo Borja, afirmou que o país continuará honrando a dívida de US$ 243 milhões contraída no BNDES para a construção da hidrelétrica de San Francisco. Trata-se de um gesto positivo, que corrige a atitude hostil da semana passada, quando Quito anunciou um calote.
Com a medida, a querela em torno da usina volta ao seu curso normal. Sem a pressão do calote, a divergência sobre eventuais vícios de construção ocasionados pela empreiteira Odebrecht deveria agora ser encaminhada para as cortes, observando-se o devido processo legal.
Foi o governo Correa que, ao ameaçar a moratória, elevou o assunto a um nível de Estado. O desembolso teria de ser bancado pelo contribuinte brasileiro, já que a dívida é assegurada pelo Tesouro. Além disso, o Equador seria prejudicado no âmbito do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), pacto que garante o comércio de bens e serviços entre os países da Associação Latino-Americana de Integração.
Após o gesto amigável de Quito, o impasse pode retornar à esfera comercial. Para isso, foi decisiva a mudança de tom de Brasília. Até então, bravatas e violências contra interesses brasileiros eram tratadas com condescendência pelo governo Lula.
Foi o caso da invasão militar de uma refinaria da Petrobras na Bolívia. No Equador, além da ocupação de instalações da Odebrecht, executivos da empreiteira precisaram se refugiar na representação brasileira, pois foram sumariamente ameaçados de prisão. Ações truculentas e injustificáveis desse tipo não podem ser recebidas passivamente.
O anúncio do calote levou o Planalto a convocar o embaixador brasileiro em Quito, o movimento mais agressivo da diplomacia no governo Lula. Respostas diplomáticas duras são um recurso extremo: não podem ser banalizadas, nem tampouco descartadas por princípio.”
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