sexta-feira, 31 de agosto de 2012

REJEIÇÃO A SERRA VIRA EPIDEMIA

Nenhum candidato com rejeição em torno de 40% consegue prosperar numa disputa política e chegar ao 2º turno.


Por Saul Leblon, na “Carta Maior”

"Esse consenso entre pesquisadores soa agora à candidatura municipal do PSDB em São Paulo como o prognóstico de um percurso ao cadafalso, não às urnas.

Vive-se na capital paulista fenômeno de esgotamento histórico que assume contornos de nitidez vertiginosa, dificilmente reversível: a rejeição esférica, espontânea, ascendente e incontrolável de uma cidade a um político e ao que ele representa, seus métodos e metas.

Já não se trata apenas de rejeição, mas de sentimento epidêmico que a palavra ojeriza descreve melhor e a expressão "fim de um ciclo" coroa de forma objetiva.

A rejeição a José Serra em seu berço político, e principal casamata do PSDB no país, é o aspecto mais significativo da atual disputa. Sobretudo porque cercado de uma "coincidência" cuidadosamente programada, o julgamento do STF, que deveria impulsionar as coisas no sentido inverso. Se é que teve influência, foi no sentido oposto.

De 30% em meados de junho, a repulsa a Serra saltou para 38% em agosto e explodiu na pesquisa divulgada pelo Datafolha na quarta-feira, batendo em massacrantes 43%.

A sangria sugere que se trata de sentimento espraiado, que contagia segmentos sitiados além dos bolsões progressistas, atingindo núcleos da própria classe média, mais ou menos conservadora, tradicionalmente tributária do vertedouro tucano.

A contrapartida nas sondagens de intenções de voto parece confirmar essa observação. E o faz cristalizando tendências talvez só reversíveis por um acontecimento de proporções diluvianas.

Para desespero do dispositivo midiático conservador, o julgamento do chamado "mensalão", embora tangido pelo jornalismo "isento" – e fiel ao script condenatório que singulariza o caixa 2 de campanha petista, aliviado no caso precedente do PSDB “mineiro” – dificilmente terá esse efeito.

Nessa São Paulo que surpreende seus "formadores de opinião", Russomano lidera as intenções de voto com 31% (tinha 26% em junho); Serra afundou para 22% (contra 31% em junho) e, como previsto, Haddad, ao sair do anonimato graças ao horário eleitoral, saltou de 7% em junho para 14% agora. Dobrou as intenções de voto com uma semana na TV.

A agressividade estridente da campanha tucana está explicada.

O som da marcha fúnebre previsto para ensurdecer o governo, o PT, suas lideranças, candidatos e eleitores, a partir da melodia das condenações emitidas no STF, eleva-se de fato em altos decibéis, mas em outro ambiente. No entorno irrespirável de uma campanha e de um político já derrotado nacionalmente em 2002 e 2010, mas agora execrado em seu próprio berço.”

FONTE: escrito por Saul Leblon, colunista da “Carta Maior”, e transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=192537&id_secao=1). [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

ORÇAMENTO PREVÊ 30% DE AUMENTO A MILITARES

Documento que orientará gastos do governo federal em 2013 reserva R$ 32,4 bilhões para reajuste prometido ao funcionalismo [civil e militar], eleva o salário mínimo a R$ 670,95 e indica que serão criadas 63.075 vagas no serviço público


Por Ana D" Angelo e Priscilla Oliveira, do Correio Braziliense

REAJUSTE A SERVIDOR CIVIL E MILITAR CUSTARÁ R$ 32,4 BILHÕES

Militares terão aumento de 30% em três anos, quase o dobro do ofertado à maioria do funcionalismo federal. Planalto prevê 15,8% para o Judiciário, que recusa a proposta e buscará correção de até 56% no Congresso Nacional.

Últimos a saberem do aumento salarial prometido pelo governo, os militares foram contemplados com o maior percentual de reajuste entre o funcionalismo federal na proposta do Orçamento da União para 2013: será de 9,14% por ano de 2013 a 2015, totalizando 30%, a ser aplicado sobre o valor do soldo de todos os 646.663 integrantes das Forças Armadas, incluindo os inativos, em março de cada ano.

Os servidores civis federais terão direito aos 15,8% na média, ou 5% por ano — uns terão mais, outros menos —, concedidos em janeiro de 2013, 2014 e 2015. Em alguns casos, o percentual incidirá sobre a gratificação por desempenho e não será repassado integralmente para os aposentados e pensionistas. Na proposta do Orçamento divulgada ontem, o governo incluiu, também, a previsão de reajuste de 5% por ano (15,8% em três anos) aos magistrados e servidores do Judiciário, que brigam por aumento desde 2009 e querem até 56%. Também terão a mesma correção os funcionários da Câmara dos Deputados, do Senado, do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público da União (MPU).

O aumento do funcionalismo federal elevará a despesa da União com pessoal da União em R$ 32,4 bilhões até 2015, segundo o Ministério do Planejamento. No Executivo, o impacto adicional é estimado em R$ 28 bilhões. O governo prevê gastar no ano que vem R$ 207,6 bilhões com a folha de pessoal dos Três Poderes. Além do adicional de R$ 10,3 bilhões com reajustes, o Planejamento destinou outros R$ 2,6 bilhões para contratações por meio de concursos públicos e substituição de empregados terceirizados.

De acordo com informações obtidas pelo “Correio Braziliense”, a cúpula das Forças Armadas ficou satisfeita com o reajuste oferecido aos militares em virtude da situação financeira atual, pois é maior que o concedido aos demais servidores. Foi uma promessa feita pela presidente Dilma Rousseff à caserna, que, durante o governo Lula teve aumentos salariais inferiores aos concedidos ao pessoal do Executivo civil.

VITÓRIA

O processo de negociações salariais com os servidores foi finalizado ontem poucas horas antes da entrega do projeto de lei do Orçamento de 2013 ao presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-DF). Sobre as carreiras que não aceitaram a proposta do governo, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, foi categórica: "Quem assinou, assinou. Quem não assinou, não assina mais". Agora, restará às categorias em greve, como os integrantes da Polícia Federal, das agências reguladoras e do Banco Central, negociarem seus aumentos junto aos parlamentares, para alterar a proposta do projeto de lei do governo.

A ministra ficou satisfeita com o resultado das negociações. Segundo ela, 93% dos servidores (ativos e inativos — 1,7 milhão) — assinaram os acordos, por meio de seus dirigentes sindicais. "Foi um processo de negociação feito com amplo diálogo. Foram negociações absolutamente respeitosas entre governo e servidores. Consideramos como um processo vitorioso, porque demonstrou a responsabilidade com que o governo lidou com a questão, não se deslocando da sua responsabilidade fiscal, mas garantindo melhores condições para os servidores", afirmou Miriam.

Entre os servidores que não fecharam o acordo, a ministra destacou os do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Ela lamentou que eles não tenham aceitado a oferta, que era acima dos 15,8% oferecidos aos demais servidores civis. "A presidente tem preocupação especial com a pobreza no campo, e a função do INCRA é muito importante nessa área, por isso, houve proposta diferenciada muito boa, mas, mesmo assim, eles rejeitaram o acordo", explicou a ministra.

A proposta oferecida à Confederação Nacional das Associações dos Servidores do INCRA (CNASI) foi de aumento entre 15,8% e 45,1%, abrangendo os funcionários do nível auxiliar ao superior. Com isso, no nível superior, haveria equiparação remunerativa entre os analistas e os agrônomos. No topo da carreira, o salário do analista seria de R$ 10.155,85, enquanto o dos agrônomos atingiria R$ 10.157,69.”

FONTE: reportagem de Ana D" Angelo e Priscilla Oliveira, do “Correio Braziliense”. Transcrita no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=31/08/2012&page=mostra_notimpol) [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

MENTIRAS DO GOVERNO DOS EUA SOBRE O ASSASSINATO DE BIN LADEN

O canal ‘Fox News’, divulgou nome e imagens de Matt Bissonnett, 36 anos, como autor do livro que conta a sua versão sobre a operação no Afeganistão, resultando a morte de Osama Bin laden.

[OBS deste blog ‘democracia&política’: há muita coisa estranha e suspeita em torno do ataque às torres gêmeas de Nova York e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001. Para muitos analistas, inclusive norte-americanos, foi autoataque norte-americano para justificar novas guerras dos EUA, inclusive e especialmente para controlar fontes de produção de petróleo pelo mundo afora. Bin Laden, até hoje, é apenas suspeito de ter sido colaborador (conscientemente ou não) dos atentados. Ainda não identificaram provas contra ele. O seu violento assassinato pode ter sido “operação queima de arquivo”. Sobre o suspeito autoatentado de 11 set, este blog já postou diversos artigos. Cito os seguintes:

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8732285301380128557#editor/target=post;postID=4966604880660750862 (“11 de Setembro: DEZ ANOS DE PERGUNTAS SEM RESPOSTAS”, de 11 de setembro de 2011)

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8732285301380128557#editor/target=post;postID=6519877194985502978

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8732285301380128557#editor/target=post;postID=3232956941481240254

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8732285301380128557#editor/target=post;postID=7943327808667940967.

Sobre o assassinato, “O Globo” esta semana publicou o seguinte artigo]:

MILITAR DESARMA VERSÃO DE OBAMA

Membro da tropa de elite diz que líder da al-Qaeda não ofereceu resistência durante a operação [e mesmo assim foi assassinado]

A MORTE DE BIN LADEN

“O relato em primeira pessoa de um membro dos SEALS - a unidade de elite da Marinha americana responsável pela morte de Osama bin Laden - contradiz a versão apresentada pelo governo, com descrição menos heroica da operação que se converteu num dos principais trunfos políticos do presidente Barack Obama.

As revelações fazem parte do livro "Não há dia fácil: Um líder da tropa de elite americana conta como mataram Osama bin Laden", que teve seu lançamento adiantado para o dia 4 de setembro (inclusive no Brasil). De acordo com o relato da agência Associated Press e do site Huffington Post, que tiveram acesso à publicação, Bin Laden estava desarmado e já havia levado um tiro na cabeça quando os SEALS invadiram o quarto, em sua casa, em Abbottabad, no Paquistão.

As divergências em relação à narrativa apresentada pelo governo começam já na chegada da equipe ao complexo onde Bin Laden morava. O conselheiro de contraterrorismo da Casa Branca, John Brennan, disse, inicialmente, que “o terrorista havia se engajado num tiroteio com os militares”.

"O ataque foi relatado como um filme de ação ruim", afirma o SEAL. De acordo com o livro, o famoso tiroteio de 40 minutos mencionado pela imprensa jamais ocorreu.

SENTADO SOBRE O CORPO DO TERRORISTA

O autor, que escreveu o livro sob o pseudônimo de Mark Owen, foi identificado pelo canal Fox News como Matt Bissonnette, de 36 anos, militar que já foi condecorado com cinco Estrelas de Bronze (medalha por bravura ou mérito) e com o Coração Púrpura (honraria concedida pelo presidente aos que se feriram ou morreram em combate).

Segundo o relato de Bissonnette, enquanto os SEALS subiam por uma escada estreita, o militar que seguia na frente da equipe avistou um homem espiando pela porta. "Estávamos a menos de cinco passos de chegar ao topo (da escada) quando ouvi tiros abafados. Não poderia dizer da minha posição se os tiros haviam atingido o alvo ou não. O homem desapareceu no quarto escuro", descreve.

Quando a equipe entrou no quarto, Bin Laden já estava mortalmente ferido. "Sangue e miolos espalhados do lado de fora de seu crânio", escreveu, embora ainda tivesse espasmos e convulsões.

Enquanto Bin Laden estava em seus últimos momentos de vida, Bissonette e outro SEAL apontaram os lasers na direção do peito do terrorista e atiraram diversas vezes. "As balas o rasgaram, batendo seu corpo contra o chão até que ele ficasse imóvel". A partir desse momento, os militares examinaram o rosto do líder da al-Qaeda para se certificar de sua identidade. Uma jovem garota e uma das mulheres que choravam a morte do terrorista confirmaram. A descrição se opõe ainda à versão corrigida dos fatos pela Casa Branca, que disse, um dia depois da operação, que Bin Laden não estava armado, mas “havia resistido à operação” de captura.

Durante a operação de busca, os militares encontraram um fuzil AK-47 e uma pistola Makarov, mas elas estavam descarregadas. "Ele não havia preparado uma defesa. Não tinha intenção de lutar. Ele pediu a seus seguidores por décadas que usassem coletes suicidas ou que jogassem aviões contra prédios, mas não foi capaz de pegar sua própria arma", relata Bissonnette [tentando assim culpar Bin Laden pelos atentados de 2011 e denegrir sua imagem com a conotação de covardia].

O livro desmente ainda o relato de que o corpo do líder da al-Qaeda teria sido tratado com dignidade antes de ser jogado no mar. O autor afirma que num voo de helicóptero lotado na saída de Abbottabad, um militar viajou sentado sobre o peito de Bin Laden, enquanto o corpo jazia aos pés de Bissonnette no meio da cabine.

HISTÓRIA PODE VIRAR FILME

O porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, Tommy Vietor, se recusou a comentar sobre o livro. "Como o presidente Obama disse na noite em que a justiça foi trazida a Osama bin Laden, nós agradecemos aos homens que realizaram essa operação por seu exemplo de profissionalismo, patriotismo e coragem sem paralelo daqueles que servem nosso país".

O anúncio de lançamento causou enorme polêmica nos EUA, especialmente porque o livro não passou por revisão do Pentágono para evitar a revelação de segredos. Com uma cópia do livro em mãos, o órgão revisa agora o conteúdo da publicação para verificar se ela tem informação confidencial e determinar que passos podem ser tomados em relação ao autor, inclusive do ponto de vista judicial. Após a divulgação do nome de Bissonnette, fotos do militar foram publicadas num site oficial da al-Qaeda sob a descrição "o cão que assassinou o mártir Osama bin Laden".

"É um livro que tenho orgulho de ter escrito. Minha esperança é que ele dê a meus companheiros americanos um vislumbre da grande honra que é servir ao país", disse Bissonnette, em nota, ao "New York Times". Ele ressaltou que o livro não contém informações que coloquem em risco a segurança nacional.

Tudo isso só aumentou o interesse do público pela obra. A primeira edição foi ampliada de 300 mil para 575 mil exemplares e a pré-venda já ocupa o primeiro lugar nas listas de best-sellers da Amazon e da Barnes&Noble. E a história pode acabar no cinema. O cineasta Steven Spielberg já estaria negociando os direitos de filmagem.”

FONTE: do jornal “O Globo”. Transcrito no site “DefesaNet”  (http://www.defesanet.com.br/sof/noticia/7514/Militar-desarma-versao-de-Obama) [Título e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

QUEM PAGA AS CAMPANHAS MILIONÁRIAS?



“Candidatos a vereador em São Paulo têm campanhas orçadas em até R$ 5 milhões. A pergunta a ser feita é não apenas de onde vêm os financiamentos, mas como serão pagos depois. Em quatro anos de mandato, um vereador recebe R$ 624 mil. Mesmo que não gaste um centavo, ele não tem como retribuir a gentileza. Como fechar a conta?

 

A Folha de S. Paulo do último domingo (26 de agosto) publicou interessante matéria intitulada “Ex-ministros, Orlando Silva e Andrea Matarazzo disputam vaga de vereador em SP”. O primeiro personagem milita no PCdoB e teve um início de vida pobre. O segundo é filiado ao PSDB e exibe origem aristocrática. A reportagem descreve as iniciativas de ambos para atrair o eleitorado e ganhar votos.

O trecho mais importante da nota está no final:

“Matarazzo, que tem cerca de 200 funcionários, pretende investir até R$ 5 milhões. Ele calcula precisar de 40 mil votos. Silva contratou 100 pessoas e fixou o teto de gastos em R$ 3,5 milhões”.

As afirmações não foram desmentidas. Logo, não há porque duvidar delas. Não se coloca aqui em dúvida a honestidade e a lisura dos candidatos.

As campanhas eleitorais duram três meses. Mesmo que haja investimentos preliminares – aluguel de sede para comitê, de carros e compra de equipamentos – o grosso do dinheiro é gasto entre julho e outubro. Na média, um milhão por mês.

DOAÇÕES E RETRIBUIÇÕES

Essas quantias provêm das chamadas “doações” de campanha. É um dinheiro fornecido em sua maior parte por grandes empresas. Nada indica que os candidatos façam algo contrário à lei. As entradas e saídas são anotadas pelos comitês de cada um e submetidas ao escrutínio do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Doações de campanha não costumam ser doações de verdade. O eleito deve, de alguma maneira, retribuir o que foi investido em sua postulação. “Não existe almoço grátis”, dizia Milton Friedman (1912-2006), o guru dos economistas ortodoxos.

Em tese, o futuro parlamentar deveria pagar seus patrocinadores com o próprio dinheiro, para que não ficasse caracterizado algum tipo de troca de favores entre o eleito e o poder econômico.

No caso da Câmara de São Paulo, vale pensar como um vereador retribuiria tamanho aporte de recursos.

A partir de janeiro de 2013, o salário de um vereador paulistano chegará a R$ 15.031,76. É muito em relação ao que ganha a maioria da população, mas é pouco se comparado a salários de executivos de grandes corporações, que podem chegar a R$ 200 mil por mês. Em termos líquidos, o vencimento do parlamentar deve ficar em torno de R$ 12 mil, pagos 13 vezes ao ano.

Se multiplicarmos esses 13 salários ano por quatro anos de mandato, teremos um total líquido de cerca de R$ 624 mil reais. É todo o ganho salarial do parlamentar.

Assim, mesmo que o vereador não coma, não saia de casa, não gaste com energia, água, luz e telefone domésticos, não há como ele pagar – com recursos do mandato – “doações” de campanha entre R$ 3 milhões ou mais.

Como a oferenda é retribuida?

CANDIDATOS MAJORITÁRIAS

No caso das candidaturas a prefeito, as verbas oriundas de empresas que servem a Prefeitura são maiores ainda.

No sábado (25), a mesma Folha de S. Paulo
relatou o seguinte:

“Dados entregues pelos candidatos à Justiça Eleitoral mostram que, dos cerca de R$ 2,4 milhões arrecadados por Fernando Haddad (PT), R$ 950 mil foram repassados por duas empreiteiras: Carioca Engenharia e OAS. (...) José Serra (PSDB) foi o segundo que mais recebeu na cidade em julho e início de agosto. Além da direção estadual, que repassou por meio de doação oculta R$ 1,2 milhão ao tucano, a incorporadora JHS F pagou R$ 500 mil. Uma pessoa ligada ao grupo Zogbi, que atua na área financeira, repassou R$ 250 mil”.

Até agora, as informações não foram desmentidas pelos citados.

Por que motivo uma empresa que presta serviços ao Estado - como empreiteiras, bancos, companhias telefônicas, elétricas, de transportes e outras – daria dinheiro a candidatos sem exigir contrapartida?

Essa é a raiz da maior parte dos casos de corrupção entre poder público e iniciativa privada. Não se trata de problema moral, mas essencialmente político.

DISPUTA ASSIMÉTRICA

Tais montantes desequilibram totalmente a disputa eleitoral e selam compromissos entre candidatos e empresas que, na maior parte das vezes, ficam ocultos dos olhos dos eleitores. Somente o financiamento público poderá trazer mais clareza e simetria entre as candidaturas.

Os grandes partidos não querem aprovar o financiamento público. Ao contrário do que se difunde, não haverá mais gastos do erário. Haverá menos. Hoje, as contrapartidas feitas pelos eleitos em favor dos financiadores – alguns casos estão vindo à luz na CPI do Cachoeira – são mais lesivos aos cofres de municípios, estados e união do que uma quantia determinada, cujos pagamentos seriam feitos de forma transparente e com mais equilíbrio entre partidos e coligações.

Caso os interesses existentes no Congresso impeçam a adoção do financiamento público, uma medida alternativa poderia ser implantada. Seria a obrigação de as campanhas de todos os partidos apresentarem os nomes e logomarcas de seus financiadores.

Nada a estranhar. Qualquer programa de televisão, rádio, filme, jornal, revista, site, e produto editorial exibe publicidade e logomarca de seus patrocinadores. Por que as peças eleitorais deveriam ser diferentes?

Assim, não seria surpresa que um financiador de campanha fosse depois agraciado com a contratação para a realização de vultosas obras ou serviços públicos.

Quer dizer, não seria surpresa. Mas a esquisitice ficaria bem clara...”

FONTE: escrito por Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo). Artigo publicado no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5749).

Euro: SEM LIÇÕES DO PASSADO, NÃO HÁ FUTURO QUE AGUENTE



“Uma das lições do final do século XX foi a crise das dívidas dos países latino-americanos. O remédio então posto em prática foi apenas um balão de ensaio, perto do que está sendo feito agora com a crise européia. Até porque o alcance do desastre latino-americano foi menor, em comparação com o sismo mundial que a Europa em recessão está provocando.

Por Flávio Aguiar

As lições do passado são muitas e enormes. Mas a capacidade – voluntária ou involuntária – de esquecimento é maior ainda. Assim parece rolar a crise do euro: de esquecimento em esquecimento. Em nome do combate à inflação, devido à fantasmagoria cara ao senso comum de que foi o descontrole monetário da República de Weimar que levou à formação e crescimento dos nazistas, joga-se para debaixo do tapete a lembrança de que a ascensão meteórica de Hitler se deu em meio a embates ideológicos gigantescos, em que o establishment alemão preferiu estender a mão à direita para amputar a esquerda. E que foram as políticas de “austeridade” e cortes de direitos de Heinrich Brünning e Franz von Pappen que ajudaram a empurrar a classe média ameaçada, o que restava do proletariado reprimido e o exército de desempregados deprimidos para os braços da aventura nazista de “reerguimento” da Alemanha.

São lições do passado distante. Mas as há mais recentes. Igualmente votadas ao esquecimento.

Uma das grandes lições do final do século XX foi a crise das dívidas dos países latino-americanos, a começar pela do México, há exatos trinta anos.

O remédio então posto em prática foi apenas um balão de ensaio, perto do que está sendo feito agora com a crise européia. Até porque o alcance do desastre latino-americano de então foi menor, em comparação com o sismo mundial que a Europa em recessão está provocando.

Se o remédio foi um balão de ensaio do ora presente, conceitualmente ele foi o mesmo. Partiu, diante da falência dos estados, da necessidade de salvar o sistema financeiro e de impor condições duríssimas aos países endividados. O argumento foi o mesmo: “dar uma lição” aos endividados, “mostrar-lhes o caminho” da austeridade bem-aventurada, encolher os estados, os “gastos públicos” etc.

Emprestou-se dinheiro aos estados para que estes pudessem pagar os bancos. O que entrava por uma porta saía pela outra. Tolheu-se a economia, em nome de tolher-se a inflação. Resultado: dez anos depois, a economia latino-americana encolhera em 8%. A dívida mexicana, como o país foi à falência e à inanição, quintuplicara ao invés de diminuir. Houve moratórias, como no caso brasileiro.

Em compensação, os bancos nadavam de braçada. Ao invés de apertar as condições de operação, estas foram cada vez mais liberadas de peias e controles, a começar pela política de Clinton, nos Estados Unidos. A praga financeira se espalhou pelo mundo, arrastou o sul da África e o sudeste da Ásia. As receitas ortodoxas do FMI, correndo atrás dos prejuízos, só os faziam aumentar, quebrando países e comprometendo possibilidades de recuperação.

O sistema bancário-financeiro que emergiu dessas crises tornou-se mais concentrado, mais poderoso, e seus agentes mais arrogantes do que eram. Executivos dessas áreas enriqueceram da noite para o dia, formando nova casta de privilegiados que passaram a se olhar nos próprios espelhos para admirar a “beleza” de sua “independência” em relação à política e políticos. A democracia, na verdade, passou a ser vista como um entrave à “qualidade técnica das decisões”.

Os efeitos das políticas preconizadas por esses novos mandarins das economias, dos bancos centrais e das demais agências do setor foram potenciados. Se no passado as economias latino-americanas tinham levado dez anos para encolherem 8%, agora se conseguiu o “milagre” de comprimir a grega a ser 20% menor do que era em apenas três anos, um feito digno de Golias perto dos meros Davis de trinta anos atrás.

Os escândalos se sucedem e se multiplicam, desde os da manipulação da Libor aos dos ganhos indecentes dos executivos que provocam e depois administram as crises – ganhos progressivos, como na Espanha, enquanto os governos diminuem salários e pensões dos trabalhadores a cacetadas e bombas de gás lacrimogênio nas ruas. Contra-exemplos, como os da América Latina de hoje, são olhados com suspeita, com o rabo dos olhos e uma torcida generalizada para que “não dêem certo”.

A mídia, em grande parte, se mostra impotente, por leniência ou falta de imaginação. Uma grande parte dos artigos defende, por exemplo, a queda nos salários, porque isso tornaria as economias dos países que assim procedem “mais competitivas” no mercado internacional. Idem, a compressão orçamentária que oprime a educação, a saúde, as aposentadorias e as pensões, porque isso torna as letras desses países “mais atraentes” para os investidores o que, por sua vez, baixaria automaticamente os juros e yields que devem ser pagos nas suas negociações.

Nada disso funciona, na realidade. A compressão salarial e a queda nos investimentos públicos só vêm reduzindo o tamanho das economias e diminuindo as arrecadações de impostos – também porque os mais ricos fogem cada vez mais em direção a paraísos fiscais – não mais no distante e supeito Caribe, ou nos enigmáticos bancos suíços, mas nos próximos e respeitáveis Reino Unido e Luxemburgo, por exemplo.

Não importa. Essa música toda não vai mudar, enquanto o pensamento hegemônico sobre economia continuar sendo o que vê o mundo através de modelos habilmente construídos em laboratórios – as faculdades de economia e administração com suas pós-graduações. Nesses laboratórios, na verdade, se aprende que o ideal para a “autonomia das decisões técnicas” é fazer uma assepsia de tudo o que pode atrapalhá-la: o povo, a democracia e as lições da história.”

FONTE: escrito por Flávio Aguiar, correspondente internacional da “Carta Maior” em Berlim (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5748) [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

AS RAZÕES DO OTIMISMO DO GOVERNO

Por Cristiano Romero, no jornal “Valor”

“Um ano depois de iniciado o atual ciclo de alívio monetário, o Banco Central (BC) mostrou que estava certo ao mudar radicalmente o rumo da política de juros. A principal alegação feita na época – o desaquecimento das principais economias do mundo e, em consequência, o surgimento de um ambiente desinflacionário – se materializou.

Ontem, o Comitê de Política Monetária (COPOM) promoveu mais um corte de meio ponto percentual na taxa SELIC, reduzindo-a para 7,50% ao ano, e é possível que faça pelo menos mais outro de 0,5 ponto antes de encerrar o ciclo. O BC acha que essa política, somada a outras que o governo vem adotando, já começou a produzir resultados. O clima em Brasília é de otimismo quanto às chances de a economia acelerar o crescimento nos próximos meses.

Quando o COPOM surpreendeu o mercado em agosto do ano passado, cortando o juro em vez de aumentá-lo, a expectativa de crescimento anual da Europa girava em torno de 1% a 2%. Hoje, o que se espera é recessão em 2013. No caso dos Estados Unidos, em meados de 2011, esperava-se crescimento em torno de 3%. Agora, a realidade mostra que a expansão neste ano deve beirar os 2% ou ficar abaixo disso.

DESAQUECIMENTO MUNDIAL PREVISTO PELO BC SE MATERIALIZOU

Há um ano, a expectativa era que a economia mundial crescesse até 3,4% em 2012. Com o agravamento da crise mundial no segundo semestre de 2011, as perspectivas foram piorando sucessivamente e, neste momento, o que se espera é longo período de crescimento lento, em torno de 2,2%.

O cenário desinflacionário se concretizou. A melhor indicação disso está nos indicadores de commodities. O CRB Foodstuff (que mede a variação dos preços de alimentos) estava, em julho, 8,9% abaixo do patamar de um ano atrás. O CRB Metais caiu 23,4% no mesmo período e o CRB total, 13,2%. Não é para menos. O desaquecimento da economia chinesa explica em grande medida essas quedas. A China, segundo o FMI, respondeu em 2009 por 53% das importações líquidas mundiais de soja, por 65% das compras de minério de ferro e por quase 30% de metais.

A economia brasileira, evidentemente, não escapou da maré ruim. No último ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7% e, em 2012, deve avançar menos de 2%, muito abaixo da média anual de 4,2% verificada entre 2007 e 2011. A boa notícia é que há sinais positivos indicando retomada, mais lenta do que as ocorridas no passado recente, mas consistente.

É o próprio mercado quem diz, via boletim Focus, que o Brasil vai se levantar nos próximos trimestres. A esperança é que, depois de registrar baixíssimo crescimento nos primeiros seis meses do ano – 0,1% entre janeiro e março e, possivelmente, 0,3% entre abril e junho -, a indústria avance 1,5% no atual trimestre, quando comparada ao mesmo período do ano anterior, e 2,1% entre outubro e dezembro. O crescimento deve se acelerar no primeiro (3%) e segundo trimestres (4%) de 2013.

Com base no Focus, o BC espera expansão do setor de serviços de 3% em cada trimestre da segunda metade deste ano, quase o dobro da registrada no primeiro trimestre (1,6%). O ritmo seria mantido na primeira metade do ano que vem. Na agricultura, a expectativa é de forte recuperação nos próximos trimestres, depois da queda do primeiro trimestre (-8,5%) e do provável baixo desempenho no segundo (1,4%). Entre outubro e dezembro, a agricultura deve crescer 4% e acelerar nos seis meses seguintes, sempre na comparação com igual período do ano anterior.

A confiança do governo se baseia no que já vem ocorrendo em algumas áreas. A produção mensal de automóveis, por exemplo, depois de cair abaixo de 260 mil em janeiro, começou a se recuperar e, após o corte de IPI, tomou impulso. O mesmo ocorreu com caminhões. Os estoques de carros, que atingiram o pico em agosto de 2011, voltaram a crescer nos primeiros meses do ano, mas, depois da desoneração, estão declinando novamente.

O governo acredita que o ambiente é favorável à aceleração do PIB graças aos seguintes fatores: a taxa de desemprego está na mínima histórica (5,4% em maio, segundo a última medida nacional feita pelo IBGE); a criação de empregos formais diminuiu em quase 1 milhão desde fevereiro de 2011, mas segue forte (1,2 milhão nos 12 meses até junho deste ano); a massa salarial real voltou a crescer, avançando 5,1% nos 12 meses concluídos em maio (7,5%, quando comparada ao mesmo mês de 2011); a renda real também tornou a expandir-se (3,2% nos 12 meses até maio e 4,9% na comparação com maio do ano passado).

Ao contrário dos analistas que apontam a exaustão do modelo de crescimento baseado em consumo e crédito, o BC vê espaço para o país continuar crescendo por esse esquema, ajudado pelas medidas adotadas pelo governo para expandir a infraestrutura e aumentar a competitividade. O BC aposta no efeito “juros menores” – entre setembro de 2011 e junho deste ano, o juro médio cobrado de pessoas físicas caiu de 45,7% para 37,1% ao ano; e o das empresas recuou de 39% para 31,3% ao ano.

Embora a queda da SELIC tenha sido expressiva – 4,5 pontos no período -, a redução dos juros bancários foi modesta. Ainda assim, as autoridades acreditam que o crédito, mesmo crescendo a uma velocidade menor, cumprirá papel importante na retomada. Entre 2005 e 2008, cresceu ao ritmo de 25,2% ao ano; entre 2009 e 2011, subiu 18,3% e, nos 12 meses até maio, manteve essa velocidade (18,1%).

Técnicos do governo lembram que o grau de endividamento dos brasileiros, como proporção do PIB, é baixo quando comparado ao de outros países – 20,9% do PIB, face a 27,9% no Chile, 83,5% nos Estados Unidos e 207,4% do PIB no Reino Unido. O problema é que o peso dos juros na renda disponível dos brasileiros é bem maior – 22,1%, diante de 10,8% nos EUA, 9,9% no Chile e 2,2% no México. Em compensação, a inadimplência no Brasil não está entre as maiores do mundo.

Nem tudo é alegria no primeiro aniversário do “novo BC”. A inflação, embora tenha recuado de forma significativa, ainda é alta (5,2% nos 12 meses até julho); o BC segue sem conseguir coordenar satisfatoriamente as expectativas inflacionárias, que apontam para aumento do IPCA em 2013 (para 5,5%); e o regime de câmbio flutuante, um dos pilares da política econômica adotada com sucesso pelo país desde 1999, foi (temporariamente?) abandonado.”

FONTE: reportagem de Cristiano Romero publicada no jornal “Valor Econômico” e transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/08/as-razoes-do-otimismo-do-governo/) [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

ELEIÇÃO NÃO RIMA COM MENSALÃO, por Marcos Coimbra

“Ao contrário do que alguns temiam e outros desejavam, as eleições municipais estão entrando no último mês de campanha sem que sejam discerníveis efeitos do julgamento do “mensalão” em seu andamento.

O que já se esperava.

Em nossa história moderna, nenhuma eleição local foi significativamente afetada por acontecimentos nacionais, mesmo quando foram relevantes. Veja-se o que ocorreu em 1992, quando o eleitorado foi às urnas dias após o impeachment de Fernando Collor.

Aquele, que foi o mais traumático evento de nossa evolução política recente e o que mais mobilizou os sentimentos da população, em nada modificou os resultados esperados da eleição. Ganhou quem tinha que ganhar, perdeu quem estava fadado a ser derrotado.

No máximo, a turbulência engrossou o contingente dos deputados dispostos a condenar o ex-presidente na votação na Câmara, pois os que disputavam mandatos não quiseram aparecer na televisão o absolvendo, na contra-mão dos sentimentos populares. O que teve, no entanto, pequeno impacto no resultado.

A única eleição que foge à regra ajuda a entendê-la. Foi em 1985, quando, uma semana antes da eleição, morreram três pessoas em Volta Redonda pela ação de tropas do Exército, que dispersaram a bala uma manifestação dos operários da Companhia Siderúrgica Nacional.

Nos dias seguintes ao tiroteio, todas as pesquisas mostraram o rápido crescimento dos candidatos de esquerda. Era uma eleição especial - restrita às capitais e outras cidades que os militares consideravam de “segurança nacional” -, mas o sentimento se espalhou por todo o país.

Há quem explique a derrota de Fernando Henrique para Jânio Quadros, em São Paulo, pela performance inesperada de Eduardo Suplicy, assim como a arrancada do PT em Belo Horizonte, com Virgílio Guimarães, em função desse fator.

O certo é que o PT ganhou sua primeira eleição municipal em uma capital, elegendo a prefeita de Fortaleza, Maria Luíza Fontenelle, e contrariando todas as expectativas.

E hoje?

Se os eleitores foram votar em 1992 três dias depois do impeachment e já o tinham superado, se o sistema político amadureceu 27 anos depois de 1985, por que imaginar que o “julgamento do mensalão” viraria as eleições deste ano de ponta cabeça?

Nem às custas do enorme espaço que recebe na cobertura dos veículos ligados aos grandes grupos da indústria de comunicação. Apesar de seu esforço, a vasta maioria da opinião pública permanece distante e desatenta ao que se passa em Brasília.

Para ela, o “mensalão” é apenas mais um episódio, entre centenas, dos casos de irregularidades, corrupção, confusões e complicações que caracterizam o cotidiano da política brasileira. Nem mais grave, nem maior que outros.

No que tem razão.

Considerando as cidades para as quais dispomos de dados, não parece haver sequer uma em que o “mensalão” esteja sendo discutido pelo eleitorado como algo relevante na decisão a respeito do melhor candidato a prefeito. O julgamento não entrou na agenda da eleição - pelo menos, por enquanto.

Nada mais natural que os candidatos do PT não queriam discuti-lo, mas por que os candidatos da oposição não tocam no assunto na propaganda eleitoral? Talvez por saber que pouco interessa ao eleitor, que espera vê-los discutindo as cidades e apresentando propostas.

Neste final de agosto, poucas mudanças significativas ocorreram nas intenções de voto nas grandes cidades.

Quase nada mudou em relação a julho.

Curiosamente, a única se deu no sentido inverso ao que se imaginava.

Até agora, é tucana a maior vítima destes tempos dominados pela obsessão da mídia com o julgamento. Em São Paulo, José Serra enfrenta o mais sofrido inferno astral de sua carreira.

Mas não é por causa do 'mensalão'."

FONTE: escrito por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Artigo publicado no jornal “O Globo” e no blog do Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=462645&ch=n).

CUBA E SEU FUTURO, SEM O BLOQUEIO INFORMATIVO DA MÍDIA DOMINANTE



“O livro “Cuba sem bloqueio” apresenta um retrato da realidade cubana, substancialmente diferente do que costuma ser mostrado pelos oligopólios da comunicação. O trabalho traz revelações surpreendentes até para os mais bem informados. Seus autores questionam: se o socialismo cubano é uma experiência fracassada, como explicar suas redes de educação, de atenção à saúde e de assistência social, que rivalizam com as dos países mais ricos do mundo?

 

Acaba de sair o livro “Cuba sem bloqueio: a revolução cubana e seu futuro, sem as manipulações da mídia dominante”, de Hideyo Saito e Antonio Gabriel Haddad, da Radical Livros*. Como anuncia o título, o trabalho procura mostrar a realidade cubana atual de forma direta e fundamentada, sem o bloqueio informativo que distingue a cobertura da mídia dominante. Cuba costuma ser caracterizada por esses órgãos de comunicação como uma ditadura decadente, com população empobrecida e oprimida, disposta a escapar para Miami ao menor descuido da polícia, graças ao fracasso indiscutível do regime socialista. Em contraste, “Cuba sem bloqueio” revela uma sociedade pobre, sim, mas razoavelmente harmônica, sem miséria, sem fome, sem analfabetismo, sem violência social e sem crianças abandonadas, imersa em um clima de debate aberto sobre como criar um socialismo capaz de unir prosperidade econômica, democracia e progresso social.

Para chegar a esse resultado, os autores pesquisaram em fontes cubanas e de vários outros países, independentemente de sua orientação política. Foram consultados livros, estudos acadêmicos, estatísticas, relatórios de organizações cubanas e internacionais (Unesco, Organização Mundial da Saúde, Cepal, Banco Mundial e muitas outras), publicações de ‘think tanks’ (como o Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos), além de periódicos, portais noticiosos da internet e outras fontes. Nos 12 capítulos redigidos com base no material reunido, Saito e Haddad relatam como a ilha caribenha decidiu permanecer socialista depois do súbito desaparecimento de seus parceiros comerciais do leste europeu, do recrudescimento do bloqueio econômico dos Estados Unidos e da expansão mundial da hegemonia neoliberal. Eles narram um processo de construção social que ainda luta para superar seus problemas, encarados como consequência de erros e de dificuldades políticas e econômicas de toda ordem, mas também de agressões e de obstáculos criados pelas potências dominantes.

O livro reconstitui a saída do líder histórico Fidel Castro do poder, a emoção do povo com seu afastamento e o início do governo dirigido por Raúl Castro, caracterizado pelas medidas econômicas tomadas para corrigir distorções que se acumularam devido às políticas emergenciais dos anos 1990. As decisões foram amadurecidas em debates públicos travados por economistas, sociólogos, cientistas sociais e dirigentes governamentais, que têm tido ecos em assembleias de trabalhadores e de estudantes em todo o país e repercutem ainda em conversas particulares, em obras artísticas, em publicações acadêmicas e também na mídia local.

REINVENTAR O SOCIALISMO

As discussões são dominadas por temas econômicos, mas abrangem também questões como o modelo eleitoral em vigor, a ampliação da liberdade de expressão artística e cultural, o reconhecimento pleno das uniões homoafetivas. Mais especificamente, constam da agenda os seguintes pontos: redefinição dos objetivos do sistema socialista; construção de um sistema econômico funcional, com a adoção complementar de formas de propriedade mista, cooperativada e privada; elevação qualitativa da participação popular; maior poder para a Assembleia Nacional; descentralização administrativa; fim do controle burocrático sobre a produção artística e cultural.

Para o sociólogo Aurelio Alonso, subdiretor da revista Casa de las Américas, trata-se de criar um modelo capaz de assegurar a complementação entre justiça social e desenvolvimento econômico. No plano político, analisa Alonso, a História mostrou que o socialismo não se mantém sem democracia. Para ele, se houvesse um verdadeiro poder popular na União Soviética, Gorbatchov poderia ter sido bem-sucedido em reinventar o sistema socialista.

Cuba sem bloqueio” relata que os projetos de lei mais importantes são debatidos antes pela população, para só então serem enviados à Assembleia Nacional do Poder Popular já com as alterações sugeridas. Foi em um processo desse tipo que, no início da década de 1990, o povo cubano se manifestou pela continuidade da construção socialista no país, apesar da conjuntura crítica surgida pela derrocada do socialismo europeu. Mostra também que os deputados eleitos (equivalentes aos nossos representantes da Câmara Federal) continuam a receber o salário que tinham em seus respectivos trabalhos, sem mordomia. Relata ainda o caso de um dissidente que tentou se candidatar a representante municipal, obtendo apenas 5% dos votos dos moradores de sua região. O livro conta que a posição do judiciário cubano, que deu ganho de causa a trabalhadores das áreas de arte e cultura vitimados por atos arbitrários do período conhecido como “quinquênio cinza” (década de 1970), ajudou a derrubar a própria política repressiva.

Cuba sem bloqueio” disseca a chamada dissidência cubana. Em 2006, segundo relatório da Anistia Internacional, foi realizado em Cuba um encontro de “mais de 350 entidades dissidentes”, ao qual compareceram, paradoxalmente, apenas 171 delegados (isto é, menos de meio representante por organização!). O governo cubano diz que são entidades de fachada, criadas para facilitar o recebimento de dinheiro do escritório de representação dos EUA em Cuba. A verdade é que esses grupos guardam pouca semelhança com a oposição democrática que, na maioria dos países da América Latina, lutou contra ditaduras militares. Em que pese a repressão do período no Brasil, por exemplo, a oposição se organizou, ocupou espaços, promoveu manifestações de rua, enfim, enfrentou a ditadura. Muito sangue foi derramado, mas cada vez mais gente se uniu à exigência pelo fim do regime, até que este desmoronou. A dissidência cubana, ao contrário, não consegue crescer e aparecer, mesmo com todo o apoio de Washington e da mídia. É patético, a propósito, que o jornal O Estado de S. Paulo estampe como manchete, com direito à principal foto da edição, uma manifestação de protesto que reuniu dez (isso mesmo, uma dezena!) mulheres no centro de Havana.

SÍTIO MEDIEVAL

Outro ponto forte do livro está no relato de como funciona o bloqueio econômico contra Cuba e como ele repercute no dia a dia da população. A medida de força é mantida unilateralmente por Washington, apesar da condenação anual de praticamente todos os países membros da ONU. Em outubro de 2011, a resolução que pedia o fim do bloqueio teve o apoio de 186 países, com o voto contrário apenas dos Estados Unidos e de Israel. O bloqueio fecha a Cuba o acesso ao maior mercado consumidor do mundo e proíbe os seguintes tipos de empresas de comerciar com a ilha: subsidiárias de empresas estadunidenses no exterior, companhias que tenham participação acionária ou cujos produtos contenham pelo menos 10% de peças, componentes ou tecnologia estadunidense e, de forma ampla e irrestrita, todas as firmas que pretendam negociar com os EUA.

Mais ainda: o navio mercante que aportar em território cubano não poderá utilizar portos estadunidenses durante os seis meses seguintes. Proíbe ainda qualquer organização que receba fundos estadunidenses de conceder crédito a Cuba, além de impedir o país de utilizar o dólar em suas transações internacionais, de operar por meio de bancos que mantenham negócio com os Estados Unidos e de usar a rede de fibra óptica para conexão à internet. Por último, cidadãos dos EUA não podem viajar a Cuba e vice-versa.

Ou seja, o bloqueio é uma versão moderna do sítio medieval, que tem o objetivo de estrangular economicamente o país. Cuba é obrigada a utilizar intermediários e empresas de fachada em seu comércio exterior, pagando cada transação à vista e incorrendo em comissões, fretes adicionais e taxas de risco que representam um custo adicional de 20 a 100% do valor de mercado do bem importado, segundo cálculos oficiais. Um estudo de 1992 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), da ONU, avaliou que, enquanto Cuba contou com seus parceiros comerciais do mundo socialista, o bloqueio repercutia sobre 15% do intercâmbio do país; depois, passou a afetar toda a economia.

Outra nefasta política do governo estadunidense enfocada pelos autores é a Lei de Ajuste Cubano, que concede a condição de refugiado político e visto de residência permanente a qualquer cubano que chegar aos Estados Unidos, em contraste com o tratamento dado aos demais latino-americanos. Washington costuma usar a atração exercida por essa lei e a não concessão de visto regular de entrada nos EUA a cidadãos cubanos, esperando provocar saídas ilegais e desordenadas, que possam servir de propaganda contra a revolução. O livro de Saito e Haddad cita números oficiais estadunidenses para comprovar que, mesmo nessas condições, o fluxo de cubanos que vão aos Estados Unidos é proporcionalmente menor do que o de muitos países latino-americanos. Menciona também o crescente ativismo de exilados favoráveis à revolução, que criaram associações de solidariedade a Cuba em pelo menos 45 países das Américas, da Europa, da Ásia e da África, incluindo o Brasil.

O VERDADEIRO CRIME DE CUBA

Cuba sem bloqueio” também aborda fatos que costumam ser omitidos ou minimizados pelos órgãos dominantes de comunicação. É o caso das políticas sociais do país, elogiadas por estudos de organizações internacionais tão insuspeitas (para o caso) como o Banco Mundial e os órgãos ligados à ONU. Num relatório intitulado “Panorama Social da América Latina e do Caribe 2000-2001”, a CEPAL observa que, além de investir mais que seus vizinhos da região em programas sociais, Cuba não sacrificou o bem-estar da população quando sua economia entrou em depressão, nos idos de 1990. Os investimentos reais per capita na área social cresceram aproximadamente 23% ao ano entre 1993 e 2001, enquanto o incremento médio do PIB foi de 1,6% anual no mesmo período.

Os resultados são visíveis para quem quiser enxergá-los. Um exemplo apenas: os estudantes cubanos foram os grandes destaques das duas pesquisas comparativas organizadas pela UNESCO para avaliar as redes de ensino de países da América Latina, nos moldes dos famosos levantamentos da OCDE. Na primeira delas, o desempenho cubano foi tão superior ao dos demais países que a UNESCO pensou ter havido algum equívoco. Por isso, refez o teste com outra amostra de estudantes cubanos, mas os excelentes resultados foram confirmados. O mesmo desempenho cubano se repetiu na segunda pesquisa. A imprensa brasileira noticiou as pesquisas, mas não informou sobre a façanha cubana, ao contrário do The New York Times, que destacou o fato até no título da sua matéria. Em suas análises técnicas sobre as pesquisas, a UNESCO coloca a educação cubana no nível da dos países líderes do primeiro mundo, da mesma forma como a OMS classifica os indicadores de saúde do país. Outro exemplo de apagão informativo ocorreu quando a revista Veja entrevistou o pedagogo e economista Martin Carnoy, que estava no Brasil para lançar o livro “A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola”. Na entrevista com o especialista divulgada em seu portal, a publicação cometeu a proeza de não mencionar o ensino cubano e o livro.

Como vimos, “Cuba sem bloqueio” não fala de paraíso terrestre. Mas levanta algumas questões: Esse país é mesmo o retrato do fracasso do socialismo, como pretende a classe dominante capitalista e sua mídia? Nesse caso, como se explica que Cuba, apesar das pressões e agressões que sofre e em meio a uma crise econômica, consegue manter padrões de saúde e de educação que se igualam aos dos países capitalistas mais ricos? Provavelmente a fúria da mídia dominante se deve justamente à sua incapacidade de responder satisfatoriamente a perguntas como essas. Como disse Noam Chomsky: “O que é intolerável para essa mídia (‘o verdadeiro crime de Cuba’) são os êxitos cubanos, que podem servir de exemplo para povos de países subdesenvolvidos”. “

FONTE: site “Carta Maior” (
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20787).