DOMINIQUE STRAUSS-KAHN, DO FMI, PEDE COORDENAÇÃO CONTRA CRISE FINANCEIRA
Phil Noble, da agência de notícias Reuters, escreveu (li no portal UOL ontem):
Um dos primeiros passos logo no início da dança da crise foi a decisão do banco francês BNP Paribas, em agosto de 2007, de congelar cerca de 2 bilhões de euros em fundos, citando as preocupações sobre o setor de crédito "subprime" (de maior risco) nos EUA --até então, um termo que não ocupava tanto espaço no vocabulário do mercado financeiro.
A EBF (Federação Européia de Bancos, em inglês) considerou o sistema bancário europeu sólido o bastante para passar pela crise financeira e garantir as economias de seus clientes. O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, embora não exatamente pessimista, optou pela prudência e recomendou que as instituições bancárias européias se preparassem "para o pior" dentro do contexto de crise financeira.
Ele ainda pediu coordenação para enfrentar a crise --mesmo pedido já feito pelo presidente da Comissão Européia, o órgão executivo da União Européia (UE), José Manuel Durão Barroso. Além deles, França, Alemanha, Reino Unido e Itália já se dispuseram a impedir falências bancárias, além de definirem como será essa coordenação.
Tudo isso, no entanto, ainda é incipiente, preliminar: enquanto toda a ajuda disponível não vem, os bancos continuam a sofrer os efeitos da crise. A vítima mais recente entre as instituições européias atingidas pela crise foi o banco hipotecário alemão Hypo Real Estate (HRE). O governo alemão --um dos mais avessos à idéia de elaborar um pacote, aos moldes do americano, para salvar o sistema bancário europeu--, em parceria com outros bancos privados, fecharam um pacote de 50 bilhões de euros (cerca de US$ 69 bilhões ou R$ 141,3 bilhões) para salvar o Hypo.
Além disso, a chanceler alemã, Angela Merkel, sinalizou com uma garantia do governo a todos os depósitos bancários no país, que chegam a 568 bilhões de euros (cerca de R$ 1,5 trilhão). O governo alemão tenta, assim, se mobiliza para tentar evitar que a crise financeira se transforme em uma crise econômica.
Crise econômica é o que pode já estar às portas da França e da Irlanda. Previsões do Insee (Instituto de Estatística da França) divulgadas na sexta-feira (3) mostraram que o PIB (Produto Interno Bruto) do país terá queda de 0,1% no terceiro e no quarto trimestres, depois de ter retrocedido 0,3% no segundo. Dois trimestres consecutivos de retração do PIB indicam recessão.
REINO UNIDO CONFIRMOU A ESTATIZAÇÃO DO BANCO BRITÂNICO BRADFORD & BINGLEY
A Irlanda, por sua vez, já detém o duvidoso título de primeiro país da zona do euro a entrar em recessão : o PIB do país no segundo trimestre teve uma contração de 0,5%, depois de uma contração de 0,3% no primeiro. O banco central irlandês já previu também que a recessão no país, a primeira que a Irlanda sofre em 25 anos, deve durar dois anos. Mesmo assim, ou talvez por causa disso, o governo irá garantir durante os próximos dois anos todos os depósitos bancários dos seis grandes bancos nacionais para "salvaguardar o sistema financeiro irlandês".
O suíço UBS, um dos primeiros e dos mais atingidos pelos efeitos da crise, teve no segundo trimestre deste ano um prejuízo de US$ 328,45 milhões, ligado ao setor de créditos "subprime" e já cortou 6.000 empregos desde o ano passado.
RAIZ
A raiz dos problemas europeus tem em comum com a dos americanos as ligações com o mercado imobiliário: o alemão Hypo é um banco de hipotecas. No Reino Unido, o Northern Rock, uma das principais instituições hipotecárias do país, foi nacionalizado neste ano. Na Irlanda, que está em recessão, analistas vinham alertando para o estouro da bolha imobiliária no país, acarretada pela desaceleração no setor de construção civil.
O governo britânico já anunciou um pacote de investimentos e cortes de impostos para estimular o mercado imobiliário. Os preços dos imóveis no Reino Unido caíram cerca de 10,5%, segundo a Nationwide Building Society.
O governo britânico tenta evitar que a previsão da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) se concretize: a organização informou que a economia do Reino Unido deve registrar contrações de 0,3% e 0,4% nos dois últimos trimestres do ano, respectivamente --o que significaria mais uma das grandes economias mundiais no território da recessão.
O britânico Bradford & Bingley (B&B), uma das grandes operadoras de hipotecas do país, também foi nacionalizado, com parte de suas operações vendida ao espanhol Santander.
Bélgica, França e Luxemburgo também se uniram para salvar o banco franco-belga Dexia, com uma injeção de US$ 9,2 bilhões. O grupo bancário e de seguros belgo-holandês Fortis também se viu em meio a problemas causados perla crise. As ações do banco já caíram mais de 70% neste ano. Autoridades financeiras da Holanda, Bélgica e Luxemburgo anunciaram a nacionalização de parte do grupo, colocando cerca de US$ 18 bilhões para evitar o colapso da instituição.
No mercado de trabalho europeu no segundo trimestre, o número de postos de trabalho na zona do euro cresceu apenas 0,2% ritmo mais lento desde 2006. Os dados mais recentes sobre a produção industrial na região, referentes a julho, mostram uma queda de 1,7%; além disso, o dado de junho foi revisado para baixo --queda de 0,2% sobre maio e de 0,8% sobre junho do ano passado (as divulgações anteriores eram de estabilidade e queda de 0,5%, respectivamente).
A OCDE espera um crescimento de 1,3% para a zona do euro neste ano, contra 1,7% na projeção anterior. A economia da região se contraiu em 0,2% no segundo trimestre de 2008, em comparação aos primeiros três meses do ano.
AÇÃO
Os governos dos quatro países europeus do G8 (Alemanha, França, Itália e Reino Unido) chegaram a um acordo para processar os responsáveis de bancos que precisem de ajudas públicas. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e dos primeiros-ministros do Reino Unido, Gordon Brown, e da Itália, Silvio Berlusconi, apelaram para uma "cúpula internacional o mais breve possível com os Estados mais interessados na reforma do sistema financeiro mundial".
A reforma que pretendem ver efetuada envolve a regulamentação de todas as instituições envolvidas com o sistema financeiro, e não só os bancos; uma modificação das normas contábeis para evitar bolhas especulativas; um controle político mais presente das instituições internacionais encarregadas de regular os mercados para garantir a coerência de suas ações; e a criação, em tempos de crise, de um grupo de trabalho entre supervisores do mercado, bancos centrais e Ministérios de Finanças.
Para Merkel, as propostas são "uma contribuição à confiança no sistema financeiro"; Brown, por sua vez, destacou que "a liquidez será assegurada para preservar a estabilidade e a confiança" do sistema bancário”.
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