quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O BRASIL PÓS-CRISE

Li ontem no blog de Luis Nassif o artigo a seguir transcrito de autoria de Davi Kupfer, escrito para o jornal O Valor:

LIQUIDEZ SECA

(...) Para o Brasil, a redução do ritmo de expansão da economia mundial deverá significar um importante ajuste no desempenho das exportações. No caso dos bens commodities, é certo que o recuo das quantidades demandadas, e principalmente dos seus preços no mercado internacional, será duradouro.

No entanto, cabe relativizar, primeiro, a queda dos preços, posto que as cotações estavam infladas por um componente especulativo conseqüente da própria financeirização experimentada por esses mercado no período final da bolha.

Segundo, a redução das quantidades vai se abater de forma muito assimétrica entre as empresas, considerando-se o caráter tipicamente oligopólico da organização industrial predominante nesses mercados: as empresas mais competitivas em custos, que conseguem estabelecer contratos de fornecimento mais vantajosos, sentirão menos. E esse é o caso de diversas empresas brasileiras em setores de mineração, metais, celulose, agronegócios e outros.

Mas não é só de commodities que vive a economia brasileira. E ainda bem, pois é justo a diversificação da indústria nacional que permite descortinar horizontes mais favoráveis para os anos vindouros. Com a provável estabilização do câmbio em níveis menos valorizados, haverá mais possibilidades para a indústria tradicional recuperar parte da competitividade perdida, enquanto projetos de produção de bens de maior conteúdo tecnológico voltados para o mercado interno também tendem a ganhar maior viabilidade.

Portanto, tudo indica que, no mundo pós-crise, a principal transformação que deve ser introduzida na política econômica brasileira é uma mudança de orientação em direção a uma maior ênfase na dimensão fiscal.

A tônica da política fiscal, por sua vez, não deve ser nem anticíclica nem pró-cíclica, nos termos da falsa dicotomia que já se estabeleceu no debate sobre o tema, simplesmente porque ela é importante demais para ser engessada por visões ideológicas do funcionamento da economia.

A política fiscal deve ser pragmática e mirar o longo prazo, buscando garantir acima de tudo as condições adequadas para que o esforço de formação de capital fixo, público e privado, que se encontra em andamento na economia brasileira, não seja abortado pelas maiores incertezas esperadas para os próximos anos.

Quando a crise de 1929 eclodiu, o Brasil era uma pequena economia primário-exportadora, quase que totalmente dependente do café. A falta de alternativa diante da devastação provocada pela crise no mercado internacional proporcionou a adoção de um modelo econômico novo, baseado na substituição de importações, que, para o bem ou para o mal, colocou o país na rota do desenvolvimento.

A atual crise não é da mesma linhagem, nem o país é mais uma economia mono-produtora, mas está nas mãos dos formuladores da política econômica a chance de aproveitar a ruptura da ordem econômica internacional para tirar o país da armadilha do juro alto e do câmbio baixo criada pela atual política macroeconômica de estabilização e abrir espaço para um novo modelo de desenvolvimento.”

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