quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PLANO FRANCÊS CRIA ESTATAL PARA SOCORRER SETOR

Li na Folha de São Paulo de ontem o seguinte artigo de Cíntia Cardoso, escrito em Paris:

“Um dia após o anúncio conjunto de apoio aos bancos dos países da zona do euro, o presidente Nicolas Sarkozy detalhou a parte francesa do plano.

De acordo com Sarkozy, o pacote de ajuda francês é dividido em duas partes : 1) o Estado poderá desembolsar 320 bilhões de euros para garantir os empréstimos interbancários no país ; 2) mais 40 bilhões de euros suplementares poderão ser alocados para a recapitalização dos bancos em dificuldades.

"O Estado francês não deixará nenhum estabelecimento bancário entrar em falência", disse Sarkozy.

O anúncio do presidente foi feito ao término do Conselho Ministerial extraordinário convocado ontem em Paris. Na avaliação de Sarkozy, os fundos mobilizados pela França são comparáveis aos esforços da Alemanha e do Reino Unido. "A Europa reunida fez mais que os Estados Unidos", disse, em entrevista no Palácio do Eliseu.

O plano francês, alinhado à decisão conjunta do Eurogrupo, é inspirado na solução do Reino Unido para socorrer o setor financeiro. Mas, diferentemente do pacote de ajuda britânico, o governo francês decidiu criar uma empresa estatal para administrar o refinanciamento para os bancos. Essa companhia ficará sob a gestão conjunta do Banco da França e do Tesouro.

O refinanciamento para dar um novo fôlego às atividades bancárias poderá ser solicitado pelas instituições financeiras até 31 dezembro de 2009 e por um período de até 5 anos.

Essa injeção de liquidez, disse a ministra da Economia da França Christine Lagarde, vai permitir que "os bancos façam o seu trabalho. Ou seja, que emprestem dinheiro para as empresas".

Essa é, aliás, uma das contrapartidas do financiamento estatal. Os estabelecimentos de crédito que participarem desse programa deverão financiar a economia linhas de crédito para empresas e pessoas físicas. Um relatório periódico das atividades do banco deverá ser enviado ao governo. "Queremos um capitalismo empreendedor. Queremos fundar um outro sistema financeiro", afirmou o presidente francês.

Sarkozy afirmou ainda que os empréstimos vão seguir as taxas de mercado. "Antes do final da semana, nós teremos os instrumentos legislativos que nos permitirão assumir todas as conseqüências das nossas decisões", disse.

O outro pilar do pacote francês é a recapitalização dos bancos em dificuldade. O Estado poderá comprar ações, podendo até se tornar sócio majoritário. "Depois da crise, poderemos vender as ações [dos bancos] e talvez até com algum lucro", afirmou Sarkozy. "Isso não vai representar um peso para os contribuintes."

Tanto para as instituições que participarem do programa de financiamento para empréstimos interbancários quanto para aquelas que fizerem parte do programa de recapitalização estatal, o governo francês enfatizou que eles deverão adotar um código de "boa conduta".

O código exige mais transparência e inclui a possibilidade de redução das indenizações milionárias concedidas para altos executivos.

O plano tem que passar ainda pela aprovação do Senado e da Câmara dos Deputados, mas deverá contar com o apoio da bancada. O partido socialista, principal partido da oposição, afirmou que não irá votar contra o pacote.

IMPACTO

A reação ao anúncio do Eurogrupo e ao pacote francês foi imediata na Bolsa. O Índice CAC 40 da Bolsa de Paris teve uma alta de 11,18% ontem, a maior em 20 anos. Uma recuperação parcial após a queda acumulada de 22,2% na semana passada.

Já nas contas publicas, o impacto é ainda desconhecido. Para financiar esse pacote, o governo francês terá que emitir mais títulos, o que vai pressionar a já alta dívida pública do país. No final do segundo trimestre, ela representava 1,27 trilhão de euros, o que equivale a 65,7% do PIB (Produto Interno Bruto)”.

Nenhum comentário: