quarta-feira, 15 de outubro de 2008

QUITO PERDE COM ESCALADA RETÓRICA, DIZ AMORIM

A Folha de São Paulo de ontem publicou o seguinte artigo de Eliane Cantanhêde:

“O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) classificou ontem os ataques do Equador a empresas brasileiras como "escalada retórica" e mandou um recado indireto para o presidente Correa: "Ninguém ganha nada com isso".

"Não dá para ficar impressionado com essa escalada retórica [as ameaças de Correa], principalmente em época eleitoral", disse Amorim à Folha falando por telefone de Nova Déli, na Índia.

Diante da lembrança de que o referendo sobre a nova Constituição do Equador já ocorreu, no dia 28 de setembro, o ministro provocou: "A América Latina vive um período de eleições permanentes".

Quando o Equador congelou os bens da Odebrecht, no final de setembro, a primeira reação do governo brasileiro foi relevar, como "questão envolvendo uma empresa privada", e atribuir tudo a "questões políticas internas" do país, apostando que Correa recuaria assim que vencesse o referendo.

Ontem, novo decreto consumou a expulsão da Odebrecht e também de Furnas. "Essa é novidade", reagiu Amorim, em tom irônico. "Pelo que li, a empresa [Furnas] não tem ninguém lá, não tem bens lá [no Equador]. Então, isso caracteriza a batalha retórica."

O chanceler acrescentou que essa "batalha" ou "escalada" retórica confirma que "não há clima" para discussões de projetos comuns, e foi por isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva suspendeu a ida de uma comissão técnica a Quito para discutir o projeto Manta-Manaus, que une a cidade portuária equatoriana à capital amazonense.

"A imprensa chamou a decisão do presidente Lula de retaliação, mas não foi isso. É que não há clima, realmente, para qualquer negociação de projetos, mesmo projetos fundamentais para a integração", disse o ministro.

O pacote de ameaças do Equador inclui o calote numa dívida de US$ 243 milhões com o BNDES, que financiou a construção da usina San Francisco, pivô da disputa com a Odebrecht. "Não vejo como não pagar o BNDES. É um contrato, com garantias, e tem que ser honrado. Esse clima de ameaça não vai se materializar", declarou Amorim.

O fato é que o governo brasileiro tem sido surpreendido pelo Equador. Correa disse uma coisa em privado para o presidente Lula e depois anunciou outra em público. A chanceler María Isabel Salvador fez o mesmo com Amorim”.

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