quarta-feira, 8 de setembro de 2010
BALA DE PRATA, BALA PERDIDA, TIRO NO PÉ
Brizola Neto
“Embora aqui e ali estejam sendo plantadas notinhas sobre um “efeito dossiê”- aquele efeito que ninguém vê – desta história da quebra do sigilo sobre a campanha de Dilma, a boa e velha política está mostrando muito mais do que os interesses eleitorais incrustrados em algumas colunas de jornal revelam.
Serra acoelhou-se, fugiu do assunto e disse que o caso, agora, “é do partido”. Marina, animada com a possibilidade de ser aproximar mais do decadente Serra, diz que ele está manobrando o caso “para se fazer de vítima”.
Quem cunhou uma expressão apropriada para esse episódio do acesso a dados fiscais de alguns tucanos, que a campanha de Serra quis transformar no fato capaz de modificar o curso da história, foi chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Disse Carvalho que a bala de prata pode ter virado bala perdida, já que o ‘tracking’ Vox Populi/Band/IG mostra que Dilma abriu vantagem mesmo sob o bombardeio da mídia, atualmente a aliada preferencial de Serra.
Mas, em certo sentido, a bala perdida tem efeitos mais nefastos que a bala de prata. Mesmo que esta tenha um propósito espúrio de tentar transformar por quaisquer meios uma realidade desfavorável, a outra costuma fazer vítimas inocentes. Num gesto desesperado, Serra atira contra a campanha de Dilma e atinge vários outros alvos. Primeiro, as próprias instituições políticas, que vêm se aprimorando em nossa democracia recente e retrocedem com a invocação dos tempos de Collor, como se estivéssemos no mesmo lugar 21 anos depois.
O recurso à baixaria feito por Collor em 1989 é repetido de certa maneira por Serra, quando tenta comparar o caso de sua filha ao da filha de Lula apresentada em plena campanha. A distância entre os fatos é galática e o recurso a eles, vergonhoso. É incrível como uma corrente política que quis se apresentar ao país como “força modernizante”, pratica métodos que se assemelham em muito à UDN golpista de tempos passados.
Se atenta contra o avanço político, a bala perdida de Serra também atinge inocentes, envolvendo funcionários de carreira da Receita, como se todo o órgão fosse um antro de bandidagem. Não é, e deve ser expurgado dos que sejam criminosos, porque é essencial para a justiça tributária se imponha e não se sonegue o imposto que permite dar á população, progressivamente, os serviços públicos a que ela tem direito.
“Balas de prata”, artifícios para vencer as eleições, têm sido armas da direita. Foi usada por Collor contra Lula em 89, no episódio Lurian; foi usada por Fernando Henrique, com a manipulação da moeda, em 94, e a sobrevalorização cambial, em 98.
Eleição, para a esquerda, não se faz com dossiês, segredos revelados, bisbilhotagem, arapongagem. Faz-se com o processo de formação da consciência popular, faz-se por uma população que vê, ouve, debate e, sobretudo, vive uma realidade e é quem pode julgar se ela deve continuar na direção que vai ou se tem que mudar de rumos.
O resto é coisa de quem já que não tem mais elementos para vencer o debate político e apela para atitudes desesperadas.”
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/25515).
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