“Lembro-me da surpresa que me colheu em 1995, em Paris, quando soube que o marido da equatoriana que me passava as camisas, adquirira automóvel que pertencera ao Cláudio Alencar, então alto funcionário da Unesco, e sua mulher Marilde Loiola, hoje grande nome das letras da UnB. Não estava habituado a que os pobres comprassem seus próprios veículos. Um dia destes, soube que o porteiro de meu edifício, cuja mulher trabalhava, todos os dias, atendendo a problemas domésticos da casa dos moradores, possui três automóveis. Deles e dos filhos.
HUMILHAÇÃO
Tem mais. Uso televisões, até o fim. Não tenho pressa de renovar tais equipamentos. Quando tive de adquirir uma nova, pensei em doar a velha, usada, a um dos funcionários da portaria do bloco em que moramos. Cheguei a ir à casa de um deles e vi tanto aparelho eletrônico e móveis na sala que sai dali humilhado. O meu televisor foi parar na mão de ex-empregada doméstica que, pelo excesso de filhos e vida complicada, vive quase na indigência. Razão pela qual fui entregar o presente em domicílio.
JUSTIÇA
Folgo em registrar que as coisas melhoraram. Vejam o caso da aviação. A gente entra no avião e dá de cara com desconhecidos. Ninguém da nossa turma. Sabem por quê? Porque os pobres puderam voar. Até para o estrangeiro. A moça que me serve café na Câmara, terceirizada, um dia destes juntou os trapinhos com os da irmã e foram passar 15 dias aqui no Nordeste, em recreação. Os nossos porteiros quando vão à Paraíba e ao Ceará em férias utilizam o avião. E este progresso social se deve às melhorias que se efetivaram nos últimos oito anos e não ha tucano que anule ou delete. O País ainda tem miséria. Mas, seguramente, ficou mais justo.”
FONTE: escrito por Lustosa da Costa em sua coluna no Diário do Nordeste (http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=851266).
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