terça-feira, 4 de janeiro de 2011

AERONÁUTICA/INPE/AIAB INDICAM NECESSIDADE DE NOVO FOGUETE NACIONAL


Ele substituiria, a partir de 2020, o VLS-1, que pegou fogo em 2003, matando 21 pessoas na base de lançamento. [A comissão parlamentar de inquérito que apurou o acidente, presidida pelo próprio PSDB, apontou o estranhíssimo quase total corte de recursos humanos e financeiros para o projeto espacial brasileiro, nos anos FHC/PSDB/DEM, como a causa maior do acidente].

Folha de São Paulo:

"Alto custo do projeto entregue ao ministro da Ciência e Tecnologia pode ser entrave para a para a sua execução.

A Aeronáutica está planejando novo foguete lançador de satélites brasileiro. O VLS-Beta, como está sendo chamado, deve substituir, a partir de 2020, o malfadado VLS-1, que pegou fogo em 2003, matando 21 pessoas.

O VLS-Beta integra uma proposta entregue na semana passada à equipe do ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Ela foi elaborada pelo DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Espacial), da Força Aérea Brasileira, pelo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil).

Seu objetivo é aproveitar o governo que entra para influir no rumo da política espacial, que sofre cronicamente de falta de planejamento, financiamento e integração entre seus atores.

A conta apresentada a Mercadante é salgada: para o setor de satélites, seriam R$ 500 milhões por ano a partir de 2016. O desenvolvimento de foguetes nacionais precisaria de R$ 160 milhões ao ano, subindo para R$ 210 milhões de 2016 a 2017.

Para comparação, todo o PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais) terá, em 2011, R$ 350 milhões [esse valor é relativamente muito pequeno em comparação com o investido no setor por outros países do BRIC e até por países de economia muito menor que a do Brasil].

O que as três instituições prometem em troca é o desenvolvimento de um parque industrial de alta tecnologia -algo equivalente ao que a Embraer representa hoje.

CRUZEIRO DO SUL

O VLS-Beta integra a família de lançadores Cruzeiro do Sul, substituta do VLS.

Ele representa uma inovação em relação ao VLS-1, um projeto da década de 1980 que caducou e é considerado um "beco sem saída tecnológico", incapaz de colocar em órbita cargas maiores que 150 kg (satélites de observação pesam dez vezes isso).

O VLS-1, cujo voo inaugural será em 2015, tem um sistema de propulsão considerado antiquado, com quatro motores no primeiro estágio.

A Aeronáutica quer concluí-lo como "demonstrador tecnológico", mas sabe que o foguete não tem futuro [de qualquer modo, ele substituirá caríssimos lançamentos pagos a potências estrangeiras (EUA) até hoje para lançamentos de pequenos satélites do INPE de monitoramento ambiental].

O Beta teria só um motor no primeiro estágio e poderia colocar em órbita satélites já em desenvolvimento no país, como os da série Amazônia (de monitoramento da floresta) e Lattes (de pesquisa de clima espacial e de raios-X).

Antes de o Beta ficar pronto, porém, o DCTA quer usar uma evolução do VLS-1, batizada Alfa, para lançar satélites do INPE a partir de 2015.

A parte alta do foguete, crucial para transportar a carga útil, seria desenvolvida em parceria com algum país que domine a tecnologia.

A Aeronáutica trabalha também, com a Alemanha, no desenvolvimento de um foguete pequeno, o VLM-1, a ser lançado a partir de 2015.

Os dois foguetes são uma resposta dos militares à parceria Brasil-Ucrânia para lançar o foguete ucraniano Cyclone-4 a partir de Alcântara, com fins comerciais [projeto este muito dispendioso para o Brasil, com custo várias vezes superior ao previsto para o VLS-Beta, mas sem nenhuma passagem de tecnologia para o Brasil, expressamente proibida pela Ucrânia no específico tratado binacional].

O ex-ministro Sergio Rezende (PSB) apostou nela para suprir a deficiência do VLS-1. A Aeronáutica nunca engoliu o Cyclone-4, que abocanha [elevadíssimos recursos, bem superiores a R$ 1.0 bilhão, em benefício quase que integralmente da Ucrânia] recursos que poderiam ser do foguete nacional.”

FONTE: reportagem de Claudio Angelo publicada na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0301201102.htm) [título, imagem e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

2 comentários:

iurikorolev disse...

Maria Tereza
1)Você tem algum acesso a membros do Governo da Dilma ?
2)O que falta no Programa Espacial do Brasil (aliás como tudo neste país) é gerenciamento. Tem que centralizar tudo e colocar uma pessoa de visão e alta capacidade gerencial e de negócios.
O dinheiro não é tanto como em outros países mas não é pouco. O que há é falta de foco.
3) É inaceitável que ainda não se faça no Brasil uma plataforma inercial de guiagem e um motor de propulsão líquida, tecnologias já antigas, da década de 50.
4)Em resumo : é uma VERGONHA. Dinheiro mal usado em viagens, doutorandos no Exterior que não voltam. Disperdício vergonhoso de dinheiro público.
5) o Brasil tem administradores públicos medíocres. Se eles estivessem nos EUA, mesmo com toda a verba do Projeto Apolo, até hoje não teriam ido à Lua.

Unknown disse...

Iurikorolev,
Respondendo:
1) Não tenho acesso. Tenho colaborador que trabalhou na área;
2) Concordo com seus conceitos. Algumas ressalvas:
a)Nos anos 70, 80, havia melhor foco no programa espacial. Nos anos 90, sob forte pressão dos EUA, o foco em lançadores foi criminosamente apagado pelo próprio governo. Desmantelou-se essa área com o gradativo, contínuo e forte estrangulamento dos recursos humanos e financeiros. O VLS-1 somente sobreviveu por teimosia. Por exemplo, em 1999, ano do lançamento do 2º protótipo, recebeu 1/10 do que foi pago aos EUA para o lançamento lá de um pequenino e simples satélite do INPE, o SCD-1. A nossa área de satélites passou a receber muitas vezes mais do que a de lançadores. Os maiores beneficiários dos recursos brasileiros eram os países lançadores desses satélites, como os EUA e França. No governo Lula, melhorou em recursos financeiros e em possibilidade de reposição de recursos humanos. Porém, não se forma especialistas nessa área em menos de uma década. E ainda falta maior foco e há grande desperdícios, como você apontou (ex: Cyclone-4);
b) Não sou tão pessimista, nem generalizo quanto à capacidade de todos os administradores brasileiros. Temos muitos exemplos de empresas públicas e privadas que nada deixam a dever em relação às do "1º mundo".
Maria Tereza.