(foto “O Globo”)
-Quantas pessoas estão trabalhando no resgate?
Não tenho muita ideia. Calculo que devam ser mais de 3 mil pessoas. Isso do governo do Estado, do federal, de empreiteiras. Sem contar as prefeituras.
-A extensão territorial da tragédia dificulta os trabalhos?
Dificulta porque é uma área serrana e os helicópteros, que são o principal meio de acessar essas áreas, têm dificuldade em voar. A neblina está sempre muito forte. Está chovendo. Hoje (ontem), por exemplo, nós saímos às 7 horas da manhã para ir a Bom Jardim, que é aqui do lado, e não conseguimos descer. Não consegue pousar porque tem muita água. Os helicópteros da Petrobrás que estão aqui não conseguiram pousar.
-Como o governo federal ajudou?
Foi fundamental. A Dilma foi campeã. No primeiro dia, mandou dois ministros, Fernando Bezerra (Integração Nacional) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais). E ontem ela veio com cinco ministros, botou um grande aparato e pediu para que a gente coordenasse. Botou Marinha, Aeronáutica, Departamento de Engenharia do Exército, helicópteros e homens da Marinha, colocou o (Sérgio) Gabrielli (presidente da Petrobrás) em contato comigo, o presidente da Eletrobrás, Furnas, Correio, tudo o que imaginar ela colocou. Toda hora pede para os funcionários me ligarem, perguntam o que estou precisando. Ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo), Nelson Jobim (Defesa), (Antonio) Palocci, que ontem ligava para as operadoras de celular. Todos os presidentes de telefonia celular estão em contato permanente com a gente para reestabelecer os serviços. A quantidade de gente e as coisas que estão chegando… Ela provocou todo mundo.
-Você chegou a ir para o front e ver a tragédia de perto?
Tudo. Em diversas áreas.
-Alguma cena o marcou?
Eu estou arrasado. No ginásio onde a gente instalou o IML, você vê os corpos de crianças. Esperando notificação. É um negócio horrível, trágico.
-Boa parte das áreas afetadas são áreas de risco?
Em Friburgo, a maioria não ficava em área de risco. Tem áreas nobres. Estava conversando com o coronel Pedro, da Defesa Civil, ele é de Friburgo, nascido e criado. Ele fala: “Pezão, se viesse um alerta pra que eu tirasse as pessoas de áreas de risco, eu não tiraria ninguém de algumas áreas que ficaram arrasadas.” Casas boas, condomínios bons, onde desceram pedras de 80 anos. Casas que tinham 50, 70 anos. Aqui no centro da cidade. A força das águas aqui você não acredita. Tem áreas de risco, mas a maioria é área nobre e rural. Tem fotos de helicópteros, áreas rurais que não têm nada, desceu o morro todo. É a força da natureza. Pedras de 300 toneladas nas estradas, coisa de maluco.
-Você perdeu algum conhecido na tragédia?
Hoje fiquei sabendo de um colega que trabalhou na Secretaria de Meio Ambiente do Estado. O pessoal está muito chocado, porque ele estava com os três bombeiros que morreram.
-É possível tomar alguma de decisão de impacto?
Eu acho difícil. Se você conhecer a cidade, ver do alto, vê que ela fica entre montanhas e rios. Ou o cara constrói na encosta ou vai construir na beira do rio. Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, é difícil ter uma área livre. Estou provocando os prefeitos. Hoje o prefeito desapropriou uma fazenda. Nós vamos construir casas lá. Estava sobrevoando de helicóptero, vi uma área plana. O prefeito disse que já tinha feito decreto de desapropriação. Vamos fazer um programa de moradia com 2,5 mil casas. Vamos tirar gente da área de risco.
-O que fazer a partir de uma desgraça desse tamanho?
Infelizmente as coisas são difíceis de acessar. Na tragédia do Morro do Bumba, em abril do ano passado, o governador botou no nosso espaço fiscal R$ 1 bilhão para fazermos o programa Morar Seguro. De abril até agora, nós estamos tentando liberar o dinheiro no Banco Mundial, mas esbarra na burocracia. São missões que vêm, projetos que você apresenta, é natural. Existe uma MP (medida provisória) do governo Lula que ainda não foi usada, do ministro Carlos Luppi (Trabalho), que destinou dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para as enchentes. Precisamos ter um mecanismo mais ágil para acelerar o financiamento.
-Você tem estimativa de número de vítimas?
Não dá. Eu não vou falar isso. A gente contabiliza o que o bombeiro acha. Mas o pessoal daqui está falando que ainda há muito mais gente.”
FONTE: reportagem de Bruno Paes Manso publicada no “O Estado de S.Paulo” e transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2011/01/a-maioria-nao-era-area-de-risco/)
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