quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DEPOIS DA PRIVATARIA [TUCANA], O "MACROGATO" [TUCANO]

O tucanato vendeu o patrimônio da Viúva e agora sugere que a patuleia compre geradores de energia

Por Elio Gaspari

“O secretário de Energia do governo de São Paulo, José Aníbal (PSDB-SP), anunciou que shoppings centers, empreendimentos comerciais e conjuntos habitacionais "vão ter que ter" geração própria para evitar apagões.

Nas suas palavras:

"Nos momentos de pico, eles saem da rede e fazem geração própria. Vai ter que trabalhar nisso. Isso não é só saudável do ponto de vista do conjunto do sistema, como é prudente do ponto de vista das insuficiências da transmissão da empresa que está aí. Vamos estimular".

O que o doutor propõe é um salto para o século 19, com a criação de um sistema avulso de geração de energia elétrica, o "macrogato". Um absurdo ambiental, porque os geradores queimam óleo diesel; [causam prejuízo] econômico, porque o equipamento de um edifício residencial custa algumas dezenas de milhares de reais; e financeiro, porque o freguês gastará com a manutenção da máquina enquanto ela estiver parada. Tudo isso e mais a pontual conta de uma energia que às vezes vem, mas pode não vir.

Há 12 anos, quando o tucanato vendeu a Eletropaulo [isto é, “deu” para a AES dos EUA, que não pagou] prometiam-se rios de mel. Os novos donos “fariam investimentos, o sistema melhoraria e todo mundo ficaria feliz, até porque a estatal, [segundo os tucanos], se tornara um ninho de espertalhões” [sic].

Em 1998, a Eletropaulo foi "vendida" pelo preço mínimo porque um dos arrematantes, a [norte-americana] AES, tinha um contrato de gaveta com o consórcio rival da ENRON [alvo de diversas denúncias de fraudes contábeis e fiscais e com uma dívida de US$ 13 bilhões, o grupo ENRON pediu concordata em dezembro de 2001 e arrastou consigo a Arthur Andersen, que fazia a sua auditoria].

O BNDES financiou os compradores e, [na hora de pagar], a AES não pagou uma dívida de US$ 336 milhões [seria a AES, para os tucanos que a presentearam, também “um ninho de espertalhões?”]. Resolveu-se [já no governo petista, não aceitando o calote], mas espichando-se o prazo do empréstimo. Contudo, entre 1998 e 2001, [durante o dadivoso governo de FHC], a AES [nada pagou ao BNDES, mas] remeteu aos seus acionistas [estadunidenses e] internacionais US$ 318 milhões...

[OBS deste blog: O colunista tucano Elio Gaspari, da tucana ‘Folha’, aparenta querer dividir com não-tucanos a vergonha, ao inserir no seu texto a seguir, meio forçadamente, a seguinte frase enigmática:] “A privataria tucana transformou-se na privataria petista, subordinando o Ministério de Minas e Energia, bem como a ANEEL, ao aparelho dos companheiros-empresários” [ou será que o colunista crê e insinua que o MME e a ANEEL deveriam continuar na mão daqueles dadivosos privateiros tucanos?].

Por conta da decadência do sistema elétrico ("o melhor do mundo", para o ministro Edison Lobão)[orgulhoso com a recuperação e as grandes melhorias implementadas no governo Lula], pode-se estimar que haja em São Paulo algo como 20 mil geradores instalados até mesmo em restaurantes e edifícios residenciais. No Rio, podem ser 5.000. Essa gambiarra degenera o sistema, remunera a inépcia e derruba a produtividade da economia. Num país onde os cidadãos pagam duas vezes pela educação e pela saúde (uma para a Receita e outra para a rede privada), o doutor [tucano] José Aníbal apresenta a matriz energética do "gato". Vale lembrar que o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, era o presidente do Conselho Diretor do Programa de Desestatização do Estado quando a Eletropaulo foi “vendida” [ou melhor, doada à norte-americana AES].

O sistema elétrico brasileiro, como o ferroviário e o de telefonia, já foi privado, passou para a Viúva e retornou [com FHC, que nada investiu no sistema] “ao mercado”. Em tese, o empresário presta o serviço, recebe tarifas, investe e remunera-se. Na prática, uma relação incestuosa entre os operadores e o Estado resulta no desestímulo aos investimentos e na degradação dos serviços. Nessa hora, se a empresa é pública, privatiza-se. Se é privada, estatiza-se. Na ida ou na volta, alguns maganos fazem a festa.

Quando o [tucano] secretário de Energia de São Paulo sugere a criação de um "gato" de geradores, pode-se suspeitar que a estatização passou a ser vista [Ohhh...somente agora percebem, surpresos !?!] como um bom negócio pelos concessionários beneficiados pela privataria.”

FONTE: escrito por Elio Gaspari e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1602201103.htm) [título, trechos entre colchetes e imagem do Google adicionados por este blog]

Nenhum comentário: