domingo, 2 de outubro de 2011

"COMANDO SUL PROVOCOU ATRITOS ENTRE EUA E BRASIL"


Revelação está em livro de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA

"DISSENSO DE WASHINGTON" traz bastidores da relação bilateral durante os governos FHC e Lula

Por Claudia Antunes

“O Comando Sul das Forças Armadas americanas foi fonte de atritos entre EUA e Brasil depois do 11 de Setembro, segundo um livro lançado [na semana passada] pelo ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa [foi embaixador do Brasil nos EUA entre 1999 e 2004, durante o governo Fernando Henrique Cardoso].

Além de alimentar a imprensa com boatos sobre terrorismo na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), a fim de "valorizar sua atuação", o comando sediado em Miami treinava militares paraguaios propondo cenários em que os "brasiguaios" provocavam a partição do país vizinho.

O então chefe da força, general James Hill, equiparou as drogas a "armas de destruição em massa" e sugeriu que restrições legais ao uso dos militares [norte-americanos e nacionais] contra o tráfico fossem "eliminadas" na América Latina.

"Hill tentava vincular seu comando aos temas quentes da agenda de segurança a fim de garantir sua fatia no orçamento do Pentágono", escreve Barbosa em "Dissenso de Washington - Notas de um Observador Privilegiado sobre as Relações Brasil-Estados Unidos".

O atual consultor e editor da revista "Interesse Nacional" relata sua experiência nos EUA entre 1999 e 2004, período da eleição de George W. Bush e do 11 de Setembro.

Ele esteve no Pentágono dois dias depois do local ter sido atacado. Foi o primeiro a ser avisado por John Bolton, do Departamento de Estado, de que os EUA queriam afastar o brasileiro José Maurício Bustani da OPAQ (órgão da ONU para a proscrição de armas químicas) [Bustani não quis atuar em uma farsa dos EUA sobre a existência de arsenal atômico no Iraque] .

Bolton depois foi embaixador na ONU, entidade que Bush criticou, em encontro com o presidente Lula, chamando-a de "shopping de boas ideias".

Barbosa traz os bastidores de uma relação bilateral que cresceu sob Fernando Henrique Cardoso e Lula. O Brasil começa a ter reconhecido seu papel global e não só regional, mas é um avanço aos trancos, como nos últimos 200 anos. "O Brasil está empenhado em salvar o mundo dos EUA", queixaram-se funcionários americanos aos brasileiros em 2002.

Na ocasião, os dois países divergiam sobre a criação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).

Enterrada sob Lula, a proposta morreu antes, diz Barbosa, quando os EUA retiraram da agenda temas de interesse brasileiro, como os subsídios agrícolas.

O livro, crítico à diplomacia lulista [Rubem Barbosa foi indicado embaixador nos EUA por FHC] por não apostar na "parceria estratégica" firmada em 2003, mostra a ação de José Dirceu, quando presidente do PT, para tranquilizar os EUA sobre as intenções de Lula recém-eleito.

Conta como Bush quase aceitou a proposta do Brasil de negociar um acordo comercial entre EUA e Mercosul, via paralela à ALCA.

Há muitos detalhes reveladores, como um diplomata americano que pergunta a um assessor: "Quando mesmo foi nossa intervenção na República Dominicana?"

FONTE: Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2609201107.htm) [imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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