ALDO REBELO EM ENTREVISTA NO ”PODER E POLÍTICA” (UOL/Folha)
“Aldo Rebelo, ministro do Esporte, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu na última quinta-feira (13) no estúdio do ‘Grupo Folha’ em Brasília. Na entrevista, o ministro falou sobre os preparativos para as Olimpíadas e “Paraolimpíadas” – com essa grafia – do Rio de Janeiro em 2016 na semana em que foi lançado o "Plano Medalhas". E fala também de política e eleições.
Folha/UOL: Ministro, muito obrigado pela sua presença aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. Eu começo perguntando: como vai ser esse “Plano Brasil Medalhas” lançado na quinta-feira, aqui em Brasília?
Aldo Rebelo [AR]: O plano, Fernando, tem como objetivo compatibilizar o fato de o Brasil sediar as Olimpíadas de 2016 com o seu desempenho no quadro de medalhas. Ou seja, nós temos tudo para realizar os Jogos Olímpicos de acordo com as expectativas no mundo e do país, mas precisamos, quando abrir o quadro de medalhas em 2016, o Brasil estar numa situação melhor do que esteve em Londres e em Pequim. Então, nós vamos dar mais recursos para os atletas, para equipamentos olímpicos, na preparação... Porque aí nós melhoramos o nosso desempenho para 2016.
Folha/UOL: As cifras divulgadas até agora são bem altas, no valor total de mais de R$2 bilhões de reais. O Sr. poderia fazer um resumo dos valores que serão investidos nesse “Plano Brasil Medalhas” e para que cada parte desse dinheiro vai ser usada?
AR: Não, essas cifras misturam recursos diferentes. Para o “Plano Brasil Medalhas” são, aproximadamente, R$ 900 [milhões], R$ 950 milhões de reais em quatro anos. Ou seja, uma média pouco mais de R$ 200 [milhões] a R$ 250 milhões de reais por ano entre 2013 e 2016. Portanto, é algo compatível com os recursos do orçamento já destinados ao esporte de alto rendimento e com os recursos da “Lei de Incentivo ao Esporte” ou da “Lei Agnelo/Piva”.
Folha/UOL: E esses recursos, em comparação com o que foi no último ciclo olímpico, como é que eles podem ser comparados?
AR: Esses recursos do “Plano Brasil Medalhas” são recursos extraordinários. Ou seja, são recursos a mais e têm como referência ampliar o treinamento dos atletas... Treinamento, viagens, contratação de técnicos, estrangeiros se necessário para algumas modalidades, incorporação do “Bolsa Técnico”. Ou seja, não basta uma bolsa para o atleta. O atleta precisa do técnico, precisa do fisioterapeuta, precisa do nutricionista, precisa do psicólogo. E o “Plano Brasil Medalhas” prevê a contratação de técnicos para uma equipe multidisciplinar, ou por atleta, no caso do esporte individual, ou para equipe, no caso dos esportes coletivos.
Folha/UOL: Como vão ser escolhidos os atletas que participarão desse programa?
AR: A classificação das competições nacionais e internacionais. Essa escolha é feita em conjunto pelo Ministério do Esporte com as confederações em cada modalidade e com o “Comitê Olímpico Brasileiro”.
Folha/UOL: Em Pequim, o Brasil teve 15 medalhas. Em Londres, 17 medalhas. O Sr., antes da Olimpíada, havia dito que a expectativa era talvez de 20 medalhas, aproximadamente. Qual é a expectativa de número de medalhas para 2016?
AR: Se nós quisermos alcançar, pelo menos, o 10º lugar, que eu acredito que é um objetivo compatível com as nossas possibilidades, creio que nós teríamos que nos aproximar das 30 medalhas. Não sei exatamente, porque para isso precisa você fazer um cálculo que coteje a sua possibilidade com a possibilidade dos outros. Ou seja, a evolução das marcas dos atletas do Brasil com as marca dos atletas e das atletas daquelas categorias e modalidades nos países que têm um papel de liderança. Mas o nosso objetivo é tentar chegar entre os 10 primeiros e, no caso dos paraolímpicos, entre os cinco primeiros. Em Atenas, acho que nós fomos 17º ou 14º em Paraolímpicos. Depois, nós alcançamos o 9º lugar em Pequim. E agora nós alcançamos o 7º lugar em Londres. É claro que, cada vez, vai ficando mais difícil, a distância do Brasil, como 7º colocado, para o 6º é uma distância razoável. Mas não custa nada nós colocarmos como desafio, no caso dos Paraolímpicos, chegarmos ao 5º lugar em 2016.
Folha/UOL: E, no caso das Olimpíadas propriamente, chegar em 10º lugar com cerca de 30 medalhas, o Sr. disse?
AR: Não sei exatamente se é esse o número. Eu estou fazendo o cálculo pela nossa colocação na Olimpíada de Londres e pelo que nós alcançamos de medalhas. Mas acho que a referência é que nós queremos alcançar o 10º lugar em 2016.
Folha/UOL: O que deu errado no último ciclo olímpico e o que deu certo? Começando pelo que deu errado: aparentemente, a impressão que nós temos é que dinheiro não faltou, no sentido de recursos para o esporte. Não obstante, o resultado parece ter ficado aquém do que se esperava. Por quê?
AR: No Brasil, nós temos o hábito de contar tudo a partir do que deu errado. Eu vou inverter essa premissa e vou começar pelo que deu certo. Nós melhoramos em modalidades onde nós não tínhamos propriamente uma tradição. Ganhamos uma medalha, uma vez na vida, embora com um grande atleta no judô, o Servílio de Oliveira, e agora nós aparecemos no boxe, no feminino e no feminino. Melhoramos no judô, mantivemos a nossa condição no voleibol de quadra, principalmente. Eu acho que nós já temos posição de força olímpica em algumas modalidades. No atletismo, nós tivemos foi muito azar. Nós poderíamos ter alcançado a medalha, principalmente no salto com vara. Mas a nossa atleta encontrou condições, de fato, adversas. Ela é uma atleta muito técnica e não teve condições ideais para o salto e nós não tivemos a medalha. Acho que nós precisamos mais (com as confederações) agir em torno de metas, de desafios, de objetivos, que é como nós fazemos com o Comitê Paraolímpico. Ou seja, nós precisamos fazer isso porque, de fato, os investimentos para Londres foram maiores do que para Pequim e a expectativa nossa era de resultado compatível com esses investimentos.
Folha/UOL: E o que deu errado? Por que deu errado?
AR: Eu creio que nós não fizemos o controle de metas em torno dos objetivos, ou seja, tem tal modalidade, em tal categoria, o que nós precisamos alcançar. Isso nós não conseguimos fazer. Em algumas confederações, a gestão não alcança o nível de exigência e competitividade do esporte em escala mundial, não alcança. Isso não é um problema pessoal do dirigente A ou B. Em algumas confederações, não há gestão à altura da exigência dessas modalidades num plano mundial. Então, nós não chegamos.
Folha/UOL: O Sr. está mencionando as confederações de determinados esportes.
AR: Eu não vou citar [os nomes das confederações] porque não é o caso.
Folha/UOL: O que a gente sabe, por exemplo, a “Confederação Brasileira de Atletismo”: o Roberto Gesta ficou lá 25 anos. “Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos”: o presidente Coaracy Gentil Monteiro Nunes Filhos, desde 1988. São entidades públicas de direito privado. O governo não tem como fazer uma intervenção nessas entidades. Não obstante, são eles que preparam os atletas que representam o país. O que pode ser feito?
AR: Muita coisa pode e deve ser feita. Em primeiro lugar, eu defendo que haja limite no tempo de mandato e no número de mandatos.
Folha/UOL: Mas isso não é um direito deles de definir?
AR: Não deveria ser. Não deveria. Deveria ser, mas dentro de determinados parâmetros. No Brasil, você tem limite para tudo. Até para o tempo que você pode ficar no Supremo Tribunal Federal, no Tribunal de Contas da União, no STJ (Supremo Tribunal de Justiça), na Presidência da República. Em qualquer lugar. Mesmo o setor privado adota determinados critérios para a alternância na gestão dos seus negócios. Então, nós não devemos é fazer intervenção. Dizer: “Não, o presidente vai ser A, vai ser B”. Mas o modelo democrático de sucessão nessas entidades faria muito bem para o esporte e para as próprias entidades.
Folha/UOL: Como o governo pode induzir esse tipo de atitude?
AR: Por exemplo, condicionar determinadas vantagens para o acesso aos recursos públicos ao preenchimento de determinados requisitos, por exemplo.
Folha/UOL: Por exemplo?
AR: Eu acho que um deles...
Folha/UOL: A alternância de poder...
AR:... e o tempo de mandato e o número de mandatos.
Folha/UOL: O Sr. está dizendo, então, que, possivelmente, a partir de agora, o governo vai trabalhar com a hipótese de, na distribuição de recursos e alocamentos desses recursos para as entidades que ajudam a gerenciar tudo isso, que elas adotem regras de governança interna e de alternância de poder interno, é isso?
AR: Exatamente. Não pode ser a partir de agora, porque nós não temos os mecanismos jurídicos para impor essa solução.
Folha/UOL: Esses mecanismos precisam de uma lei?
AR: Uma parte somente [precisa] de regulamentação do próprio Ministério [do Esporte]. Outra parte nós vamos ter na própria regulamentação da “Lei Pelé”. Mas é preciso que as próprias entidades, e há um ambiente cada vez mais favorável, porque é o ambiente geral do país. Ninguém hoje aceita como certo, como defensável, que não haja esses critérios. Ou seja, que não haja limites no tempo de mandato ou limite no número de mandatos. Ninguém mais aceita isso. Vai ficando pela inércia.
Folha/UOL: Agora, além da mudança do dirigente, é necessário, o Sr. me corrija se eu estiver errado, que as entidades tenham um padrão de governança e de trabalho na área em que atua o mais moderno, para usar uma palavra genérica. Ou não?
AR: Mais moderno, que reúna, ao mesmo tempo, eficiência, transparência nas suas contas, principalmente quanto à origem dos recursos públicos, e acho que a eficácia, ou seja, o recurso que você aplica produz certo resultado. Principalmente quando se trata de um esporte de alto rendimento. [Para o] esporte educacional, você pode dizer: "Não. O meu êxito está em alcançar determinado número de crianças, que eu protejo com educação, com lazer, com entretenimento no esporte”. O esporte de alto rendimento, ele tem que ter como foco o resultado, porque senão você emprega no esporte educacional. Ali você não precisa alcançar o resultado que justifique o rendimento. No alto rendimento, você precisa.
Folha/UOL: Quando o Ministério do Esporte, o governo em geral e todas as suas datas correlatas, devem aplicar essa nossa política, essa nova regra de cobrar desempenho das entidades e uma governança diferente com alternância de poder?
AR: Nós estamos preparando todos os mecanismos porque eles precisam ser também aceitáveis. Ou você consegue pela persuasão. Você apresenta e você também convence essas instituições a adotar esse caminho. E outro você tem que alterar. Não precisa ser nem a Constituição e nem uma lei. Às vezes, é uma norma, uma portaria que discipline a relação do ministério do governo com as entidades que, aliás, são relações muito boas, de cooperação. Nós não transformamos essa nossa opinião sobre a sucessão, a institucionalidade dessas entidades numa guerra. Isso é uma posição que nós trabalhamos para melhorar a prática, o nível e a gestão de esporte no Brasil.
Folha/UOL: Mas essa norma, essa decisão, vai ser tomada até o final desse ano de 2012? Quando o Sr. tem expectativa de adotar essas medidas?
AR: Se tivermos condições... [Para] essas coisas você estabelece um prazo desde que você possa cumprir. Nós precisamos trabalhar no conteúdo e o prazo apresentar depois que o conteúdo estiver pronto.
Folha/UOL: Mas o Sr. tem alguma expectativa?
AR: Tenho.
Folha/UOL: Qual seria ela?
AR: De data?
Folha/UOL: É.
AR: Hum... Breve.
Folha/UOL: Mas é neste ano ou no ano que vem? Para fazer uma data bem larga.
AR: Na próxima vez que eu voltar aqui, eu te dou a data.
Folha/UOL: Mas a ideia é que isso vai acontecer. Isso...
AR: Isso deve acontecer, precisa acontecer.
Folha/UOL: O Sr. tem falado com algumas já dessas confederações e coletado a reação delas em relação a essa atitude nova?
AR: Nenhuma apresenta resistência. Nem pessoal...
Folha/UOL: Não está sendo muito otimista?
AR: Não. Porque os que já estão há muito tempo já não serão tão prejudicados pela medida.
Folha/UOL: Por quê?
AR: Porque já ficaram tanto tempo à frente dessas entidades... Quem ficou 25 anos espera ficar o quê? Mais 25? Pode ser. Não é uma coisa real.
Folha/UOL: Como é que vai ser cobrado dessas entidades e dos atletas, também, que receberem os financiamentos, o desempenho? E mais: como vai ser possível fazer um acompanhamento preciso do que está acontecendo? Porque isso requer uma tecnologia e mão de obra para estar acompanhando.
AR: O atleta é a parte mais transparente da cadeia do esporte. Porque o resultado dele tem que ser apresentado toda vez que ele salta, toda vez que ele nada, que ele pula, que ele corre, o resultado dele aparece. O da instituição nem sempre aparece.
Folha/UOL: Como fazer a aferição?
AR: A aferição exatamente pelo, no caso do [esporte de] alto rendimento, pelo conjunto da atividade da modalidade. Então, na modalidade A, eu tenho que medir se, nas principais competições internacionais, nós melhoramos o nosso resultado. Não significa, necessariamente, ter um campeão mundial no principal certame, no principal evento. Mas se você tem melhorado a sua marca, mesmo aquele esporte onde nós estamos apenas começando, mas o seu desempenho aponta melhoria, aponta eficiência na busca desse resultado, alguma evolução, você tem formado... Nós temos atletas nas categorias de base, no sub-16, no sub-17. Isso é o que dá a indicação da eficiência na gestão dessas entidades. Não é, propriamente, “ganhei quatro medalhas de ouro” ou “três de bronze”, não é isso. É se você apresenta evolução na modalidade que você administra.
Folha/UOL: Quem vai fazer o acompanhamento do cumprimento dessas metas por parte dos atletas e das confederações?
AR: Todos têm que participar. O governo, a própria confederação...
Folha/UOL: Mas quem do governo?
AR: O Ministério do Esporte.
Folha/UOL: O Sr. tem pessoal qualificado, treinado para fazer esse trabalho?
AR: Temos. Não é em número grande. Mas tem gente muito qualificada. E nós fazemos convênios com outras entidades. Por exemplo, com o Ministério da Defesa, que tem uma área ligada ao esporte já com determinada tradição. E o próprio COB tem interesse de acompanhamento.
Folha/UOL: O Sr. falou dos militares. Parece que, nas escolas militares, tem uma estrutura diferente de formação de atletas e são muito bem sucedidos. Das 17 medalhas brasileiras obtidas em Londres, cinco foram por atletas que tiveram alguma relação com formação na área militar. Tem alguma coisa que os militares podem oferecer nesse caso, na preparação para as próximas Olimpíadas?
AR: Os militares podem colaborar muito. Eles têm excelência em educação física, por exemplo, porque introduziram a educação física no Brasil. Quem levou a educação física para a escola, foi o primeiro ministro da Guerra, da Defesa, do governo do Deodoro [da Fonseca], o Benjamin Constant Botelho de Magalhães. A atividade física era uma coisa dos militares, era uma atividade dos militares. Ele levou para rede de ensino, para a escola pública. Então, eles têm excelência. No caso das medalhas, há caso de atletas formados nas próprias forças armadas, mas há também casos de atletas que engajaram já depois de atletas formados. Então, há casos diferentes mas a contribuição é muito importante.
Folha/UOL: O Brasil é um dos países que mais se esforça para competir, dá muito valor para esportes coletivos em Olimpíadas. A ênfase não é tão grande, às vezes, nos esportes individuais. Isso vai ser alterado para daqui a quatro anos?
AR: Não. Nós vamos continuar dando ênfase no esporte coletivo porque há também uma polêmica sobre a contabilidade das medalhas. Porque cada atleta do esporte coletivo ganha a sua medalha. Só que, na hora de somar, ela não é somada. E vamos aproveitar melhor o rendimento do atleta individual, da modalidade para o atleta individual.
Folha/UOL: Mas o Sr. está dizendo, sobre a contabilidades das medalhas, não haverá uma mudança na contabilidade?
AR: Não, claro. Mas só registro porque há, inclusive, quem conteste esse caso. Como é o pessoal, o presidente do “Conselho Federal de Educação Física” [Jorge Steinhilber]. Tem uma tese que contesta essa forma de contagem.
Folha/UOL: Mas a ênfase vai continuar sendo bastante, preferencialmente, no coletivo?
AR: Não é preferencialmente. É porque não há nenhum motivo para você diminuir o apoio ou reduzir o apoio que você dá ao esporte coletivo.
Folha/UOL: Então a ênfase continuará, porém com ênfase reforçada também no individual, é isso?
AR: No individual. Que nós temos chance e temos tradição. Nós temos tradição em atletismo, em salto. Ganhamos já muitas medalhas desde o Nelson Prudêncio. Nós ganhamos com o João do Pulo. Tivemos já muitos atletas vitoriosos. Então, nós precisamos apostar também no [esporte individual]...
Folha/UOL: O Sr. falou sobre uma polêmica sobre contagem de medalhas; deixa falar sobre uma outra polêmica. Há alguma diretriz do governo sobre a terminologia a ser adotada por órgãos oficiais do governo brasileiro a respeito do nome de “Paralimpíadas”, “Paraolimpíadas”? Qual é?
AR: Nós vamos manter a grafia “paraolímpica”, “Paraolimpíada”.
Folha/UOL: Por quê?
AR: Porque a nossa ideia é que isso corresponde melhor à forma vernacular usada no Brasil.
Folha/UOL: É uma decisão de governo essa?
AR: É. Por enquanto é.
Folha/UOL: Então será o termo usado no caso de “Paraolimpíada” é esse mesmo? “Paraolimpíada” e não “Paralimpíada”?
AR: Não. Nós continuaremos a usar “Paraolimpíada” e esporte “paraolímpico”.
Folha/UOL: O Sr. discutiu com a presidente Dilma sobre a adoção desse termo?
AR: Não acho que haja necessidade.
Folha/UOL: O Sr. sabe a opinião dela a respeito?
AR: Mas, se você quiser, eu procuro saber.
Folha/UOL: Não. Mas o Sr. não sabe?
AR: Não. Eu creio que a opinião do governo não poderia ser diferente da opinião dela, né?
Folha/UOL: Então a presidente está evidentemente de acordo com isso?
AR: Creio que sim.
Folha/UOL: O Sr. é um defensor da língua portuguesa...
AR: Como você.
Folha/UOL: Como todos nós. E como deputado federal, se manifestou várias vezes contrário ao uso de estrangeirismos. A Copa do Mundo de 2014 terá a sua bola batizada de “Brazuca”. Porém, a terminologia adotada foi Brazuca com a letra “z”. E alguns linguistas acreditam que isso é um erro, porque, na grafia em português, deveria ser com a letra “s”.
AR: Em português, sim.
Folha/UOL: Qual é a sua opinião?
AR: Eu acho que, em português, deveria ser com “s”.
Folha/UOL: Foi um erro adotar com “z”?
AR: Não creio que tenha sido um erro porque isso é uma marca da FIFA. A FIFA é uma entidade que usa, se eu não me engano, como primeira língua o francês. Mas usa o inglês também, como o Comitê Olímpico [Internacional]. Eles usam muito o francês. A própria FIFA tem a sua marca registrada em francês. O que eu creio é que... E o futebol também. O futebol chegou, quando desembarcou no Brasil, não foi apenas com regras criadas na Grã-Bretanha. Foi com o idioma, o inglês britânico.
Folha/UOL: A começar pelo nome do esporte.
AR: Tudo. O futebol, as posições dos jogadores: o goalkeeper, o center-half, as regras estabelecendo o offside, ou seja, o impedimento. O corner, o escanteio. Depois é que foi havendo o aportuguesamento, que é a adaptação da fonética e da grafia de origem inglesa ao português. Então, você foi substituindo vogais, foi adaptando a fonética do inglês ao português e esse processo levou décadas. No caso do Brazuca, eu creio que o que deve ter prevalecido é a marca comercial ligada ao idioma que predomina no comércio mundial, que ainda não é o português, é o inglês.
Folha/UOL: Então não há o que fazer, será Brazuca com “z” mesmo.
AR: Não. Nós não estamos aqui registrando a nossa contrariedade?
Folha/UOL: O Sr. preferiria que fosse com “s”?
AR: É evidente. Você também, pelo visto.
Folha/UOL: Mas, enfim, como é uma marca da FIFA, não há o que fazer, certo?
AR: É.
Folha/UOL: Ministro, há um projeto de lei, o “Proforte”, que pretende que clubes de futebol possam, eventualmente, abater suas dívidas em troca de investimento que possam vir a fazer em esportes olímpicos. Qual é a sua opinião sobre esse projeto?
AR: O projeto ainda não chegou em minhas mãos como uma proposta formal. Eu, portanto, conheço uma realidade: que tenho uma confederação brasileira de clubes... Os clubes, no Brasil, contribuem muito na formação do atleta de alto rendimento. Se você for examinar o Pinheiros de São Paulo, por exemplo, nos últimos Jogos Pan-americanos, se fosse um país, ficaria em 9º lugar. O Minas Tênis Clube, o Sogipa, que é a “Sociedade de Ginástica de Porto Alegre”, que é um clube mais do que centenário. Esses clubes contribuem para a formação do atleta olímpico, do atleta de alto rendimento. Muitas vezes, a confederação pega esse atleta é no clube. No judô, no voleibol, no levantamento de peso, na esgrima, na ginástica. O clube mantém o atleta. Só que, quando foi feita a “Lei Agnelo/Piva”, todo o recurso da Lei é destinado para o COB e para as Confederações. O recurso não chega ao clube. Um pouco vai para a “Confederação Brasileira de Esporte Escolar”, o outro para o esporte universitário. Para o clube mesmo não chega nada. Chega um pouco pelo projeto da “Lei de Incentivo [ao Esporte]”, que alguns fazem e conseguem algum recurso. Então, alguns clubes manifestam a ideia de que, como eles investem no esporte, deveria haver alguma compensação pelo investimento.
Folha/UOL: O Sr. acha justo?
AR: Eu acho que é preciso examinar a proposta. Examinar a possibilidade de ela prestar o serviço público. Se você, de fato, quer investir em atleta olímpico ou em fazer o esporte de alto rendimento, o governo pode fazê-lo diretamente, construindo ginásios, contratando professores de educação física, equipes multidisciplinares, médicos, fisioterapeutas, ser responsável pela manutenção, pelo custeio do equipamento ou o governo pode fazer isso indiretamente com esses clubes, que já têm a sua estrutura formada e que podem, a um custo muito menor, ajudar a formar atletas olímpicos no Brasil.
Folha/UOL: Nesse caso, estamos falando de alguns clubes, como o Sr. disse, que já têm estrutura formada e tradição na formação de atletas. Mas, nós sabemos, não é ministro, que eles são a minoria no universo de todos os clubes esportivos do Brasil. São pouquíssimos no universo de muitos e muitos clubes os que formam atletas de alto rendimento. No caso, a ideia, pelo que eu entendi desse projeto de lei do “Proforte”, quando ele, enfim, começar a andar mais, seria, em tese, que qualquer clube de futebol que queira, que tenha dívidas, possa oferecer alguma contrapartida e daí, por conta disso, abater sua dívida por conta de um ginásio, de uma piscina que coloca ali, a disposição de um esporte considerado olímpico. Isso seria uma boa medida generalizada?
AR: Não sei. Não creio que possa ser adotada uma regra simplesmente generalizada. Em tudo aquilo que há recurso público, você tem que ter critérios. Desde uma renúncia fiscal, por exemplo, do ICMS para o papel-jornal, até o investimento em publicidade numa rede de televisão. Tudo isso tem que ter algum critério. E se há critério, por exemplo, para a distribuição de recursos, no caso das confederações que hoje já recebem do COB, é preciso haver algum critério também numa possibilidade que venha a ser examinada nesse caso. Onde houver interesse público e alguma forma de controle de transparência, a partir daí, você pode examinar.
Folha/UOL: Sem isso, não é desejável que seja uma regra generalizada para todos.
AR: Não pode, não pode. Porque tem gente que não consegue tomar conta do próprio dinheiro, que ganha com o próprio suor, imagina tomar conta do dinheiro alheio.
Folha/UOL: A propósito dessa história dos clubes de futebol, eles têm, a gente sabe, os principais clubes brasileiros, muitas dívidas de INSS e outras.
AR: Perto das dívidas dos bancos, elas não representam nada.
Folha/UOL: Ainda assim, são dívidas e dívidas com, enfim, o erário. Como o Sr. acha que esse problema, que não é de hoje, é antigo, deveria ser tratado e eventualmente resolvido?
AR: Como o futebol é uma coisa muito popular no Brasil, em alguns setores da sociedade há certo preconceito contra o futebol. Mas é preciso deixar claro que os grandes devedores públicos do Brasil são, em primeiro lugar, os bancos e as multinacionais. Não são os clubes de futebol. E o que eles devem, perto dos bancos e das multinacionais, é muito pouco como dívida tributária, como dívida...
Folha/UOL: Ao INSS...
AR: É. Então, é preciso relativizar isso. Agora, o seguinte: Não deve ser desconsiderado como devedor. E deve ser cobrado também como devedor.
Folha/UOL: O Sr. acha que ele tem condições de pagar as dívidas tais como estão?
AR: Claro que devem buscar um caminho para pagar. Já houve a tentativa dessa loteria. A renda no futebol não tem aumentado muito. O que precisa, no caso dos clubes brasileiros, é também uma regra democrática que limite mandato e tempo de mandato e gestão profissional. Que a imensa maioria não tem nenhuma, está certo? Boa parte dos clubes do Brasil tem administrações muito aquém do nível de profissionalismo... O futebol há 30, 40 anos era quase um artesanato. O atleta era um artesão pago pelos seus administradores que eram os sócios, os torcedores. Hoje, num nível de profissionalismo, com contratos de patrocínios complexos, negociações complexas com proprietários de direitos de imagem, não pode continuar havendo essa gestão primária e amadora. Essa é que é a verdade.
Folha/UOL: Nesse caso, o Sr. diria que, talvez, uma fórmula possível para resolver a dívida dos clubes com imposto de renda, com o INSS, seria pactuar com eles uma melhor regra de governança, alternância de poder, profissionalização da gestão para, daí, eles receberam alguma ajuda?
AR: [risos] Seria a primeira vez que você compraria a democracia [risos]. Aí você paga para ter democracia. Eu não sei se esse é o caminho. Eu acho que as regras democráticas devem ser adotadas no futebol porque elas são compatíveis com o país e são uma necessidade para melhorar a própria renda do futebol, a credibilidade, a valorização das marcas. Segurança para os investidores. Eu acho que é principalmente por isso.
Folha/UOL: Sim. Mas eu perguntei isso exatamente porque esse é o modelo, em tese, que vai ser usado com as confederações dos esportes olímpicos, não é isso? Pedir que elas melhorem a gestão, que tenham alternância de poder para que elas continuem a ter incentivos.
AR: Mas no caso das confederações, nós já repassamos esse dinheiro. O Governo Federal, de fato, em certa medida, já sustenta o esporte de alto rendimento. O futebol não. É um esporte completamente privado.
Folha/UOL: Mas no futebol, o governo, em certa medida, ajuda a sustentar na medida em que as dívidas existem e estão sendo roladas, não é? É um dinheiro público também.
AR: E não está retornando. É uma renúncia fiscal involuntária. Diferente do ICMS do papel-jornal, que é pactuada, essa aí é, de fato, uma renúncia não pactuada.
Folha/UOL: E, nesse caso dos clubes, que tipo de solução o Sr. vislumbra? Porque o Sr. fala “é necessário que os clubes melhorem a gestão”, mas o Sr. diria que é possível estudar uma fórmula que coloque nesse caldeirão isso?
AR: Possível e necessário.
Folha/UOL: Como seria então?
AR: Estabelecer, primeiro, regras que todos passem a adotar. Por exemplo, o meu glorioso, histórico e tradicional “Sociedade Esportiva Palmeiras”. Resistiu, resistiu, mas terminou aprovando as eleições diretas. Agora, nós estamos no próximo passo, que é a democratização da estrutura, por exemplo, de escolha e constituição dos conselhos. Muito dos conselhos dos principais clubes do Brasil não são órgãos propriamente democráticos. Então, é preciso democratizar. E, acompanhada da democratização, a gestão profissional para cuidar dos interesses econômicos e financeiros do clube.
Folha/UOL: Seria possível pensar numa fórmula orgânica desse tipo de horizonte que o Sr. imagina para os clubes e, com isso então, o governo se dispor mais a renegociar a dívida deles?
AR: Eu acho que uma medida não deve ser condicionada à outra. Embora, é verdade, que instituições que adotem regras democráticas, gestão profissional, transparência, vão receber do governo e da própria população um nível de confiança muito maior.
Folha/UOL: Falando de receber confiança muito maior, a “Confederação Brasileira de Futebol” passou por um momento muito conturbado, teve uma troca de direção. No momento, qual é a sua avaliação da gestão da CBF e como é a relação do governo com a atual direção da CBF?
AR: Nossa relação é de cooperação. Nós temos um desafio comum pela frente que é a realização da Copa do Mundo de 2014. A CBF é a instituição responsável pelo futebol brasileiro e o governo tem que ter uma relação de cooperação, de harmonia. Agora, essa é a relação para uns objetivos comuns: Copa, melhoria do futebol no Brasil. Nós temos sempre um esforço com a CBF no caso do futebol feminino, que nós achamos que precisa de apoio, precisa melhorar. Agora, ao mesmo tempo, nós temos as nossas opiniões que, nem sempre, devem ou podem coincidir com as opiniões da CBF. Uma questão é exatamente essa: a democratização das entidades e a profissionalização da gestão das entidades. Nós achamos que isso deve ser uma busca mesmo que as opiniões não estejam de acordo permanentemente.
Folha/UOL: O Presidente anterior da CBF, Ricardo Teixeira, tinha dificuldades de relacionamento com o Governo Federal. Era pouco recebido pela presidente Dilma Rousseff, se é que era recebido. O atual presidente José Maria Marin tem mais facilidade de acesso para ser recebido pela presidente Dilma?
AR: Olha, o acesso à presidente é uma determinação dela. Eu respondo pelo governo no Ministério do Esporte e nunca impus nem ao ex-presidente [da CBF] Ricardo Teixeira e nem ao presidente José Maria Marin nenhum tipo de dificuldade. Nossas relações sempre foram relações respeitosas, de tratamento de interesses em comum, no caso da Copa. Sempre procurei reconhecer as atribuições e as prerrogativas tanto da CBF quanto do “Comitê Organizador Local da Copa de 2014” para que o governo também tivesse os seus interesses, que é o interesse público e o interesse nacional, respeitados. Porque a Copa, diferentemente da Olimpíada, é uma ação muito privada. A Copa do Mundo. A Olimpíada tem mais dinheiro público, o parque olímpico, o financiamento das modalidades. No caso da CBF, é mais uma instituição privada.
Folha/UOL: Melhorou o relacionamento com a CBF com a troca de presidentes da entidade. De Ricardo Teixeira para José Maria Marin?
AR: Nós procuramos manter a relação com o mesmo conteúdo e com os mesmos critérios. Cooperação em torno do objetivo comum, que é realizar...
Folha/UOL: Mas melhorou?
AR: Não era ruim. Já era bom, continua bom.
Folha/UOL: Pelo seu acompanhamento das obras para 2014, quantos estádios devem estar disponíveis para a Copa das Confederações, na metade já de 2013?
AR: Nós trabalhamos com a possibilidade dos seis estádios prontos para 2013.
Folha/UOL: Quais são eles?
AR: Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Rio e Belo Horizonte.
Folha/UOL: Esses seis estádios estariam disponíveis já para a Copa das Confederações na metade de 2013?
AR: Teriam que estar, porque se algum não tiver pronto, não terá Copa das Confederações.
Folha/UOL: Mas há algum risco?
AR: Aliás, no prazo da FIFA é novembro de 2012. Por quê? Porque a FIFA precisa confeccionar as tabelas. Precisa vender os ingressos, vender os pacotes. E só pode fazer isso se já houver o destino já definido. Então, você não pode dizer: “Não, a Copa pode ser em cidade tal se o estádio estiver pronto”.
Folha/UOL: Mas novembro de 2012 é agora. Os seis estarão prontos? Não estarão agora.
AR: Não estarão, mas há a possibilidade de uma avaliação sobre as condições de estarem prontos dentro do prazo.
Folha/UOL: Entendi. E o Sr., no momento, acredita que estarão prontos?
AR: Eu não só acredito, eu trabalho com essa hipótese. Acompanho todos os seis estádios semanalmente para que eles estejam prontos. Nós vamos trabalhar para isso.
Folha/UOL: Ministro, o Sr. assumiu o Ministério do Esporte em substituição a Orlando Silva, que é do PCdoB assim como o Sr. Orlando Silva saiu por conta de acusações de eventuais irregularidades que poderiam ter sido cometidas lá no Ministério. Há alguma investigação em curso? Foram feitas investigações? Como terminou esse caso?
AR: Todas as que foram necessárias no âmbito dos órgãos de controle do Governo Federal, ou seja, o “Comitê de Ética Pública” absolveu o Orlando. No Ministério, nós suspendemos todos os convênios do [programa] “Segundo Tempo” com “Organizações Não-Governamentais”. Não por restrições a Organizações Não-Governamentais. Mas julgamos mais seguro e mais eficaz fazer convênios com entes públicos, que têm mais capacidade de gestão e podem ser mais bem fiscalizadas. A CGU [Controladoria-Geral da União] fez todo o levantamento e o que ainda precisa permanecer em investigação isso está sendo feito pela CGU, pelo TCU [Tribunal de Contas da União] e pelos órgãos de controle.
Folha/UOL: Ministro, o Sr. é do PCdoB, vota em São Paulo. São Paulo agora tem uma eleição disputada para prefeito da cidade. Que prognóstico o Sr. como político experiente faria sobre os dois nomes que devem ir para o segundo turno em São Paulo?
AR: Ninguém tem condições de fazer um prognóstico agora.
Folha/UOL: O Sr. acha que está difícil?
AR: Eu acho que há uma eleição equilibrada, por que...
Folha/UOL: Mas, alguns nomes que podem ainda ir para o segundo turno, o Sr. diria que são quais?
AR: Serra [do PSDB], Haddad [do PT] e Russomano [do PRB].
Folha/UOL: Só os três?
AR: Por quê? Porque são os três que mantém a performance, o desempenho já a essa altura da eleição. Mas, para mim, também não seria surpresa se o próprio Chalita começasse a crescer. Para mim, não seria surpresa.
Folha/UOL: O Sr. acha que, entre esses, é impossível hoje, já a esta altura, dizer dois que são mais favoritos para chegar ao segundo turno?
AR: Impossível porque todos os três têm de forma distinta condições de alcançar o segundo turno. O Haddad, não precisa dizer por quê. É candidato do PT, de uma parte grande da base, com apoio da presidente, com apoio do Lula. O PT é forte na capital. O Serra tem a força do PSDB. O PSDB governa o Estado de São Paulo, já governou a prefeitura várias vezes. Foi, durante muito tempo, a principal força política da capital, ou seja, eleitoralmente mais forte, com melhor desempenho. Como é que você pode descartar uma candidatura dessas para o segundo turno? E a candidatura do Russomano tem, em cidades como São Paulo, tradicionalmente, possibilidade de aparecer, de vingar. E ele também tem base política e base social que podem conduzi-lo para o segundo turno.
Folha/UOL: Pela sua experiência de político, o que está acontecendo nas grandes capitais, onde se esperava, sobretudo no Nordeste, em algumas específicas, um efeito muito forte do apoio do ex-presidente Lula que, até agora, já estamos a menos de um mês da eleição, ainda, aparentemente, não surtiu o efeito. Por que ainda não surtiu esse efeito?
AR: Porque eu creio que a eleição municipal não é uma relação direta com as lideranças nacionais. Eleição municipal é sempre uma eleição local. Na eleição para governador, pesa mais a relação entre o candidato a presidente e o candidato a governador. No caso da prefeitura, é mais uma eleição local. Porque Brasília está muito distante. As pessoas olham e dizem o seguinte: “Tudo bem, eu vou escolher a minha prefeita, o meu prefeito sobre a influência de uma liderança nacional e qual é a consequência disso?” Então, eu acho que as pessoas escolhem com mais independência o chefe da municipalidade em relação às lideranças nacionais.
Folha/UOL: O Sr. pode fazer uma futurologia aqui? Quem deve ser principais candidatos a presidente em 2014?
AR: Olha, eu mal estou conseguindo dar conta do presente, quanto mais do futuro, Fernando.
Folha/UOL: A presidente Dilma é candidata à reeleição, em sua opinião? Deve ser?
AR: Claro. Não vejo nenhum motivo para que não seja.
Folha/UOL: E na oposição? Que nomes o Sr. enxerga que tem condição de se contrapor a presidente Dilma?
AR: Nomes fortíssimos. O governador de São Paulo [Geraldo Alckmin, do PSDB] é sempre um nome forte na oposição. O ex-governador de Minas [Aécio Neves, do PSDB] também é muito forte na oposição.
Folha/UOL: Fala-se muito dentro do campo governista também de um integrante desgarrar e ser candidato a presidente, como governador Eduardo Campos, de Pernambuco, do PSB. O que Sr. acha dessa hipótese?
AR: Não creio. Seria prematuro. Historicamente no Brasil, quando certas posições declinam e tendem ao desaparecimento, a oposição surge das forças vitoriosas no embate anterior. Isso acontece no Brasil. Mas eu não creio que isso venha a acontecer agora. Isso é muito prematuro.
Folha/UOL: É só uma impressão que a gente tem que a oposição é muito frágil, está depauperada e não se recupera mais ou isso é um fato?
AR: Não. Acho que a oposição não é uma oposição acabada, morta. Eu acho que ela ainda tem muita força. Talvez tenha perdido a inspiração.
Folha/UOL: Muito bem. Ministro Aldo Rebelo, do Esporte, muito obrigado pela sua entrevista à “Folha de S.Paulo” e ao UOL.
AR: Muito obrigado, Fernando. Até breve.”
FONTE: entrevista com o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, ao Grupo tucano UOL/Folha, conduzida pelo jornalista Fernando Rodrigues. Transcrita no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=193928&id_secao=1) [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Aldo Rebelo, ministro do Esporte, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu na última quinta-feira (13) no estúdio do ‘Grupo Folha’ em Brasília. Na entrevista, o ministro falou sobre os preparativos para as Olimpíadas e “Paraolimpíadas” – com essa grafia – do Rio de Janeiro em 2016 na semana em que foi lançado o "Plano Medalhas". E fala também de política e eleições.
Folha/UOL: Ministro, muito obrigado pela sua presença aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. Eu começo perguntando: como vai ser esse “Plano Brasil Medalhas” lançado na quinta-feira, aqui em Brasília?
Aldo Rebelo [AR]: O plano, Fernando, tem como objetivo compatibilizar o fato de o Brasil sediar as Olimpíadas de 2016 com o seu desempenho no quadro de medalhas. Ou seja, nós temos tudo para realizar os Jogos Olímpicos de acordo com as expectativas no mundo e do país, mas precisamos, quando abrir o quadro de medalhas em 2016, o Brasil estar numa situação melhor do que esteve em Londres e em Pequim. Então, nós vamos dar mais recursos para os atletas, para equipamentos olímpicos, na preparação... Porque aí nós melhoramos o nosso desempenho para 2016.
Folha/UOL: As cifras divulgadas até agora são bem altas, no valor total de mais de R$2 bilhões de reais. O Sr. poderia fazer um resumo dos valores que serão investidos nesse “Plano Brasil Medalhas” e para que cada parte desse dinheiro vai ser usada?
AR: Não, essas cifras misturam recursos diferentes. Para o “Plano Brasil Medalhas” são, aproximadamente, R$ 900 [milhões], R$ 950 milhões de reais em quatro anos. Ou seja, uma média pouco mais de R$ 200 [milhões] a R$ 250 milhões de reais por ano entre 2013 e 2016. Portanto, é algo compatível com os recursos do orçamento já destinados ao esporte de alto rendimento e com os recursos da “Lei de Incentivo ao Esporte” ou da “Lei Agnelo/Piva”.
Folha/UOL: E esses recursos, em comparação com o que foi no último ciclo olímpico, como é que eles podem ser comparados?
AR: Esses recursos do “Plano Brasil Medalhas” são recursos extraordinários. Ou seja, são recursos a mais e têm como referência ampliar o treinamento dos atletas... Treinamento, viagens, contratação de técnicos, estrangeiros se necessário para algumas modalidades, incorporação do “Bolsa Técnico”. Ou seja, não basta uma bolsa para o atleta. O atleta precisa do técnico, precisa do fisioterapeuta, precisa do nutricionista, precisa do psicólogo. E o “Plano Brasil Medalhas” prevê a contratação de técnicos para uma equipe multidisciplinar, ou por atleta, no caso do esporte individual, ou para equipe, no caso dos esportes coletivos.
Folha/UOL: Como vão ser escolhidos os atletas que participarão desse programa?
AR: A classificação das competições nacionais e internacionais. Essa escolha é feita em conjunto pelo Ministério do Esporte com as confederações em cada modalidade e com o “Comitê Olímpico Brasileiro”.
Folha/UOL: Em Pequim, o Brasil teve 15 medalhas. Em Londres, 17 medalhas. O Sr., antes da Olimpíada, havia dito que a expectativa era talvez de 20 medalhas, aproximadamente. Qual é a expectativa de número de medalhas para 2016?
AR: Se nós quisermos alcançar, pelo menos, o 10º lugar, que eu acredito que é um objetivo compatível com as nossas possibilidades, creio que nós teríamos que nos aproximar das 30 medalhas. Não sei exatamente, porque para isso precisa você fazer um cálculo que coteje a sua possibilidade com a possibilidade dos outros. Ou seja, a evolução das marcas dos atletas do Brasil com as marca dos atletas e das atletas daquelas categorias e modalidades nos países que têm um papel de liderança. Mas o nosso objetivo é tentar chegar entre os 10 primeiros e, no caso dos paraolímpicos, entre os cinco primeiros. Em Atenas, acho que nós fomos 17º ou 14º em Paraolímpicos. Depois, nós alcançamos o 9º lugar em Pequim. E agora nós alcançamos o 7º lugar em Londres. É claro que, cada vez, vai ficando mais difícil, a distância do Brasil, como 7º colocado, para o 6º é uma distância razoável. Mas não custa nada nós colocarmos como desafio, no caso dos Paraolímpicos, chegarmos ao 5º lugar em 2016.
Folha/UOL: E, no caso das Olimpíadas propriamente, chegar em 10º lugar com cerca de 30 medalhas, o Sr. disse?
AR: Não sei exatamente se é esse o número. Eu estou fazendo o cálculo pela nossa colocação na Olimpíada de Londres e pelo que nós alcançamos de medalhas. Mas acho que a referência é que nós queremos alcançar o 10º lugar em 2016.
Folha/UOL: O que deu errado no último ciclo olímpico e o que deu certo? Começando pelo que deu errado: aparentemente, a impressão que nós temos é que dinheiro não faltou, no sentido de recursos para o esporte. Não obstante, o resultado parece ter ficado aquém do que se esperava. Por quê?
AR: No Brasil, nós temos o hábito de contar tudo a partir do que deu errado. Eu vou inverter essa premissa e vou começar pelo que deu certo. Nós melhoramos em modalidades onde nós não tínhamos propriamente uma tradição. Ganhamos uma medalha, uma vez na vida, embora com um grande atleta no judô, o Servílio de Oliveira, e agora nós aparecemos no boxe, no feminino e no feminino. Melhoramos no judô, mantivemos a nossa condição no voleibol de quadra, principalmente. Eu acho que nós já temos posição de força olímpica em algumas modalidades. No atletismo, nós tivemos foi muito azar. Nós poderíamos ter alcançado a medalha, principalmente no salto com vara. Mas a nossa atleta encontrou condições, de fato, adversas. Ela é uma atleta muito técnica e não teve condições ideais para o salto e nós não tivemos a medalha. Acho que nós precisamos mais (com as confederações) agir em torno de metas, de desafios, de objetivos, que é como nós fazemos com o Comitê Paraolímpico. Ou seja, nós precisamos fazer isso porque, de fato, os investimentos para Londres foram maiores do que para Pequim e a expectativa nossa era de resultado compatível com esses investimentos.
Folha/UOL: E o que deu errado? Por que deu errado?
AR: Eu creio que nós não fizemos o controle de metas em torno dos objetivos, ou seja, tem tal modalidade, em tal categoria, o que nós precisamos alcançar. Isso nós não conseguimos fazer. Em algumas confederações, a gestão não alcança o nível de exigência e competitividade do esporte em escala mundial, não alcança. Isso não é um problema pessoal do dirigente A ou B. Em algumas confederações, não há gestão à altura da exigência dessas modalidades num plano mundial. Então, nós não chegamos.
Folha/UOL: O Sr. está mencionando as confederações de determinados esportes.
AR: Eu não vou citar [os nomes das confederações] porque não é o caso.
Folha/UOL: O que a gente sabe, por exemplo, a “Confederação Brasileira de Atletismo”: o Roberto Gesta ficou lá 25 anos. “Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos”: o presidente Coaracy Gentil Monteiro Nunes Filhos, desde 1988. São entidades públicas de direito privado. O governo não tem como fazer uma intervenção nessas entidades. Não obstante, são eles que preparam os atletas que representam o país. O que pode ser feito?
AR: Muita coisa pode e deve ser feita. Em primeiro lugar, eu defendo que haja limite no tempo de mandato e no número de mandatos.
Folha/UOL: Mas isso não é um direito deles de definir?
AR: Não deveria ser. Não deveria. Deveria ser, mas dentro de determinados parâmetros. No Brasil, você tem limite para tudo. Até para o tempo que você pode ficar no Supremo Tribunal Federal, no Tribunal de Contas da União, no STJ (Supremo Tribunal de Justiça), na Presidência da República. Em qualquer lugar. Mesmo o setor privado adota determinados critérios para a alternância na gestão dos seus negócios. Então, nós não devemos é fazer intervenção. Dizer: “Não, o presidente vai ser A, vai ser B”. Mas o modelo democrático de sucessão nessas entidades faria muito bem para o esporte e para as próprias entidades.
Folha/UOL: Como o governo pode induzir esse tipo de atitude?
AR: Por exemplo, condicionar determinadas vantagens para o acesso aos recursos públicos ao preenchimento de determinados requisitos, por exemplo.
Folha/UOL: Por exemplo?
AR: Eu acho que um deles...
Folha/UOL: A alternância de poder...
AR:... e o tempo de mandato e o número de mandatos.
Folha/UOL: O Sr. está dizendo, então, que, possivelmente, a partir de agora, o governo vai trabalhar com a hipótese de, na distribuição de recursos e alocamentos desses recursos para as entidades que ajudam a gerenciar tudo isso, que elas adotem regras de governança interna e de alternância de poder interno, é isso?
AR: Exatamente. Não pode ser a partir de agora, porque nós não temos os mecanismos jurídicos para impor essa solução.
Folha/UOL: Esses mecanismos precisam de uma lei?
AR: Uma parte somente [precisa] de regulamentação do próprio Ministério [do Esporte]. Outra parte nós vamos ter na própria regulamentação da “Lei Pelé”. Mas é preciso que as próprias entidades, e há um ambiente cada vez mais favorável, porque é o ambiente geral do país. Ninguém hoje aceita como certo, como defensável, que não haja esses critérios. Ou seja, que não haja limites no tempo de mandato ou limite no número de mandatos. Ninguém mais aceita isso. Vai ficando pela inércia.
Folha/UOL: Agora, além da mudança do dirigente, é necessário, o Sr. me corrija se eu estiver errado, que as entidades tenham um padrão de governança e de trabalho na área em que atua o mais moderno, para usar uma palavra genérica. Ou não?
AR: Mais moderno, que reúna, ao mesmo tempo, eficiência, transparência nas suas contas, principalmente quanto à origem dos recursos públicos, e acho que a eficácia, ou seja, o recurso que você aplica produz certo resultado. Principalmente quando se trata de um esporte de alto rendimento. [Para o] esporte educacional, você pode dizer: "Não. O meu êxito está em alcançar determinado número de crianças, que eu protejo com educação, com lazer, com entretenimento no esporte”. O esporte de alto rendimento, ele tem que ter como foco o resultado, porque senão você emprega no esporte educacional. Ali você não precisa alcançar o resultado que justifique o rendimento. No alto rendimento, você precisa.
Folha/UOL: Quando o Ministério do Esporte, o governo em geral e todas as suas datas correlatas, devem aplicar essa nossa política, essa nova regra de cobrar desempenho das entidades e uma governança diferente com alternância de poder?
AR: Nós estamos preparando todos os mecanismos porque eles precisam ser também aceitáveis. Ou você consegue pela persuasão. Você apresenta e você também convence essas instituições a adotar esse caminho. E outro você tem que alterar. Não precisa ser nem a Constituição e nem uma lei. Às vezes, é uma norma, uma portaria que discipline a relação do ministério do governo com as entidades que, aliás, são relações muito boas, de cooperação. Nós não transformamos essa nossa opinião sobre a sucessão, a institucionalidade dessas entidades numa guerra. Isso é uma posição que nós trabalhamos para melhorar a prática, o nível e a gestão de esporte no Brasil.
Folha/UOL: Mas essa norma, essa decisão, vai ser tomada até o final desse ano de 2012? Quando o Sr. tem expectativa de adotar essas medidas?
AR: Se tivermos condições... [Para] essas coisas você estabelece um prazo desde que você possa cumprir. Nós precisamos trabalhar no conteúdo e o prazo apresentar depois que o conteúdo estiver pronto.
Folha/UOL: Mas o Sr. tem alguma expectativa?
AR: Tenho.
Folha/UOL: Qual seria ela?
AR: De data?
Folha/UOL: É.
AR: Hum... Breve.
Folha/UOL: Mas é neste ano ou no ano que vem? Para fazer uma data bem larga.
AR: Na próxima vez que eu voltar aqui, eu te dou a data.
Folha/UOL: Mas a ideia é que isso vai acontecer. Isso...
AR: Isso deve acontecer, precisa acontecer.
Folha/UOL: O Sr. tem falado com algumas já dessas confederações e coletado a reação delas em relação a essa atitude nova?
AR: Nenhuma apresenta resistência. Nem pessoal...
Folha/UOL: Não está sendo muito otimista?
AR: Não. Porque os que já estão há muito tempo já não serão tão prejudicados pela medida.
Folha/UOL: Por quê?
AR: Porque já ficaram tanto tempo à frente dessas entidades... Quem ficou 25 anos espera ficar o quê? Mais 25? Pode ser. Não é uma coisa real.
Folha/UOL: Como é que vai ser cobrado dessas entidades e dos atletas, também, que receberem os financiamentos, o desempenho? E mais: como vai ser possível fazer um acompanhamento preciso do que está acontecendo? Porque isso requer uma tecnologia e mão de obra para estar acompanhando.
AR: O atleta é a parte mais transparente da cadeia do esporte. Porque o resultado dele tem que ser apresentado toda vez que ele salta, toda vez que ele nada, que ele pula, que ele corre, o resultado dele aparece. O da instituição nem sempre aparece.
Folha/UOL: Como fazer a aferição?
AR: A aferição exatamente pelo, no caso do [esporte de] alto rendimento, pelo conjunto da atividade da modalidade. Então, na modalidade A, eu tenho que medir se, nas principais competições internacionais, nós melhoramos o nosso resultado. Não significa, necessariamente, ter um campeão mundial no principal certame, no principal evento. Mas se você tem melhorado a sua marca, mesmo aquele esporte onde nós estamos apenas começando, mas o seu desempenho aponta melhoria, aponta eficiência na busca desse resultado, alguma evolução, você tem formado... Nós temos atletas nas categorias de base, no sub-16, no sub-17. Isso é o que dá a indicação da eficiência na gestão dessas entidades. Não é, propriamente, “ganhei quatro medalhas de ouro” ou “três de bronze”, não é isso. É se você apresenta evolução na modalidade que você administra.
Folha/UOL: Quem vai fazer o acompanhamento do cumprimento dessas metas por parte dos atletas e das confederações?
AR: Todos têm que participar. O governo, a própria confederação...
Folha/UOL: Mas quem do governo?
AR: O Ministério do Esporte.
Folha/UOL: O Sr. tem pessoal qualificado, treinado para fazer esse trabalho?
AR: Temos. Não é em número grande. Mas tem gente muito qualificada. E nós fazemos convênios com outras entidades. Por exemplo, com o Ministério da Defesa, que tem uma área ligada ao esporte já com determinada tradição. E o próprio COB tem interesse de acompanhamento.
Folha/UOL: O Sr. falou dos militares. Parece que, nas escolas militares, tem uma estrutura diferente de formação de atletas e são muito bem sucedidos. Das 17 medalhas brasileiras obtidas em Londres, cinco foram por atletas que tiveram alguma relação com formação na área militar. Tem alguma coisa que os militares podem oferecer nesse caso, na preparação para as próximas Olimpíadas?
AR: Os militares podem colaborar muito. Eles têm excelência em educação física, por exemplo, porque introduziram a educação física no Brasil. Quem levou a educação física para a escola, foi o primeiro ministro da Guerra, da Defesa, do governo do Deodoro [da Fonseca], o Benjamin Constant Botelho de Magalhães. A atividade física era uma coisa dos militares, era uma atividade dos militares. Ele levou para rede de ensino, para a escola pública. Então, eles têm excelência. No caso das medalhas, há caso de atletas formados nas próprias forças armadas, mas há também casos de atletas que engajaram já depois de atletas formados. Então, há casos diferentes mas a contribuição é muito importante.
Folha/UOL: O Brasil é um dos países que mais se esforça para competir, dá muito valor para esportes coletivos em Olimpíadas. A ênfase não é tão grande, às vezes, nos esportes individuais. Isso vai ser alterado para daqui a quatro anos?
AR: Não. Nós vamos continuar dando ênfase no esporte coletivo porque há também uma polêmica sobre a contabilidade das medalhas. Porque cada atleta do esporte coletivo ganha a sua medalha. Só que, na hora de somar, ela não é somada. E vamos aproveitar melhor o rendimento do atleta individual, da modalidade para o atleta individual.
Folha/UOL: Mas o Sr. está dizendo, sobre a contabilidades das medalhas, não haverá uma mudança na contabilidade?
AR: Não, claro. Mas só registro porque há, inclusive, quem conteste esse caso. Como é o pessoal, o presidente do “Conselho Federal de Educação Física” [Jorge Steinhilber]. Tem uma tese que contesta essa forma de contagem.
Folha/UOL: Mas a ênfase vai continuar sendo bastante, preferencialmente, no coletivo?
AR: Não é preferencialmente. É porque não há nenhum motivo para você diminuir o apoio ou reduzir o apoio que você dá ao esporte coletivo.
Folha/UOL: Então a ênfase continuará, porém com ênfase reforçada também no individual, é isso?
AR: No individual. Que nós temos chance e temos tradição. Nós temos tradição em atletismo, em salto. Ganhamos já muitas medalhas desde o Nelson Prudêncio. Nós ganhamos com o João do Pulo. Tivemos já muitos atletas vitoriosos. Então, nós precisamos apostar também no [esporte individual]...
Folha/UOL: O Sr. falou sobre uma polêmica sobre contagem de medalhas; deixa falar sobre uma outra polêmica. Há alguma diretriz do governo sobre a terminologia a ser adotada por órgãos oficiais do governo brasileiro a respeito do nome de “Paralimpíadas”, “Paraolimpíadas”? Qual é?
AR: Nós vamos manter a grafia “paraolímpica”, “Paraolimpíada”.
Folha/UOL: Por quê?
AR: Porque a nossa ideia é que isso corresponde melhor à forma vernacular usada no Brasil.
Folha/UOL: É uma decisão de governo essa?
AR: É. Por enquanto é.
Folha/UOL: Então será o termo usado no caso de “Paraolimpíada” é esse mesmo? “Paraolimpíada” e não “Paralimpíada”?
AR: Não. Nós continuaremos a usar “Paraolimpíada” e esporte “paraolímpico”.
Folha/UOL: O Sr. discutiu com a presidente Dilma sobre a adoção desse termo?
AR: Não acho que haja necessidade.
Folha/UOL: O Sr. sabe a opinião dela a respeito?
AR: Mas, se você quiser, eu procuro saber.
Folha/UOL: Não. Mas o Sr. não sabe?
AR: Não. Eu creio que a opinião do governo não poderia ser diferente da opinião dela, né?
Folha/UOL: Então a presidente está evidentemente de acordo com isso?
AR: Creio que sim.
Folha/UOL: O Sr. é um defensor da língua portuguesa...
AR: Como você.
Folha/UOL: Como todos nós. E como deputado federal, se manifestou várias vezes contrário ao uso de estrangeirismos. A Copa do Mundo de 2014 terá a sua bola batizada de “Brazuca”. Porém, a terminologia adotada foi Brazuca com a letra “z”. E alguns linguistas acreditam que isso é um erro, porque, na grafia em português, deveria ser com a letra “s”.
AR: Em português, sim.
Folha/UOL: Qual é a sua opinião?
AR: Eu acho que, em português, deveria ser com “s”.
Folha/UOL: Foi um erro adotar com “z”?
AR: Não creio que tenha sido um erro porque isso é uma marca da FIFA. A FIFA é uma entidade que usa, se eu não me engano, como primeira língua o francês. Mas usa o inglês também, como o Comitê Olímpico [Internacional]. Eles usam muito o francês. A própria FIFA tem a sua marca registrada em francês. O que eu creio é que... E o futebol também. O futebol chegou, quando desembarcou no Brasil, não foi apenas com regras criadas na Grã-Bretanha. Foi com o idioma, o inglês britânico.
Folha/UOL: A começar pelo nome do esporte.
AR: Tudo. O futebol, as posições dos jogadores: o goalkeeper, o center-half, as regras estabelecendo o offside, ou seja, o impedimento. O corner, o escanteio. Depois é que foi havendo o aportuguesamento, que é a adaptação da fonética e da grafia de origem inglesa ao português. Então, você foi substituindo vogais, foi adaptando a fonética do inglês ao português e esse processo levou décadas. No caso do Brazuca, eu creio que o que deve ter prevalecido é a marca comercial ligada ao idioma que predomina no comércio mundial, que ainda não é o português, é o inglês.
Folha/UOL: Então não há o que fazer, será Brazuca com “z” mesmo.
AR: Não. Nós não estamos aqui registrando a nossa contrariedade?
Folha/UOL: O Sr. preferiria que fosse com “s”?
AR: É evidente. Você também, pelo visto.
Folha/UOL: Mas, enfim, como é uma marca da FIFA, não há o que fazer, certo?
AR: É.
Folha/UOL: Ministro, há um projeto de lei, o “Proforte”, que pretende que clubes de futebol possam, eventualmente, abater suas dívidas em troca de investimento que possam vir a fazer em esportes olímpicos. Qual é a sua opinião sobre esse projeto?
AR: O projeto ainda não chegou em minhas mãos como uma proposta formal. Eu, portanto, conheço uma realidade: que tenho uma confederação brasileira de clubes... Os clubes, no Brasil, contribuem muito na formação do atleta de alto rendimento. Se você for examinar o Pinheiros de São Paulo, por exemplo, nos últimos Jogos Pan-americanos, se fosse um país, ficaria em 9º lugar. O Minas Tênis Clube, o Sogipa, que é a “Sociedade de Ginástica de Porto Alegre”, que é um clube mais do que centenário. Esses clubes contribuem para a formação do atleta olímpico, do atleta de alto rendimento. Muitas vezes, a confederação pega esse atleta é no clube. No judô, no voleibol, no levantamento de peso, na esgrima, na ginástica. O clube mantém o atleta. Só que, quando foi feita a “Lei Agnelo/Piva”, todo o recurso da Lei é destinado para o COB e para as Confederações. O recurso não chega ao clube. Um pouco vai para a “Confederação Brasileira de Esporte Escolar”, o outro para o esporte universitário. Para o clube mesmo não chega nada. Chega um pouco pelo projeto da “Lei de Incentivo [ao Esporte]”, que alguns fazem e conseguem algum recurso. Então, alguns clubes manifestam a ideia de que, como eles investem no esporte, deveria haver alguma compensação pelo investimento.
Folha/UOL: O Sr. acha justo?
AR: Eu acho que é preciso examinar a proposta. Examinar a possibilidade de ela prestar o serviço público. Se você, de fato, quer investir em atleta olímpico ou em fazer o esporte de alto rendimento, o governo pode fazê-lo diretamente, construindo ginásios, contratando professores de educação física, equipes multidisciplinares, médicos, fisioterapeutas, ser responsável pela manutenção, pelo custeio do equipamento ou o governo pode fazer isso indiretamente com esses clubes, que já têm a sua estrutura formada e que podem, a um custo muito menor, ajudar a formar atletas olímpicos no Brasil.
Folha/UOL: Nesse caso, estamos falando de alguns clubes, como o Sr. disse, que já têm estrutura formada e tradição na formação de atletas. Mas, nós sabemos, não é ministro, que eles são a minoria no universo de todos os clubes esportivos do Brasil. São pouquíssimos no universo de muitos e muitos clubes os que formam atletas de alto rendimento. No caso, a ideia, pelo que eu entendi desse projeto de lei do “Proforte”, quando ele, enfim, começar a andar mais, seria, em tese, que qualquer clube de futebol que queira, que tenha dívidas, possa oferecer alguma contrapartida e daí, por conta disso, abater sua dívida por conta de um ginásio, de uma piscina que coloca ali, a disposição de um esporte considerado olímpico. Isso seria uma boa medida generalizada?
AR: Não sei. Não creio que possa ser adotada uma regra simplesmente generalizada. Em tudo aquilo que há recurso público, você tem que ter critérios. Desde uma renúncia fiscal, por exemplo, do ICMS para o papel-jornal, até o investimento em publicidade numa rede de televisão. Tudo isso tem que ter algum critério. E se há critério, por exemplo, para a distribuição de recursos, no caso das confederações que hoje já recebem do COB, é preciso haver algum critério também numa possibilidade que venha a ser examinada nesse caso. Onde houver interesse público e alguma forma de controle de transparência, a partir daí, você pode examinar.
Folha/UOL: Sem isso, não é desejável que seja uma regra generalizada para todos.
AR: Não pode, não pode. Porque tem gente que não consegue tomar conta do próprio dinheiro, que ganha com o próprio suor, imagina tomar conta do dinheiro alheio.
Folha/UOL: A propósito dessa história dos clubes de futebol, eles têm, a gente sabe, os principais clubes brasileiros, muitas dívidas de INSS e outras.
AR: Perto das dívidas dos bancos, elas não representam nada.
Folha/UOL: Ainda assim, são dívidas e dívidas com, enfim, o erário. Como o Sr. acha que esse problema, que não é de hoje, é antigo, deveria ser tratado e eventualmente resolvido?
AR: Como o futebol é uma coisa muito popular no Brasil, em alguns setores da sociedade há certo preconceito contra o futebol. Mas é preciso deixar claro que os grandes devedores públicos do Brasil são, em primeiro lugar, os bancos e as multinacionais. Não são os clubes de futebol. E o que eles devem, perto dos bancos e das multinacionais, é muito pouco como dívida tributária, como dívida...
Folha/UOL: Ao INSS...
AR: É. Então, é preciso relativizar isso. Agora, o seguinte: Não deve ser desconsiderado como devedor. E deve ser cobrado também como devedor.
Folha/UOL: O Sr. acha que ele tem condições de pagar as dívidas tais como estão?
AR: Claro que devem buscar um caminho para pagar. Já houve a tentativa dessa loteria. A renda no futebol não tem aumentado muito. O que precisa, no caso dos clubes brasileiros, é também uma regra democrática que limite mandato e tempo de mandato e gestão profissional. Que a imensa maioria não tem nenhuma, está certo? Boa parte dos clubes do Brasil tem administrações muito aquém do nível de profissionalismo... O futebol há 30, 40 anos era quase um artesanato. O atleta era um artesão pago pelos seus administradores que eram os sócios, os torcedores. Hoje, num nível de profissionalismo, com contratos de patrocínios complexos, negociações complexas com proprietários de direitos de imagem, não pode continuar havendo essa gestão primária e amadora. Essa é que é a verdade.
Folha/UOL: Nesse caso, o Sr. diria que, talvez, uma fórmula possível para resolver a dívida dos clubes com imposto de renda, com o INSS, seria pactuar com eles uma melhor regra de governança, alternância de poder, profissionalização da gestão para, daí, eles receberam alguma ajuda?
AR: [risos] Seria a primeira vez que você compraria a democracia [risos]. Aí você paga para ter democracia. Eu não sei se esse é o caminho. Eu acho que as regras democráticas devem ser adotadas no futebol porque elas são compatíveis com o país e são uma necessidade para melhorar a própria renda do futebol, a credibilidade, a valorização das marcas. Segurança para os investidores. Eu acho que é principalmente por isso.
Folha/UOL: Sim. Mas eu perguntei isso exatamente porque esse é o modelo, em tese, que vai ser usado com as confederações dos esportes olímpicos, não é isso? Pedir que elas melhorem a gestão, que tenham alternância de poder para que elas continuem a ter incentivos.
AR: Mas no caso das confederações, nós já repassamos esse dinheiro. O Governo Federal, de fato, em certa medida, já sustenta o esporte de alto rendimento. O futebol não. É um esporte completamente privado.
Folha/UOL: Mas no futebol, o governo, em certa medida, ajuda a sustentar na medida em que as dívidas existem e estão sendo roladas, não é? É um dinheiro público também.
AR: E não está retornando. É uma renúncia fiscal involuntária. Diferente do ICMS do papel-jornal, que é pactuada, essa aí é, de fato, uma renúncia não pactuada.
Folha/UOL: E, nesse caso dos clubes, que tipo de solução o Sr. vislumbra? Porque o Sr. fala “é necessário que os clubes melhorem a gestão”, mas o Sr. diria que é possível estudar uma fórmula que coloque nesse caldeirão isso?
AR: Possível e necessário.
Folha/UOL: Como seria então?
AR: Estabelecer, primeiro, regras que todos passem a adotar. Por exemplo, o meu glorioso, histórico e tradicional “Sociedade Esportiva Palmeiras”. Resistiu, resistiu, mas terminou aprovando as eleições diretas. Agora, nós estamos no próximo passo, que é a democratização da estrutura, por exemplo, de escolha e constituição dos conselhos. Muito dos conselhos dos principais clubes do Brasil não são órgãos propriamente democráticos. Então, é preciso democratizar. E, acompanhada da democratização, a gestão profissional para cuidar dos interesses econômicos e financeiros do clube.
Folha/UOL: Seria possível pensar numa fórmula orgânica desse tipo de horizonte que o Sr. imagina para os clubes e, com isso então, o governo se dispor mais a renegociar a dívida deles?
AR: Eu acho que uma medida não deve ser condicionada à outra. Embora, é verdade, que instituições que adotem regras democráticas, gestão profissional, transparência, vão receber do governo e da própria população um nível de confiança muito maior.
Folha/UOL: Falando de receber confiança muito maior, a “Confederação Brasileira de Futebol” passou por um momento muito conturbado, teve uma troca de direção. No momento, qual é a sua avaliação da gestão da CBF e como é a relação do governo com a atual direção da CBF?
AR: Nossa relação é de cooperação. Nós temos um desafio comum pela frente que é a realização da Copa do Mundo de 2014. A CBF é a instituição responsável pelo futebol brasileiro e o governo tem que ter uma relação de cooperação, de harmonia. Agora, essa é a relação para uns objetivos comuns: Copa, melhoria do futebol no Brasil. Nós temos sempre um esforço com a CBF no caso do futebol feminino, que nós achamos que precisa de apoio, precisa melhorar. Agora, ao mesmo tempo, nós temos as nossas opiniões que, nem sempre, devem ou podem coincidir com as opiniões da CBF. Uma questão é exatamente essa: a democratização das entidades e a profissionalização da gestão das entidades. Nós achamos que isso deve ser uma busca mesmo que as opiniões não estejam de acordo permanentemente.
Folha/UOL: O Presidente anterior da CBF, Ricardo Teixeira, tinha dificuldades de relacionamento com o Governo Federal. Era pouco recebido pela presidente Dilma Rousseff, se é que era recebido. O atual presidente José Maria Marin tem mais facilidade de acesso para ser recebido pela presidente Dilma?
AR: Olha, o acesso à presidente é uma determinação dela. Eu respondo pelo governo no Ministério do Esporte e nunca impus nem ao ex-presidente [da CBF] Ricardo Teixeira e nem ao presidente José Maria Marin nenhum tipo de dificuldade. Nossas relações sempre foram relações respeitosas, de tratamento de interesses em comum, no caso da Copa. Sempre procurei reconhecer as atribuições e as prerrogativas tanto da CBF quanto do “Comitê Organizador Local da Copa de 2014” para que o governo também tivesse os seus interesses, que é o interesse público e o interesse nacional, respeitados. Porque a Copa, diferentemente da Olimpíada, é uma ação muito privada. A Copa do Mundo. A Olimpíada tem mais dinheiro público, o parque olímpico, o financiamento das modalidades. No caso da CBF, é mais uma instituição privada.
Folha/UOL: Melhorou o relacionamento com a CBF com a troca de presidentes da entidade. De Ricardo Teixeira para José Maria Marin?
AR: Nós procuramos manter a relação com o mesmo conteúdo e com os mesmos critérios. Cooperação em torno do objetivo comum, que é realizar...
Folha/UOL: Mas melhorou?
AR: Não era ruim. Já era bom, continua bom.
Folha/UOL: Pelo seu acompanhamento das obras para 2014, quantos estádios devem estar disponíveis para a Copa das Confederações, na metade já de 2013?
AR: Nós trabalhamos com a possibilidade dos seis estádios prontos para 2013.
Folha/UOL: Quais são eles?
AR: Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Rio e Belo Horizonte.
Folha/UOL: Esses seis estádios estariam disponíveis já para a Copa das Confederações na metade de 2013?
AR: Teriam que estar, porque se algum não tiver pronto, não terá Copa das Confederações.
Folha/UOL: Mas há algum risco?
AR: Aliás, no prazo da FIFA é novembro de 2012. Por quê? Porque a FIFA precisa confeccionar as tabelas. Precisa vender os ingressos, vender os pacotes. E só pode fazer isso se já houver o destino já definido. Então, você não pode dizer: “Não, a Copa pode ser em cidade tal se o estádio estiver pronto”.
Folha/UOL: Mas novembro de 2012 é agora. Os seis estarão prontos? Não estarão agora.
AR: Não estarão, mas há a possibilidade de uma avaliação sobre as condições de estarem prontos dentro do prazo.
Folha/UOL: Entendi. E o Sr., no momento, acredita que estarão prontos?
AR: Eu não só acredito, eu trabalho com essa hipótese. Acompanho todos os seis estádios semanalmente para que eles estejam prontos. Nós vamos trabalhar para isso.
Folha/UOL: Ministro, o Sr. assumiu o Ministério do Esporte em substituição a Orlando Silva, que é do PCdoB assim como o Sr. Orlando Silva saiu por conta de acusações de eventuais irregularidades que poderiam ter sido cometidas lá no Ministério. Há alguma investigação em curso? Foram feitas investigações? Como terminou esse caso?
AR: Todas as que foram necessárias no âmbito dos órgãos de controle do Governo Federal, ou seja, o “Comitê de Ética Pública” absolveu o Orlando. No Ministério, nós suspendemos todos os convênios do [programa] “Segundo Tempo” com “Organizações Não-Governamentais”. Não por restrições a Organizações Não-Governamentais. Mas julgamos mais seguro e mais eficaz fazer convênios com entes públicos, que têm mais capacidade de gestão e podem ser mais bem fiscalizadas. A CGU [Controladoria-Geral da União] fez todo o levantamento e o que ainda precisa permanecer em investigação isso está sendo feito pela CGU, pelo TCU [Tribunal de Contas da União] e pelos órgãos de controle.
Folha/UOL: Ministro, o Sr. é do PCdoB, vota em São Paulo. São Paulo agora tem uma eleição disputada para prefeito da cidade. Que prognóstico o Sr. como político experiente faria sobre os dois nomes que devem ir para o segundo turno em São Paulo?
AR: Ninguém tem condições de fazer um prognóstico agora.
Folha/UOL: O Sr. acha que está difícil?
AR: Eu acho que há uma eleição equilibrada, por que...
Folha/UOL: Mas, alguns nomes que podem ainda ir para o segundo turno, o Sr. diria que são quais?
AR: Serra [do PSDB], Haddad [do PT] e Russomano [do PRB].
Folha/UOL: Só os três?
AR: Por quê? Porque são os três que mantém a performance, o desempenho já a essa altura da eleição. Mas, para mim, também não seria surpresa se o próprio Chalita começasse a crescer. Para mim, não seria surpresa.
Folha/UOL: O Sr. acha que, entre esses, é impossível hoje, já a esta altura, dizer dois que são mais favoritos para chegar ao segundo turno?
AR: Impossível porque todos os três têm de forma distinta condições de alcançar o segundo turno. O Haddad, não precisa dizer por quê. É candidato do PT, de uma parte grande da base, com apoio da presidente, com apoio do Lula. O PT é forte na capital. O Serra tem a força do PSDB. O PSDB governa o Estado de São Paulo, já governou a prefeitura várias vezes. Foi, durante muito tempo, a principal força política da capital, ou seja, eleitoralmente mais forte, com melhor desempenho. Como é que você pode descartar uma candidatura dessas para o segundo turno? E a candidatura do Russomano tem, em cidades como São Paulo, tradicionalmente, possibilidade de aparecer, de vingar. E ele também tem base política e base social que podem conduzi-lo para o segundo turno.
Folha/UOL: Pela sua experiência de político, o que está acontecendo nas grandes capitais, onde se esperava, sobretudo no Nordeste, em algumas específicas, um efeito muito forte do apoio do ex-presidente Lula que, até agora, já estamos a menos de um mês da eleição, ainda, aparentemente, não surtiu o efeito. Por que ainda não surtiu esse efeito?
AR: Porque eu creio que a eleição municipal não é uma relação direta com as lideranças nacionais. Eleição municipal é sempre uma eleição local. Na eleição para governador, pesa mais a relação entre o candidato a presidente e o candidato a governador. No caso da prefeitura, é mais uma eleição local. Porque Brasília está muito distante. As pessoas olham e dizem o seguinte: “Tudo bem, eu vou escolher a minha prefeita, o meu prefeito sobre a influência de uma liderança nacional e qual é a consequência disso?” Então, eu acho que as pessoas escolhem com mais independência o chefe da municipalidade em relação às lideranças nacionais.
Folha/UOL: O Sr. pode fazer uma futurologia aqui? Quem deve ser principais candidatos a presidente em 2014?
AR: Olha, eu mal estou conseguindo dar conta do presente, quanto mais do futuro, Fernando.
Folha/UOL: A presidente Dilma é candidata à reeleição, em sua opinião? Deve ser?
AR: Claro. Não vejo nenhum motivo para que não seja.
Folha/UOL: E na oposição? Que nomes o Sr. enxerga que tem condição de se contrapor a presidente Dilma?
AR: Nomes fortíssimos. O governador de São Paulo [Geraldo Alckmin, do PSDB] é sempre um nome forte na oposição. O ex-governador de Minas [Aécio Neves, do PSDB] também é muito forte na oposição.
Folha/UOL: Fala-se muito dentro do campo governista também de um integrante desgarrar e ser candidato a presidente, como governador Eduardo Campos, de Pernambuco, do PSB. O que Sr. acha dessa hipótese?
AR: Não creio. Seria prematuro. Historicamente no Brasil, quando certas posições declinam e tendem ao desaparecimento, a oposição surge das forças vitoriosas no embate anterior. Isso acontece no Brasil. Mas eu não creio que isso venha a acontecer agora. Isso é muito prematuro.
Folha/UOL: É só uma impressão que a gente tem que a oposição é muito frágil, está depauperada e não se recupera mais ou isso é um fato?
AR: Não. Acho que a oposição não é uma oposição acabada, morta. Eu acho que ela ainda tem muita força. Talvez tenha perdido a inspiração.
Folha/UOL: Muito bem. Ministro Aldo Rebelo, do Esporte, muito obrigado pela sua entrevista à “Folha de S.Paulo” e ao UOL.
AR: Muito obrigado, Fernando. Até breve.”
FONTE: entrevista com o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, ao Grupo tucano UOL/Folha, conduzida pelo jornalista Fernando Rodrigues. Transcrita no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=193928&id_secao=1) [Imagem obtida no google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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