quinta-feira, 20 de setembro de 2012

AS LIÇÕES DA SOBERBA

“[Na semana que passou], mais de um milhão e meio de pessoas marcharam, no centro de Barcelona, na Espanha, para exigir a divisão do país e a independência total da Catalunha, a mais importante das Regiões Autônomas da Espanha.

Por Mauro Santayana, em seu blog

Foi o “Dia da Catalunha” [11 set]. Mas a verdade é que poucas são as grandes províncias espanholas que querem continuar unidas a uma nação que enfrenta o desemprego de 25%, o maior da Europa. Um em cada quatro de seus jovens, segundo informou ontem a OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - não estava estudando nem trabalhando em 2008, o primeiro ano da crise.

No Brasil, boa parte da população, ajudada pela programação majoritariamente estrangeira de grande parte das emissoras de televisão, incluídas as de assinatura, e outros meios de comunicação, acostumou a ver tudo que vem do chamado “Primeiro Mundo” com um misto de subserviência e admiração.

Quando aqui aportaram bancos e empresas espanholas e portuguesas, nos anos 90, pouca gente percebeu que esses países - que nos mandaram milhões de emigrantes durante os séculos 19 e 20 porque não tinham condições de lhes assegurar pão e futuro - estavam apenas vivendo momentos artificiais de prosperidade.

Ninguém se lembrou de que, para entrar na “Comunidade Econômica Européia”, eles haviam recebido, durante anos, bilhões de euros de ajuda dos países mais ricos.

Ninguém percebeu que eles só tinham capital para comprar nossas empresas – privatizadas, em muitos casos, apesar de serem estratégicas[!] – porque tomavam empréstimos [até do BNDES] para participar da farra da desnacionalização da nossa economia, a pouco mais de um ou 2% ao ano. Enquanto isso, os juros, aqui, para investimento em atividades produtivas, estavam nas alturas.

Enquanto poucos enriqueciam com o euro, muitos cidadãos espanhóis, enganados pelos meios de comunicação que alimentavam essa ilusão com entusiasmo, acreditavam que a Espanha seria a oitava potência do mundo durante o século 21, e que seu país iria entrar para o G-7, quando hoje ele sequer faz parte do G-20, e o G-7 está se transformando, paulatinamente, em uma pantomima diplomática.

A Espanha, hoje, tem dívida total de mais de três trilhões de euros (entre governo central, províncias autônomas, empresas financeiras e não financeiras), mais de 165% de dívida externa (frente a cerca de 13% do Brasil). Sua dívida interna líquida é mais do dobro da nossa. Suas reservas internacionais são US$ 30 bilhões, quando as nossas são de US$ 375 bilhões. Somos o terceiro maior credor individual do Tesouro dos Estados Unidos, depois da China e do Japão. Com muito esforço estamos resistindo à globalização.

Não podemos fazer como a Espanha e Portugal, que expulsavam nossos cidadãos de seus aeroportos, e cair na tentação da soberba. Mas precisamos aprender a dar mais valor ao que somos e ao que fazemos, e parar de nos iludir com tudo o que vem do estrangeiro.”

FONTE: escrito por Mauro Santayana em seu blog e transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=193801&id_secao=9) [Imagem obtida no google e entrecolchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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