Do blog "Novas cartas persas"
Com efeito-Copa e efeito-vexame “precificados”, cenário de ponto de partida é favorável a Dilma
"Apesar da alta rejeição, adversários têm menos intenções de voto que no passado; a presidente tem a mesma pontuação e mais tempo de TV que em 2010
A divulgação da última pesquisa eleitoral Datafolha foi acompanhada por grande euforia no "mercado financeiro" [aquele que dominará o Brasil na hipótese de Aécio ganhar]: a pesquisa apontou, pela primeira vez, há um “empate técnico” entre Dilma e Aécio (44% a 40%), na simulação de 2º turno, bradaram os jornais.
Essa leitura apressada ignora elementos conjunturais, que, por sinal, motivaram a realização dessa sondagem: foi a primeira pesquisa feita depois da Copa e depois de as candidaturas dos candidatos terem sido formalizadas.
Na época de formalização de candidaturas, nenhum candidato conseguiu se destacar e usar esse momento para alavancar sua posição nas pesquisas. Aqui, o efeito eleitoral foi nulo.
A Copa mereceu mais destaque no noticiário, não apenas esportivo. Do ponto de vista da organização, o evento se saiu bem, no geral (em especial diante do bombardeio catastrofista dos últimos quatro anos e das manifestações e greves que a antecederam). Esse êxito, junto com eventual desempenho positivo da Seleção, poderia resultar em aumento do otimismo e da autoestima do país, gerando, assim, um impacto político positivo para Dilma. Da mesma forma, grandes falhas no evento poderiam resultar em um efeito eleitoral negativo para a atual presidente, mesmo se tivesse havido um bom desempenho do time então comandado por Felipão.
Ao contrário do que previam os jornais, o vexame não foi na organização, mas se deu em campo. E, na falta de grandes problemas na organização, começou-se a especular que a partida humilhante contra a Alemanha teria efeito eleitoral decisivo contra Dilma.
Pois bem. A Copa acabou, vexame passou. E o que ficou? Qual foi, afinal, o impacto eleitoral da Copa e do vexame (os dois grandes fatos desde o começo do mês)?
Vejamos o que registraram os dois institutos de maior credibilidade: Datafolha e Ibope.
DATAFOLHA
Antes da Copa, em 5/06, o Datafolha apontava Dilma com 34%. No meio da Copa, em 2/07, ela subiu para 38% e, depois, em 16/07, oscilou para baixo, em 36%. Ou seja, antes da Copa: 34%. Depois da Copa: 36%. Estatisticamente, portanto, oscilou dentro da margem de erro. Já Aécio Neves, nos mesmos intervalos, aparecia com 19%, 20% e 20%, respectivamente. Ou seja, oscilou um ponto para cima. Estatisticamente: não saiu do lugar entre o começo e o fim da Copa (clique para ampliar).
Segundo os dados do Datafolha, a chance de uma eleição definida no 1º turno aumentou ou diminuiu nesse período? Resposta curta: continuou a mesma, forte. Na disputa com os rivais antes da Copa, Dilma perdia por um nariz: 34% a 35%. Durante a Copa, o placar se igualou: 38% a 38%. Ou seja, as chances de 2º turno DIMINUÍRAM, ao contrário do que disse a Folha (depois teve de retificar de maneira insuficiente e foi até mesmo criticada pela Ombudsman do jornal pela barbeiragem aritmética). Na pesquisa seguinte, depois da Copa, Dilma caiu, assim como os demais, e o empate permaneceu: 36% a 36%. Trocando em miúdos 50% das “intenções válidas” para cada lado. Bastaria um votinho para dar a disputa por encerrada no 1º turno. Nesse cenário, não se pode dizer que Dilma venceria no 1º turno, mas não se pode descartar essa possibilidade.
"Apesar da alta rejeição, adversários têm menos intenções de voto que no passado; a presidente tem a mesma pontuação e mais tempo de TV que em 2010
A divulgação da última pesquisa eleitoral Datafolha foi acompanhada por grande euforia no "mercado financeiro" [aquele que dominará o Brasil na hipótese de Aécio ganhar]: a pesquisa apontou, pela primeira vez, há um “empate técnico” entre Dilma e Aécio (44% a 40%), na simulação de 2º turno, bradaram os jornais.
Essa leitura apressada ignora elementos conjunturais, que, por sinal, motivaram a realização dessa sondagem: foi a primeira pesquisa feita depois da Copa e depois de as candidaturas dos candidatos terem sido formalizadas.
Na época de formalização de candidaturas, nenhum candidato conseguiu se destacar e usar esse momento para alavancar sua posição nas pesquisas. Aqui, o efeito eleitoral foi nulo.
A Copa mereceu mais destaque no noticiário, não apenas esportivo. Do ponto de vista da organização, o evento se saiu bem, no geral (em especial diante do bombardeio catastrofista dos últimos quatro anos e das manifestações e greves que a antecederam). Esse êxito, junto com eventual desempenho positivo da Seleção, poderia resultar em aumento do otimismo e da autoestima do país, gerando, assim, um impacto político positivo para Dilma. Da mesma forma, grandes falhas no evento poderiam resultar em um efeito eleitoral negativo para a atual presidente, mesmo se tivesse havido um bom desempenho do time então comandado por Felipão.
Ao contrário do que previam os jornais, o vexame não foi na organização, mas se deu em campo. E, na falta de grandes problemas na organização, começou-se a especular que a partida humilhante contra a Alemanha teria efeito eleitoral decisivo contra Dilma.
Pois bem. A Copa acabou, vexame passou. E o que ficou? Qual foi, afinal, o impacto eleitoral da Copa e do vexame (os dois grandes fatos desde o começo do mês)?
Vejamos o que registraram os dois institutos de maior credibilidade: Datafolha e Ibope.
DATAFOLHA
Antes da Copa, em 5/06, o Datafolha apontava Dilma com 34%. No meio da Copa, em 2/07, ela subiu para 38% e, depois, em 16/07, oscilou para baixo, em 36%. Ou seja, antes da Copa: 34%. Depois da Copa: 36%. Estatisticamente, portanto, oscilou dentro da margem de erro. Já Aécio Neves, nos mesmos intervalos, aparecia com 19%, 20% e 20%, respectivamente. Ou seja, oscilou um ponto para cima. Estatisticamente: não saiu do lugar entre o começo e o fim da Copa (clique para ampliar).
Segundo os dados do Datafolha, a chance de uma eleição definida no 1º turno aumentou ou diminuiu nesse período? Resposta curta: continuou a mesma, forte. Na disputa com os rivais antes da Copa, Dilma perdia por um nariz: 34% a 35%. Durante a Copa, o placar se igualou: 38% a 38%. Ou seja, as chances de 2º turno DIMINUÍRAM, ao contrário do que disse a Folha (depois teve de retificar de maneira insuficiente e foi até mesmo criticada pela Ombudsman do jornal pela barbeiragem aritmética). Na pesquisa seguinte, depois da Copa, Dilma caiu, assim como os demais, e o empate permaneceu: 36% a 36%. Trocando em miúdos 50% das “intenções válidas” para cada lado. Bastaria um votinho para dar a disputa por encerrada no 1º turno. Nesse cenário, não se pode dizer que Dilma venceria no 1º turno, mas não se pode descartar essa possibilidade.
IBOPE
O Ibope antes da Copa mostrava Dilma com 38% (em 7/06). Em 15/06, logo depois da estreia, o Ibope marcava que Dilma estava com 39%. Estatisticamente, portanto, oscilou dentro da margem de erro. Por fim, a pesquisa divulgada esta semana mostrou Dilma com 38% novamente. Resumo da ópera, Dilma não saiu do lugar em um mês: 38%-39%-38%. A mesma coisa aconteceu com Aécio, que foi de 22% para 21% e terminou com 22%. O mesmo não pode se dizer, porém, de Campos, que saiu de 13%, para 10% e registrou 8% depois da Copa.
O Ibope antes da Copa mostrava Dilma com 38% (em 7/06). Em 15/06, logo depois da estreia, o Ibope marcava que Dilma estava com 39%. Estatisticamente, portanto, oscilou dentro da margem de erro. Por fim, a pesquisa divulgada esta semana mostrou Dilma com 38% novamente. Resumo da ópera, Dilma não saiu do lugar em um mês: 38%-39%-38%. A mesma coisa aconteceu com Aécio, que foi de 22% para 21% e terminou com 22%. O mesmo não pode se dizer, porém, de Campos, que saiu de 13%, para 10% e registrou 8% depois da Copa.
Na disputa de Dilma contra a rapa, antes da Copa, Dilma perdia de 38% a 40% na soma dos demais. Durante a Copa, o placar foi de 39% a 40% para os demais. Por fim, na pesquisa pós-Copa Dilma virou o jogo: 38% a 37%. Ou seja, empate técnico antes da Copa e empate técnico depois da Copa. Mas as chances de uma eleição decidida ainda no 1º turno estão um pouco maiores agora.
Como esperado, depois de uma pequena divergência, as pesquisas começam a convergir (ao menos no 1º turno). Elas confirmam a manutenção de um padrão histórico antecipado aqui: o resultado em campo não muda o desempenho do candidato da situação, nem no curto prazo, nem no resultado final. Mesmo com vexame. Pode ser até que o vexame tenha anulado um eventual efeito positivo da organização da Copa. Impossível saber.
De todo modo, a moral da história é que, com o efeito-Copa, o efeito-vexame “precificados” (como gostam de dizer os economistas no jargão para dizer “levados em conta”), o impacto eleitoral foi nulo. Para além dessa constatação, vale dizer: o ponto de partida é favorável a Dilma, como veremos a seguir.
Ponto de partida: bom ou ruim?
Resta, então, aos candidatos se conformarem com suas posições iniciais na corrida eleitoral. E cabe aos analistas políticos avaliarem a configuração do ponto de partida para determinar quem está em melhores condições de vencer (tal como numa maratona, nem sempre quem está aparece na frente na primeira curva, ganha no final).
Para isso é preciso comparar para ter um parâmetro. Aqui há duas comparações são pertinentes: o desempenho dos candidatos ao longo do ano e as corridas eleitorais passadas. Começamos com a primeira.
Até março do ano passado, as eleições presidenciais pareciam uma barbada. Dilma aparecia com 56% dos votos, segundo o Datafolha. Até mesmo em junho de 2013, antes das manifestações, ela tinha 49%. Venceria no 1º turno com facilidade. Hoje, ela aparece com 36% no Datafolha e 38% no Ibope. Entre uma pesquisa e outra, Dilma chegou a 29%, em 28 de junho do ano passado, em um dos cenários de disputa. Os adversários somavam 47%. O 2º turno era certo. Por outro lado, em fevereiro, ela chegou a 47% no cenário de disputa apenas com Aécio e Campos. As coisas, então, já foram melhores para Dilma. E já foram piores.
Já Aécio, que teve de disputar internamente a sua candidatura, partiu de um ponto mais baixo. Menos conhecido nacionalmente, ele tinha 12% antes das Manifestações de Junho. Subiu para 17% quando Dilma atingiu o fundo do poço em 28 de junho. Desde então, patinou nesse patamar e só passou da marca dos 20% apenas em 8 de maio, quando chegou a 22%, pontuação que se encontra hoje. Ou seja, Aécio, principal candidato da oposição, precisou de um ano para crescer 10 pontos. Pior que ele, só Campos, que saiu de 5%, em 7 de junho do ano passado, e um ano depois tem 8%, após ter chegado ao máximo de 14% (no cenário com três candidatos).
Eleições passadas
Agora vamos comparar o desempenho dos candidatos a presidente nesta mesma época do ano, em torno do dia 20 de julho, nas eleições passadas (cujo resultado final conhecemos e por isso nos dá um parâmetro de comparação interessante).
De cara, observamos que, na comparação com as eleições de 2010, Dilma está exatamente na mesma posição: 36% pontos no Datafolha (e 39% no Ibope, só um ponto a mais que hoje). Seu maior rival de então, Serra, tinha 37%, segundo o Datafolha, e 34% segundo o Ibope. O empate técnico era já no 1º turno. A possibilidade da disputa não ser decidida no 2º turno, naquela etapa, não estava em questão (especialmente para o Datafolha). Portanto, quando comparamos com a situação de hoje, vemos que o ponto de partida de Dilma é o mesmo, mas seus adversários em 2010 somavam mais intenções de voto que os de 2014 (clique na tabela para ampliar).
Apenas Lula em 2006 (mas não em 2002) saiu de um ponto de partida mais favorável: tinha 44%, contra 38% ou 41% da soma dos demais. Alckmin somava 28% ou 27%. Mas mesmo Lula, em 2002, largava de um ponto pior que Dilma: tinha 33%, contra 50% a 56% da soma de seus rivais. Seu principal adversário então não era do PSDB, era Ciro Gomes, com 26% ou 28% das intenções de voto. Como se sabe, Ciro naufragaria mais tarde e Serra subiu e foi ao 2º turno.
Ou seja, em todos os confrontos, o 2º colocado estava com pontuação maior que Aécio possui hoje. E Dilma parte de uma posição semelhante àquela que quase a levou à vitória no 1º turno, ao menos nas pesquisas eleitorais (claro, os contextos econômicos de 2010 e 2014 são bem distintos).
Tempo de TV
Certo: 2010 e 2014 são cenários distintos. Dilma era relativamente desconhecida, mas estava lastreada sobretudo na chancela de seu principal padrinho político, Lula, e de um ano de forte recuperação econômica, após sete anos seguidos de crescimento moderado (à exceção de 2009), distribuição de renda e desemprego baixo.
Hoje Dilma é mais conhecida. E mais rejeitada que em 2010 (quando tinha 19% de rejeição, tanto no Datafolha quanto no Ibope). O crescimento econômico é baixo. Lembraria os anos FHC/PSDB, se não fosse por um detalhe importante: desemprego é baixo e a renda vem acompanhando a subida de preços. No todo, porém, o quadro de 2014 não inspira o otimismo de 2010. Mas está longe do quadro terrível de 2002.
Assim, o peso da propaganda eleitoral ganha importância chave. Principalmente por um detalhe: um quarto da população (25% ou 27%) está indecisa ou diz que anulará seu voto, muito mais elevado que em qualquer uma das três eleições anteriores. Essa alta proporção de eleitores sem candidato impede qualquer análise honesta de dizer, com um grau significativo de certeza, que a eleição será definitivamente decidida no 1º ou no 2º turno.
Sim, será a eleição de recorde de votos nulos e abstenções, tudo indica. Mas boa parte desses eleitores sem um candidato para chamar de seu pode estar disposta a mudar sua postura negativa, caso algum dos oito candidatos a convença. É aqui que a horário eleitoral entra. E aqui, tempo, pode significar votos.
É nesse momento que o pragmatismo do PT (que eu tanto critico) gera resultados. Dilma terá 11’48” do tempo total de 25. Isto é, quase a metade (47,2%) do horário eleitoral. Aécio terá 4’31”, ou seja, quase um terço do tempo de Dilma. O quadro piora para o tucano quando comparamos com a distribuição do tempo em 2010: Dilma tinha 10’38” e Serra, 7’18”. Ou seja, enquanto Dilma tem 11% mais tempo que na eleição anterior, Aécio tem 38% menos tempo que Serra detinha.
No contexto de uma eleição em que a possibilidade de definição no 1º turno é real, o tempo de TV pode cumprir um papel fundamental para melhorar a percepção do eleitorado sobre o governo Dilma (em geral mais criticada na mídia que os demais), assim como reduzir a rejeição da candidata, que segue alta. Mas aqui já entramos no campo da especulação."
FONTE: do blog "Novas cartas persas" (http://novascartaspersas.wordpress.com/2014/07/23/com-efeito-copa-e-efeito-vexame-precificados-cenario-de-ponto-de-partida-e-favoravel-a-dilma/).
Como esperado, depois de uma pequena divergência, as pesquisas começam a convergir (ao menos no 1º turno). Elas confirmam a manutenção de um padrão histórico antecipado aqui: o resultado em campo não muda o desempenho do candidato da situação, nem no curto prazo, nem no resultado final. Mesmo com vexame. Pode ser até que o vexame tenha anulado um eventual efeito positivo da organização da Copa. Impossível saber.
De todo modo, a moral da história é que, com o efeito-Copa, o efeito-vexame “precificados” (como gostam de dizer os economistas no jargão para dizer “levados em conta”), o impacto eleitoral foi nulo. Para além dessa constatação, vale dizer: o ponto de partida é favorável a Dilma, como veremos a seguir.
Ponto de partida: bom ou ruim?
Resta, então, aos candidatos se conformarem com suas posições iniciais na corrida eleitoral. E cabe aos analistas políticos avaliarem a configuração do ponto de partida para determinar quem está em melhores condições de vencer (tal como numa maratona, nem sempre quem está aparece na frente na primeira curva, ganha no final).
Para isso é preciso comparar para ter um parâmetro. Aqui há duas comparações são pertinentes: o desempenho dos candidatos ao longo do ano e as corridas eleitorais passadas. Começamos com a primeira.
Até março do ano passado, as eleições presidenciais pareciam uma barbada. Dilma aparecia com 56% dos votos, segundo o Datafolha. Até mesmo em junho de 2013, antes das manifestações, ela tinha 49%. Venceria no 1º turno com facilidade. Hoje, ela aparece com 36% no Datafolha e 38% no Ibope. Entre uma pesquisa e outra, Dilma chegou a 29%, em 28 de junho do ano passado, em um dos cenários de disputa. Os adversários somavam 47%. O 2º turno era certo. Por outro lado, em fevereiro, ela chegou a 47% no cenário de disputa apenas com Aécio e Campos. As coisas, então, já foram melhores para Dilma. E já foram piores.
Já Aécio, que teve de disputar internamente a sua candidatura, partiu de um ponto mais baixo. Menos conhecido nacionalmente, ele tinha 12% antes das Manifestações de Junho. Subiu para 17% quando Dilma atingiu o fundo do poço em 28 de junho. Desde então, patinou nesse patamar e só passou da marca dos 20% apenas em 8 de maio, quando chegou a 22%, pontuação que se encontra hoje. Ou seja, Aécio, principal candidato da oposição, precisou de um ano para crescer 10 pontos. Pior que ele, só Campos, que saiu de 5%, em 7 de junho do ano passado, e um ano depois tem 8%, após ter chegado ao máximo de 14% (no cenário com três candidatos).
Eleições passadas
Agora vamos comparar o desempenho dos candidatos a presidente nesta mesma época do ano, em torno do dia 20 de julho, nas eleições passadas (cujo resultado final conhecemos e por isso nos dá um parâmetro de comparação interessante).
De cara, observamos que, na comparação com as eleições de 2010, Dilma está exatamente na mesma posição: 36% pontos no Datafolha (e 39% no Ibope, só um ponto a mais que hoje). Seu maior rival de então, Serra, tinha 37%, segundo o Datafolha, e 34% segundo o Ibope. O empate técnico era já no 1º turno. A possibilidade da disputa não ser decidida no 2º turno, naquela etapa, não estava em questão (especialmente para o Datafolha). Portanto, quando comparamos com a situação de hoje, vemos que o ponto de partida de Dilma é o mesmo, mas seus adversários em 2010 somavam mais intenções de voto que os de 2014 (clique na tabela para ampliar).
Apenas Lula em 2006 (mas não em 2002) saiu de um ponto de partida mais favorável: tinha 44%, contra 38% ou 41% da soma dos demais. Alckmin somava 28% ou 27%. Mas mesmo Lula, em 2002, largava de um ponto pior que Dilma: tinha 33%, contra 50% a 56% da soma de seus rivais. Seu principal adversário então não era do PSDB, era Ciro Gomes, com 26% ou 28% das intenções de voto. Como se sabe, Ciro naufragaria mais tarde e Serra subiu e foi ao 2º turno.
Ou seja, em todos os confrontos, o 2º colocado estava com pontuação maior que Aécio possui hoje. E Dilma parte de uma posição semelhante àquela que quase a levou à vitória no 1º turno, ao menos nas pesquisas eleitorais (claro, os contextos econômicos de 2010 e 2014 são bem distintos).
Tempo de TV
Certo: 2010 e 2014 são cenários distintos. Dilma era relativamente desconhecida, mas estava lastreada sobretudo na chancela de seu principal padrinho político, Lula, e de um ano de forte recuperação econômica, após sete anos seguidos de crescimento moderado (à exceção de 2009), distribuição de renda e desemprego baixo.
Hoje Dilma é mais conhecida. E mais rejeitada que em 2010 (quando tinha 19% de rejeição, tanto no Datafolha quanto no Ibope). O crescimento econômico é baixo. Lembraria os anos FHC/PSDB, se não fosse por um detalhe importante: desemprego é baixo e a renda vem acompanhando a subida de preços. No todo, porém, o quadro de 2014 não inspira o otimismo de 2010. Mas está longe do quadro terrível de 2002.
Assim, o peso da propaganda eleitoral ganha importância chave. Principalmente por um detalhe: um quarto da população (25% ou 27%) está indecisa ou diz que anulará seu voto, muito mais elevado que em qualquer uma das três eleições anteriores. Essa alta proporção de eleitores sem candidato impede qualquer análise honesta de dizer, com um grau significativo de certeza, que a eleição será definitivamente decidida no 1º ou no 2º turno.
Sim, será a eleição de recorde de votos nulos e abstenções, tudo indica. Mas boa parte desses eleitores sem um candidato para chamar de seu pode estar disposta a mudar sua postura negativa, caso algum dos oito candidatos a convença. É aqui que a horário eleitoral entra. E aqui, tempo, pode significar votos.
É nesse momento que o pragmatismo do PT (que eu tanto critico) gera resultados. Dilma terá 11’48” do tempo total de 25. Isto é, quase a metade (47,2%) do horário eleitoral. Aécio terá 4’31”, ou seja, quase um terço do tempo de Dilma. O quadro piora para o tucano quando comparamos com a distribuição do tempo em 2010: Dilma tinha 10’38” e Serra, 7’18”. Ou seja, enquanto Dilma tem 11% mais tempo que na eleição anterior, Aécio tem 38% menos tempo que Serra detinha.
No contexto de uma eleição em que a possibilidade de definição no 1º turno é real, o tempo de TV pode cumprir um papel fundamental para melhorar a percepção do eleitorado sobre o governo Dilma (em geral mais criticada na mídia que os demais), assim como reduzir a rejeição da candidata, que segue alta. Mas aqui já entramos no campo da especulação."
FONTE: do blog "Novas cartas persas" (http://novascartaspersas.wordpress.com/2014/07/23/com-efeito-copa-e-efeito-vexame-precificados-cenario-de-ponto-de-partida-e-favoravel-a-dilma/).
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